O fraterno amigo Werneck encaminhou uma mensagem que lhe foi 
enviada, a qual reproduzo a seguir. Ela nos leva à reflexão. 
Evidentemente, a eleição é um momento tão importante na vida 
nacional que há a paixão e a exacerbação e elas tendem a 
estar presentes em cada comentário, em cada discussão.
Réu confesso, sou um exemplo de veemência quando defendo as 
minhas posições e convicções. Entretanto, a meu favor, posso 
dizer que, em função destas discussões, evito brigar com meus 
amigos, até porque somos amigos que conhecemos o que nos une 
e o que nos diferencia sem nos separar.
E sabemos que a vida é mais que o momento eleitoral. Apenas a 
eleição é um momento que nos exige muita firmeza se realmente 
queremos ser coerentes.
Usando um linguajar não “muderno”  diria que devemos evitar 
o “taticismo”, ou seja, que os objetivos imediatos não se 
sobreponham aos princípios ou aos objetivos estratégicos.
Continuarmos “brigando” não nos impede de buscarmos a 
reflexão conjunta sobre questões que estão acima dos 
interesses eleitorais. Além de conjunta, fraterna.
De certa forma seria uma aplicação do que dizia Che 
Guevara: “temos que endurecer, sem perder a ternura jamais”. 
Mais que isto, como disse em seu poema “Do Povo buscamos a 
força” Agostinho Neto: “Não basta que seja pura e justa a 
nossa causa. É necessário que a pureza e justiça existam 
dentro de nós”.

Comentando as opiniões.

O próprio termo “republiqueta” foi resgatado pelo candidato 
do PT ao opor-se à idéia de fiscalização internacional. É uma 
posição coerente até porque o PT já não endossa as críticas à 
vulnerabilidade do sistema de votação eletrônica, os poucos 
técnicos petistas que o fazem, tornaram-se vozes isoladas e 
desautorizadas pelo seu partido.

Em comum, as duas opiniões defendem as nossas instituições (e 
isto é muito sério e responsável) e circunscrevem todos os 
embates aos mecanismos internos.

Tenho uma idéia diferente do que representa lutar pela 
preservação de uma instituição. 
Sou de uma categoria profissional muito corporativa e a 
posição apresentada parece-me conter a essência do 
corporativismo, por certo um traço cultural nosso. É similar 
à defesa que o policial faz da “corporação” contra as 
denúncias de práticas, digamos,  heterodoxas. Ou a mesma 
posição de inúmeros médicos sérios que abafam “erros médicos” 
até em caso de figuras públicas como o de Clara Nunes.
Afinal, sejamos honestos: qual de nós confia em nossa 
justiça? O juiz Nicolau, que foi Presidente de um Tribunal 
Regional, não chegou a ter o poder que teve sozinho. Aliás, o 
acusado de ser o elo entre o juiz e FHC teve como advogado um 
dos atuais juízes do TSE, indicado por FHC após o referido 
processo. E a ação fraudulenta no INSS? Quando a deputada e 
radialista Cidinha Campos denunciou inúmeros juízes de 
estarem compondo a máfia do INSS em 1992, candidatou-se à 
Prefeitura do Rio. Incrivelmente, um dos acusados (com 
processo tramitando) era juiz de uma zona eleitoral. Deveria 
ter sido afastado por conflito de interesse (nem rábula sou, 
mas parece óbvio). O que aconteceu? Além de permanecer à 
frente da sua zona eleitoral, o referido juiz também presidiu 
outra zona eleitoral cuja titular pediu licença no período 
eleitoral. O juiz responsável pela apuração em todo o Estado 
do Rio de Janeiro naquela que todos consideram a mais 
fraudulenta das eleições na chamada fase de redemocratização 
(Rio  de Janeiro em 1986 que Darcy Ribeiro foi flagrantemente 
roubado) foi anfitrião de figuras do crime organizado, com 
fotos em jornal e tudo mais, em pleno casamento de sua filha. 
Também estava envolvido com a máfia do INSS.
Além das suspeições, há inegável conflito de interesses por 
parte do atual Presidente do TSE. Botaram a raposa para tomar 
conta do galinheiro. O processo está viciado. E não começou 
hoje. Do ponto de vista técnico, há um permanente 
aprimoramento da fraude. A PROCONSULT foi detectada a tempo. 
Do ponto de vista técnico, para os fraudadores, aquela fraude 
foi um marco. Aquela fraude representou um ponto de ruptura 
entre a fraude artesanal do coronelismo e o ponto de partida 
da fraude “científica” que hoje utiliza os princípios de IA – 
Inteligência Artificial, o que permite identificar uma 
situação de teste ou simulação, portanto não praticando a 
fraude. A fraude da PROCONSULT até foi parcialmente derrotada 
(o voto era vinculado e apenas o que se conseguiu foi que 
Brizola fosse eleito, mas não com a imensa maioria da qual 
ele precisava para não ter que fazer acordos com outros 
partidos na Assembléia e garantir a governabilidade e não 
podemos esquecer que muitas vezes o sectarismo se sobrepõe, 
pois o beneficiário da fraude da PROCONSULT foi o mesmo 
beneficiário da fraude de 1986, com o qual o PT se compôs em 
duas questões essenciais: votação contra a implantação dos 
CIEP (Lula: “escola não é pensão”) em toda a rede pública 
estadual e na imoral tentativa de rejeição, meramente 
política (no sentido depreciativo que o termo tem), das 
contas de Brizola).
O processo eleitoral está viciado. O comprometimento da ordem 
institucional não está no fato de haver denúncias, mas no 
fato de haver uma apropriação para fins inconfessáveis, 
destas instituições, deturpando a sua missão institucional.

