Colhida na newsletter do Marko Ajdarick de hoje, dia 3/10/2002

http://www.uol.com.br/jornaldodia/mu01.htm
Title: Jornal do Amapá
 
retranca Macapá/AP - Quinta-feira, 03 de outubro de 2002
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  A urna eletrônica é segura?

Especialistas discutem a vulnerabilidade da eleição mais informatizada do mundo

O Brasil realiza em outubro de 2002 a eleição mais informatizada do mundo: 404 mil urnas eletrônicas em 6.600 cidades receberão o voto de 115 milhões de cidadãos. Contudo, alguns pesquisadores e especialistas em segurança eleitoral questionam a inviolabilidade do sistema eletrônico de votação. Alega-se que o fato de o código-fonte dos softwares da urna eletrônica não ter sido aberto aos partidos tornaria o sistema passível de fraudes: a possibilidade de identificação do voto de cada eleitor e a impossibilidade de recontagem de todos os votos são as principais críticas.
O funcionamento da urna eletrônica é simples: ela recebe os votos, emite ao final cinco cópias do resultado (o boletim de urna) e o presidente de mesa manda os disquetes para o Tribunal Regional Eleitoral de seu estado. O banco de dados verifica a equivalência entre o número de eleitores e votos por meio de resumos criptográficos. O sistema operacional VirtuOS será utilizado em 350 mil urnas (o restante usará o Windows CE). O código-fonte do sistema, porém, não foi aberto a representantes dos partidos, pois a patente pertence à empresa Microbase, com a qual o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) assumiu compromisso de sigilo.
Alguns softwares das urnas — como os aplicativos de votação e auditoria, o sistema operacional e o criptográfico — são potencialmente fraudáveis. Se o aplicativo de votação for alterado, por exemplo, é possível passar para um candidato um voto dado a outro. “As urnas podem ser atacadas central ou regionalmente”, diz Amílcar Brunazo Filho, engenheiro especializado em segurança de dados e moderador do Fórum do Voto Eletrônico. “Basta uma boa noção de programação e acesso aos programas.”
Outro foco possível de fraude é a biblioteca criptográfica, que protege os dados gravados nos boletins de urna antes da apuração. “A Agência Brasileira de Inteligência [órgão vinculado à Presidência da República] adaptou e forneceu ao TSE uma biblioteca pública, a Miracl, pega da internet”, diz Brunazo. Há risco de fraude caso haja falhas no sistema que o autor da biblioteca saiba explorar. Esta poderia executar tarefas para a qual não foi especificada, como interceptar dados enviados do teclado para o programa de votação e deste para tela — o que pode alterar o resultado da votação.
O TSE reuniu numa única máquina os processos de identificação, votação e apuração. O número do título do eleitor é digitado pelo mesário e computado no mesmo hardware que o voto. Isso permitiria identificar o eleitor e seu voto, o que viola o princípio do voto secreto. “É o mesmo método utilizado pelo computador do Senado: voto e informação juntos”, ironiza Brunazo, em alusão à recente fraude no painel do Senado.
Apesar das críticas, não há vestígios de falhas no sistema segundo o pesquisador Jeroen van de Graaf, do Laboratório de Computação Científica da Universidade Federal de Minas Gerais. “Não constatei erros nas observações práticas que realizei”, diz. “A logística do sistema é impressionante. O único problema é a impossibilidade de auditoria e recontagem dos votos.”
Para solucionar a questão da recontagem, o TSE decidiu colocar impressoras em 5% das urnas. Dessas, 3% serão contabilizadas, porém serão sorteadas na véspera da eleição. “Com isso, o procedimento perde qualquer valor para auditoria”, diz Michael Stanton, pesquisador do Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense. “É possível confeccionar um programa da urna para trapacear apenas se não houver uma impressora acoplada a ela.” Se não houver impressora em sua urna, o eleitor não terá como confirmar que seu voto foi computado para o candidato escolhido.


A receita para um bom candidato

Estudo avalia relevância de escolarização, titulação e militantismo para trabalho político

Debates sobre o preparo político de candidatos são constantes na atual eleição, embora poucos estudos revelem o que é estar bem preparado. Para descobrir quais fatores são relevantes para possibilitar uma carreira política bem-sucedida, o sociólogo Odaci Luiz Coradini, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, desenvolveu um estudo sobre a importância da escolarização, da titulação universitária e do militantismo para o trabalho político.
Coradini entrevistou funcionários dos primeiros escalões (eleitos ou escolhidos) de dois governos, do PMDB (1995) e do PT (1999), no Rio Grande do Sul. Ele constatou aumento no nível de escolarização dos que trabalham na política — são raros os que não têm curso superior. Outro fator interessante foi a expansão do número de profissionais com cursos como ciências sociais, em detrimento dos tradicionais diplomados em direito ou engenharia. No período avaliado, a participação de sociólogos no secretariado do governo cresceu de um para cinco na troca de mandatos, enquanto a de economistas permaneceu igual e a de administradores praticamente desapareceu.
A sucessão trouxe mudanças significativas, das quais sobressai a maneira de pensar a utilidade da escolarização para a política. “A maioria dos profissionais do governo iniciado em 1999 tem uma maneira militantista de conceber as atividades políticas”, explica Coradini. Eles dificilmente desvinculam política partidária de outras formas de militância, como movimento estudantil ou sindical, e, da escolarização formal, aproveitam mais as relações estabelecidas. Por outro lado, para a ocupação de um cargo político no governo anterior, prevaleciam diplomas socialmente mais valorizados e a suposta ‘competência técnica’.
Para descobrir os fatores considerados pelos eleitores na escolha do candidato foi aplicado um questionário, que analisava não só suas preferências, mas também sua escolarização e renda. O resultado mostrou que pessoas com pouca escolaridade tendem a votar em candidatos sem relação com a política ou conhecidos seus. Os políticos usam esse dado para tentar criar uma identificação com eleitores: por isso, não é raro encontrar em propagandas destaque para a falta de experiência do candidato. “É como se eles dissessem: não sou profissional, sou como um de vocês”, diz Coradini.
Nas camadas mais escolarizadas observam-se duas tendências diferentes. Há um grande percentual de atuantes na política que, em geral, levam em conta “a obediência ao partido” e “o grau elevado de instrução”. No entanto, existem também os ‘anti-militantistas’ — apesar de pouco interesse pela política ser característica dos menos escolarizados —, que votam nos que têm pouca relação com a política. A diferença é que esses não levam em conta o conhecimento pessoal, mas a imagem de “competência” do candidato.
No exemplo estudado fica claro que o interesse pela política aumenta em função da escolaridade. No entanto, a pesquisa também concluiu que a titulação escolar pode ser usada de formas diferentes, pois é concebida de maneira distinta pelos políticos. “Embora seja óbvio que o aumento do militantismo está ligado à escolarização, é preciso considerar que esta não é causa, mas recurso na esfera política”, conclui Coradini.

O artigo ‘Escolarização, militantismo e mecanismos de ‘participação’ política’, de Odaci L. Coradini, foi publicado em Como se fazem eleições no Brasil Beatriz Heredia, Carla Teixeira, Irlys Barreira (orgs.) Rio de Janeiro, 2002, Editora Relume Dumará 274 páginas - R$ 25,60
Gisele Lopes
Ciência Hoje on-line
27/09/02

 

 

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