Re: [Logica-l] pullum sobre chomsky

2011-09-18 Por tôpico Tony Marmo
Como o artigo não é aberto e só se lê o resumo, é de difícil comentário.
Todavia, eu conheço os escritos do prof. Pullum e os do prof. Chomsky.
Acontece que cada um tem sua teoria linguística e elas competem entre si no
mercado da linguística formal para ver quem tem mais adeptos. Os
chomskyanos são em maior número.
Geralmente, esses ataques recíprocos são sem fundamento, como me parece o
resumo do artigo.
Syntactic Structures foi um livro extraído da T.D. de Noam Chomsky *The
Logical Structure of Linguistic Theory *e só teve impacto para a
linguística nos anos 1950. No meio da década de 1960 o debate já tinha
outros focos, com Aspects.
Não é verdade que Chomsky quisesse usar de argumentos matemáticos pesados
para demonstrar que uma gramática de uma língua como Inglês não é uma
máquina de estados finitos. É verdade sim que os argumentos formais que ele
usa são suficientemente fortes para mostrar isto dentro da linguística
estrutural do final dos anos 1950. Afinal de contas, o ônus da prova está
com quem quiser provar o contrário e dar sustentação a teses cognitivas
behaviouristas.

Em 17 de setembro de 2011 16:35, Joao Marcos botoc...@gmail.com escreveu:

 A menção recente do Chomsky e seu argumento hegeliano lembrou-me
 mencionar aqui o recente artigo do linguista Geoffrey Pullum no JoLLI,
 que será do interesse de alguns membros desta lista.

 Mais uma prova da importância do trabalho do lógico Emil Post.
 JM

 * * *

 On the Mathematical Foundations of Syntactic Structures.
 Journal of Logic, Language and Information 20 (3):277-296, 2011.
 http://www.springerlink.com/content/p3n161t5257q1156/

 Chomsky’s highly influential Syntactic Structures (SS) has been much
 praised its originality, explicitness, and relevance for subsequent
 cognitive science. Such claims are greatly overstated. SS contains no
 proof that English is beyond the power of finite state description (it
 is not clear that Chomsky ever gave a sound mathematical argument for
 that claim). The approach advocated by SS springs directly out of the
 work of the mathematical logician Emil Post on formalizing proof, but
 few linguists are aware of this, because Post’s papers are not cited.
 Chomsky’s extensions to Post’s systems are not clearly defined, and
 the arguments for their necessity are weak. Linguists have also
 overlooked Post’s proofs of the first two theorems about effects of
 rule format restrictions on generative capacity, published more than
 ten years before SS was published.
 ___
 Logica-l mailing list
 Logica-l@dimap.ufrn.br
 http://www.dimap.ufrn.br/cgi-bin/mailman/listinfo/logica-l

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Re: [Logica-l] pullum sobre chomsky

2011-09-18 Por tôpico Tony Marmo
Dei uma vista de olhos e posso dizer o seguinte:

Não é novidade que as primeiras obras de Chomsky são consideradas muito
fraquinhas. Na década de 1970, por exemplo, os chomskyanos já diziam isto.

É mais fácil corrigir dados históricos de quem não conhece o que é realmente
consenso. Houve na década de 1950 uma reação favorável ao trabalho de
Chomsky. Mas, a chamada linguística chomskyana começa mesmo com “Aspects of
the Theory of Syntax”.

Como assim, você vai perguntar? É porque as primeiras obras de Chomsky eram
muito pouco originais e representavam uma revolução para os estruturalistas.
Mas, não diziam nada que algum grande linguista da época já não dissesse.
Isto era possível porque naquela altura, o termo “estruturalismo” já não
correspondia ao que tinha sido historicamente e abarcava uma multidão de
vertentes muito diferentes entre si.

A obra de 1965 é que traz mais inovações e rompe com o paradigma
estruturalista na sintaxe, assim como na fonologia “the Sound Pattern of
English”. As diferenças são muitas. Por exemplo, a fonologia de Chomsky não
tinha mais a noção de “fonema” e rejeitava acomodá-la. A sintaxe de Chomsky
admitia categorias não diretamente observáveis, algo que por influência de
Bloomfield se rejeitava. Chomsky mudou ainda as noções sociais de “langue” e
“parole” de Saussure, que eram coletivas, uniformes e supostamente não
idealizadas, para falar de “competência” e “desempenho” que eram individuais
mas altamente idealizadas.

