Colegas
Com a liberdade que me
permitem vinte anos de companheirismo (ainda que nos últimos anos pouco
tenhamos convivido) quero fazer algumas observações sobre a intervenção do Cesar
Cordaro neste debate.
Ele escreveu:> Esse, a meu ver, é um dos
lados de uma questão que é multifacetária. Outro dos seus
> lados - que não tem relação direta com a organização do Advogado Público - refere-se > ao problema dos precatórios que merece um debate mais > amplo. Ninguém, em sã consciência, vai negar que a situação é injusta e que por razões > de manipulações políticas (emissão de títulos e desvio de recursos), muitos credores > estão a ver navios. Não podemos defender essa situação em nome do corporativismo, nem > podemos permitir que a Advocacia Pública seja identificada com este ou aquele > governante, posto que sempre sustentamos ser advogados do ente público e não do > governo. César, a PGE sofreu e está sofrendo (v. Boletim
no. 8 da OAB) uma crítica rasteira e imoral porque está defendendo o erário
contra condenações judiciais absurdas. São coisas assim como precatórios de 1,3
bilhões contra a Fazenda, 700 milhões contra o DER (este, aliás, patrocinado por
advogado que é entrevistado no malsinado Boletim. Veja que tipo de
autoridade moral ele tem para falar em nome da Justiça). Os credores que, como
vc. diz, "estão a ver navios", quando por iniciativa da PGE são
esses, e temos muito orgulho de ter conseguido vitórias judiciais
sustando tais pagamentos. Aliás, apenas cumprimos nosso dever de ofício, e a OAB
deveria respeitar o direito que têm os procuradores de, meramente,
advogar e garantir a sua sobrevivência trabalhando dignamente. Diz um
colega nosso, com muita propriedade, que a esperteza aí consiste em confundir o
pagamento da viúva com a indenização obscena de uma escarpa da Serra do Mar que
estava virgem desde que Cabral aportou aqui. Não é difícil imaginar o que
significa, em termos de investimentos sociais, aquele 1 bilhão que o Estado está
condenado a pagar a um único proprietário. Se a questão é falar
da justiça, estamos em posição privilegiada. Esperávamos que a OAB,
honrando sua tradição democrática, estivesse ao nosso lado, e não
contra.
Quanto às
irregularidades na emissão de títulos, foi esta gestão da PGE que representou ao
Ministério Público contra tal prática, em meados de 95, talvez 96, muito antes
da existência da CPI dos Precatórios. Tal representação originou uma ação civil
pública que está em curso. Quanto ao pagamento da viúva (que não é, certamente,
o que está causando tanta dor à OAB) está hoje atrasado por culpa da omissão de
toda a sociedade (inclusive a própria OAB) que assistiu inerte ao cômico
pagamento de faz de conta dos precatórios no tempo da inflação. O mecanismo
constitucional em vigor permitia que os entes públicos se livrassem de suas
obrigações com depósitos anuais de menos de 5% do valor do débito, e não vi
ninguém denunciar isso, com o vigor que agora aparece, antes de 1994.
E é exatamente a existência dos superprecatórios que, por força da ordem
cronológica constitucional, impede agora que a progressão dos pagamentos alcance
a viúva.
A idéia de
que a atividade da advocacia pública na questão dos
superprecatórios tem algo a ver com a questão política de "defender este ou
aquele governante" é, assim, uma cortina de fumaça da diretoria da OAB.
Eles é que jogam na confusão entre a advocacia pública e a
política. Em sã consciência, será que estamos defendendo "este ou
aquele governante" ao conseguir uma cautelar que salva o Estado de pagar 1 bi a
um proprietário para que a sociedade possa usufruir do exigênio da Serra do Mar?
Como testemunha sua
trajetória de militância democrática, sei que vc.
ponderará estas observações.
Observo, finalmente, que o
fato de a advocacia pública não se organizar suficientemente dentro
da OAB não isenta a sua direitoria de responsabilidade moral pela posição
que está assumindo. Estas questões, como questões da justiça, são tão clamorosas
que é razoável esperar que sejam reconhecidas por todos
incondicionalmente.
Marcio Sotelo
Felippe
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