jornal do brasil

                  [26/10/2002 01:48]



                  'Avisei a Fernando Henrique que o governo
                  ia perder'

                   Montenegro revela que José Serra estava presente no
encontro
                   com FH, no ano passado

                   Pedro do Coutto

                   - O eleitorado brasileiro vai às urnas amanhã sob o
impulso da mudança e
                   num encontro que tive, ainda em 2001, com o
presidente Fernando
                   Henrique Cardoso, no qual o ministro José Serra
esteve presente, embora
                   não fosse candidato ainda do PSDB, eu disse a ele que
o governo ia perder
                   a eleição, pois dez anos seguidos no poder é demais
para qualquer político,
                   por mais importante que seja.

                   A revelação é do presidente do Ibope, Carlos Augusto
Montenegro. Ele
                   acentua que antes de um governo de oito anos, FH foi,
durante dois anos,
                   ministro das Relações Exteriores e da Fazenda de
Itamar Franco.

                   - Seu primeiro governo foi muito bom, embalado pelo
êxito do Plano Real,
                   mas o segundo não teve o mesmo destino. A
insatisfação popular se
                   generalizou e todas as pesquisas registraram o
fenômeno claramente. Lula
                   exprime o sentimento de mudança, razão pela qual
domingo (hoje), nas
                   urnas, sua vantagem não será inferior a 25 milhões de
votos.

                   Montenegro observa que as pesquisas, pela margem de
diferença que
                   apontada entre os dois candidatos do segundo turno,
reduziram a emoção
                   do confronto, mas deixaram claro o panorama eleitoral
do país.

                   - Lula vai obter entre 55 e 60 milhões de votos e,
com isso, projeta-se não
                   só como o maior líder político do Brasil, como também
de toda a América
                   Latina. Pelo fato, inclusive, de o desfecho ser em
dois turnos, vai alcançar a
                   maior votação da história. É preciso levar-se em
conta que o segundo turno
                   é recente, começou em 89, quando Fernando Collor
venceu. Depois, em 94
                   e 98, Fernando Henrique Cardoso ganhou no primeiro
turno. Assim, agora,
                   em 2002, pela segunda vez uma eleição presidencial
brasileira foi para o
                   turno final.

                   Montenegro destaca que, mesmo nas três derrotas que
sofreu, Lula foi
                   crescendo no tempo. Derrotou Brizola por 16 a 15 em
89, obtendo a
                   passagem para a final contra Fernando Collor. Em 94,
teve 24 por cento
                   dos votos. Em 98, 31 por cento. Agora, no primeiro
turno de 2002,
                   alcançou 46 por cento.

                   - A trajetória não deixa dúvida quanto à ascensão do
Lula. O PT também
                   cresceu com ele. Tanto que, dos 57 deputados federais
que elegeu em 98,
                   sua bancada passou para 90. O eleitorado brasileiro
está acima dos
                   políticos, já que compreendeu perfeitamente o
esgotamento de um modelo.
                   Sabe votar muito bem: escolheu uma direção e não se
afastou dela.
                   Deseja mudar o país e para isso cumpriu sua parte nas
urnas.

                   A vontade de mudança manifestada pelo eleitorado,
ressalta Montenegro,
                   foi identificada, em todos os momentos, pelo Ibope.
Ele observa que, em
                   momento algum, desde o início da campanha, o
candidato do governo
                   esteve próximo de Lula nos percentuais de intenção de
voto. A primeira a
                   alcançar uma posição mais confortável nas pesquisas,
observa, foi Roseana
                   Sarney, mas a foto do dinheiro no escritório de seu
marido, Jorge Murad,
                   explodiu sua candidatura. E relembra:

                   - Mas enquanto os estilhaços voavam, o sentido de
mudança ficou na
                   campanha.

                   O presidente do Ibope recorda que, em seguida, quem
se aproximou de
                   Lula foi Ciro Gomes, também sempre destacando o
sentido de mudança e o
                   caráter oposicionista de sua candidatura. Mas Ciro,
observa ele, derrotou a
                   si mesmo, fazendo afirmações absurdas que o
prejudicaram
                   profundamente. Os votos que ele capitalizava de
Roseana Sarney, diz,
                   escaparam-lhe entre as nuvens que os ventos levaram
exatamente para
                   Luís Inácio Lula da Silva.

