Infelizmente, caro Juan Carlos, com uns e outros praticantes de bullying entrando nessa lista para ofender as pessoas gratuitamente, o problema do desrespeito e da perseguição às pessoas fica cada vez maior, de forma que as medidas com objetivo de combater os estigmas ficam sempre atrás da realidade perversa. Pessoas que se acham no direito de ofender qualquer um e não pedir desculpas são equivalentes aos racistas, pois cultuam o ódio pelo gênero humano e o desprezo pelo próximo. Não basta, nesse caso, declarar ou deixar de declarar dados, mas os próprios administradores das várias instituições e instâncias têm de primeiro entender que é dever irrecusável deles disciplinas quem ofende os demais. O racismo é essencialmente isto: ofender as pessoas e depois assediá-las, prejudicá-las etc. O racista ofende e agride mas não se acha no dever de desculpar-se, alegando mediocremente que é a opinião dele. As pessoas quando não têm formação ou são mau caráter acham que qualquer agressão delas fica válida sob esse mesmo argumento. Enfim, é o que acontece: despreparo, falta de cortesia, falta de caráter, mente medíocre, ignorância, personalidades deformadas e a omissão de quem compete agir criam esse quadro contra mulheres, negros, pobres e até acadêmicos.
Em 24 de maio de 2013 15:33, Juan Carlos Agudelo Agudelo < juca.agud...@gmail.com> escreveu: > Voltando à discussão cor/raça no Lattes, me tomo a liberdade de enviar um > correio que circulou em outras listas acadêmicas que estão discutindo sobre > o assunto, e que mostra a posição de alguns cientistas sociais que > trabalham com o tema da desigualdade social/racial no Brasil. > > ######################################### > > > > From: Marcos Dias Coelho <marvind...@hotmail.com> > Subject: [estudosafricanos-ufba] RE: [gtafrica] polêmica sobre inserção no > CV Lattes da pergunta relativa a raça ou cor do/a pesquisador/a. > To: "historia-u...@yahoogrupos.com.br" <historia-u...@yahoogrupos.com.br>, > "Pesquisadores Negros" <pesquisadoresnegrosba...@yahoogrupos.com.br>, > "Linha de pesquisa" <estudosafricanos-u...@yahoogrupos.com.br>, > "transdicplinar" <teia_transdiscipli...@yahoogrupos.com.br>, "Cristiane > Unicamp" <criskaso...@gmail.com>, "Vine Unicamp 2" <vineale...@gmail.com>, > "Luando Sito" <luandas...@gmail.com>, "Josi Unicamp" <joseme...@gmail.com > >, > "Ernenek Unicamp" <ernene...@gmail.com> > Date: Thursday, May 23, 2013, 7:56 PM > > > > Ampliando o debate e divulgando... > > From: vanijacob...@gmail.com > To: gtafr...@googlegroups.com > > Caros colegas da comunidade acadêmica, > > > Tem causado polêmica a novidade da inserção no CV Lattes da pergunta > relativa a raça ou cor do/a pesquisador/a. Nosso objetivo é, mais uma vez, > incentivar o debate em nossa comunidade e tentar avançar algumas questões > envolvidas tanto na introdução do quesito, como na reação que ele vem > causando. > > Em primeiro lugar, cabe considerar que as opções constante deste item estão > perfeitamente de acordo com os parâmetros da auto atribuição que vêm > norteando a adoção das políticas públicas de inclusão racial no Brasil dos > últimos anos. Além disso, queremos destacar, que, embora a resposta ao > quesito seja obrigatória, há opção para o pesquisador que não queira assim > se caracterizar, responder à última alternativa, “não desejo declarar”, > resguardando dessa maneira a liberdade daqueles que não concordam com a > implementação de um política de delimitação do perfil sócio-racial do > pesquisador brasileiro. > > Mas vamos à questão de fundo. Muitos estudiosos têm destacado, > acertadamente, o fato de raça não ser um conceito cientificamente válido. > Em nosso entender não há dúvidas a esse respeito. No entanto, tal > constatação não pode eliminar a realidade de uma sociedade brasileira > altamente racializada em suas práticas cotidianas e inclusive no que tange > o acesso ao ensino superior e à pesquisa científica. Julgamos, assim, que > ao lado das investigações que revelam as falácias de um modelo que usou > raça de maneira essencial e ontológica (e por isso gerou a prática de > determinismos e racismos políticos de toda ordem), é hora de avaliarmos > como o desacreditado conceito, baseado em assertivas biológicas faz muito > ultrapassadas, continua sendo reatualizado e opera socialmente. Se não > existem raças – apenas uma, a humana --, no nosso dia a dia raça surge como > um potente marcador social de diferença, delimitando hierarquias sociais, > culturais e econômicas. > > Vale, pois, perguntar se devemos exclusivamente criticar o uso canônico do > termo, ou se seria importante, igualmente, analisarmos as implicações > cotidianas e recorrentes da utilização da categoria raça na prática social, > considerando, principalmente a maneira como esta se inscreve em nossa > realidade e, em particular, no contexto universitário brasileiro. Entendido > dessa maneira, o termo continua válido e seria preciso avaliar as > decorrências da “raça após o racismo”. Falar de raça não significa, em > nosso entender, instaurar o racismo ou racializar o cotidiano, o qual, > aliás, já