Amigos, o Amilcar passou os links para o novo artigo do professor Pedro Rezende. Mas além disso, a Eliana Amaral, uma companheira da rede praxis, fez uma síntese do artigo, tirando as partes muito técnicas para torna-lo mais facil de ler. Sem passar pelo professor Pedro. Avaliem. Abraço.


Maneschy


-------- Mensagem Original -------- Assunto: Urnas Eletronicas & Brizola Data: Thu, 9 Sep 2004 20:54:11 -0300 De: "Eliana Amaral" <[EMAIL PROTECTED]> Responder-Para: "Eliana Amaral" <[EMAIL PROTECTED]> Para: <[EMAIL PROTECTED]>, Nuestra América <[EMAIL PROTECTED]>, <[EMAIL PROTECTED]> CC: "Osvaldo Maneschy" <[EMAIL PROTECTED]>



Divulgo a todos!

Uma espécie de  documentário sobre o assunto Urnas Eletrônicas e a
segurança da votação.

Por tratar-se de uma longa matéria ( dependente de fundamentação por
 análise técnica) fiz uma seleção de partes apenas pra dar uma idéia do
assunto procurando enfatizar  mesmo que em síntese a questão política e
a Homenagem póstuma a Brizola.

O conteúdo na íntegra encontra-se em:
http://br.groups.yahoo.com/group/redepraxis/message/6069


A baixo copio da msg original a indicação de Osvaldo Maneschy (jornalista que de longa data acompanha a nossa política e divulga o tema ) logo a seguir a introdução, a conclusão, a Questão Política e a Homenagem (resumida mas merecida!) a Leonel Brizola. (deixo também as referências bibliográficas apontadas na msg original)

saudações,

Eliana
=======================================================

De: Maneschy <[EMAIL PROTECTED]
<http://br.groups.yahoo.com/group/redepraxis/post?postID=TF4XY9L8RMlVS74UXs5FmqYbQ5JgtQ9qiWMINDTQPNTqsh09JvWqE619M0H_vMiqIlKSqaRX6V6JPls>>



Data: Qui Set 9, 2004 8:05 am Assunto: Urnas Eletronicas & Brizola


Companheiros, apesar de longo e muito técnico, não deixem de ler este texto do professor Pedro Rezende, do Departamento de Ciencia da Computação da Universidade de Brasília, que passa a limpo a questão das urnas eletronicas. O texto dele é importantíssimo para as pessoas preocupadas com a lisura do processo eletronico de votação, e contém uma homenagem especialíssima ao nosso grande líder, Leonel Brizola, por sua tenacidade em lutar por eleições limpas no Brasil. Divulguem.

Maneschy



segurança computacional > textos >
http://www.cic.unb.br/docentes/pedro/segdadtop.htm | Urna eletrônica:
Avaliação
Análise de um sistema eleitoral eletrônico
In memoriam: Leonel de Moura Brizola
Publicado no Obervatório da Imprensa em 7/09/04

Prof. Pedro Antonio Dourado de Rezende
Departamento de Ciência da Computação
Universidade de Brasília
22 de Agosto de 2004
Resumo

Em 2003, quatro professores da Johns Hopkins University e da Rice
University publicaram uma análise sobre a segurança do código
supostamente utilizado em um sistema eleitoral eletrônico fornecido pela
empresa americana Diebold. Tal estudo apontou inúmeras falhas e
vulnerabilidades a fraudes de origem interna e externa. Novas denúncias
de falhas de segurança nas máquinas de votação da Diebold foram
apresentadas em março de 2004, o que levou ao descredenciamento, dois
meses depois, das máquinas da empresa no Estado da Califórnia.

O presente trabalho, desenvolvido com a ajuda de voluntários, tem por
objetivo oferecer uma análise semelhante, de algo semelhante. Código
que, segundo tudo indica, origina-se da urna eletrônica do sistema
eleitoral brasileiro usada em 2000, e que teria sido desenvolvido pela
mesma empresa. As conclusões aqui são também semelhantes, tão graves
quanto aquelas.

(...)

6. Conclusões


As conclusões desta análise, no que tange ao arquivo SETUP.BAT supostamente desenvolvido pela Diebold/Procomp para as eleições brasileiras de 2000, são muito semelhantes àquelas dos técnicos e acadêmicos norte-americanos que analisaram software de funcionalidade e origem semelhantes [1], supostamente oriundas das máquinas de votar da Diebold americana. Sustentadas as hipóteses de origem autêntica dos documentos analisados lá e cá, fornecidos pela mesma empresa, foram encontradas inúmeras fragilidades nos seus sistemas de segurança que permitiam, e que poderiam em tese ainda permitir, com grande facilidade a quem precisa manipulá-lo, a execução de mecanismos destinados a desviar ou identificar votos. E o que é pior, de forma também facilmente obscurecível a qualquer auditoria a posteriori.