                   - Vê-se bem, por todos esses lances, que as posições
em torno de
                   candidatos se alteraram, mas não o impulso de
mudança. Lula representa
                   esse impulso melhor do que ninguém: é o candidato da
reforma, ainda que
                   a campanha não tenha deixado absolutamente nítido o
perfil dela. Mas os
                   eleitores querem mudar e tal fato predominou. Como na
vida de todos nós,
                   um sapato, por melhor que seja, não pode ser usado
sempre, tampouco
                   durar para sempre.

                   Montenegro observa que, pela primeira vez, o
instituto pôde fazer
                   pesquisas semanais sobre a sucessão presidencial e
também realizar
                   levantamentos nos 27 Estados do país. Isso foi
possível por causa do
                   contrato firmado com a Rede Globo, que ele levou a
termo mobilizando
                   uma equipe de mil e duzentas pessoas, comandada pela
diretora-executiva
                   do Departamento Político, Márcia Cavallari, pessoa de
extrema
                   competência e clareza.

                   - A todo esse esquema, devemos os acertos (não houve
um erro) no
                   primeiro turno. Esperamos acertar o segundo. A dúvida
forte está em
                   Brasília - acrescentou Montenegro, ressaltando que o
povo brasileiro foi o
                   grande vitorioso do pleito.

                   - Feliz é o país que pode oferecer uma festa
democrática como a de
                   domingo (hoje) e que pôde levar ao segundo turno
candidatos do nível de
                   Lula e Serra. A democracia brasileira está igualmente
vitoriosa porque o
                   resultado que as pesquisas assinalam e as urnas vão
confirmar projeta
                   fortemente um dos princípios do regime, que á a
alternância do poder pelo
                   voto - analisou.

                   Na opinião de Montenegro, a crise da Argentina não
influiu em nada,
                   tampouco a Copa do Mundo. Futebol é uma coisa,
política é outra, diz ele,
                   acrescentando que o eleitorado, numa demonstração de
maturidade, sabe
                   distinguir.

                   - O Brasil perdeu a Copa de 50 e Getúlio Vargas
recebeu uma apoteose na
                   eleição. A Seleção Brasileira venceu agora, em 2002,
de forma brilhante e
                   emocionante, e tal desfecho inesquecível para a
história do esporte em
                   nada influiu no desfecho das urnas.

                   Sobre a metodologia das pesquisas eleitorais,
Montenegro diz que, este
                   ano, foi adotado um modelo eletrônico de maior
precisão. Além disso, o
                   Ibope adquiriu a MQI, empresa especializada em
pesquisa por telefone. Ele
                   disse acreditar que, nas eleições municipais de 2004,
todas as pesquisas
                   possam ser feitas por telefone.

                   Em 2002, o Ibope fez 1 milhão de entrevistas,
divididas em mostras de 3
                   mil eleitores, sempre em 203 cidades representativas
da realidade nacional
                   e das diversas classes sociais. As capitais dos
Estados, diz Montenegro, são
                   sempre pontos fixos de pesquisa e as demais cidades
variam, mas
                   assegurando a percepção plena sobre as faixas da
opinião pública. E
                   explica:

                   - Cada mostra é diferente da outra. No final da tarde
de domingo (hoje),
                   estaremos mobilizando 54 mil bocas de urnas em todo o
país. Vamos dar o
                   resultado, às 17 horas, na Globo.

                   Segundo o presidente do Ibope, a eleição foi sempre
previsível. Ele
                   observa que todas as pesquisas feitas pelo instituto
desde fevereiro de
                   2000 assinalaram vantagem para Lula. Embora o segundo
colocado tenha
                   variado, destaca, a diferença dele para o adversário
mais próximo também
                   mudou. Mas, lembra ele, Lula nunca perdeu a
liderança.

                   - Portanto, Lula está vencendo hoje de ponta a ponta.
Um fenômeno
                   curioso é que ao longo desses 30 meses de que estou
falando, os índices
                   de rejeição a Lula foram caindo progressivamente.
Some-se a isso a queda
                   da popularidade de Fernando Henrique.

