COMENTÁRIOS SOBRE O RELATO DE UM INGÊNUO (ver abaixo)



Como vários ingênuos podem levar a sério o relato do outro ingênuo, eu, um pouco menos ingênuo, aproveito a oportunidade para fazer alguns comentários ingênuos.



1. Como democrata, não tenho nenhuma simpatia pelo Saddam, amigo do peito dos EUA e do Rumsfield até outro dia. Nem pelos inúmeros regimes ditatoriais/sanguinários sustentados no passado e no presente pelos inventores das matanças humanitárias com bombas de fragmentação de precisão (assim as crianças morrem desmembradas mas felizes com tanta tecnologia envolvida..). Saddam é sanguinário? Pelas informações que nos passam, é. Mas isso não é motivo para o bushitler esforçar-se em ser mais sanguinário que ele. Para invadir terra alheia, causando enorme destruição, desprezando a ONU, o Papa e a opinião pública mundial. Para praticar terrorismo institucional com bombardeios ferozes contra alvos civis, enquanto promete o contrário. Para causar tanto sofrimento ao povo iraqueano, em sua própria terra.


2. O autor do texto "Relato de um ingênuo" mostra-se não só ingênuo como vesgo político: só queria protestar contra os governos! Nenhuma procupação com as mortes que viriam? (Os EUA sempre começam com alvos militares e logo degeneram para matança de civis). Ainda, ele não percebeu que o que está em jogo não é o regime de Saddam nem das demais ditaduras, mas a proposta iníqua de uma nova ordem internacional baseada na força, nos interesses econômicos, na destruição, no derramamento de sangue, na mutilação e morte de não beligerantes indefesos, mulheres, crianças, idosos? Que qualquer maluco na Casa Branca agora pode bombardear/invadir qualquer país preventivamente ao seu bel prazer? Que o Iraque é o começo, pois abre um precedente ilegal perigoso? É a lei da selva, agora com armas nucleares, biológicas e químicas.

3. Ele disse que mudou de "maneira drástica" (significa que agora ele acha que o bushitler et caterva são bem intencionados e menos sanguinários?). Isso, a partir de um só depoimento de pessoa totalmente desconhecida, é burrice (Se alguém me perguntasse no tempo do regime militar o que eu achava, ia ouvir sobre atrocidades várias; de outras pessoas poderia ouvir elogios de atos que eu também poderia elogiar. De qualquer modo, eu nunca defenderia uma ocupação estrangeira no Brasil para livrar-nos da ditadura). Agora, se em lugar do taxista, ele falasse com um árabe que conheço e que morou lá, ouviria elogios às boas ações para a população e que o populista Saddam era bem capaz de ganhar eleições, mesmo sem fraude (A impressão que fiquei foi a de um déspota parecido com o Getúlio-ditador, populista, pai dos pobres e autor de leis de proteção aos trabalhadores, enquanto seu chefe de polícia matava e cometia atrocidades nas masmorras contra os inimigos políticos).

4. Esquisita a crença do taxista que iriam bombardear sem mortes de civís (Só isso, já dá para desconfiar de todo o texto). Ele nunca viu uma guerra? Não viu o Afeganistão ser bombardeado intensivamente mesmo depois de destruídos todos os poucos alvos militares (A indústria armamentista agradece...)? Será que agora, depois de tantas atrocidades dos "libertadores humanistas" o taxista caiu em si? Será que ainda está vivo? Não será um dos que morreu queimado esses dias nos autos que passavam perto do orfanato bombardeado em Bagdá? Não será um dos motoristas ou ocupantes dos veículos metralhados nas barreiras dos "benfeitores"? Não terá sido morto ao protestar por estarem apalpando sua mulher ao revistá-la (ato profundamente ofensivo aos costumes locais)?. Ou estaria no auto civil que fugia dos combates e foi alvejado com um míssil de helicóptero, matando 15 ocupantes (6 crianças)? Ou será um daqueles que pegou em armas para defender sua terra de uma invasão estrangeira, apesar do Saddam?

5. Qualquer um com meio cérebro quer a queda do Saddam (e de todos os déspotas cruéis, mesmo amigos dos EUA), mas será necessário o cérebro inteiro para lamentar tantas mortes e mutilações desumanas, apenas para atender interesses claramente confessados da indústria armamentista, das empresas petrolíferas, das empresas de construção civíl, da economia dos EUA, da manutenção de seu enorme gasto e desperdício de energia, da construção do império (com a decisão e imposição unilaterais, daqui para a frente, do que é bom para qualquer habitante do planeta). Fora os interesses particulares dos ocupantes da Casa Branca. Só o cérebro inteiro percebe que as razões dessa agressão ilegal nada tem a ver com a atuação do Saddam ou com a posse de armas proibidas; isto sempre foi um pretexto para a invasão, já decidida há muito, enquanto bushitler enganava o mundo parecendo ter aceito as inspeções. Se as armas nucleares, biológicas e químicas devem ser proibidas para os outros, por que os EUA não dão o exemplo? Por que desenvolvem e mantém enorme estoque delas todas? E pior, manifestaram a intenção de utilizá-las!! (Já estão usando armas radioativas, gases paralizantes e há denúncias de virus e germens jogados sobre as plantações iraqueanas há muito). Eles podem?

6. Quanto às fotografias, prefiro as cansativas fotos do Saddam por 20 anos, do que as fotos de crianças estraçalhadas pelas bombas salvadoras, uma só vez que seja.

