Não é absurdo, Ariobar. Brizola sabe do que está falando. O governo- se
tiver
peito - que o processe. Nesta, companheiro, o PDT vem de longe. Em 1989
o PDT
solicitou formalmente no início do ano que fosse feita - por uma empresa
com
credibilidade internacional -  auditoria no programa de totalização que
o TSE
usaria naquelas eleições, a primeira presidencial depois da ditadura, a
que o
Collor ganhou. Por que?  Por causa do escandalo da Proconsult em 1982 e
da
eleição, suspeitíssima, de Moreira Franco ( hoje amiguinho de FHC,
ferrabrás
destacado para torpedear a candidatura Itamar dentro do PMDB) em 1986.
Moreira ganhou de Darcy Ribeiro de um jeito que não convenceu a ninguém
no
PDT. É deste ano, companheiro, minha convicção de que as eleições no
Brasil
passaram a ser  inconfiáveis, como eram inconfiáveis as eleições da
década de
20 - tempo do voto de cabresto e dos coronéis. /// Em 82, Ariobar,
pegamos os
ladrões com a mão na botija, roubando votos. O programa de totalização
da
Proconsult, empresa de informática contratada pelo TRE-RJ para totalizar
os
votos de 1982, desviava os votos do Brizola para nulos e brancos.
Moreira
quase ganhou a eleição. A picaretagem não deu certo por alguns motivos:
eles
(os lalaus) eram inexperientes nisso, os partidos (todos) tinham cópia
dos
mapas de cada urna apurada (um documento previsto na lei e que permitia
que
cada um fizesse sua própria recontagem); e a mídia também tinha cópia
dos
mapas de urna.  O esquema furou por causa da 'Rádio Jornal do Brasil' e
do'
Jornal do Brasil', que não entraram no 'show das eleições' da Globo e do
jornal O Globo (onde na época trabalhava como repórter). Na primeira
semana
da apuração, aqui no Rio de Janeiro, vivemos dias malucos. Na TV Globo e
no
jornal O Globo, a partir da manchete da primeira página, Moreira estava
ganhando a eleição. No JB, quem estava ganhando era o Brizola. Da
segunda-feira (início da apuraáo) a  sábado, depois do domingo da
eleição -
foi essa maluquice aqui no Rio. A TV Globo e o Globo davam Moreira, a
rádio
JB e o JB davam Brizola na frente. E o TRE não dava nada, eles se
enrolaram.
Soltaram alguns resultados, recolheram, soltaram outros - nos números
não
batiam e eram absurdos em relação aos números divulgados antes uma zorra
total. Aparente incompetencia. Aparente - porque não era - era fraude
mesmo
em andamento. O problema para os fraudadores, naquele momento, foi a
polemica
na midia. Afinal, quem estava com a razão? Globo ou JB? O povo, que
tinha
votado estrondosamente em Brizola, começou a se manifestar. Sonia
Pompeu,
minha amiga que apresentava o noticiário da Globo, junto com Paulo
Alceu,
começaram a ser hostilizados onde aparecessem aqui no Rio. Sonia
precisou se
disfarçar, usar peruca, esconder o rosto, para poder sair de casa. Eu,
repórter do Globo, quase levei porrada de um jornaleiro na rua Dias da
Cruz,
no Meier, quando - fazendo materia de rotina - me identifiquei como
repórter
do Globo. O cara quis me bater e tive que sair de fininho - até porque
tinha
votado e feito campanha para o Brizola. A coisa ficou quente,
companheiro,
tão quente que Brizola convocou entrevista coletiva com a imprensa
internacional - e fez o que fez anteontem no Roda Viva, botou a boca no
trombone. No dia seguinte, o Dr. Roberto (Marinho) mandou parar o
computador
do Globo. Parar tudo. Esperar o resultado do TRE. /// Companheiro, os
computadores do TRE, do JB e do Globo estavam mutretados. Só as
maquininhas
de somar da rádio JB, que apenas totalizavam o resultado de governador,
não
estavam. E no primeiro dia da apuração, segunda-feira, o editor do
"Jornal do
Brasil" preferiu seguir o resultado da rádio JB, e nao o da informática
do
próprio jornal, porque a rádio - pelo fato de só totalizar os números
para
governador - estava muito a frente, em total de urnas, do que a
informática do
jornal. Que usou a mesma lógica do TSE: punha no computador todo o mapa
da
urna - proporcionais e majoritários, totalizando-os - enquanto a rádio
só
somava resultado de governador. É claro que enquanto O Globo, que usou a
mesma metodologia do JB, e o próprio JB - falavam, por exemplo, em
resultado
de 100 urnas -- a Rádio Jornal do Brasil já tinha totalizados mais de 2
mil
urnas. Arrebentou a boca do balão (leia matéria do Procópio Mineiro,
editor
da Rádio JB, em 82 disponível em www.votoseguro.org). Por que o editordo
JB
seguiu a rádio e não a informática do jornal? Porque naquela época o JB
ainda
era um grande jornal. E também porque companheiro, depois de mais de 20
anos
de ditadura e na primeira eleição direta para governador,
jornalisticamente o
lead estava na eleição de governador. Não estava na eleição do deputado
fulano ou beltrano./// Como era a apuraçao paralela? // Os grandes
veículso
de comunicação contratavam estagiários e coordenadores e os plantava nas
zonas apuradoras, recolhendo cópia do mapa de urna apurada. Simples.
