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Sent: Monday, January 14, 2002 1:24 PM
Subject: [PB] O PLANO BIN BUSH

O PLANO BIN BUSH
por José Arbex Jr.


7 de novembro: FHC embarca para Washington com o objetivo de explicar a George Bush júnior a posição brasileira sobre o terrorismo. Leva o general Alberto Cardoso, ministro do Gabinete de Segurança Institucional. Tio Sam não aprovara as declarações dos dois feitas logo após o atentado de 11 de setembro, segundo as quais não havia indícios de atividades terroristas no país. Tio Sam afirma que a tríplice fronteira (Foz do Iguaçu e a região entre Brasil, Paraguai e Argentina) é um santuário do terror islâmico. Tio Sam é exigente: não basta o fato de FHC ter autorizado a instalação de um escritório oficial da CIA em São Paulo; os meninos do Brasil devem mostrar serviço.

Encerrado o encontro com júnior, no dia 8, FHC afirma não ter conversado nada sobre a tríplice fronteira: Não existe preocupação do presidente Bush sobre segurança no Brasil. Essa preocupação é nossa;. O.k. Pena que o general Cardoso tenha admitido aos repórteres, na mesma ocasião, que debateu o assunto com os agentes da CIA, ainda que negando a existência de
qualquer pressão sobre o governo brasileiro. Eles não apresentaram nenhum contra-argumento, disse o general.

A pressão existe, é pública, ostensiva, humilhante e brutal. Basta assinalar que, no mesmo dia 8, a CNN informou que a tríplice fronteira é um paraíso para terroristas, baseada em documentos das embaixadas americanas no Paraguai e na Argentina. Segundo a rede, duas mesquitas islâmicas localizadas em Foz do Iguaçu estariam envolvidas na arrecadação de
recursos para o terror. No mesmo dia, a emissora entrevistou FHC. Ao apresentar o presidente, a jornalista da CNN declarou que o Brasil está sob pressão para localizar extremistas islâmicos. FHC, trêmulo, destituído da habitual empáfia, só conseguiu balbuciar não ter tratado nada disso com Bush.

Farc e Bin Laden, segundo Tio Sam

Segundo o Departamento de Estado, grupos islâmicos com sede na tríplice fronteira usam suas conexões na região para financiar suas atividades terroristas. E quais seriam as suas conexões? Resposta: ninguém menos que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Ora, vejam que extraordinária coincidência: grupos terroristas que atuam no coração geográfico do Mercosul, pedra no sapato da anunciada Alca, têm conexão com o grupo terrorista que constitui o maior obstáculo à ocupação americana da Amazônia. Agora, o pacote está completo. Não é demais?

Se antes de 11 de setembro a principal justificativa ao Plano Colômbia era o combate ao narcotráfico, agora a ênfase maior recai na guerra ao terror, pretexto que poderá ser usado, a qualquer momento, contra qualquer movimento popular. Tio Sam encontra, a cada dia, novas evidências para justificar o envio de agentes, o aperfeiçoamento dos arapongas nacionais e as eventuais operações militares conjuntas entre exércitos latino-americanos e forças especiais americanas.
 
O resultado é simples: no início do ano 2000, o Plano Colômbia tinha como alvo uma área restrita da Amazônia; depois, o
Plano Colômbia virou Iniciativa Andina, abarcando o Equador, a Bolívia e o Peru; agora, qualquer região da América Latina pode ser, potencialmente, alvo da intervenção americana, seja ela ostensiva ou secreta.
Nada de novo no front: júnior afirmou, repetidas vezes, que a guerra contra o terror apenas começou no Afeganistão, mas que vai se estender ao resto do planeta, América Latina e Brasil incluídos. Cuba, a óbvia cereja do bolo, é classificada como país pária que apóia o terrorismo (ao lado de Sudão, Somália, Iraque, Síria, Irã, Líbia e Coréia do Norte).

Mas haverá mesmo tal estratégia? Não existirá aí um exagero, um forçar de barra típico de uma esquerda que vê conspiração em todos os cantos? Maniqueísmo? Antiamericanismo mórbido?

Resposta: nada disso, cidadão; basta ler os jornais com alguma atenção.