                   Na opinião de Montenegro, não há governo que resista
a oito anos de
                   perdas salariais acumuladas. A inflação, ressalta,
subiu muito mais que os
                   salários. Além disso, diz, os funcionários públicos,
com seus vencimentos
                   congelados, votaram em massa contra o governo.

                   - Temos pesquisa sobre isso.

                   No entanto, ele destaca, FH ficará na história como
exemplo de um
                   presidente, assim como Juscelino Kubitschek, que
assegurou a plenitude
                   democrática, a estabilidade institucional, os
direitos da cidadania, a
                   liberdade política. E lembra que, na reta final, FH
assinou um decreto
                   criando a equipe de transição de seu governo para o
sucessor, mesmo
                   sabendo que Serra, candidato de seu partido, havia
perdido a disputa.

                   - Esta equipe, portanto, FH sabia muito bem, terá
como tarefa proporcionar
                   todas as informações administrativas sobre a vida do
país a Lula. Cada
                   eleição é uma eleição e isso é que é bonito. Isso é
que é democracia.

                   De acordo com o presidente do Ibope, as pesquisas não
influíram no
                   caminho das eleições, o que, segundo ele, pode ser
comprovado no quadro
                   nacional e nos Estados. A influência fundamental,
analisa, foi a dos jornais,
                   emissoras de televisão, revistas semanais, emissoras
de rádio, que
                   asseguram uma cobertura primorosa e absolutamente
igual a todos os
                   candidatos. E acrescenta:

                   - Os comícios também, pela oportunidade que
proporcionam de se
                   transformar em matérias jornalísticas as carreatas,
além da ética que
                   prevaleceu na campanha. A pesquisa, na realidade, não
altera nada: é uma
                   informação que, às vezes, muda a todo momento. Não
por ela, a pesquisa,
                   mas pela fotografia que reproduz.

                   Montenegro avalia ainda que o marketing não pesou
como muitos supõem,
                   pois o conteúdo predominou sobre a forma. Mas
destaca:

                   - Há que se registrar o grande acerto de Duda
Mendonça, cujo mérito foi o
                   de expor o Lula como ele é. Natural e alegre. Ele
alegrou e tornou mais
                   leve a imagem do candidato. Muito sisudo nas outras
eleições, agora
                   assumiu imagem diferente. É verdade, entretanto, que
nas disputas de 89,
                   94 e 98, ele pedia votos. Em 2002, ele apareceu
convidando os eleitores
                   para vencer. A diferença é fundamental, na política e
na vida.

                   Em mais uma avaliação sobre a eleição, Montenegro
identifica Anthony
                   Garotinho como um grande vencedor do pleito que
termina hoje. Primeiro,
                   porque ficou conhecido nacionalmente; segundo, porque
teve 18 por cento
                   dos votos montado numa legenda fraca, a do PSB;
terceiro, porque
                   Garotinho firmou uma liderança extraordinária no Rio,
elegendo sua
                   candidata, Rosinha Matheus, no primeiro turno,
inclusive derrotando por
                   maioria absoluta a governadora Benedita da Silva; e,
por fim, porque
                   passou a grande maioria de seus votos para Lula.

                   - Nasce uma estrela, como no filme famoso. As
pesquisas registraram com
                   precisão o desempenho e a influência do
ex-governador. Bela festa
                   democrática. Vitória de Lula e do sentimento de
mudança, acerto total das
                   pesquisas do Ibope no primeiro turno, não errando uma
colocação sequer
                   de todos os candidatos, em todos os Estados e no
país. O Brasil está de
                   parabéns e devemos festejar isso.

                   Na opinião de Montenegro, Lula irá vencer em todos os
Estados,
                   principalmente no Rio, Minas Gerais, Bahia, Brasília,
Espírito Santo, Santa
                   Catarina, Ceará, Piauí e Amazonas, onde as vantagens
são arrasadoras,
                   além do Distrito Federal. Numa segunda faixa, em São
Paulo, Paraná,
                   Pernambuco e Maranhão. Nos demais, avalia, por margem
ampla, porém
                   um pouco menor.

                   - Lula deve fechar a sucessão alcançando de 55
milhões a 60 milhões de
                   votos. Mas projetar o resultado final, só com a
pesquisa da tarde de
                   domingo (hoje). Vamos torcer para que o nosso êxito
do segundo turno
                   seja igual ao do primeiro - finalizou Montenegro.




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