Xerocavam, enviavam para os centros de totalização paralela montados
pelos
jornais. O Globo, o JB e a Rádio JB montaram apurações paralelas assim.
Sempre foi assim. Porque existia o mapa da urna, os partidos, a midia,
os candidatos, os eleitores, tinham acesso ao documento e- de posse
de'cópia
- podiam conferir o resultado urna a urna. Getúlio criou esse sistema em
32
exatamente porque antes, as eleições eram fraudadas. Uma das bandeiras
da
revolução de 30 foi a lisura dos pleitos eleitorais. É por isso que
apurada a
urna, o mapa contendo todos os votos contidos nela, era imediatamente
afixado
em um quadro de aviso montado na junta apuradora. No país inteiro era
assim.
Milhares e milhares e cidadãos eram convocados e participavam desse
processo,
supervisionado pela Justiça Eleitoral. /// O que aconteceu em 86? Em
1986,
tenho orgulho de dizer isto hoje, fiz parte da equipe que Procopio
Mineiro
(ex-editor da Radio Jornal do Brasil) montou, para fazer apuração
paralela
das eleições - editor que era  da Rádio Roquete Pinto, uma rádio
estatal,
pertencente ao governo estadual. E companheiro, sabe o que aconteceu?
Quinze
dias antes da eleição, via um amigo meu que trabalhava para a Rede Globo
de
Televisão, soube que o PDT tinha dormido de toca e ia perder as
eleições. Por
que? Porque não teria mais mapa de urna para conferir resultados. É,
companheiro, a Justiça Eleitoral do Rio nos surrupiou o mapa da urna.
Criou
um novo "modelo" de mapa que basicamente era o seguinte; contrariando a
lei
vigente na época, o Código Eleitoral, cada partido recebeu - contado os
votos
em determinada urna - apenas os votods dados aos seus candidatos. Como? 
O
"mapa" aprovado e posto em uso pelo TRE/RJ tinha folhas destacáveis.
Cada uma
com o nome de um partido. Apurada a urna, preenchido o mapa, cada
partido
recebia o mapa referente - apenas aos seus candidatos. É, companheiro,
foi
assim! O partido só podia conferir os votos dados AO SEus proporcionais!
O PT
não podia saber os votos para proporcionais do PDT, o PDT não tinha
menor
idéia os votos dos proporcionais do PMDB e assim por diante. E os votos
dos
majoritários? Companheiro, o tal "mapa" previa que uma única copia seria
entregue a todos os partidos. É, amigo, uma cópia para todos os cerca de
30
partidos que disputaram a eleição de 86. Uma cópia encaminhada ao
"comitê
interpartidário", criado nos socavões de mentes torpes interessadas em
viciar
o processo eleitoral. Porque para nós, PDT, não chegava nunca a tal
cópia do
"comitê interparditário". O juiz, o funcinário da Justiça Eleitoral,
podia
entregar a quem quisesse. /// Uma SACANAGEM, companheiro, porque a lei
eleitoral é absolutamente sumaria. Até hoje é sumária - voce tem tres
dias
para contestar o resultado da totalização de 107 milhões de votos - e
nenhum
elemento para chegar se o resultado anunciado pelo TSE está certo ou
errado.
