"Não basta que seja pura e justa a nossa causa, é necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós.
Entrevista ao Jornal do Commercio RJ FMI e Mercado Perdas internacionais CIEPS - Educação Integral Senado e Ministério Carlos Lupi (Domingo, 21/07/02)"O ex-governador e presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, prepara-se para deixar o cenário político nacional em grande estilo. Com 80 anos - ou duas vezes 40 como afirma - o veterano político, que se bateu contra o golpe militar de 1964 e teve de fugir do País por conta disso, quer despedir-se como senador pelo Rio de Janeiro, Estado que já governou por duas vezes. Com um comportamento mais conciliador e agregador, bem diferente do tempo em que concitava os sargentos a tomarem os quartéis, Brizola é candidato pela chamada Frente Trabalhista (PDT-PPS-PTB), que apoia para presidente da República, Ciro Gomes (PPS), e Jorge Roberto da Silveira (PDT), para governador, nas próximas eleições. Carlos Lupi O PDT também tem outro candidato ao Senado, Carlos Lupi, considerado por Brizola exemplo de capacidade. O ex-governador acredita que os dois serão eleitos. Nesta entrevista, concedida em frente ao seu prédio, na Avenida Atlântica, em Copacabana, em um banco de jardim onde fez questão de sentar - chegou a parar várias vezes para retribuir cumprimentos, inclusive de turistas -, Brizola critica o atual modelo econômico tocado pelo presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, e considera o Brasil um Titanic" cuja economia caminha para o que está ocorrendo na Argentina, se nada for feito. Bate com firmeza nos atos do Fundo Monetário Internacional (FMI), critica ao que chama de venda da CSN para estrangeiros, diz que Collor foi vítima de sua inexperiência política e se põe contra o corte orçamentário para as Forças Armadas. Depois do seu último ato político, Brizola afirma que escreverá um livro contando toda sua trajetória de vida, desde quando saiu de São Borja aos 13 anos e foi acolhido por amigos negros em Porto Alegre, cidade onde 20 anos depois seria prefeito. Eis a entrevista: Jornal do Commercio: O Governo federal espera fechar um acordo de transição com o FMI e todos os candidatos até setembro. A idéia é elaborar uma carta de intenções, assinada pelos presidenciáveis. O senhor concorda que isto deva ter a participação de Ciro Gomes? Leonel Brizola - A impressão que tenho é que Ciro poderá considerar uma isto um impertinência. Da minha parte, estranho que o Governo brasileiro não tenha tomado qualquer iniciativa a respeito para preservar a pureza, a lisura, do processo eleitoral. Isto representa uma interferência insólita. Nem mesmo amanhã, no exercício do Governo, deve-se aceitar, porque corresponde a um tipo de pressão. Então, essa espécie de comprometimento seria não benéfico para o País? - Seria comprometedor para nós como nação independente. Tenho as minhas dúvidas se os dirigentes do FMI teriam o topete, de vir com este tipo de proposta. Se tivessemos um presidente da República, a altura já estaria protestando para proteger o processo eleitoral. Nós temos o exemplo do que ocorreu com o Juscelino Kubitschek, um homem moderado em relação às questões econômicas, que, para realizar o seu programa de governo, teve de romper com o FMI. FMI O próximo Governo deveria romper com o FMI? - Não digo isso, acho que o FMI tem de nos respeitar para ser respeitado. Como o senhor analisa essa inquietude verificada no mercado financeiro? - Nesse ambiente econômico-financeiro existem muitas coisas. É aquela história: no ar andam voando muitos objetos que não são nem "los aviones nem las gaviotas". Há muito jogo de desiformação visando confundir. Esse é um caso típico. Eu toda minha vida pública, que vem de longe, jamais ouvi dizer que as propostas de candidatos pudessem estar criando este tipo de consequência. Então, o que está provocando está situação? - O Brasil está numa crise muito próxima da Argentina, só não entrou em uma situação desesperadora porque o Brasil, comparado com a Argentina, é mais pesado. Nós somos um Titanic, que para colocar a proa no ar, anunciando que vai