Discurso  proferido pelo Professor Weber Figueiredo paraninfo da turma
de  formandos  em Engenharia da UERJ (Universidade do Estado do Rio de
Janeiro) em 13 de agosto de 2002.


Ilustríssimos  Colegas  da  Mesa,  Senhor  Presidente,  meus  queridos
Alunos, Senhoras e Senhores.

Para  mim  é  um  privilégio ter sido escolhido paraninfo desta turma.
Esta  é como se fora a última aula do curso. O último encontro, que já
deixa saudades. Um momento festivo, mas também de reflexão.

Se  eu  fosse  escolhido  paraninfo de uma turma de direito, talvez eu
falasse  da importância do advogado que defende a justiça e não apenas
o  réu.  Se  eu  fosse  escolhido  paraninfo de uma turma de medicina,
talvez  eu  falasse  da  importância  do  médico  que coloca o amor ao
próximo  acima  dos seus lucros profissionais. Mas, como sou paraninfo
de  uma  turma  de engenheiros, vou falar da importância do engenheiro
para o desenvolvimento do Brasil.

Para  começar,  vamos falar de bananas e do doce de banana, que eu vou
chamar  de  bananada  especial,  inventada  (ou  projetada) pela nossa
vovozinha  lá  em  casa,  depois que várias receitas prontas não deram
certo.  É  isso  mesmo.  Para  entendermos a importância do engenheiro
vamos falar de bananas, bananadas e vovó.

A  banana é um recurso natural que não sofreu nenhuma transformação. A
bananada  é  igual  a  banana  mais outros ingredientes mais a energia
térmica  fornecida  pelo  fogão  mais  o  trabalho  da  vovó  e mais o
conhecimento,  ou  tecnologia  da vovó. A bananada é um produto pronto
que  eu  vou  chamar  de  riqueza.  E  a  vovó? Bem a vovó é a dona do
conhecimento, uma espécie de engenheira da culinária.

Agora,  vamos supor que a banana e a bananada sejam vendidas. Um quilo
de  banana  custa  um real. Já um quilo da bananada custa cinco reais.
Por  que essa diferença de preços? Porque quando nós colhemos um cacho
de  bananas  na bananeira, criamos apenas um emprego: o de colhedor de
bananas.  Agora,  quando  a  vovó, ou a indústria, faz a bananada, ela
cria  empregos  na  indústria  do açúcar, da cana-de-açúcar, do gás de
cozinha,  na  indústria de fogões, de panelas, de colheres e até na de
embalagens, porque tudo isto é necessário para se fabricar a bananada.

Resumindo,  1  quilo  de bananada é mais caro do que 1 quilo de banana
porque  a  bananada é igual a banana mais tecnologia agregada, e a sua
fabricação  criou  mais empregos do que simplesmente colher o cacho de
bananas  da bananeira.

Agora  vamos  falar  de  outro  exemplo  que  acontece no dia-a-dia no
comércio  mundial  de mercadorias. Em média: 1 quilo de soja custa dez
centavos de dólar, 1 quilo de automóvel custa dez dólares, isto é, cem
vezes  mais, 1 quilo de aparelho eletrônico custa cem dólares, 1 quilo
de avião custa mil dólares, ou seja, dez mil quilos de soja, e 1 quilo
de satélite custa cinqüenta mil dólares. Vejam, quanto mais tecnologia
agregada  tem  um  produto,  maior  é o seu preço, mais empregos foram
gerados na sua fabricação. Os países ricos sabem disso muito bem.

Eles  investem na pesquisa científica e tecnológica. Por exemplo: eles
nos  vendem  uma  placa  de  computador  que  pesa  cem gramas por 250
dólares.  Para  pagarmos  esta  plaquinha eletrônica, o Brasil precisa
exportar  20  toneladas de minério de ferro. A fabricaçao de placas de
computador criou milhares de bons empregos lá no estrangeiro, enquanto
que  a  extração  do  minério  de  ferro  cria pouquíssimos e péssimos
empregos aqui no Brasil.

O  Japão  é pobre em recursos naturais, mas é um país rico. O Brasil é
rico  em  energia  e recursos naturais, mas é um país pobre. Os países
ricos  são  ricos materialmente porque eles produzem riquezas. Riqueza
vem  de  rico.  Pobreza  vem  de  pobre.  País  pobre é aquele que não
consegue  produzir riquezas para o seu povo. Se conseguisse, não seria
pobre, seria país rico.

Gostaria de deixar bem claro tres coisas:

1)  quando me refiro à palavra riqueza, não estou me referindo a jóias
nem a supérfluos. Estou me referindo àqueles bens necessários para que
o ser humano viva com um mínimo de dignidade e conforto;

2)  não  estou  defendendo o consumismo materialista como uma forma de
vida, muito pelo contrário; e

3s)  acho  abominável  aqueles  que  colocam  os  valores das riquezas
materiais acima dos valores da riqueza interior do ser humano. Existem
nações  que  são  ricas,  mas  que  agem de forma extremamente pobre e
desumana em relação a outros povos.