se encontra racializado. Falar de raça implica enfrentar o > problema sem eufemismos, desvelando as práticas discursivas que pretendem > não dizer, dizendo. > O conjunto crítico de livros, ensaios, artigos que faz tempo > vêm mostrando o lado perverso do conceito biológico de raça, cumpriu e > cumpre um papel fundamental no sentido de trazer de volta valores básicos > como o universalismo e o humanismo. É por isso que, contando com esses > ganhos -- com os quais concordamos e nos associamos --, quem sabe seja o > momento de descer também à lógica do particular, das negociações políticas, > dos discursos do senso comum que se convertem em práticas tão influentes > aquelas desmontadas pelas pesquisas que desnudaram, sem pejas, os perigos > do racismo científico. Hoje falamos de novas formas de racismo: o social, > o político, aquele que se inscreve nas formas de discriminação mais > cotidianas. > > Mas voltemos ao documento em pauta. Segundo o CNPQ, a adoção do quesito > cor/raça encontra-se embasado na Lei 12.228, de 20 de julho de 2010, que > instituiu o “Estatuto da Igualdade Racial”, cujo objetivo é combater todas > as formas de exclusão e discrimação racial ainda vigentes em nosso país. > Tal estatuto, vem corroborando outros esforços e ações públicas, > especificamente voltadas para a inclusão universitária, na forma do sistema > cotas adotado pelas universidades federais, entre outras políticas de > inclusão. A iniciativa do CNPQ vem, pois, na esteira destas políticas e > pretende utilizar tais dados como base para a elaboração futura de > políticas científicas de inclusão sócio-racial. > > Na página da Instituição consta também que a informação sobre raça será > para “uso interno” do CNPq. Por um lado, fica subentendido que tal dado > não será exibido no currículo acessado publicamente, o que significa que > não se pretende misturar, na esfera pública, a produção docente com esse > tipo de caracterização. Aliás, de maneira coerente o CNPQ também não > divulga dados pessoais, como endereço e cpf. Por outro lado, é preciso > indagar como esse tipo de informação será efetivamente aproveitado. Enfim, > é de interesse da comunidade tomar a “novidade” não como resultado, mas > como parte de um processo, cabendo a nós, pesquisadores, o papel de > interpelar a Instituição sobre os usos desses dados. > > De toda maneira, e em nossa compreensão, não nos parece que o objetivo do > CNPQ seja incentivar a radicalização do debate, mas antes iluminar uma cena > e evidenciar processos de discriminação facilmente observados por todos > aqueles que adentram nossos campi universitários. Não é segredo para > ninguém, que o pesquisador/a brasileiro/a é majoritariamente branco e, por > conseguinte, que os quadros de docentes de nossas universidades estão > compostos igualmente, e também majoritariamente, por homens e mulheres > brancos. É passível de mérito, portanto, que esse tipo de evidência seja > veiculada de maneira aberta, e debatida no contexto de nossas políticas > públicas, para que a comunidade acadêmica brasileira possa refletir acerca > das demandas de uma sociedade cidadã, atenta às desigualdades e cada vez > mais avessa aos preconceitos. > > Cientista que somos, é nosso mister produzir pesquisas e dados que possam > deixar mais transparentes o perfil econômico, social e porque não racial de > nossa comunidade estendida. Não se atropelam iniciativas que visam a melhor > conscientização, estudo e compreensão de nossa sociedade, antes que elas > possam minimamente mostrar suas potencialidades. Desautorizar pesquisas é, > à sua maneira, um gesto de obscurantismo. Abertas como são, as > investigações, aí sim, poderão se transformar em matéria de análise, > escrutínio e avaliação crítica. > > Tendo em vista tais argumentos, nos colocamos a favor da iniciativa do CNPQ > que incluiu o critério racial/ cor na definição do perfil do pesquisador/a > brasileiro/a. Esperamos que a oportunidade retorne à comunidade acadêmica > sob a forma de novos desafios pautados em informações e dados eticamente > comprometidos com a pesquisa científica sobre o perfil do/a pesquisador/a, > da comunidade acadêmica e sobre políticas públicas de inclusão social. > > *Lilia Schwarcz* > > Professora Titular Departamento de Antropologia da USP e Global Scholar > (Princeton) > > *Maria Helena P. T. Machado* > > Professora Titular, Departamento de História da USP > > > -- > *Vanicléia Silva Santos* > Profa. História da África > Departamento de História - FAFICH > Universidade Federal de Minas Gerais > > > ******************************************** > Marcos Dias Coelho > Doutorando em História Social da África > Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP > Skype: marvindico > ******************************************** > _______________________________________________ > Logica-l mailing list > Logica-l@dimap.ufrn.br > http://www.dimap.ufrn.br/cgi-bin/mailman/listinfo/logica-l > _______________________________________________ Logica-l mailing list Logica-l@dimap.ufrn.br http://www.dimap.ufrn.br/cgi-bin/mailman/listinfo/logica-l