afundar, demora muito. Isto que vem ocorrendo é uma confusão com o propósito de encobrir certas irresponsabilidades do Governo. Que tipo de irresponsabilidade? - Toda essa política econômica que o presidente Fernando Henrique Cardoso adotou. Acredita que o País pode chegar à situação da Argentina? - Eu creio que pode, é bem provável que isso ocorra se não formos felizes nas eleições que se aproximam. A candidatura Ciro Gomes oferece uma outra perspectiva, acredito. O eleitorado teria percebido que o candidato Ciro Gomes significa uma mudança, fazendo-o crescer nas pesquisas eleitorais? - Sem dúvida. O povo brasileiro quer ter um presidente da República que mereça confiança, que não faça malabarismos. A seriedade de Ciro vai dar consistência ao País, oportunidade de trabalho, em um ambiente onde os empresários se sentirão seguros e prestigiados. Como seria composta a equipe econômica do Governo Ciro Gomes? - Tenho como norma buscar sempre as boas práticas do regime presidencialista. Nele, a escolha de uma equipe é tarefa do presidente. O clã Sarney manifestou o apoio a Ciro Gomes, deixando de lado o candidato José Serra, do PSDB. Concorda com este apoio? - A dona Roseana Sarney, a ex-governadora, adquiriu certa experiência e pode ter cometido um erro aqui outro ali, pisado em uma casca de banana, mas o que acho é que ela está recolhendo lições. Sem dúvida nenhuma que o seu apoio será transparente. A experiência é importante e acho que o ex-presidente Fernando Collor de Melo, por exemplo, caiu por falta dessa experiência política. O senhor, inclusive, chegou a apoiar o ex-presidente Collor. - Como governador do Rio de Janeiro sempre tive boas relações com ele, depois da troca de xingamentos. Como presidente, ele sempre procedeu corretamente comigo. Se ele tivesse experiência, chamava aqueles amigos dele e dizia: companheiros, vamos parar com isso. Se vocês pensarem bem, cairemos todos com essas práticas. Chamaria o PC Farias e mandaria que parasse, dizendo que o Governo teria que ser irretocável, irrepreensível. Perdas Internacionais O candidato Leonel Brizola manterá o mesmo discurso sobre as perdas internacionais? - Inteiramente. Estou muito mais convencido do que o que ocorre com o nosso País é por culpa disso. Nós somos um País desidratado pelos interesses internacionais, temos perdas, somos espoliados. Chegamos a sair ricos da Segunda Guerra Mundial, onde todos nos deviam, e agora estamos aí no atoleiro. Porque isso ocorreu? - Fomos lá combater o nazi-fascismo e saímos bem moralmente, com motivo de orgulho pelo que fizemos pela humanidade. Essa paz que ajudamos a construir foi muito ingrata conosco, principalmente devido ao procedimento das nações centrais. O País está vivendo uma época de entreguismo? - A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) está sendo entregue aos interesses estrangeiros (referência à união com a siderúrgica anglo- holandesa Corus). Isto não foi fusão, aconteceu uma venda do controle. Como estão tentando vender a Petrobras, onde existem negócios altamente comprometedores. A Petrobras do Rio Grande do Sul está praticamente vendida, numa suposta troca de ativos na Argentina. Como o senhor encara o problema dos cortes de verbas para as Forças Armadas? - Parte da doutrina desse novo Império Romano que está surgindo no mundo, que são os Estados Unidos, procura infundir e fazer com que a vida econômica incorpore essa falsa convicção de que tem que acabar com as Forças Armadas, transformando tudo em polícia, amarrando o povo brasileiro como se fosse uma vaca leiteira. Precisamos ter Forças Armadas modernizadas, tecnificadas e fortalecidas. Eu sou insuspeito em dizer isso, porque fui vítima de suas incompreensões. Mudando para o aspecto político, o senhor estaria preparando a fusão do PDT com o PTB? - Estamos preprando para isso e tenho muita esperança de que vamos conseguir, porque formaríamos um partido mais forte. As diferenças atuais que nos separaram poderão ser limadas e superadas. Leonel Brizola ainda acha que Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à presidência, continua sendo um sapo barbudo? Me inspirei na