VOTO À CALIFÓRNIA
O já inusitado processo de "recall" do governador da Califórnia ganhou
contornos ainda mais extraordinários com a decisão de um tribunal de apelações
federal de adiar a realização do pleito, previsto para o próximo dia 7 de
outubro. As razões alegadas pela Corte do Nono Circuito também são pouco usuais:
a Califórnia precisa modernizar seu sistema de votação e aposentar as cédulas de
perfurar que tanta confusão causaram nas eleições presidenciais de 2000, da qual
George W. Bush saiu vitorioso.
Como ocorreu três anos atrás, a decisão de
anteontem, tomada por três dos juízes mais liberais da mais liberal das cortes
superiores federais, é vista como altamente politizada. O beneficiado, desta
feita, é o Partido Democrata, pois o adiamento do "recall" para março tende a
beneficiar o atual governador democrata, Gray Davis, que ganharia mais tempo e
mais armas para defender seu mandato. Se o acórdão não for derrubado, já que
deve haver recurso, o "recall" ocorreria junto com as prévias presidenciais do
Partido Democrata.
Independentemente dos méritos jurídicos da questão,
existem razões estatísticas para justificar a decisão de segunda-feira. A taxa
de "desperdício" de votos com a tecnologia da cédula de perfurar, que abrange
44% dos eleitores californianos, é de 2,23%. Já as máquinas de votar, oferecidas
aos 56% dos eleitores restantes, apresenta um índice de falhas de apenas 0,89%.
Evidentemente, os condados que dispõem das cédulas de perfurar são os mais
pobres, habitados por membros de minorias.
É curioso constatar que os EUA,
berço da democracia contemporânea, não apenas tenham dificuldades para
contabilizar seus votos como também demonstrem pouco interesse em aperfeiçoar o
sistema.