O segundo momento crucial na linguística chomskyana veio décadas depois, com
sua teoria da regência e da ligação, depois chamada de Princípios e
Parâmetros em que as noções de gramática e regra gramatical perdem o status
científico de uma vez. Em “Knowledge of Language” fica ainda estabelecido
que o objeto de estudo da linguística não devem ser nem a noção de “langue”
de Saussure, ou outra equivalente, nem as línguas do mundo, como o Português
ou qualquer dos seus dialetos. Fica de uma vez consolidado que objeto da
linguística tem de ser a própria faculdade de linguagem.

O terceiro momento e que parece vai ser o último é o chamado programa
minimalista, que coloca o princípio da economia das derivações no centro das
preocupações e da orientação da pesquisa em linguística.

Mas, o mais importante nestes anos todos é que, ainda que Chomsky tenha
usado de certa matematização, coisa que herdou dos estruturalistas, sua
concepção de linguística não é nem de uma ciência humana nem exata: para ela
a linguística é uma das ciências biológicas. Na década de 1950 ele já
pensava assim, como se sabe por relatos dele próprio e de colegas, de forma
que ele propositadamente não usou de argumentos matemáticos mais pesados.

Nunca houve entre os linguistas essa crença de que Syntactic Structures é o
principal marco histórico da chamada revolução chomskyana. Pullum quer
dialogar com quem desconhece a história da ciência.

Eu li Syntactic Structures e posso dizer que a resenha de Pullum é parcial
demais. Seria o mesmo que alguém escrever um artigo atacando Gagarin para
dizer que ele não foi à Lua. Mas quem disse que foi? Se houve quem o disse,
é gente que não sabe da missa a metade!

Em 18 de setembro de 2011 02:10, Tony Marmo marmo.t...@gmail.com escreveu:

 Verei o texto, mas, para ja, advirto que o Pullum obviamente eh muito
 informado. O que ele diz, todavia, nem sempre parece bem intencionado, se o
 alvo do que diz vem a ser Chomsky.

 Em 17 de setembro de 2011 22:52, Joao Marcos botoc...@gmail.comescreveu:

 Olá, Tony:

 Envio em anexo o artigo para que você possa avaliar por si próprio os
 argumentos do Pullum, que parecem bem informados e chegam a conclusões
 bem diferentes das suas.

 Abraços,
 JM

 2011/9/17 Tony Marmo marmo.t...@gmail.com:
  Como o artigo não é aberto e só se lê o resumo, é de difícil comentário.
  Todavia, eu conheço os escritos do prof. Pullum e os do prof. Chomsky.
  Acontece que cada um tem sua teoria linguística e elas competem entre si
 no
  mercado da linguística formal para ver quem tem mais adeptos. Os
  chomskyanos são em maior número.
  Geralmente, esses ataques recíprocos são sem fundamento, como me parece
 o
  resumo do artigo.
  Syntactic Structures foi um livro extraído da T.D. de Noam Chomsky The
  Logical Structure of Linguistic Theory e só teve impacto para a
 linguística
  nos anos 1950. No meio da década de 1960 o debate já tinha outros focos,
 com
  Aspects.
  Não é verdade que Chomsky quisesse usar de argumentos matemáticos
 pesados
  para demonstrar que uma gramática de uma língua como Inglês não é uma
  máquina de estados finitos. É verdade sim que os argumentos formais que
 ele
  usa são suficientemente fortes para mostrar isto dentro da linguística
  estrutural do final dos anos 1950. Afinal de contas, o ônus da prova
 está
  com quem quiser provar o contrário e dar sustentação a teses cognitivas
  behaviouristas.
 
  Em 17 de setembro de 2011 16:35, Joao Marcos botoc...@gmail.com
 escreveu:
 
  A menção recente do Chomsky e 

Re: [Logica-l] pullum sobre chomsky

2011-09-18 Por tôpico Tony Marmo
E só mais um detalhe: o professor Pullum não é simplesmente bem informado. É
um dos maiores linguístas de sua geração e tem sua própria teoria que
compete com a do professor Chomsy. Portanto, sempre cuidado com que um
escreve do outro, porque a rivalidade é grande entre eles.

Em 18 de setembro de 2011 02:45, Tony Marmo marmo.t...@gmail.com escreveu:

 Dei uma vista de olhos e posso dizer o seguinte:

 Não é novidade que as primeiras obras de Chomsky são consideradas muito
 fraquinhas. Na década de 1970, por exemplo, os chomskyanos já diziam isto.

 É mais fácil corrigir dados históricos de quem não conhece o que é
 realmente consenso. Houve na década de 1950 uma reação favorável ao trabalho
 de Chomsky. Mas, a chamada linguística chomskyana começa mesmo com “Aspects
 of the Theory of Syntax”.