Há uma enorme diferença entre intervenção externa e sujeição 
interna a esta intervenção e submissão da ordem nacional ao 
ordenamento internacional.
 
No segundo caso, legítimo, todos criticamos o fato de Bush 
não assinar o protocolo de Kioto. O que ele representa? Um 
ordenamento mundial, com regras claras e consoantes o 
princípio das negociações multilaterais, cujo processo deixou 
de ser o fio condutor da política mundial devido à posição de 
força do Governo dos EUA que se tornou, com a sua política 
belicista, uma ameaça à paz mundial e, com sua política de 
defesa dos interesses das empresas petrolíferas, sobrepondo-
se aos interesses da humanidade, uma ameaça à vida em nosso 
planeta.

No primeiro caso, temos sofrido as conseqüências de uma crise 
gerada pela constrangedora sujeição (permitam-me a enfática 
redundância) do Governo do Brasil a interesses de grupos 
econômicos, principalmente especulativos, internacionais. 
Aliás é uma preocupação manifesta de Helena Chagas não 
contrariar estes interesses quando ameaça-nos com a 
possibilidade de um questionamento “provocar um ataque 
especulativo”. O que seria isto? Uma retaliação a uma posição 
independente que busque nos fóruns internacionais, 
legitimamente reconhecidos e integrados por nós, o amparo que 
já não temos em instituições circunstancialmente suspeitas?

A nossa soberania e independência não nos impedem de 
recorrermos a organismos internacionais para arbitrarem 
conflitos internos, ao contrário elas serão reforçadas desde 
que os instrumentos usados sejam aqueles apropriados, isto é, 
os fóruns internacionais existentes. O Brasil tem uma 
tradição diplomática considerável. Não apenas por causa de 
figuras destacadas como Santiago Dantas, Raimundo Souza 
Dantas, Olinto, Zappa, Bustami e Sérgio Vieira. Há uma 
política consolidada. Mesmo quando criticamos o Regime 
Militar, reconhecemos que o chamado “pragmatismo responsável” 
de nossa política internacional sempre primou pela defesa da 
soberania nacional, pela não intervenção e pela busca da paz 
mundial. A conseqüência natural é o Brasil já ter integrado 
inúmeras missões internacionais (a mais recente foi a do 
Timor Leste). Isto é a prova cabal de que não somos contra a 
existência de observadores internacionais em processos 
diversos, inclusive eleitoral.