6.1 A questão política

A arquitetura de segurança do sistema eleitoral informatizado parece ter
sido relegada, lá e cá, a segundo plano, tratada antes como opção de
projeto da alçada de empresas ou consultorias contratadas para o seu
desenvolvimento [19], ou a obscuros lobbies legislativos [17], do que
como tema político da mais alta sensibilidade e importância cívica, que
precisa seguir seu próprio curso. Cá, com o agravante do mais próximo
resgate -- o processo de fiscalização eleitoral -- vir sendo tratado
como atividade lúdica, performance na qual uma cinderela chamada opinião
pública dança em fabuloso salão, lotado de belas teses hermenêuticas
positivistas, encerado com uma mistura pastosa de fobia e desdém pelo
saber técnico como poder difuso. Chamar a si, para delegar a poucos,
tamanha responsabilidade pode ser um erro, pois, no poder, aparência de
má fé é contagiosa.

Contra este tipo de ameaça aos princípios democráticos, parece que os
cidadãos norte-americanos estão mais dispostos a se defenderem do que os
nossos compatriotas, ainda embriagados de ingênuo ufanismo por nossa
"conquista tecnológica", ainda sem bem entender quem nela é conquistador
e quem é conquistado. Assim nos parece pelas notícias que nos chegam. De
lá, sobre a crescente mobilização popular contra o poder excessivo de
quem fabrica e/ou opera as novas caixas-pretas da cidadania. De cá, pela
forma atabalhoada e canhestra como foi aprovada a última lei eleitoral
brasileira no Congresso Nacional, em 1/10/2003 [4, 17]. E como esta lei
vem sendo regulamentada e aceita, ademais agora que o grande líder desta
luta cívica entre nós se foi, homenageado póstumo desta singela
contribuição à causa.
Leonel Brizola deve, porém, ser antes visto como exemplo de brio e digna
tenacidade, do que como nosso último bastião de vigilância
cívico-democrática, tombado pela inexorabilidade da morte. Morte
irônica, já que o velório teve mais eleitores por ele chorando do que
sua última eleição os teve nele votando, para senador da República. É a
mágica dessas urnas eletrônicas, conquista tecnológica cantada em prosa
e verso pela grande mídia, como na capa da revista Veja de 16 de Outubro
de 2002, reproduzida abaixo


Leonel de Moura Brizola Falecido em 21/06/04 aos 81 anos

No destaque jornalístico lastreado em deboche e ofensas a esse baluarte
da vida pública brasileira, ali execrado em duvidosas companias, apesar
de modelo de brasilidade que a história há de reverenciar, faltou ao
grande veículo do absolutismo tecno-neoliberal na mídia explicar algo:
como foi tirado de circulação o único politicossauro desenhado com as
quatro patas firmes no chão. Os outros, é fácil intuir, teriam tropeçado
em suas próprias contas e explicações obscuras, mas e o velho Briza? No
texto atrás da capa, apenas a verdade absoluta e meteórica das
maravilhosas urnas eletrônicas brasileiras. Subentendida, mas agora
distoante das lágrimas do adeus.

6.2 Homenagem póstuma

Brizola nunca desistiu de lutar pela transparência dessa maravilha. Ele,
o então senador Roberto Requião e alguns brancaleontes, espicaçados como
conspiracionistas retrógrados, lutaram e conseguiram, com a ajuda do
fugaz mal estar que o escândalo do painel do senado nos causou, a
aprovação da lei 10.408/02, introduzindo meios para recontagem de votos
impressos, posteriormente atabalhoada e canhestramente banida. Banida em
meio a piruetas semânticas de magistrados potencialmente atingíveis, a
achincalhes circulados por essa espécie de mídia, entrelaçadas a cínicas
mentiras como as enunciadas do plenário da Câmara dos Deputados, em 1 de
Outubro de 2003 [17].

