At 11:28 09/11/2000 -0200, you wrote:
Evandro Oliveira wrote:

> O pior eh que vai ter algum IDIOTA para dizer:
> "...se fosse com a nossa urna isso nao aconteceria..."

Pois é, amigo Evandro Oliveira, há muitos...  Dá só uma olhada na Teresa
Cruvinel, a mais importante comentarista política do jornal "Globo", na
sua coluna de hoje, na página dois do primeiro caderno, dia 10.11.2000:

        Seguem abaixo as colunas que mencionei :

                    São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2000

            ELIANE CANTANHÊDE
            Modelo exportação

            BRASÍLIA - A eleição norte-americana teve de tudo.
            Resultados precipitados, manchetes desencontradas,
            cumprimentos fora de hora, reconhecimento de
            derrota cancelado no último minuto. Até urna
            jogada em canto de igreja pintou.
            Para a maior potência do planeta em todos os
            sentidos, ridículo. Para o Brasil, fica um
            gostinho do primo pobre que, em pelo menos numa
            coisa, dá um banho no primo rico. Apesar de
            reclamações daqui e dali, a votação eletrônica
            universal é segura e rápida. A ser exportada,
            inclusive.
            No Brasil, com 109 milhões de eleitores, o voto é
            obrigatório. No primeiro turno, houve eleição em
            5.559 municípios e o resultado total foi fechado
            em 29 horas. No segundo, foram 26,5 milhões de
            eleitores em 31 cidades com mais de 200 mil
            habitantes. A eleição acabou às 17h, e o resultado
            saiu em 5 horas e 42 minutos.
            Nos EUA, onde o voto não é obrigatório, foram às
            urnas 51% dos eleitores aptos, quase 100 milhões.
            E o resultado virou isso que a gente vê. Ninguém
            aposta nada. Nem em vencedor, nem em prazos para a
            totalização de votos. Pode ser hoje, pode ser
            daqui a sete dias.
            Também, pudera. Cada Estado vota como bem entende:
            por computador, cédulas de papel, cartões
            perfurados, como os da loto, "scanner" ótico,
            igual a esses de supermercado. O voto por correio
            também é permitido. E, se há diferença de menos de
            1%, como na decisiva Florida, lá vem a recontagem
            manual.
            Aqui em Brasília, o TSE quebrou o galho e
            emprestou uma urna eletrônica para a votação
            simbólica na Embaixada dos EUA. Funcionou que foi
            uma beleza. Quem sabe agora exporta a tecnologia
            completa para as próximas eleições?
            Quanto à discussão sobre quem é melhor para o
            Brasil, fico com o mestre Clóvis Rossi, que acha
            irrelevante dar Gore ou Bush. Nem tudo o que é bom
            para os EUA é bom para o Brasil. Às vezes, nem bom
            nem ruim.
            No caso, é o inverso: o processo eletrônico do
            Brasil é que seria muito bom para os EUA.

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                    São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2000
            CLÓVIS ROSSI
            O império e as urnas caboclas

            SÃO PAULO - Ah, ah, por fim o império se curva
            (ou, ao menos, deveria curvar-se) ao pobre país
            tropical. Se os Estados Unidos tivessem
            desenvolvido a tecnologia brasileira de urnas
            eletrônicas, usadas para a totalidade dos votos na
            eleição municipal do mês passado, o mundo não
            estaria assistindo a esse pastelão que está sendo
            a apuração dos votos para o cargo mais importante
            do planeta.
            Pastelão que não poupou nem o mais sagrado templo
            da mídia de qualidade, o jornal "The New York
            Times". No e-mail com que avisa aos assinantes de
            seu serviço eletrônico os destaques da edição do
            dia, o jornal prometia um editorial analisando a
            Presidência Bush. Não houve o editorial, porque o
            jornal logo verificou que não havia (ainda e
            talvez nunca) uma Presidência Bush.
            O próprio Gore, aliás, cumprimentou Bush pela
            vitória, no pressuposto de que o republicano tinha
            levado o Estado da Flórida, antes de verificar-se
            que a diferença de votos era tão pequena que, por
            lei estadual, teria que haver uma recontagem.
            E é dessa recontagem que depende quem será o
            futuro ocupante da Casa Branca, coisa que só se
            deve saber hoje, 48 horas depois da votação.
            Parece coisa de república centro-americana, sem
            qualquer preconceito.
            Aliás, eu, se fosse o presidente peruano Alberto
            Fujimori, já estaria acionando a OEA (Organização
            dos Estados Americanos) para que enviasse
            observadores credenciados para evitar que haja
            fraude na recontagem de votos na Flórida (afinal,
            o governador é irmão de Bush). Não que haja
            suspeitas, como as que havia justificadamente no
            Peru, mas o sabor da vingança é sempre doce e
            nunca convém desperdiçar as chances de cutucar o
            orgulho do império.
            O pior é que a maioria dos analistas jura que não
            há diferenças essenciais entre Bush e Gore. Tanta
            expectativa para tão pouco? Parece pouco razoável,
            não é?


        []'s  Ricardo Sovat



Ricardo Barz Sovat
Aluno de Doutorado em Ciências da Computação
LABIC - Laboratório de Inteligência Computacional
Instituto de Ciências Matemáticas e Computação
USP - Universidade de São Paulo
São Carlos      SP       Brasil

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