Com um abraço de Marko Ajdaric
 
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Na avaliação do professor de ciência política da PUC (Pontifícia Universidade Católica), de São Paulo, Rogério Arantes, os altos salários recebidos pelos políticos e a estrutura disponível se transformaram em uma das principais fontes de desgaste da categoria junto ao eleitor.

Segundo Arantes, historicamente a população tende a criticar os vencimentos da classe política, independente dos valores.

O professor, no entanto, acredita que o assunto não pode ser tratado de forma "maniqueísta".

"A maioria da população defende que deputados e vereadores não recebam salários. O subsídio, no entanto, foi introduzido já nos regimes democráticos da Europa como forma de possibilitar o acesso de trabalhadores ao parlamento. As cadeiras eram ocupadas apenas por grandes empresários que tinham condições de se manter dentro da política sem receber salários", disse Arantes, que é pesquisador do Idesp (Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos) da PUC.

O especialista sugere a criação de fóruns populares formado por ONGs, sindicatos e outras entidades para fiscalizar os gastos nos parlamentos como forma de se evitar abusos.

ESTUDO -Rogério Arantes citou um estudo do professor do Instituto Brasileiro de Capitais, Eduardo Gianetti da Fonseca, feito no ano passado, que mostra que as Câmaras dos 5.561 municípios brasileiros consomem por ano R$ 3,7 bilhões.

O valor, de acordo com o levantamento, é quase o dobro investido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) no maior programa social do governo anterior --o Bolsa Escola, que recebeu R$ 2 bilhões de recursos em 2002.

O estudo de Eduardo Gianetti também mostra que desde 1990 foram criados 1.070 novos municípios e que o Brasil possui cerca de 61 mil vereadores.

 
2) Deputados defendem as despesas
São José dos Campos

A deputada federal Angela Guadagnin (PT), reeleita com votação recorde na região -- 153.931 adesões -- classifica as despesas como "custo da democracia".

"Se não houvesse essa estrutura só os grandes empresários se candidatariam, porque o trabalhador não teria condições de custear seu mandato", disse Angela, que também foi prefeita de São José.

"O eleitor tem consciência que está dando condições para eu ser representante dele em um processo democrático. Como eu poderia dirigir carro, bater ofício, percorrer as regiões sozinha? Não posso usar o telefone da minha casa para o mandato".

Cumprindo o primeiro mandato, o deputado federal Marcelo Ortiz (PV), que tem base em Guará, afirma que do ponto de vista financeiro a atividade de deputado é um mau negócio. Ele garante que ganhava mais antes de assumir o cargo há oito meses.

"Estou pagando para ser deputado. Se fosse pensar em ganho eu não seria deputado nunca", afirma. Ortiz é advogado e professor universitário e "abandonou" as atividades para se dedicar à política.

"Ganho um salário líquido em torno de R$ 7.500 e me arrisco todas as semanas em viagens de avião e na Dutra. Minha dedicação é integral. Nenhum executivo se submeteria a um trabalho igual por esse valor", disse.

Também no primeiro mandato, o deputado estadual Padre Afonso Lobato (PV) admite que os salários pagos pela Assembléia --R$ 9.540 -- está muito acima da grande maioria da população, o que causa "injustiças". "Boa parte da população não tem acesso sequer ao trabalho", disse Lobato.

O deputado, entretanto, afirma que usa a estrutura de seu gabinete para "servir à população". "Sem isso é impossível fazer o trabalho".

"A minha estrutura uso a favor do povo. Fui diplomado em 15 março e no dia seguinte já inaugurei meu escritório em São José. Estou à disposição do povo durante 24 horas", afirmou o deputado estadual Roberto Jesus (PTB), também eleito para o primeiro mandato.

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