impressão de Pinheio Machado que diz que a política "é a arte de engolir sapos". Foi uma impressão jocoza com a preocupação de não promover rupturas. No segundo turno das eleições para presidente, o País verá a disputa entre duas correntes que representam trabalhadores? - O nosso trabalhismo é diferente do trabalhismo do PT, que é mais doutrinário e teórico, estruturado por uma pequena burguesia radicalizada e outra com punhos de renda. O nosso é mais inorgânico, constituído da grande massa dos excluídos, e precisamos dar direito e voz à eles. Acho muito difícil Lula se eleger. Ele tornou-se um personagem social, que o descaracteriza muito. Não gera credibilidade e nem confiabilidade no meio empresarial. Lula, na questão do FMI, abraça a sua estrela mas diz que irá dialogar, se entender, acordar. Não é por aí. Nós temos que nos voltar para o nosso mercado interno. Como fortalecer o mercado interno? Precisamos encontrar meios de produção e de trabalho. Fazer com que, pelo trabalho, cresça o mercado interno e o poder de compra da população brasileira. Vamos procurar nos inserir inteligentemente no campo internacional, tratando de encarar mais seletivamente e não simplesmente derrubando todos os alambrados. Senado e Ministério E quanto à política fluminense, como o senhor a analisa? - O Rio precisa de uma boa administração que será personificada no candidato Jorge Roberto da Silveira. Esse Garotinho, que tivemos, só preocupou-se com suas ambições. O Estado está precisando de soluções para os seus problemas.A poluição aqui não é de direita e nem de esquerda, depende apenas de competência. A nível regional, no caso de Niterói, Jorge Roberto nos deu exemplo de capacidade. Todo mundo quer morar em Niterói. O senhor deixaria o Senado para tornar-se ministro? - Tomei a decisão de participar das eleições para senador depois de muita reflexão, com a preocupação de ajudar, e não passa pela minha cabeça me tornar ministro. É uma maneira de participar e ajudar a candidatura de Jorge Roberto da Silveira, para governador, e de Ciro Gomes para presidente. Eu já considero que vivi o meu quarto de hora na vida pública. Cumprirei esta missão de representar o Rio, com minha experiência e por compreender bem o que significa o Senado, a assembléia dos Estados e o poder representativo do País. Muitos o culpam pelo estado de violência no Rio, por não ter cuidado disso na época que governou. - Isto é uma torpeza. Existe uma revista Veja, publicada antes de eu assumir o Governo, que mostra que já estava instaurado um estado de guerra civil. A matança era uma realidade no Rio de Janeiro. Eu acho que encaminhei o problema mas não tive tempo de desenvolvê-lo, por que isso tem que ter uma base na constituição de uma nova geração que precisa ter uma escola integrada, do tipo Ciep. E que possa sair dali um novo ser humano. CIEPs e Educação Integral O senhor acha que Ciro Gomes, como presidente da República, possa levar o projeto dos Cieps para o nível nacional? - Acho que este projeto vai interessar muito ao Governo Ciro Gomes. O que eu puder ajudar para difundir este tipo de escola, de natureza moderna e social, vou fazer. Porque esta é a solução para diminuir a miséria. Depois que a criança passa onze anos numa escola dessa sai um novo ser humano. Temos conversado muito a respeito e Ciro tem ouvido com interesse. \"Não basta que seja pura e justa a nossa causa, é necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós.\" Agostinho Neto © Copyright 2002 - PDT Partido Democrático Trabalhista ______________________________________________________________ O texto acima e' de inteira e exclusiva responsabilidade de seu autor, conforme identificado no campo "remetente", e nao representa necessariamente o ponto de vista do Forum do Voto-E O Forum do Voto-E visa debater a confibilidade dos sistemas eleitorais informatizados, em especial o brasileiro, e dos sistemas de assinatura digital e infraestrutura de chaves publicas. __________________________________________________ Pagina, Jornal e Forum do Voto Eletronico http://www.votoseguro.org __________________________________________________