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Luiz Inácio versus Lula da Silva
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Giambatista Brito
 
Chegamos a semana que antecede as eleições de 6 de outubro e ao candidato do PT à presidência falta 1% das intenções de voto para levar o primeiro turno. Naturalmente uma auréola de esperança cobre boa parte dos brasileiros, enchendo corações de alegria e tornando quase real aquele gostinho de vitória já adiado por três vezes. E movida por esse sentimento, uma parcela dos que querem ver Lula-lá se perguntam: "porque Zé Maria não retira sua candidatura e assim ajuda a materializar esse sonho já tão postergado?".
 
A resposta a essa pergunta o próprio Lula poderia dar se não estivesse impedido de fazê-lo.
 
Isso mesmo. Impedido. Porque no fim das contas estamos falando de duas personagens populares que embora sejam encarnadas pelo mesmo homem, são figuras bem distintas: um é o operário Lula da Silva da década de 80 e o outro, é o senhor Luis Inácio, versão 2002. Isso parece bem complexo, é verdade, mas talvez só assim, confrontando as duas personagens, esse quebra-cabeça consiga ser montado. E aí será preciso fazer um alerta a todos do tipo: "Cuidado, o Luis Inácio não é o Lula. Aliás, se pudesse, o companheiro Lula da Silva estaria fazendo campanha contra o Senhor Luiz Inácio". Isso será um choque, quase uma blasfêmia, para os que agora envolvidos no calor da campanha eleitoral pretendem eleger Luis Inácio relembrando os bons tempos de Lula da Silva. Mas é preciso ao menos alertá-los.
 
O Lula da Silva, nascido nas greves do ABC do final da década de 70 e fundador do Partido dos Trabalhadores em meio à ditadura militar, foi um grande lutador. Sempre mereceu a admiração do povo pobre e trabalhador brasileiro, justo porque sempre expressou as angustias e aspirações desse povo. Teve a coragem de se lançar candidato a governador de São Paulo em 82 e chamar o voto dos trabalhadores contra os patrões apesar das críticas de "divisionista" e "sectário". "Trabalhador vota em trabalhador", "Quem vota em peão, não vota em patrão" e "Vote no 3 que o resto é burguês" eram os lemas da campanha do companheiro Lula da Silva. Apesar de nunca ter sido revolucionário sabia ousar e desafiar as instituições do regime e do próprio império, boicotando o colégio eleitoral de 85, não assinando a Constituição de 88 e denunciando sistematicamente a dívida externa e o FMI. Talvez tenha sido em 89, a última vez que vimos Lula da Silva. Um dos seus últimos suspiros foi desferido contra o então presidente da FIESP, Mário Amato, em resposta a ameaça de fuga em massa dos empresários do país caso o companheiro Lula chegasse a presidência. Lula foi brilhante ao dizer que não fariam a menor falta, pois os trabalhadores saberiam governar o país.
 
Foi esse Lula da Silva, que empolgou multidões e dividiu o país na primeira eleição direta para presidente da república do país. Foi esse Lula que foi atacado com todas as forças pelas armas do regime democrático-burguês, em especial a mídia, nas reportagens da sempre ultra-reacionária Veja e nas artimanhas da Rede Globo de Televisão. Foi esse Lula que levou ao desespero os poderosos do país os levando a construir a todo custo a personagem quase que folclórica da democracia brasileira, a candidatura anti-Lula, encenada por Collor em 89 e por FHC em 94 e 98.
 
Já o senhor Luis Inácio é bem diferente do nosso herói da década de 80. Também é um lutador, mas de um estilo bem diferente. Do tipo Silvio Santos ou José Alencar, daqueles que trabalha e trabalha até "vencer na vida". Nascido das armadilhas da institucionalidade e dos toques do mago Duda Mendonça, Luiz Inácio é a própria antítese de Lula da Silva, um alter-ego. Aliado de inimigos de Lula, como Quércia e Sarney, Luiz Inácio é bem visto pela Veja e tratado com todo respeito pela TV do seu Roberto Marinho. A FIESP, incluindo aí Mário Amato, fazem elogios mil. Já o FMI, chega a tratá-lo como presidente a uma semana antes das eleições, afinal não fosse o aval do senhor Luis Inácio, o Fundo não teria conseguido fechar mais um acordo daqueles contra o Brasil. Ídem o dono do Banco Itaú, Roberto Setubal. E as instituições do regime podem se sentir bem a vontade, porque mesmo com as eleições podendo ser fraudadas pelas caixas pretas eletrônicas que chamam de urnas, o senhor Luis Inácio é incapaz de tecer um comentário contra e ainda por cima confia cegamente na palavra do homem da justiça de FHC, o senhor Nelson Jobim.
 
Tudo ao contrário do que fez o companheiro Lula da Silva.
 
Para ser mais exato, nestas eleições, o império e a burguesia nacional, conseguiram gestar a mais perfeita versão da personagem Anti-Lula, encarnada agora pelo próprio senhor Luis Inácio do Partido dos Trabalhadores.
 
Então, se pudesse, o companheiro Lula da Silva responderia assim aos que insistem em pedir que José Maria de Almeida do PSTU retire sua candidatura a favor do senhor Luiz Inácio: "Meu nome é Lula da Silva, sou brasileiro, amo o meu país. Viva a Amazônia, viva o Cristo Redentor, viva a campanha contra a ALCA, viva o PSTU e viva José Maria de Almeida."
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