-----Mensagem Original-----
De: "Eugenio C. G. Hansen" <[EMAIL PROTECTED]>


http://www2.correioweb.com.br/cw/2001-10-31/mat_18780.htm em 31 out.
2001.

Correio Braziliense,  Brasília, quarta-feira,
 31 de outubro de 2001

Opinião
A invasão
Por Mauro Santayana

  Se se confirmar a informação divulgada domingo por O Globo de que os
Estados Unidos estão criando um Comando Américas a fim de cuidar da
''segurança interna'' dos Estados Unidos, do Canadá e da América Latina,

isso significará a supressão da soberania nacional de nossos países, com
a
substituição dos governos por altos funcionários de Washington. Como, de

acordo com a notícia, o Pentágono será o eixo dessas ações, a ocupação
terá
caráter militar. Em suma, se isso se der, por mais dissimulada seja a
operação, estaremos diante de uma agressão.

Os Estados Unidos se encontram acuados pelo pavor, e nenhum conselheiro
é
pior do que o medo. Sendo assim, o povo norte-americano e outros povos
podem
ser levados a aceitar um novo passo no projeto de domínio universal ''de

juri'' pelo governo dos Estados Unidos. Embora já comecem a reconhecer,
no
caso do antraz, que o inimigo pode estar dentro de casa, os
norte-americanos
os estão apontando em todos os lugares. Sobretudo em lugares muito
convenientes, como na Colômbia e em Foz do Iguaçu. Ou seja, ao norte e
ao
sudoeste do Brasil: na Amazônia e na Bacia do Prata, os dois pontos mais

estratégicos do continente sul-americano.

É preciso que os chefes de Estado digam aos governantes norte-americanos

que as virtudes de seu povo não convertem as suas elites em senhoras do
mundo. Essa presunção de superioridade, surgida logo nos primeiros
decênios
de independência, tem custado muito à humanidade e aos próprios
norte-americanos, na criação de tiranias em todo o Terceiro Mundo e na
perda
de vidas em todos os conflitos que provocaram. No caso da América
Latina, a
arrogância começou na guerra de expansão territorial contra o México,
sob a
presidência de James Polk. Com esse movimento, que muitos europeus
saudaram
como ''civilizatório'' e contra o qual se colocou Lincoln, os Estados
Unidos
consolidaram a anexação do Texas e da Califórnia. Apesar da adesão de
suas
classes dirigentes aos norte-americanos, a memória patriótica do México
não
esqueceu a agressão de 1845. O presidente mexicano Lázaro Cardenas
resumiria
a fatalidade geográfica de seu país com a frase desconsoladora: ''Pobre
Mexico, tan lejos de Dios y tan cerca de Estados Unidos''.

Ao planejar o retorno do terror policial-militar à América Latina, com a

supressão das liberdades políticas, entre elas a de expressão, o
presidente
Bush retorna à Doutrina Theodore Roosevelt, de 1904, que arrogava aos
Estados Unidos o direito de exercer o policiamento no continente. De
acordo com esse
corolário à Doutrina Monroe, os Estados Unidos teriam o poder de
intervir em
qualquer país que ''não agisse corretamente''. O autor da famosa frase
''speak softly, but carry a big stick'', que fora chefe de polícia em
Nova
York, tinha a fama de durão e, entre outras aventuras, embrenhou-se nas
selvas do Mato Grosso e da Amazônia para caçar e narrar depois a sua
excursão em um livro.

As nossas relações com os Estados Unidos têm sido, ao longo do convívio
histórico, de admiração e fundada desconfiança. Ao longo do século XIX,
as
instituições democráticas norte-americanas, com a Constituição de 1787,
fascinaram grande parte da intelectualidade brasileira, como foi o caso
de
Tavares Bastos, e levaram os constituintes de 1891 a adotar os
princípios da
Carta de Filadélfia.

Os Estados Unidos sempre tiveram em conta o potencial do Brasil. A ajuda

brasileira foi importantíssima no esforço de guerra contra o Eixo, no
fornecimento de matérias-primas estratégicas, com a base de Natal e a
presença de forças de nosso país na Itália. Mas sempre atuaram a fim de
impedir o pleno desenvolvimento brasileiro, mantendo-o sob o seu
controle. A
esse respeito, vale ler o livro de Gerald K. Haines - um especialista na

história da CIA - The Americanization of Brazil - A Study of U.S. Cold
War
in the Third World, 1945-1954, em que se narra o desembarque
norte-americano no
Brasil. O projeto, claro, era o de fazer do país um parceiro de segunda
categoria, com economia que fosse complementar e subsidiária à economia
dos
Estados Unidos.

Ao analisar o resultado desse esforço, o autor, na introdução do livro,
publicado em 1989, diz que os altos funcionários norte-americanos não
entenderam bem a dinâmica interna da sociedade brasileira, sobretudo em
seu
nacionalismo emergente (com Getúlio e Juscelino, leia-se) e a aspiração
de
consumo, que impunha o desenvolvimento industrial, e isso levou a
problemas
futuros. ''No entanto'' - diz o autor -, ''mesmo vista de hoje (ou seja,
de
1989), a política norte-americana dirigida ao Brasil parece
bem-sucedida. Ao
controlar a direção do desenvolvimento brasileiro, Washington
intensificou a
dependência financeira com relação aos Estados Unidos, influenciou as
decisões de seus governos no que se refere à alocação de recursos e
levou o
Brasil a se submeter ao sistema mundial de comércio dominado pelos
Estados
Unidos.''

Os que conhecem um pouco de história entendem que a República Imperial
(como a denominou Raymond Aron) chegou ao ponto mais alto de sua
ascensão e
que o ataque ao World Trade Center apressou o seu declínio. A menos que
os
governantes norte-americanos pretendam suicidar-se, levando com eles o
mundo
- resposta que só o desvario pode provocar -, convinha-lhes aceitar a
situação e buscar outra forma de convívio internacional que não fosse a
da
espoliação do trabalho e dos recursos naturais alheios, nem se valesse
da
arrogância.

O presidente Fernando Henrique Cardoso começou a mudar seu discurso
durante
a viagem que faz à Europa. Dele é agora a oportunidade de rejeitar esse
projeto de controle da vida brasileira que prevê o assassinato camuflado
de
pessoas suspeitas (conforme a autorização legal à CIA, noticiada pelo
Washington Post), com o uso de ''operações especiais''. O seu governo já
tem
imenso passivo histórico, com a destruição do Estado, o crescimento da
miséria, o desemprego e a corrupção. É impensável que queira passar para
a
posteridade a memória de um governante que tenha permitido a ação
criminosa
de agentes estrangeiros em território nacional, até mesmo no eventual
assassinato de cidadãos brasileiros.

Como disse certa vez o então governador Tancredo Neves a um embaixador
norte-americano, o Brasil é bem maior do que o Vietnã.

* Mauro Santayana é jornalista

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O poder só é limpo quando se traduz em serviço.
                                 Francisco de Juanes


Não há paz sem justiça e,
se não há justiça em escala mundial,
não há paz em escala mundial.
santo Helder Câmara (1909-1999)
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