 Como assim, você vai perguntar? É porque as primeiras obras de Chomsky eram
 muito pouco originais e representavam uma revolução para os estruturalistas.
 Mas, não diziam nada que algum grande linguista da época já não dissesse.
 Isto era possível porque naquela altura, o termo “estruturalismo” já não
 correspondia ao que tinha sido historicamente e abarcava uma multidão de
 vertentes muito diferentes entre si.

 A obra de 1965 é que traz mais inovações e rompe com o paradigma
 estruturalista na sintaxe, assim como na fonologia “the Sound Pattern of
 English”. As diferenças são muitas. Por exemplo, a fonologia de Chomsky não
 tinha mais a noção de “fonema” e rejeitava acomodá-la. A sintaxe de Chomsky
 admitia categorias não diretamente observáveis, algo que por influência de
 Bloomfield se rejeitava. Chomsky mudou ainda as noções sociais de “langue” e
 “parole” de Saussure, que eram coletivas, uniformes e supostamente não
 idealizadas, para falar de “competência” e “desempenho” que eram individuais
 mas altamente idealizadas.

 O segundo momento crucial na linguística chomskyana veio décadas depois,
 com sua teoria da regência e da ligação, depois chamada de Princípios e
 Parâmetros em que as noções de gramática e regra gramatical perdem o status
 científico de uma vez. Em “Knowledge of Language” fica ainda estabelecido
 que o objeto de estudo da linguística não devem ser nem a noção de “langue”
 de Saussure, ou outra equivalente, nem as línguas do mundo, como o Português
 ou qualquer dos seus dialetos. Fica de uma vez consolidado que objeto da
 linguística tem de ser a própria faculdade de linguagem.

 O terceiro momento e que parece vai ser o último é o chamado programa
 minimalista, que coloca o princípio da economia das derivações no centro das
 preocupações e da orientação da pesquisa em linguística.

 Mas, o mais importante nestes anos todos é que, ainda que Chomsky tenha
 usado de certa matematização, coisa que herdou dos estruturalistas, sua
 concepção de linguística não é nem de uma ciência humana nem exata: para ela
 a linguística é uma das ciências biológicas. Na década de 1950 ele já
 pensava assim, como se sabe por relatos dele próprio e de colegas, de forma
 que ele propositadamente não usou de argumentos matemáticos mais pesados.

 Nunca houve entre os linguistas essa crença de que Syntactic Structures é o
 principal marco histórico da chamada revolução chomskyana. Pullum quer
 dialogar com quem desconhece a história da ciência.

 Eu li Syntactic Structures e posso dizer que a resenha de Pullum é parcial
 demais. Seria o mesmo que alguém escrever um artigo atacando Gagarin para
 dizer que ele não foi à Lua. Mas quem disse que foi? Se houve quem o disse,
 é gente que não sabe da missa a metade!

 Em 18 de setembro de 2011 02:10, Tony Marmo marmo.t...@gmail.comescreveu:

 Verei o texto, mas, para ja, advirto que o Pullum obviamente eh muito
 informado. O que ele diz, todavia, nem sempre parece bem intencionado, se o
 alvo do que diz vem a ser Chomsky.

 Em 17 de setembro de 2011 22:52, Joao Marcos botoc...@gmail.comescreveu:

 Olá, Tony:

 Envio em anexo o artigo para que você possa avaliar por si próprio os
 argumentos do Pullum, que parecem bem informados e chegam a conclusões
 bem diferentes das suas.

 Abraços,
 JM

 2011/9/17 Tony Marmo marmo.t...@gmail.com:
  Como o artigo não é aberto e só se lê o resumo, é de difícil
 comentário.
  Todavia, eu conheço os escritos do prof. Pullum e os do prof. Chomsky.
  Acontece que cada um tem sua teoria linguística e elas competem entre
 si no
  mercado da linguística formal para ver quem tem mais adeptos. Os
  chomskyanos são em maior número.
  Geralmente, esses ataques recíprocos são sem fundamento, como me parece
 o
  resumo do artigo.
  Syntactic Structures foi um livro extraído da T.D. de Noam Chomsky The
  Logical Structure of Linguistic Theory e só teve impacto para a
 linguística
  nos anos 1950. No meio da década de 1960 o debate já tinha outros
 focos, com
  Aspects.
  Não é verdade que Chomsky quisesse usar de argumentos matemáticos
 pesados
  para demonstrar que uma gramática de uma língua como Inglês não é uma
  máquina de estados finitos. É