Esse lamento gaúcho não é bem entendido para quem enxerga a mídia com os
olhos da Bahia.

A mídia nacional, pois a regional lá dos pampas nós não assistimos, passou a
imagem de episódio muito pífio, aquele que talvez tenha sido o único a ser
digno de nota por aqui, contra o governo gaúcho: o dos bicheiros. Visto
daqui, pareceu que as oposições bateram muito fôfo, ou o episódio em si não
tinha muita relevância. Tanto que surgiu entre as esquerdas até a hipótese
de a denúncia ter sido vazada por ordem da nacional do PT, que não via com
bons olhos o Olívio Dutra pois tinha um viés um tanto antiimperialista
prejudicial à nova imagem do  PT e era preciso impedir que ele ganhasse a
convenção do PT.

A questão da FORD também não o desgastou por aqui. Ficou bem conceituado
tanto entre os que queriam a FORD na Bahia como entre os que eram contra.

A questão mas grave no meu entender e que foi ocultada durante esses 4 anos
pela mídia e pelos defensores da liberdade de imprensa e de opinião, é a do
governo do RS ter mais de trinta processos contra jornalistas e intelectuais
e que só aflorou agora com o affair Regina Duarte.


----- Original Message -----
From: Osvaldo Maneschy <[EMAIL PROTECTED]>
To: <[EMAIL PROTECTED]>
Sent: Thursday, November 07, 2002 5:51 PM
Subject: [VotoEletronico] FC - Abrindo os olhos? (II)