A denúncia do fato não é grave. Grave é a existência do fato.

Quantas mulheres e crianças suportam abusos e maus-tratos e 
silenciam com medo de que a denúncia dos mesmos envolva a 
intervenção externa e o desequilíbrio da ordem da instituição 
familiar?

Por que devemos assistir passivamente às arbitrariedades? No 
atual processo eleitoral, nem mesmo o que o TSE escreve é 
cumprido pelos TRE. As resoluções viram “letras-mortas”. O 
exemplo mais recente: o TRE-RJ teve o cuidado de informar à 
Rede Globo a data e a hora do processo de formatação de 
disquetes e de carga das urnas eletrônicas. Mesmo existindo 
uma determinação explícita (Artigo 23 da Resolução 20997 de 
26/02/2002, em vigor, do TSE) não se deu “ao trabalho” de 
fazer o mesmo em relação aos partidos políticos de forma a 
lhes permitir fiscalizar o processo.

Não podemos esquecer que a imprensa nacional (já chamada de 
quarto poder) não quis denunciar a fraude da PROCONSULT. A 
fraude só foi barrada porque Brizola conseguiu dar uma 
entrevista aos correspondentes estrangeiros.
“Cachorro mordido por cobra tem medo de lingüiça”.

Grande e fraterno abraço
Assunto: A polêmica da fiscalização externa das eleições 
brasileiras
Amigos,
 
Aqui vão duas opiniões, extraídas da edição de O Globo de 
hoje, 10 de setembro:
 
 
.1. Coluna de Helena Chagas  (filha de Carlos Chagas, que 
trabalhou por um breve tempo na campanha de Ciro):
 
Republiqueta 

Há quem veja a reticência de Ciro Gomes em relação à proposta 
do líder do PPS na Câmara, João Herrmann, de se pedir 
observadores internacionais para acompanhar as eleições como 
uma estratégia de caso pensado. Ao ver que nem o PT topou 
engrossar o movimento, é possível que o candidato do PPS 
tenha percebido que pode acabar entrando numa canoa furada. 

Não que Ciro não tenha o direito de recorrer e protestar 
contra decisões do Tribunal Superior Eleitoral que considera 
injustas. Há formas legais de fazer isso com ações no próprio 
TSE. Existe ainda a instância do Supremo Tribunal Federal. 

O problema, já percebido por aliados que tentam dissuadi-lo 
de ir em frente nesse caminho, é querer transformar os bate-
bocas e querelas de campanha numa crise institucional. 

E a pior das consequências não é só ficar parecendo chororô 
de perdedor. O risco desse tipo de iniciativa, que questiona 
a Justiça e o processo eleitoral, é colocar em questão o 
próprio processo democrático. 

Nós aqui sabemos que nossa democracia é robusta o suficiente 
para sobreviver a impeachment de presidente e a campanhas 
sangrentas. Lá fora, porém, muita gente pode achar que não. 
Assim como, enganosamente, duvidam de nossa capacidade de 
pagar dívidas e cumprir compromissos. Questionar a lisura da 
eleição é detonar um ataque político especulativo. 
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.2. Entrevista de Raymundo Faoro :
 
O senhor tem fama de ser profético. Quem vai ganhar as 
eleições? 

FAORO: Acho que, se Lula for para o segundo turno com esse 
rapaz do Norte ( Ciro Gomes ), ele não terá risco nenhum, vai 
ganhar fácil. Se disputar com Serra, vai ser muito difícil, 
não pelo que ele é, mas porque atrás dele vai desabar o 
governo federal e todas as grandes fortunas. O poder 
econômico aliado ao poder do Estado vai querer impingir o 
presidente. Tudo vai ser possível, até fraudes eleitorais 
podem ocorrer. 

Seria necessário um observador internacional, como vem 
falando o Ciro? 

FAORO: Isso é uma coisa que nos diminui. A observação tem que 
ser interna, feita por nós.

 
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UOL Eleições 2002 - Todos os lances da disputa política
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