Abraços ingênuos e indignados

Walter Del Picchia

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Date: 03 abr 2003, 02:20:38
Subject: [VotoEletronico] FC: Fw: Relato de um ingênuo


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Relato de um ingênuo

Por Daniel Pepper* - Eu quis juntar-me aos escudos humanos em Bagdá, porque era uma ação direta com grande chance de chamar a atenção >mundial para o movimento pacifista. Era algo inspirador: os escudos >voluntários estavam dispostos a se sacrificar por suas opiniões políticas -- um investimento pessoal muito maior do que ir a uma demonstração em Washington ou Londres. Algo simples -- você entra em umm ônibus e representa-se a si mesmo. Então, foi exatamente o que fiz na manhã de sábado, 25 de janeiro. Sou um fotógrafo judeu-americano de 23 anos, residente em Islington, ao Norte de Londres. Já tinha viajado pelo Oriente Médio antes: quando estudante, fui até a Cisjordânia palestina durante a intifada.

Também estive no Afeganistão, fotografando para a Newsweek. Os escudos humanos satisfaziam minha posição anti-guerra, mas, cinco semanas depois, quando deixei Bagdá, tinha mudado de opinião de maneira drástica. Eu não diria que sou a favor da guerra exatamente -- não, sou ambivalente -- mas desejo muito que Saddam seja retirado do poder. Nós, no ônibus, simpatizávamos com o ponto de vvista dos civis iraquianos, embora não soubéssemos exatamente qual fosse. O grupo estava menos interessado em apoiar os direitos deles do que em protestar contra os governos dos EUA e do Reino Unido.

Fiquei chocado ao encontrar, em Bagdá, o primeiro iraquiano a favor da guerra -- um motorista de táxi que me trazia de volta ao hotel, tarde da noite. Expliquei a ele que eu era americano e falei, como nóós, escudos, sempre fazemos: "Bush mau, guerra ruim, Iraque bom." Ele me olhou com uma expressão de incredulidade. Quando ele percebeu que eu falava sério, diminuiu a marcha e começou a contar, em um inglês precário, sobre as maldades do regime de Saddam. Até então, eu só ouvira falar do presidente com respeito, e agora este cara me dizia como todo o dinheiro do petróleo iraquiano tinha ido parar nos bolsos de Saddam e como ele mandava matar as famílias de seus opositores políticos.

Fiquei apavorado. Primeiro, pensei que talvez o motorista fosse da polícia secreta e estivesse tentando me 'pegar', mas depois tive a impressão de que ele queria que eu o ajudasse a fugir. Fiquei muito mal. Disse a ele: "Olha, eu sou apenas um panaca dos Estados Unidos, não trabalho para a ONU, não trabalho para a CIA. Não posso ajudá-lo." É claro que eu tinha lido reportagens sobre os iraquianos odiarem Saddam, mas aquilo fora real. Alguém me explicara os fatos cara a cara. Contei o caso a jornalistas conhecidos. Disseram-me que aquilo acontecia com freqüência - desabafos espontâneos, emocionais e reservados, súplicas feitas a estrangeiros para que os libertassem do Iraque tirânico de Saddam.

O modo como o regime iraquiano restringia o movimento dos escudos começou a me preocupar cada vez mais, de maneira que parti de Bagdá, poucos dias depois, em um táxi com outros cinco escudos, através da Jordânia. Uma vez cruzada a fronteira, sentimo-nos à vontade o suficiente para perguntar ao nosso motorista o que ele achava do regime e da ameaça de um bombardeio aéreo.

"Vocês não ouvem Powell na rádio Voz da América?", ele perguntou. "Claro que os americanos não querem bombardear civis. Eles querem jogar bombas no governo e nos palácios de Saddam. Nós queremos que a América bombardeie Saddam."

Ficamos ali sentados, ouvindo boquiabertos. Jake, um dos escudos, ficava repetindo "ah, meu Deus", enquanto o motorista descrevia os horrores do regime. Jake estava chocado com o tamanho de sua própria ingenuidade. Todos estávamos. Não ocorrera a ninguém que os iraquianos pudessem estar, na verdade, em favor da guerra. A declaração mais enfática do motorista foi: "Todo o povo iraquiano quer esta guerra." Ele parecia convencido de que as baixas civis seriam pequenas; acreditava piamente que a máquina de guerra americana cumpriria o prometido. Mais fé do que qualquer um de nós, com certeza.

A coisa mais esmagadora que nos disse foi, talvez, que os iraquianos comuns pensavam que Saddam Hussein nos pagava para irmos protestar no Iraque. Apesar de explicarmos que o nosso caso não era esse, de jeito nenhum, ele não me pareceu acreditar em nós. Mais tarde, perguntou-me: "Agora, sério - quanto Saddam pagou a vocês para virem?" Minha experiência atingiu-me em cheio: aquele era o verdadeiro retrato da vida iraquiana. Depois da primeira conversa, repensei toda a minha opinião sobre a situação no Iraque. Meu entendimento mudou, tanto intelectual, quanto emocional e psicologicamente.

Lembrei-me das fotografias egomaníacas de Saddam vistas por toda parte nas duas últimas semanas e tentei colocar-me no lugar de alguém que tivesse sido obrigado a vê-las todos os dias dos últimos vinte anos, mais ou menos. Na quinta-feira passada, fui fotografar a passeata contra a guerra na Parliament Square. Milhares de pessoas gritavam "guerra não", mas sem considerar as implicações disso para os iraquianos. Alguns manifestantes bebiam, dançavam samba e trocavam socos com a polícia. Era como se eles falassem de um outro país, onde o governo em exercício fosse perfeitamente aceitável. Fiquei muito chateado.

Qualquer um com meio cérebro admite que Saddam precisa ser tirado de lá. É extraordinariamente irônico que manifestantes pacifistas marchem em defesa de um governo que proíbe seu povo de exercer a liberdade.

*Publicado no Telegraph.co.uk Tradução: Márcia Leal
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