É, companheiro, em 2002 o PT vai precisar de muita competencia para
contestar o TSE caso ele diga que foi a Roseana, o Serra, o Aécio, ou
outro
fulano qualquer, que ganhou do Lula. //// Voltando a 86: Constatamos, em
cima
dos fatos e da apuração que não tínhamos muito bem como acompanhar, mas
acompanhávamos, que INEXPLICAVELMENTE os resultados de zonas eleitorais
onde
Darcy Ribeiro, por exemplo, fazia diferenças de cinquenta a um sobre
MOreira
Franco, inexplicavelmente, sem nada que justificasse, fazia o inverso no
dia
seguinte. Companheiro, acompanho eleição há muito tempo. Voto tem
tendÊncia.
Determinado bairro, deyterminadas áreas de um bairro, votam de uma
forma,
outros, de outra forma. O voto tem tendencia, sempre teve. Não existe
isto de
Ipanema estar votando em Collor e  de repente começar a votar (na
apuração)
em Lula. Não existe isto!!!! O voto tem tendencias, tem preferencias por
faixa etária, por faixa economica.  Pois me convenci que a coisa estava
mutretada vendo exatamente como saiam os votos das urnas em 86, no Rio
de
Janeiro. Votos pró Darcy virar Moreira? Como? E o pior de tudo: os
partidos
políticos não tinham como conferir. Nada. O tal do comite
interpartidário 
Era uma armação. E foi assim, amigo, que Moreira Franco, o hoje
amiguinho do FHC, se tornou governador do Rio de Janeiro./// O PDT ficou
chupando o dedo, a TV Globo, no seu show da eleição, proclamando o tempo
todo
que Moreira tinha vencido segundo as ultimas pesquisas, segundo o Ibope,
o
cambau a quatro. Criando a vitória virtual. Descobrimos também que, em
algumas seções eleitorais, especialmente as da Baixada Fluminesne,
redutos
brizolistas, os juízes só liberavam "mapas" de urna onde Moreira estava
na
frente. Os caras armaram até na liberação dos resultados! //// É por
isto,
amigo, que Brizola sabe do que fala.  Já ia esquecendo: o que aconteceu
com o
pedido de auditoria do programa de totalização de 1989 que o PDT
solicitou
formalmente ao TSE? Foi para o sal. É, amigo, foi arquivado. Te digo
quando:
no dia em que o TSE julgou, finalmente, aquela palhaçada de que se
Silvio
Santos seria ou não candidato a presidencia da república. Até eu, que
sou
jornalista, sabia que não podia. A imprensa, no dia em que o TSE disse
que
Silvio não podia ser candidato por ser dono de rede de televisão, tratou
o
TSE como herói da honra, lisura e dignidade das eleições brasileiros.
GRANDE
TSE. Por que ele disse o que todos sabiam, Silvio não podia ser
candidato.
Trabalhava na editoria 'política do Globo e lembro que no dia seguinte a
decisão do TSE de arquivar o pedido de auditoria do programa de
totalização
feito pelo PDT nenhum jornal do eixo Rio- Sao Paulo publicou essa
informação.
NENHUM.  Li todos os jornais - todos - e nenhum divulgou uma única linha
sobre o TSE ter arquivado, sem julgar, o pedido de auditoria do PDT.  
Para
encerrar, companheiro, e reafirmar porque Brizola sabe muito bem do que
está
falando -- aqui do lado, no Peru, ano passado ou retrasado, o atual
presidente,
o Cholo, não disputou o segundo turno com o facínora do Fujimori - se
lembra
companheiro - porque Fujimori não aceitou que o segundo turno fosse
adiado
para que uma comissão internaciional analisasse o programa de
totalização que
seria empregado lá. Fujimori e a (in) justiça eleitoral do Peru não
quiseram
adiar a eleição, permitir uma auditoria criteriosa do programa que seria
usado na totlaização de votos, Cholo não disputou. Não validou a
sacanagem
que Fujimori pretendia fazer. É isto.  Ariobar, o absurdo é ter gente
acreditando que "urna"eletronica é coisa séria. Brizola sabe muito bem
do que
está falando. 


Ariobar Lima Pontes gravada:

> On Wed, 14 Nov 2001 04:04:23 -0200
> "marcosborges pacheco" <[EMAIL PROTECTED]> wrote:
>
> > http://www.dodia.com.br/asp/Adelor.asp
> > Adelor Lessa
> > O risco da manipulação
> > Leonel Brizola continua polêmico. No programa Roda Viva, da TV Cultura,
> > disse ter convicção que ganhou de Lula no primeiro turno da eleição de
>
> O absurdo e' tao grande que o governo nem poderia processar
> brizola por calunia se quisesse !!!
>
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> O Forum do Voto-E visa debater a confibilidade dos sistemas
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