Olá.
Olhando meus arquivos, encontrei a carta aberta do Brizola para o Jobim, de 05 de junho de 2002 (é dois mil e DOIS mesmo) abaixo e resolvi colocá-la na página do Voto-e.
Agora a carta póde ser vista em:
http://www.votoseguro.org/textos/brizola1.htm


[ ]s
  Amilcar

At 09:05 05/06/02 -0300, you wrote:
Atenção, listeiros, carta que Brizola enviou ontem - terça - no final da
tarde, ao Jobim. Vale a pena ler.
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Exmo. Sr. Ministro Presidente do Tribunal Superior Eleitoral
Sr. Nelson Jobim

Deparei-me hoje, estarrecido, com uma agressão verbal contra mim,
atribuída pela imprensa a V. Exa., na qual se me acusa de estar “com a cabeça nos anos 60” por preocupar-me com a lisura do processo eleitoral. A ser verdade tal
fato, lamento que alguém, de quem se espera o equilíbrio e a prudência de um altíssimo magistrado, justamente aquele que vai presidir eleições presidenciais,
comporte-se de maneira incompatível com estas funções.


Em primeiro lugar, permita lembrar a V. Exa. Que meus princípios de dignidade e preocupação com a verdade eleitoral não são apenas dos anos 60. Desde muito jovem, nos anos 40, enquanto eu viver os pratico e os praticarei. Dizer que eu desejo “voltar ao sistema de votação do bico de pena”, Sr. Ministro, é coisas que V. Exa. Sabe não apenas ser falso como uma agressão grosseira e inqualificável. Aliás, foi o Trabalhismo de Vargas, ao qual sempre me filiei, quem extinguiu esta vergonha do voto aberto e criou a Justiça Eleitoral que V. Exa. Preside.

Os fraudadores, hoje, deve saber o senhor Ministro, atuam por métodos muito mais sofisticados que aqueles dos coronéis do interior. É na informática, nos computadores, que se situam os maiores perigos de fraude. O caso “Proconsult”, a frustrada fraude que enfrentei há 20 anos, no rio de Janeiro, foi tramado e executado não a bico de pena, mas em programas e códigos de computador. As suspeitas a que me refiro, as partilham renomados professores da área de
informática e de engenharia, aliás à qual, por formação, encontro-me
afeito como não estaria fosse eu bacharel em Direito, como V. Exa.


O que o senhor chama de “voto vivo” é apenas e tão somente o voto verdadeiro: material, físico, contável e recontável. Não o voto virtual das urnas que o senhor defende como se fossem confiáveis por decreto, onde o eleitor tem um voto que desaparece, esvai-se e que se, por qualquer razão, for excluído do resultado, ninguém, nem mesmo os juízes eleitorais, saberá ou poderá provar. O voto impresso ­ em impressoras, Sr. Ministro, e não escritos a bicos-de-pena ­ são uma exigência da
lei que V. Exa. Tanto combateu no Congresso e que, por sua decisão, vai ser adotado
em menos de 5% das urnas nacionais. Este “voto-vivo”, Dr. Jobim, existe em todos
os países democráticos e desenvolvidos.


Também é a lei, senhor Ministro, que diz que todos os programas usados na eleição devem ser públicos. Vê-lo defender ­ mesmo contra o parecer da Unicamp ­ a existência de programas secretos, gerados e aplicados pelo órgão sucedâneo do SNI ­ esta ABIN e seu Cepesc ­ é algo que ofende não apenas a sua sabida e inegável inteligência, mas que lança, para muitos, numa área de sombria incompreensão os motivos que o levam a fazê-lo.

V. Exa sabe que sempre teve, de minha parte, uma postura de confiança e de cooperação para com o TSE. É da tradição de meus mais de 50 anos de vida pública respeitar e auxiliar a Justiça Eleitoral. Nunca o agredi pessoalmente em minhas declarações como faz V. Exa., lamentavelmente. A reação de meu partido a todo este manto de obscuridade que as urnas contém é a de pedir, sempre, mais clareza e transparência.

É, portanto, natural que os nossos serviços jurídicos estejam, diante de sua atitude,
estudando como enfrentar, dentro da Lei e do Direito, atitudes que nos parecem incompatíveis com a isenção, zelo e equilíbrio da nobilíssima função que é presidir o TSE, mais ainda quando ocorre a infeliz circunstância de que esta atividade vem a ser exercida por alguém que chegou a esta altíssima investidura pela via da indicação política, carregando consigo vínculos de intimidades pessoais com candidatos e governantes.


O Brasil tem o direito de esperar que esta função seja exercida com respeito, com decoro e com a imparcialidade que dignificam a Justiça e fazem acatada a sua
Magistratura.


Atenciosamente,

Leonel Brizola

Presidente Nacional do PDT

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