>
> UMA  VITÓRIA  INCOMPLETA
>
>                                                            Luiz Marques
>
>             O povo brasileiro decidiu por uma mudança nos rumos do país,
> ao eleger Luiz Inácio Lula da Silva. Com uma campanha centrada na idéia de
> uma nação una, capaz de superar as graves desigualdades que cindem a
> geografia social do Brasil e promover o desenvolvimento econômico através
> de um  "novo pacto", Lula confirmou a vitória da esperança contra o medo.
> Uma conquista que veio acompanhada de um crescimento da bancada do PT no
> Senado e na Câmara Federal, e do aumento de cadeiras nas Assembléias
> Legislativas em praticamente toda a Federação. A conclusão, pois, em
> termos nacionais diz respeito à receptividade das propostas condensadas no
> neologismo: petismo. Os desdobramentos internacionais irão revigorar a
> luta pela superação do neoliberalismo no mundo inteiro, ajudando na
> reinvenção da utopia socialista após duas décadas de crise civilizacional.
>
>             No Rio Grande do Sul a alegria se misturou às lágrimas com a
> derrota eleitoral de Tarso Genro. Compreender, com serenidade, as razões
> do insucesso regional é fundamental para prospectar próximos embates
> institucionais. Há que recuperar a história do bloqueio da mídia às ações
> do governo Olívio Dutra, os equívocos cometidos ao longo dos últimos
> quatro anos que influíram no imaginário popular, até chegar às prévias que
> definiram a candidatura da Frente Popular. E à linha implementada durante
> a campanha, em especial na etapa inicial da disputa com a direita.
>
> Bloqueio. O silêncio e as distorções midiáticas impostas às realizações
> objetivas e às atitudes subjetivas empreendidas e assumidas pela
> administração estadual mostrou, mais uma vez, o risco que corre o regime
> democrático com os monopólios de comunicação. Não se trata, simplesmente,
> de acusar a parcialidade ululante da imprensa. Mas, pior, de denunciar a
> destruição do fundamento da própria democracia liberal, que se baseia na
> possibilidade do juízo individual operar escolhas com autonomia e
> discernimento. Como um aparelho ideológico privado, a mídia hegemônica
> ocultou as rupturas do atual governo criando um ambiente de desinformação
> e induzindo a preconceitos a avaliação da gestão na opinião pública. Para
> completar, divulgou pesquisas infladas sobre a intenção de votos no prócer
> do PMDB às vésperas da eleição, com o claro intuito de canalizar a vontade
> geral dos eleitores. Ao que, autocriticamente, deve-se acrescentar o fato
> de que a própria comunicação governamental falhou no empenho de informar a
> sociedade e interpelar os movimentos sociais sobre conquistas importantes
> e demarcatórias obtidas em diversas áreas. Sempre na contracorrente do
> quadro herdado de falência das finanças estatais.
>
> Equívocos. A esquerda lidou mal com o imaginário popular como se a
> materialidade dos projetos da administração pudesse compensar o descaso
> com os símbolos políticos. O ataque ao relógio dos 500 anos e a invasão
> das lavouras transgênicas, por um lado; por outro, a bandeira do MST na
> Secretaria da Agricultura e as cartilhas da Secretaria da Educação
> contribuíram para retirar do governo, no plano simbólico, a universalidade
> indispensável para implementar políticas com autoridade reconhecida
> socialmente. Assim, conquanto corretas e justas, as políticas de tais
> pastas foram com facilidade classificadas de  "partidárias" e
>  "autoritárias" pela oposição. Declarações e circulares oriundas da
> Secretaria de Segurança reforçaram a pecha oposicionista. Nestes casos,
> amplamente difundidos, restou evidente a debilidade teórico-política do
> governo e dos movimentos em construir uma hegemonia a partir da realidade
> concreta. Isto é, dos desníveis de consciência nas relações de classe no
> RS, de modo a elevá-los em vez de melindrá-los com vara curta. Governar é
> contrariar interesses, não necessariamente o  "bom senso", na acepção
> gramsciana.
>
> Prévias. O processo que resultou na indicação do candidato do PT foi
> traumático, tendo ainda ferido a ética em função da utilização de
> pesquisas encomendadas sem o aval das instâncias competentes para incidir
> na escolha dos pré-candidatos. Implicou a exclusão do governador e uma
> depreciação pública do mandato, afora a renúncia (valor negativo) do
> prefeito recém-eleito à prefeitura de Porto Alegre. Embora o partido tenha
> se recoesionado com agilidade para enfrentar o verdadeiro desafio, na
> percepção do eleitorado a imagem da gestão que inaugurou o Orçamento
> Participativo no Estado ficou arranhada apesar da incorporação de Miguel
> Rossetto na chapa. A contradição, quase uma imolação protagonizada por uma
> lógica internista que subestimou as conseqüências políticas do ato, criou
> um terreno fértil aos opositores do campo democrático-popular. Se a
> decisão dava provas do controle do partido sobre seu candidato, o que é
> louvável diante do laissez-faire nas estruturas políticas do país, também
> deixou transparecer uma rejeição intrapartidária ao governo antes mesmo do
> pronunciamento das urnas. A votação na Capital fala por si.
>
> Campanha. A linha no primeiro turno obedeceu à gramática predominante nas
> prévias, de distanciamento crítico da administração estadual. Um erro que
> custou caro, pois fez com que o candidato da situação não encarnasse com
> nitidez e coerência a proposta de continuidade do projeto. A ambiguidade
> foi flagrada pelos adversários e, com freqüência, cobrada em debates. Para
> os setores que avaliavam como  "regular" o desempenho do governo, a
> ausência de informações e de argumentos persuasivos significou, por meses
> a fio, um obstáculo à configuração de um apoio ativo. Muitos, inclusive,
> interpretaram de forma moralista a orientação política adotada
> identificando, nela, uma prepotência e uma arrogância. Foram os juros
> pagos por uma estratégia que, fora do contexto interno, revelou-se na
> aparência uma soberba em relação ao trabalho realizado sob a liderança de
> Olívio para resgatar a dignidade do Estado, sua capacidade de
> investimentos e seu dever de prestação de serviços públicos qualificados
> para o povo gaúcho. Já, na essência, a estratégia foi o que anunciou desde
> o princípio, um desastre com inegáveis e duradouros reflexos sobre o
> perfil da candidatura aos olhos da cidadania. Não raro, com comparações
> infamantes.
>
> Segundo turno. A modificação no vetor da campanha potencializou a chance
> de vitória da Frente Popular e diminuiu, consideravelmente, a diferença
> insinuada pelos índices em 6 de outubro. O tempo perdido antes, porém, não
> permitiu a virada. Mesmo com as correções estéticas nos programas de rádio
> e televisão, bem como com a inserção dos feitos do governo contrastados
> com o quadriênio neoliberal, a blindagem em torno do fenômeno Rigotto
> inviabilizou a alteração na tendência desenhada enquanto se gastava
> energias para combater com exclusividade Antônio Britto (outro desacerto
> estratégico). A ligação com os valores mudancistas representados em âmbito
> nacional por Lula foi, igualmente, um modo de politizar a intenção de voto
> com vantagens óbvias em face do efeito-onda do petismo encarnado pelo
> ex-torneiro mecânico do ABC paulista. Mas era tarde.
>
> Militância. Nunca, na história política da Frente Popular, tantos homens e
> tantas mulheres dedicaram-se com tamanho afinco em uma campanha eleitoral,
> como se observou agora. Fruto da ampliação das bases do PT, propiciada
> pelas múltiplas atividades desenvolvidas pelo governo atual e pelo OP em
> todas as regiões do Estado, milhares de novos lutadores sociais e
> políticos foram despertados para a batalha por uma sociedade mais humana e
> igualitária. Estiveram à frente de uma imensa mobilização republicana
> visando a continuidade do projeto começado em 1° de janeiro de 1999, com
> compromisso e responsabilidade com o futuro. A vitória de Lula é o
> resultado desta paixão convertida em disposição militante na serra, no
> vale, no litoral, no pampa. - Agora é sustentá-la!
>
> * Luiz Marques é secretário de cultura do RS
>
> Visite a pagina www.votoseguro.org
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> O texto acima e' de inteira e exclusiva responsabilidade de seu
> autor, conforme identificado no campo "remetente", e nao
> representa necessariamente o ponto de vista do Forum do Voto-E
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> O Forum do Voto-E visa debater a confibilidade dos sistemas
> eleitorais informatizados, em especial o brasileiro, e dos
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