Caros Srs. do Painel do Leitor da Folha,

Lamento quando três editorialistas da página 2 da Folha, sem dúvida líderes 
de opinião pela posição que ocupam, se deixam enganar por argumentos 
superficiais, quando não equivocados.

Clóvis Rossi, Eliane Catanhede e o editorialista chefe, dos quais já 
admirei muitos textos,  julgam com precipitação quando escrevem, em quase 
uníssono, tecendo críticas à recontagem dos votos nas eleições americanas e 
elogiando nossa urna eletrônica onde a recontagem é impossível.

Cedem a argumentos totalmente errados quando confundem pionerismo com 
qualidade e rapidez com segurança. O Caso Proconsult, de 1982, já havia 
deixado claro e inconteste que a fraude eletrônica é tão rápida quanto a 
apuração. Supor que o sistema é bom por que é rápido é pura falácia.

Eu também não acho boa a idéia de eleição via colegio eleitoral. Prefiro 
eleições diretas. Mas a possibilidade de se recontar e conferir a apuração 
dos votos é sinal do maior respeito pelos princípios da democracia, qual 
seja a transparência absoluta do processo eleitoral.

E transparência é a verdadeira forma de se obter segurança e 
confiabilidade. Infelizmente o TSE adotou o princípio da segurança por 
obscurantismo, que dia a dia perde força no mundo acadêmico e só tem 
defensores entre os mercadores de softwares eleitorais.

Por isto, estão redondamente engados os editorialistas quando sugerem que 
estamos na frente dos americanos em tecnologia eleitoral e que estamos 
aptos a exportar-lhes esta tecnologia. Que ingenuidade!

Nossa urna eletrônica está baseada em princípios pré-revolução francesa. 
Ela não é moderna, é sim retrógrada por não permitir conferência da apuração.

Em 1996, o BID ao aprovar o financiamento de U$ 546 milhões para a 
informatização das eleições brasileiras enviou para cá um técnico para 
avaliar o sistema, o Sr. Roy Saltman. No relatório apresentado por este Sr. 
aparecem as críticas ao sistema de votação "direct-recording" (sem 
comprovante impresso do voto) adotado no Brasil, ressaltando que este 
sistema necessita da mais absoluta transparência para ter valor 
democrático. Pois bem, nenhuma das recomendações do Sr. Saltman, relativas 
a transparência do sistema, foram seguidas pelo TSE!

O que escrevo a seguir são fatos, baseados em documentos oficiais do TSE:

1- Os representantes da Justiça eleitoral que dizem os partidos puderam 
examinar todos os programas das urnas estão faltando com a verdade. A 
portaria 142/00 do TSE deixa claro que nem todos os programas foram 
apresentados para análise dos partidos, contrariando descaradamente o Art. 
66 da Lei 9.504.

2- A parte dos programas que havia sido mostrada aos partidos, foi 
MODIFICADA posteriormente e estes novos programas alterados não foram 
analisados por ninguém, como foi relatado pelo jornalista Marcelo Soares da 
Folha (no dia 15/10).

3- A resolução 20.714 do TSE deixa claro que NÃO SE PERMITE aos fiscais 
conferirem o conteúdos dos discos de carga das urnas para verificarem se os 
programas das urnas são mesmo os originais.

4- Um dos programas que são escondidos da auditoria é feito pelo CEPESC, um 
orgão da ABIN (que equivale a NSA americana).

5- Os programas das urnas foram contestados juridicamente e o TSE, 
despresando totalmente o princípio de celeridade do processo eleitoral, 
simplesmente não julgou, até agora, o mandado de segurança 2.914-DF, 
interposto antes do primeiro turno. Nossas eleições ocorreram sob júdice.

Nestes condições é pura ficção dos editorialistas pensarem que o Brasil vai 
exportar nossas urnas. Esta conversa de exportação é sempre plantada pelo 
TSE antes das eleições. Foi dito em 96 (33 paises vieram aqui conhecer o 
sistema, nenhum comprou!), foi dito em 98 (eram 16 paises, nenhum comprou) 
e voltaram a repetir agora.

Nenhum país democrático vai comprar um sistema que não permite conferência 
e recontagem da votação como é o nosso sistema. Certamente os americanos 
jamais aceitariam votar um sistema de votação cujo controle contra invasão 
e fraudes estivesse nas mãos da CIA ou da NSA.

E aproveitando que estamos falando de voto eletrônico, eu gostaria de saber 
dos editorialistas da Folha o que acham desta idéia de aumentar nossa 
dívida externa em mais de meio bilhão de dolares para comprar 350.000 
computadores que são usados 10 horas a cada dois anos?

Eng. Amilcar Brunazo Filho
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Moderador do Fórum do Voto Eletrônico
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