Não sei o que seria um "argumento não-lógico". Um bom argumento, mesmo que seja um argumento sociológico, deve obedecer a certas exigências de racionalidade que descrevemos formalmente.
Entretanto, eu sustento que em geral, devemos dar dois passos atrás perante qualquer proferimento por parte de sociólogos brasileiros a respeito da "realidade social". Seria esperado que um sociólogo, enquanto alegado cientista social, tivesse um engajamento com a dinâmica de sociedades e fenômenos que emergem à partir da interação de vários agentes de forma análoga à de um meteorologista com fenômenos atmosféricos. Mas quase sempre por aqui, não é o caso. E a razão não é da ordem da complexidade dos fenômenos; é ideológica. A maioria do que se produz em nome da "sociologia" no Brasil não é ciência, é uma atividade mais próxima da crítica literária; a elaboração de narrativas internamente coerentes, psicologicamente satisfatórias que angariam significado a processos sociais e históricos. Não estão interessados em adequação empírica, elaboração de testes cruciais e fogem de métodos quantitativos. O ramo mais científico da sociologia, o funcionalismo - que há mais de um século procura consiliência com o resto do conhecimento científico - é ridicularizado na academia brasileira como "positivismo" (um palavrão comum). A conflação de normatividade com descrição na sociologia chega a ser pior do que o que ocorre em economia e ciência política. Teoria de conflito marxista, feminismo, teoria crítica, pós-estruturalismo, construtivismo social, pós-modernismo e tantos outros ramos de teorias sociológicas são programas de pesquisa degenerados, no sentido de Lakatos. Não é ciência. Quando alguém como o matemático John Casti se preza a compreender como emergem fenômenos sociais usando ferramentas computacionais como multi-agent modeling, é capaz de muitos sociólogos de nossa academia empregarem algum *ad hominem* para descaracterizar o uso desse tipo de metodologia e até mesmo acusá-lo de estar apenas servindo de instrumento dos interesses da burguesia. Um forte abraço. 2013/5/25 Juan Carlos Agudelo Agudelo <juca.agud...@gmail.com> > Minha intensão ao enviar o texto foi pôr a disposição de nós, os "lógicos", > argumentos não lógicos, mas socioLÓGICOS, de um debate sobre uma politica > social. Talvez nossos raciocínios lógicos não conseguem dar conta das > realidades sociais, e nossas opiniões sobre as problemáticas sociais são > tao fracas quanto as opiniões dos sociólogos a respeito da lógica. Acho que > ler, e tentar entender, os argumentos das pessoas que trabalham na área > sempre traz benefícios. Mas claro, se pode discordar. O problema é que as > pessoas que escreveram o texto não vão poder defender seus argumentos, pois > nem estão sabendo que eu enviei essa mensagem (minhas desculpas com elas, > mesmo que elas também não fiquem sabendo). > > A respeito da afirmação do JM: > > "As antropólogas uspianas autoras do texto circulado abaixo > (que obviamente não leram Roberto DaMatta) parecem acreditar que a > inclusão do item em questão no Lattes ajudariam a mitigar "a realidade de > uma sociedade brasileira altamente racializada em suas práticas cotidianas > e > inclusive no que tange o acesso ao ensino superior e à pesquisa científica > no que tange o acesso ao ensino superior e à pesquisa científica". > > Acho que esta bem claro no texto delas, que esses dados são só um > instrumento que pode ser útil para avaliar e ciar políticas que mitiguem > esses problemas. É claro que elas não acreditam que só a inclusão do item > em questão vai mitigar esses problemas, é por isso que observam que "...é > preciso indagar como esse tipo de informação será efetivamente aproveitado. > Enfim, é de interesse da comunidade tomar a “novidade” não como resultado, > mas como parte de um processo, cabendo a nós, pesquisadores, o papel de > interpelar a Instituição sobre os usos desses dados." > > []s > JC > > > 2013/5/24 Joao Marcos <botoc...@gmail.com> > > > Entendo que a minha *opinião* sobre o assunto é irrelevante. Faço > > então apenas uma breve análise lógico-informal do texto enviado, com > > um par de comentários adicionais. Favor ignorar se o tópico > > simplesmente não for do interesse. > > > > Até a promulgação da Constituição de 1988, no Basil, era obrigatória a > > inclusão da *cor* na Certidão de Nascimento. (É claro que quase todo > > mundo era declarado como "branco".) De lá para cá os cartórios > > passaram a omitir sistematicamente a informação. Há alguns anos > > (confiram a reportagem de 2006) houve contudo quem notasse a falta > > deste item nas novas certidões e protestasse: > > http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0508200628.htm > > "A preocupação de Enilda é que sem o item cor, o governo não tem como > > fazer estatísticas oficiais sobre a questão racial e, como > > conseqüência, não terá subsídios para elaborar políticas de inclusão > > social, como os polêmicos projetos sobre as cotas em universidades e o > > Estatuto da Igualdade Racial, ainda em discussão no Congresso." > > > > As antropólogas uspianas autoras do texto circulado abaixo (que > > obviamente não leram Roberto DaMatta) parecem acreditar que a inclusão > > do item em questão no Lattes ajudariam a mitigar "a realidade de uma > > sociedade brasileira altamente racializada em suas práticas cotidianas > > e inclusive no que tange o acesso ao ensino superior e à pesquisa > > científica no que tange o acesso ao ensino superior e à pesquisa > > científica". Não entendi bem o raciocínio: o *acesso ao ensino > > superior* atualmente já se encontra facilitado por cotas várias e > > diversos tipos de bolsa, e o Lattes nada tem a ver com isso. Não me > > parece óbvio como o quesito raça afetaria o *acesso à pesquisa > > científica*. Mas talvez haja alguma área científica em que > > pesquisadores negros estejam sendo atualmente preteridos, no Brasil, e > > eu não estou sabendo. Bem, já há cotas em vários editais do CNPq para > > pesquisadores do Norte e do Nordeste. Haverá também em breve cotas > > para cientistas negros, de implementação facilitada pelo Lattes? > > Neste sentido na minha universidade ja há cotas, por exemplo, para > > bolsistas de IC considerados "prioritários". Estamos certamente > > evoluindo. > > > > Curiosamente, agora que boa parte das pessoas tem preferido não > > declarar sua cor, talvez a porcentagem total de Currículos Lattes com > > a opção "negro" se revele muito maior do que o real, e provoque um > > viés negativo na "evidência" que segundo as autoras deveria ser > > "veiculada de maneira aberta". Há um adicional interessante: > > protestar contra a inclusão do item no preenchimento do Lattes, > > segundo as autoras, seria "desautorizar pesquisas", e praticar "um > > gesto de obscurantismo". Por certo *obrigar* cientistas a preencher > > isto *no Lattes* produzirá automaticamente uma pesquisa muito eficaz. > > > > * * * > > > > Pessoalmente, mais interessado fico no *perfil religioso* do > > pesquisador brasileiro do que no seu *perfil racial*. O motivo é > > simples: religião não combina com ciência. E, se eu fosse vocês, > > tendo em vista a crescente bancada evangélica no nosso Congresso > > Nacional, também me preocuparia com este tema. > > > > JM > > > > > > > _______________________________________________ > Logica-l mailing list > Logica-l@dimap.ufrn.br > http://www.dimap.ufrn.br/cgi-bin/mailman/listinfo/logica-l > _______________________________________________ Logica-l mailing list Logica-l@dimap.ufrn.br http://www.dimap.ufrn.br/cgi-bin/mailman/listinfo/logica-l