Oi, gente,

É interessante perceber a frustração geral (aqui e alhures...) com relação à prova discursiva de Matemática do IME. Entretanto, descontados os exageros (até justificáveis) dos julgamentos emitidos ainda no decorrer do "susto", gostaria de meter o meu bedelho nesta história, pois fiz e faço parte dela.

Mas para evitar que alguém de forma talvez afoita pense em "quem é este idiota com esta opiniao maluca", aqui vão minhas credenciais (pois infelizmente às vezes a gente tem que apresentar as credenciais - é assim que o mundo funciona; desta forma poderão me esculhambar ou contra-argumentar com conhecimento do interlocutor).

Fui aluno civil do IME (1965/69 - segunda turma de civis - Elétrica), professor durante vários anos do Básico, com passagens na Elétrica, e na pós de Nuclear - se é que não esquecí alguma coisa (ah, isso há mais ou menos 30 anos...). Participei de forma relevante na banca de matemática de 1972 onde sem dúvida "erramos a mão", com uma prova muito difícil para a época. Também fui "vedete" de Vestibular durante alguns anos muito felizes da minha vida, onde tive a honra e prazer de ser professor (no vestiba e no IME) de algumas cabeças geniais que habitam esta lista e de outras que não a habitam mas são também geniais e respeitados professores e profissionais do mercado. E nos ultimos anos tenho atuado em consultoria em Informática e ainda, de vez em quando espero cada vez mais), no magistério em Matemática (minha alucinada, incompreensível e tresloucada paixão).

Dito isto, vamos lá, embora caiba ressaltar que não tenho procuração de ninguém para falar em nome do IME: falo exclusivamente em meu próprio nome. Além disso, ressalto que num primeiro momento (e confesso, num segundo momento também) fiquei desapontado. Mas talvez pela idade :-) aprendi a ser menos afoito em meus julgamentos (quem me conheceu quando jovem nem vai acreditar nisto...).

Vejamos alguns aspectos que resolvi colocar "na minha própria mesa" para reflexão, considerando que minimamente parto da premissa que a banca obviamente SABE que concebeu provas bem mais fáceis que as dos anos anteriores e que, convenhamos, dificilmente isto aconteceu por acaso ou incompetência.

Alguns Fatos (discutíveis ou não, mas minha crença)

1: O IME é uma escola de engenharia, não um instituto de matemática (nem pura nem impura) - cuidado com os próprios fígados e egos - não é nada pessoal...:-); 2: Um alto percentual de ex-alunos do IME sabidamente NÃO segue a carreira de engenharia (razão da existência da Instituição), mas de matemática, economia, magistério, música :-), etc.). 3: A preparação para o IME já está há alguns anos adquirindo contornos no mínimo discutíveis: qual questão dos livros do fulano ou sicrano vai cair este ano? Muitas vezes a formação mais conceitual dos alunos é substituída por excesso de adestramento, em listas intermináveis de problemas de matemática. Vê-se crescente a competição entre as instituições preparatórias e os egos dos professores, ao invés da formação adequada e competição sadia entre os alunos candidatos. 4: Os alunos com melhor desempenho em Matemática não se tornam, necessariamente, os melhores emprendedores e engenheiros; 5: A prova NÃO foi banal, como várias pessoas o imaginam. Minha experiência em processos de seleção (dezenas) me autorizam a afirmar que o desvio padrão foi bem maior do que a maioria imagina. Podemos fazer até umas apostinhas...:-) 6: Há muito tempo me pergunto se a prova de matemática deve ser o elemento determinante do acesso ao IME e ter o "ibope" que tem tido.

Por fim, gostaria de colocar na mesa se o papel dos que admiram a instituição não deveria ser a proposição de outras formas de definir o acesso à mesma, ao invés de apenas reclamarmos por simples saudosismo ou com saudades da mesmice.

Eu, particularmente, tenho pensado se uma prova de Ciências (Matemática, Física e Química), onde seriam propostos problemas do mundo real (onde atua o ENGENHEIRO), não seria mais eficaz. A linha que imagino, que não possui nenhum pioneirismo, seria uma adaptação do que na vida real um engenheiro enfrenta e segue, por exemplo, a linha de trabalho do genial ex-mestre do IME de Física, o professor Helcio. Nos dias que antecediam a prova, ele exibia uma "miniatura" na mesa dele sobre o tema da prova, e nós pensávamos em problemas reais relacionados com o tal tema: um submarino, um foguete, um sputinik :-), etc. Obviamente ele colocava na prova quase uma centena de dados absolutamente inúteis para a solução dos problemas propostos (como sói acontecer no mundo real).

Sintetizando: será que não estava na hora, num mundo com a educação ainda equivocadamente tão compartimentada, o IME tentar processos seletivos de fato multidiscipinares, mais aderentes ao mundo real? (meu doutorado na PUC é em Educação Tecnológica, uma linha de trabalho que une os departamentos de Eletricidade, Educação e Psicologia...; as discussões ficam muito, mas muito ricas, quando a gente junta pessoas interessantes, com formações e experiências diferentes em várias áreas de conhecimento... Sai da mesmice).

Para finalizar, algumas perguntas que me ocorriam enquanto escrevia este email: Newton era matemático, astrônomo, filósofo ou físico? Einstein era matemático, físico, astrônomo ou filósofo? Prigogine era químico ou matemático? Russel era matemático ou filósofo? Chomsky é matemático, lingüista, filósofo ou político engajado? Paul Levy (professor de Mandelbrot) foi matemático, físico ou quimico? Dewey foi filósofo, pedagogo ou psicólogo? Withehead foi filósofo, lógico, matemático, físico ou pedagogo? Pois é....

Nehab

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Instruções para entrar na lista, sair da lista e usar a lista em
http://www.mat.puc-rio.br/~nicolau/olimp/obm-l.html
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