A construção do clima psicossocial

No dia 23 de setembro, o subsecretário de Estado Marc Grossman denunciou uma suposta conexão entre as Farc e o IRA (Exército Republicano Irlandês). Em 28 de setembro, Steven Monblatt, assessor direto do secretário de Estado dos Estados Unidos, Colin Powell, declarou, em debate na Organização dos Estados Americanos (OEA), que terroristas islâmicos sediados
na tríplice fronteira financiam suas atividades por meio do contrabando e do uso de instituições de caridade de fachada que tiram recursos de viúvas, de órfãos e de pessoas de boa-fé (Folha de S. Paulo, 28/9/01, página A11).

Logo depois, o especialista Jack Sweeney declarou que as Farc estariam traficando drogas e lavando dinheiro em conjunto com terroristas islâmicos instalados na tríplice fronteira. Sweeney é analista sênior de uma empresa de consultoria que oferece, diariamente, informes sobre economia, política e segurança globais para milhares de empresas, executivos e governos (Folha de S. Paulo, 14/10/01, página A20). Em 19 de outubro, o Paraguai anunciou que pediria explicações ao senador americano Zell Miller, por ter afirmado, no Washington Post, que membros dos grupos Hamas e Hizbollah e de organizações ligadas a Osama bin Laden planejam novos ataques terroristas contra os Estados Unidos a partir da tríplice fronteira, uma terra sem lei.

Jamais foi apresentada qualquer prova de que há terroristas na tríplice fronteira, assim como jamais foi produzida qualquer prova contra Osama bin Laden. Há, claramente, uma campanha psicossocial em curso, cujo objetivo é preparar a opinião pública para novas operações antiterroristas de grande envergadura, contra qualquer grupo, movimento ou organização hostil aos Estados Unidos. Também nisso não há nada de novo: júnior afirmou que quem não está com ele apóia o terrorismo.

José Gregori, ou mistério sempre há de pintar por aí

Resta, ainda, um pequeno mistério: as circunstâncias envolvendo a queda para o alto do agora ex-ministro da Justiça José Gregori, nomeado embaixador em Lisboa (cargo altamente cobiçado). A explicação divulgada é comezinha: desde fevereiro, quando ficou sem nenhuma presidência no Congresso, o PFL passou a criar obstáculos a projetos de interesse do Planalto. FHC teria feito um acordo com o PFL, garantindo ao partido a indicação de um deputado à liderança do governo na Câmara. Para
acomodar o complexo jogo de interesses mobilizados por esse acordo (incluindo as alianças dos candidatos tucanos à presidência), FHC teria de fazer uma minirreforma ministerial. Gregori, amigo pessoal do presidente, teria entrado no bolo.

Pode ser. Mas Gregori não vinha dando nenhuma indicação de que pretendia deixar o cargo. Ao contrário. Todas as suas entrevistas e pronunciamentos até o final de outubro, quando admitiu pela primeira vez a hipótese, deixavam transparecer sinais de prestígio e estabilidade (foi o ministro que mais apareceu na mídia, no segundo semestre). Só que ele, mais do que ninguém no governo, negou com veemência a existência de grupos terroristas na tríplice fronteira e no Brasil.

Ainda no final de outubro, Gregori criticou publicamente o Ministério do Interior do Paraguai, por divulgar a suspeita de que o comerciante libanês Assad Barakat, morador de Foz do Iguaçu, seria ligado ao extremismo islâmico. Mesmo conhecendo dados coletados pela Polícia Federal brasileira sobre o suposto envolvimento de Barakat, Gregori afirmou que não tomaria
nenhuma atitude enquanto não houvesse algo conclusivo. Gregori temia que a comunidade árabe (de 10.000 a 12.0000 pessoas) de Foz do Iguaçu sofresse discriminação.

É óbvio que Tio Sam não aprovou a cautela de Gregori. Para Tio Sam, provas são um detalhe totalmente dispensável. E quem se importa com a sorte da comunidade árabe de Foz do Iguaçu, do Brasil, do planeta?
 
É: em toda essa história, resta, ainda, um pequeno mistério.

José Arbex Jr. é jornalista




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