Percebi que, por algum problema, a mensagem que mandei antes sobre o artigo do Paulo Henrique Amorim no UOL saiu truncada. Por isso, até para registro histórico, envio novamente, agora dividido em 3 mensagens.

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Primeira mensagem:

O outro golpe que Brizola evitou
23/06/2004 - 17h47

PAULO HENRIQUE AMORIM
Âncora do UOL News

O primeiro golpe que Leonel Brizola evitou foi o de 1961. Como disse o professor Moniz Bandeira, aqui no UOL News (veja a entrevista com Moniz Bandeira), Brizola foi o primeiro civil a evitar um golpe militar na América Latina. Ele não contava com muitos instrumentos de combate. Tinha 104 rádios espalhadas pela Rede da Legalidade. É como se, hoje, ele não tivesse mais do que um blog para enfrentar os militares _como lembrou, também aqui no UOL News, o jornalista Paulo Markun (veja a entrevista com Paulo Markun).

Esse foi o primeiro golpe que ele evitou.

O segundo foi a tentativa de golpe nas eleições para governador do Rio, em 1982. Tentaram tomar a eleição dele no tapetão. E, agora, trama-se um golpe dentro do golpe.

O jornal "O Globo" e a "TV Globo" faziam parte desse golpe. E, no elogio fúnebre de Brizola, a Globo dá uma versão imprecisa dos acontecimentos. É o golpe dentro do golpe.

Seria importante nessa hora relembrar que Brizola foi massacrado pela imprensa carioca. A começar pela Globo. Os jornais locais da TV Globo moviam uma campanha implacável, de manhã à noite. Brizola não aparecia nos jornais em rede. A tal ponto que os carros de reportagem da Globo não entravam nos bairros pobres e nas favelas do Rio: onde surgiu o slogan "o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo"?

Vamos voltar a 82. De um lado, Wellington Moreira Franco, candidato do governo militar. De outro, Brizola, Sandra Cavalcanti e Miro Teixeira. Pouco antes da eleição, os órgãos de imprensa receberam a visita de um representante da empresa Proconsult. Ela oferecia a preço de banana o serviço de apuração. Os computadores dela trabalhariam para o Tribunal Regional Eleitoral e poderiam fazer o mesmo para as organizações jornalísticas.

Pouco antes da eleição, na redação do "Jornal do Brasil", onde eu trabalhava, se soube, através de uma fonte do SNI (antiga Abin), que o Brizola perderia muitos votos na Baixada Fluminense, seu reduto eleitoral. Porque o eleitor "descamisado" não saberia votar corretamente.

O "Jornal do Brasil" optou por somar os votos apurados pelo TRE e entregá-los a um especialista em pesquisas de opinião, o jornalista Pedro do Couto, que conta esse episódio no livro "Crônica Política do Rio de Janeiro", da Fundação Getúlio Vargas Editora.

O Globo e a Rede Globo compraram os serviços da Proconsult.

A Proconsult somava, primeiro, os votos do interior, onde Moreira Franco era forte. E as manchetes do Globo e da Rede Globo saiam com a vitória de Moreira.

O Jornal do Brasil e a Rádio Jornal do Brasil trabalhavam com os dados do TRE e, com o uso de projeções, a cada dia, mostravam que Brizola podia ganhar.

Porém, a força da Globo já era incontrastável. Começou a se consolidar o "já ganhou" de Moreira.

Brizola saiu em campo como uma fera. Recebeu um apoio decisivo das organizações do JB e da TV Bandeirantes. Quem tem razão?, ele perguntava: os dados da Proconsult/Globo, ou os votos contados a mão, um a um, do TRE e do JB?

Como se viu na eleição na Flórida, a estratégia de Bush foi clara: enquanto não se resolve quem ganhou a eleição, é importante ganhar a opinião publica. O resultado se seguirá...

O que se seguiu é que uma reportagem do JB demonstrou que o software da Proconsult tinha um "fator Delta", que convertia votos de Brizola em votos brancos, numa proporção pré-determinada.

Não é isso o que os jornais da Globo dizem agora, com a morte de Brizola

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