E agora, onze meses depois da grotesca farsa democrática desse
banimento, e dois meses de enterrado quem chamou de fóssil político,
esta mesma espécie circulante volta à carga. Até em telejornais de
campeã audiência, regurgitando diariamente irresponsáveis denúncias
vazias de "monstruosas fraudes", sem nenhum embaraço pela farsa da
renúncia de Chávez orquestrada em abril de 2002, ela agora insiste num
sagrado direito democrático. Mas não nosso: o de abusados perdedores em
país vizinho, inconformados com uma surra diferencial de 17% em
referendo presidencial. Qual direito? O de fazerem auditoria do sistema
eleitoral eletrônico, através da recontagem dos votos impressos, lá
disponíveis. Seria a firmeza das quatro patas brizolistas um ato falho
do inconsciente coletivo no artista gráfico da Veja, a denunciar tão
deslavada e nauseabunda hipocrisia?
Independente de suas últimas escolhas eleitorais terem sido boas ou más
para o mundo, o povo irmão norte-americano ainda tem lições de cidadania
a dar, a uma sociedade globalizada pelo cerco cada vez mais ubíquo e
sinistro da aliança entre poder econômico e domínio tecnológico. Aliança
que coopta o poder político sob o véu de inevitabilidade com que o poder
mitiático -- operado por essa espécie circulante -- hipocritamente lhe
cobre, enquanto dela se nutre.

Lá, onde leis eleitorais são estaduais, vários estados vêm modificando
as suas, de sorte a impor a seus processos eleitorais mecanismos de
recontagem por meio de registro material dos votos, no rastro do
escândalo dos softwares da Diebold e da última eleição presidencial, sob
pressão de grupos de cidadãos organizados contra o risco de fraudes
eleitorais. Justamente lá, no tear dessa tessitura de nova ideologia e
nova religião, que é o absolutismo tecno-neoliberal. Sua
inevitabilidade, caros leitores, é apenas mais um véu sobre a face do
destino humano. Pode parecer maravilhoso, especialmente a Narcisos, mas
é um véu que um dia cairá, para revelar o próximo.

Descanse em paz, velho Briza! A firmeza de seu caráter sobrevive como
ícone, nem que pelas patas do poder.



Referências Bibliográficas
[1] - Rubin, Aviel D., Kohno, T.,Stubblefield, A. e Wallach, D. S.,
"Analysis of an Electronic Voting System". Consultado em 10 de janeiro
de 2004 em: http://avirubin.com/vote.pdf

[2] - Shelley, K., "Decertification and Whitdrawal of Approval of
Accuvote-TSx Voting System".Secretaria de Estado da Califórnia. Abril de
2004. Consultado em 02 de maio de 2004 em:
http://www.ss.ca.gov/elections/ks_dre_papers/decert.pdf

[3] - Schwartz, J., "High-Tech Voting System Is Banned in California" .
New York Times. Publicado em 01 de maio de 2004 em:
http://www.nytimes.com/2004/05/01/national/01VOTE.html

[4] - Rezende, P. A. D., "A Seita do Santo Byte". Consultado em 20 de
fevereiro de 2004 em: http://www.cic.unb.br/docentes/pedro/trabs/azeredo.htm

[5] - Seixas, I., Paglerani, R. B., Gonçalves, M. J. [?], "Setup.FI -
Setup da urna usado para a Eleição Oficial do Tribunal Superior
Eleitoral". Setembro de 2000. Consultado em 01 de março de 2004 em:
http://www.angelfire.com/journal2/tatawilson/ue2000.zip

[6] - Rocha, A. R. C., Travassos, G. H., Souza, G. S., Mafra, S. [?],
"Relatório de Avaliação do Software do TSE". Fundação COPPETEC,
COPPE/UFRJ, agosto de 2002. Consultado em 01 de março de 2004 em:
http://www.angelfire.com/journal2/tatawilson/coppe-tse.pdf

[7] - Tribunal Superior Eleitoral. "Edital de Licitação, mediante
Concorrência, nº 27/99". Diretoria Geral do Tribunal Superior Eleitoral,
julho de 1999, Disponível em:
http://www.votoseguro.org/arquivos/EditalUE2000.zip

[8] - Brunazo F., A., "A Segurança do Voto na Urna Eletrônica
Brasileira" in Seminário de Segurança em Informática, SSI'99, ITA.
Anais... São José dos Campos, SP, Brasil, 1999. Disponível em:
http://www.votoseguro.org/arquivos/SSI99int.zip

[9] - Tozzi, C. L. et alli. "Avaliação do Sistema Informatizado de
Eleições (Urna Eletrônica)". UNICAMP, maio de 2002. Disponível em:
http://www.tse.gov.br/servicos/download/rel_final.pdf

[10]- Graaf, J. V., Custódio, R. F., "Tecnologia Eleitoral e a Urna
Eletrônica". Sociedade Brasileira de Computação. 2002. