Lula e a paciência dos brasileiros Laerte Braga
Pesquisa divulgada há cerca de dois dias mostra que ponderável parcela da opinião pública brasileira terá paciência com Lula. Há um consenso em mais de 70% da população brasileira que o primeiro ano de governo vai ser o ano de colocar as coisas em ordem e a partir do segundo, aí sim, a expectativa que as mudanças concretizem-se. Isso não significa, nem de longe, que essa paciência seja um cheque em branco. Será confirmada a partir do instante que essas pessoas perceberem que a estrada do governo Lula não tem nada a ver com a que foi seguida por Fernando Henrique nesses oito anos. Se de um lado há necessidade de governabilidade no primeiro ano, algo como matar a bola no peito para depois tentar o gol e isso boa parte da esquerda entende, por outro, há a percepção nítida da camisa de força que tentam vestir em Lula com o discurso, por exemplo, de ALCA com preocupações sociais. Ou o pacto social com congelamento de salários e preços. O trabalhador brasileiro está na situação daquele sujeito perdido no meio do deserto, sem qualquer perspectiva de encontrar água ou um oásis e que morre a dez minutos do poço. Não importa que tenham sido dez minutos, ou dez horas, morreu. A paciência dos brasileiros vai esgotar-se, ou frustrar-se, é o termo mais preciso, se Lula deixar-se dominar por setores hoje comprometidos com FHC e já de olho comprido e esticado no futuro governo do PT. Boa parte dessa gente está correndo para o PL, um partido de direita, na esperança que ou manter-se ou ganhar posições no futuro governo. A simples necessidade de estabelecer bases seguras para um primeiro ano, por si só, mostra que o confronto vai ser entre elites e classe trabalhadora. Governabilidade significa, para a esquerda, viabilizar condições para mudanças. Mudanças é o que eleitorado brasileiro sinalizou com clareza para Lula. O perigo nem tanto é Lula. O perigo é, ou um dos, a força majoritária do PT, a Articulação, comandada pelo deputado José Dirceu e, neste momento, às voltas com um único problema: cargos. O peleguismo partidário é um negócio sério e existe, é concreto. Há disputas com caneladas, chutes, rasteiras e todo o ingrediente dos partidos de direita, por essa ou aquela posição. Ao longo desses 22 anos o PT desenvolveu uma burocracia partidária perigosa e incrustada de tal forma na máquina, que torna-se difícil uma sacudida e uma arejada. A obsessão de alguns por viabilizar governabilidade encobre mal disfarçado esforço para tentar apossar-se da estrutura de governo. Vejam o caso do deputado Paulo Delgado. O cara perdeu o senso de qualquer coisa. Não faz outra coisa que não trabalhar o dia e a noite inteiros para ser ministro das Relações Exteriores. Isso, num plano lá em cima. Aqui embaixo a disputa começa a perder qualquer base ética e entre eles, a direita do PT. As forças à esquerda, tal e qual aconteceu na campanha, na prática, podem vir a ser a governabilidade desejada, pela consciência das dificuldades. Num primeiro momento. Mais à frente vai depender de Lula e José Dirceu entender que o voto por mudanças foi voto por mudanças mesmo e que se condições existirem, repito, se condições existirem, o que o brasileiro quer é um chute bem dado em qualquer banqueiro, ou agente, ou missão do FMI. A mesma noção que agora é preciso aceitar as regras do jogo deles, é a que espera que consigamos acumular forças para varrer com esses bandidos de qualquer tipo de influência no País. Em qualquer setor. E esse é o dilema de Lula. E é por isso que não pode ficar dizendo, nem ele e nem ninguém, que não tem nada com Chaves, ou com Castro, ou fazer de conta que intervenção militar norte-americana em todo o continente não é conosco. Tem tudo a ver e a não ser que queira ficar isolado e sem condições de enfrentar os bandidos, tem os de lá de Washington e os daqui, a saída é entender que a mudança é mudança mesmo e a paciência não vai durar um ano inteiro se não houver clareza nos primeiros passos do governo. É decifra-me, ou devoro-te. Em 10.11.2002 La Insignia. Brasil, novembro de 2002. http://www.lainsignia.org/2002/noviembre/ibe_054.htm ______________________________________________________________ O texto acima e' de inteira e exclusiva responsabilidade de seu autor, conforme identificado no campo "remetente", e nao representa necessariamente o ponto de vista do Forum do Voto-E O Forum do Voto-E visa debater a confibilidade dos sistemas eleitorais informatizados, em especial o brasileiro, e dos sistemas de assinatura digital e infraestrutura de chaves publicas. __________________________________________________ Pagina, Jornal e Forum do Voto Eletronico http://www.votoseguro.org __________________________________________________