Olá,

Escrevo esta mensagem para lhes passar a minha impressão geral depois da 
semana de apresentação dos programas no TSE.
Posso escrever esta mensagem, por causa do acordo entre os advogados do PDT 
com o TSE que estabeleceu com mais clareza o que estaria contido no 
compromisso de sigilo que assinei.
Não vou entrar em detalhes sobre código ou sobre o conteúdo de documentos 
que vi. Me aterei as linhas gerais do sistema informatizado de eleições 
desta eleição de 2002.

Primeira coisa a declarar é que o TSE propiciou mudanças significativas em 
relação a transparência do processo quando comparamos 2000 com 2002. Ainda 
não se atingiu um quadro ideal onde os partidos possam afirmar com certeza 
que o sistema é confiável e que possui defesas satisfatórias contra fraude.

A principal, e muito significativa, mudança foi a abertura dos códigos dos 
programas da ABIN. Os programas fontes estavam lá para análise dos partidos 
que o quizessem. Assim não podemos mais dizer que o sistema eleitoral tem 
programas secretos da ABIN. A limitação da fiscalização, atualmente, é de 
natureza prática devida ao prazo exígüo (cinco dias) que é oferecido aos 
partidos e não mais à omissão de apresentar os códigos para análise.

Também houve uma mudança de espírito menos completa em relação ao código do 
sistema operacional das urnas. Em 2000 o TSE recusou-se a apresentá-lo. Em 
2002 houve uma solução meia-sola, ainda muito inadequada. Os partidos 
teriam que pagar alta quantia se quizessem analisar o código do VirtuOS, 
que será utilizado em mais de 350.000 urnas, e foi introduzido um novo 
sistema operacional em 50.000 novas urnas, o Windows CE, que mais que 
quintuplicou a dificuldade de análise dos partidos, apesar do seu código 
estar "aberto" para analise. A limitação da fiscalização a apenas cinco 
dias somado ao preço cobrado mantém, na prática, a inauditabilidade do 
processo.
Obs.: O código das BIOS das urnas estava disponível para análise e, por ser 
de pequeno porte, era possível sobre ele fazer uma análise mais completa. 
No entanto, não foi oferecido aos partidos nenhuma maneira de se verificar 
se o código mostrado era o mesmo que já está gravado nas urnas (na verdade, 
esta verificação deveria ser feita em campo).

Outra mudança de orientação do TSE se refere a permissão dos partidos 
conferirem se os programas carregados nas urnas são os mesmos que foram 
apresentados para análise. Em 2000, o TSE se negou a permitir este tipo de 
fiscalização e agora, em 2002, tem feito reiteradas promessas de que a 
verificação será permitida. Porém, até o momento a forma como se dará esta 
fiscalização ainda não nem esclarecida nem formalizada. Como o histórico do 
TSE mostra que ele já deixou de cumprir o que promete (por ex, em 2000, 
prometeu aos senadores apresentar todos os programas e prometeu a votação 
paralela ao PT. Nenhuma das promessas foi cumprida), não se pode afirmar no 
momento que esta questão esteja resolvida.

Resumindo, o TSE mudou sua abordagem relativa três graves problemas de 
falta de transparência (e, por consequência, de confiabilidade) apontados 
sobre a eleição de 2000 que eram:

1- impossibilidade de conferência da apuração
2- existência de códigos secretos (ABIN e VirtuOS)
3- impossibilidade de conferência do programa carregados nas urnas

mas adotou soluções incompletas ou inadequadas:

1- imprimir o voto em apenas 5% das urnas e sortear 3% destas, NA VÉSPERA, 
para auditar a apuração eletrônica. Realizar, ainda, o teste chamado 
"votação paralela" em apenas 56 urnas num universo de 400 mil.
2- limitar a apenas cinco dias o tempo de análise dos programas, aliada à 
cobrança de alto valor aos fiscais e à introdução do Windows CE de porte 
desmesurado.
3- prometer verbalmente a fiscalização da carga mas sem regulamentá-la de 
forma a obrigar os juizes locais cumprir a promessa.

Continua-se, assim, mantendo NA PRÁTICA o sistema informatizado de eleições 
INAUDITÁVEL.
Nenhum partido examinou todo o código dos programas de computador a serem 
utilizados nas eleições e os controles que terão auditar a emissão dos 
Boletins de urna ainda são pouco eficazes.

A isto tudo, deve-se somar o fato que o sistema ainda possuir inúmeras 
brechas para a inserção de fraudes, seja via cadastro (como acontecido em 
Camaçari), seja por inserção de programa com código fraudulento de forma 
que passe despercebida pela fiscalização ineficiente dos partidos (o 
programa fraudulento tanto poderia ser insertado no início do processo, em 
Brasília, quanto nas ponta final, nos cartórios eleitorais).

Entendo que não posso publicar detalhes sobre estas brechas e 
vulnerabilidades que detectou-se, devido ao compromisso de sigilo que me 
impuseram, mas afirmo com convicção que vulnerabilidades existem, e algumas 
são gritantes e evidentes. Eu e o grupo técnico que me apoia e acompanha 
podemos demonstrar estas fragilidades do sistema na presença de 
representantes da justiça eleitoral se assim formos solicitados.

Em função, da mudança de alguns posições do TSE acredito que o Fórum do 
Voto-E deva RETIFICAR algumas de nossas afirmações, em especial sobre a 
existência de código secreto da ABIN, e RATIFICAR o espírito geral de 
nossas conclusões, qual seja, o sistema continua INAUDITÁVEL.

Solicito ao Prof. Del Picchia coordenar a revisão da declaração de Críticas 
e Propostas que é apresentada na página do Voto-E.

[ ]s
     Eng.  Amilcar Brunazo Filho - Santos, SP
     EU QUERO VER MEU VOTO !
     moderador do Fórum do Voto Eletrônico
             www.votoseguro.org
     moderador do Movimento em Defesa da Língua Portuguesa
             www.novomilenio.inf.br/idioma


''O sistema (eletrônico de votação) TEM FRAGILIDADES
  políticamente difíceis de serem resolvidas''

  disse o Min. Nelson Jobim, presidente do TSE,
  no JB on-line de 20/7/2002.
  O que será que ele quis dizer com isso?

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