Creio  que  agora  posso  falar  do  ponto principal. Para que o nosso
Brasil  torne-  se um País rico, com o seu povo vivendo com dignidade,
temos   que   produzir   mais   riquezas.   Para  tal,  precisamos  de
conhecimento,  ou  tecnologia,  já  que  temos  abundância de recursos
naturais  e energia. E quem desenvolve tecnologias são os cientistas e
os  engenheiros,  como  estes  jovens  que  estão  se  formando  hoje.
Infelizmente,  o  Brasil  é  muito  dependente  da tecnologia externa.
Quando  fabricamos  bens  com  alta tecnologia, fazemos apenas a parte
final  da  produção.  Por  exemplo:  o  Brasil  produz  5  milhões  de
televisores  por ano e nenhum brasileiro projeta televisor. O miolo da
TV,  do  telefone  celular e de todos os aparelhos eletrônicos, é todo
importado. Somos meros montadores de kits eletrônicos.

Casos  semelhantes também acontecem na indústria mecânica, de remédios
e,  incrível,  até  na  de alimentos. O Brasil entra com a mão-de-obra
barata  e  os  recursos naturais. Os projetos, a tecnologia, o chamado
pulo  do  gato,  ficam  no  estrangeiro,  com  os verdadeiros donos do
negócio.  Resta  ao  Brasil  lidar  com  as  chamadas caixas pretas. É
importante  compreendermos  que os donos dos projetos tecnológicos são
os  donos  das  decisões  econômicas, são os donos do dinheiro, são os
donos das riquezas do mundo. Assim como as águas dos rio correm para o
mar,  as  riquezas do mundo correm em direção ao países detentores das
tecnologias avançadas.

A  dependência científica e tecnológica acarretou para nós brasileiros
a  dependencia  econômica,  política e cultural. Nao podemos admitir a
continuação  da  situação  esdrúxula,  onde  70%  do  PIB brasileiro é
controlado por não residentes. Ninguém pode progredir entregando o seu
talão  de cheques e a chave de sua casa para o vizinho fazer o que bem
entender.  Eu  tenho  a  convicção  que  desenvolvimento  científico e
tecnológico  aqui  no Brasil garantirá aos brasileiros a soberania das
decisões  econômicas,  políticas  e  culturais.  Garantirá trocas mais
justas  no  comércio  exterior. Garantirá a criação de mais e melhores
empregos.  E,  se  toda  a  produção  de riquezas for bem distribuída,
teremos a erradicação dos graves problemas sociais.

O   curso   de  engenharia  da  UERJ,  com  todas  as  suas  possíveis
deficiencias,   visa  a  formar  engenheiros  capazes  de  desenvolver
tecnologias.  É  o  chamado  engenheiro de concepção, ou engenheiro de
projetos.   Infelizmente,   o   mercado  desnacionalizado  nem  sempre
aproveita  todo este potencial científico dos nossos engenheiros. Nós,
professores,  não  podemos nos curvar às deformações do mercado. Temos
que  continuar  formando  engenheiros  com  conhecimentos  iguais  aos
melhores   do   mundo.   Eu  posso  garantir  a  todos  os  presentes,
principalmente  aos  pais,  que  qualquer um destes formandos é tão ou
mais  inteligente  do  que  qualquer  engenheiro americano, japones ou
alemão.  Os  meus trinta anos de magistério, lecionando desde o antigo
ginásio  até  a  universidade,  me  dão  autoridade para afirmar que o
brasileiro  nao  é  inferior  a ninguém, pelo contrário, dizem até que
somos  muito  mais  criativos do que os habitantes do chamado primeiro
mundo.

O  que  me  revolta,  como  professor e cidadão, é ver que as decisões
políticas   tomadas   por   pessoas  despreparadas  ou  corruptas  são
responsáveis pela queima e destruição de inteligências brasileiras que
poderiam,  com  o  conhecimento apropriado, transformar o nosso Brasil
num  país  florescente,  próspero  e socialmente justo. Acredito que o
mundo  ideal  seja aquele totalmente globalizado, mas uma globalização
que  inclua  a  democratização  das decisões e a distribuição justa do
trabalho  e  das  riquezas.  Infelizmente,  isto  ainda  está longe de
acontecer, até por limitações físicas da própria natureza. Assim, quem
pensa  que  a  solução par a os nossos problemas virá lá de fora, está
muito  enganado.  O dia em que um presidente da república, ao invés de
ficar  passeando  como  um  dândi  pelos  palácios  do primeiro mundo,
resolver  liderar  um  autêntico  projeto de desenvolvimento nacional,
certamente  o  Brasil  vai precisar, em todas as áreas, de pessoas bem
preparadas. Só assim seremos capazes de caminhar com autonomia e tomar
decisões que beneficiem verdadeiramente a sociedade brasileira. Será a
construção  de  um  Brasil  realmente moderno, mais justo, inserido de
forma  soberana  na economia mundial e não como um reles fornecedor de
recursos naturais e mao-de-obra aviltada.

Quando  isto  ocorrer,  e  eu  espero  que seja em breve, o nosso País
poderá  aproveitar  de  forma  muito  mais  eficaz  a inteligência e o
preparo  intelectual dos brasileiros e, em particular, de todos vocês,
meus  queridos  alunos,  porque  vocês  já foram testados e aprovados.
Finalmente,  gostaria de parabenizar a todos os pais pela contribuição
positiva  que  deram  a  nossa sociedade possibilitando a formação dos
seus  filhos  no  curso de engenharia da UERJ. A alegria dos senhores,
também é a nossa alegria.

Muito Obrigado.

Weber Figueiredo, UERJ 13 de agosto de 2002

-- 
Roger Chadel

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