Evandro Oliveira wrote:
> O pior eh que vai ter algum IDIOTA para dizer:
> "...se fosse com a nossa urna isso nao aconteceria..."
Pois é, amigo Evandro Oliveira, há muitos... Dá só uma olhada na Teresa
Cruvinel, a mais importante comentarista política do jornal "Globo", na
sua coluna de hoje, na página dois do primeiro caderno, dia 10.11.2000:
São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2000
ELIANE CANTANHÊDE
Modelo exportação
BRASÍLIA - A eleição norte-americana teve de tudo.
Resultados precipitados, manchetes desencontradas,
cumprimentos fora de hora, reconhecimento de
derrota cancelado no último minuto. Até urna
jogada em canto de igreja pintou.
Para a maior potência do planeta em todos os
sentidos, ridículo. Para o Brasil, fica um
gostinho do primo pobre que, em pelo menos numa
coisa, dá um banho no primo rico. Apesar de
reclamações daqui e dali, a votação eletrônica
universal é segura e rápida. A ser exportada,
inclusive.
No Brasil, com 109 milhões de eleitores, o voto é
obrigatório. No primeiro turno, houve eleição em
5.559 municípios e o resultado total foi fechado
em 29 horas. No segundo, foram 26,5 milhões de
eleitores em 31 cidades com mais de 200 mil
habitantes. A eleição acabou às 17h, e o resultado
saiu em 5 horas e 42 minutos.
Nos EUA, onde o voto não é obrigatório, foram às
urnas 51% dos eleitores aptos, quase 100 milhões.
E o resultado virou isso que a gente vê. Ninguém
aposta nada. Nem em vencedor, nem em prazos para a
totalização de votos. Pode ser hoje, pode ser
daqui a sete dias.
Também, pudera. Cada Estado vota como bem entende:
por computador, cédulas de papel, cartões
perfurados, como os da loto, "scanner" ótico,
igual a esses de supermercado. O voto por correio
também é permitido. E, se há diferença de menos de
1%, como na decisiva Florida, lá vem a recontagem
manual.
Aqui em Brasília, o TSE quebrou o galho e
emprestou uma urna eletrônica para a votação
simbólica na Embaixada dos EUA. Funcionou que foi
uma beleza. Quem sabe agora exporta a tecnologia
completa para as próximas eleições?
Quanto à discussão sobre quem é melhor para o
Brasil, fico com o mestre Clóvis Rossi, que acha
irrelevante dar Gore ou Bush. Nem tudo o que é bom
para os EUA é bom para o Brasil. Às vezes, nem bom
nem ruim.
No caso, é o inverso: o processo eletrônico do
Brasil é que seria muito bom para os EUA.
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São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2000
CLÓVIS ROSSI
O império e as urnas caboclas
SÃO PAULO - Ah, ah, por fim o império se curva
(ou, ao menos, deveria curvar-se) ao pobre país
tropical. Se os Estados Unidos tivessem
desenvolvido a tecnologia brasileira de urnas
eletrônicas, usadas para a totalidade dos votos na
eleição municipal do mês passado, o mundo não
estaria assistindo a esse pastelão que está sendo
a apuração dos votos para o cargo mais importante
do planeta.
Pastelão que não poupou nem o mais sagrado templo
da mídia de qualidade, o jornal "The New York
Times". No e-mail com que avisa aos assinantes de
seu serviço eletrônico os destaques da edição do
dia, o jornal prometia um editorial analisando a
Presidência Bush. Não houve o editorial, porque o
jornal logo verificou que não havia (ainda e
talvez nunca) uma Presidência Bush.
O próprio Gore, aliás, cumprimentou Bush pela
vitória, no pressuposto de que o republicano tinha
levado o Estado da Flórida, antes de verificar-se
que a diferença de votos era tão pequena que, por
lei estadual, teria que haver uma recontagem.
E é dessa recontagem que depende quem será o
futuro ocupante da Casa Branca, coisa que só se
deve saber hoje, 48 horas depois da votação.
Parece coisa de república centro-americana, sem
qualquer preconceito.
Aliás, eu, se fosse o presidente peruano Alberto
Fujimori, já estaria acionando a OEA (Organização
dos Estados Americanos) para que enviasse
observadores credenciados para evitar que haja
fraude na recontagem de votos na Flórida (afinal,
o governador é irmão de Bush). Não que haja
suspeitas, como as que havia justificadamente no
Peru, mas o sabor da vingança é sempre doce e
nunca convém desperdiçar as chances de cutucar o
orgulho do império.
O pior é que a maioria dos analistas jura que não
há diferenças essenciais entre Bush e Gore. Tanta
expectativa para tão pouco? Parece pouco razoável,
não é?
Ricardo Barz Sovat
Aluno de Doutorado em Ciências da Computação
LABIC - Laboratório de Inteligência Computacional
Instituto de Ciências Matemáticas e Computação
USP - Universidade de São Paulo
São Carlos SP Brasil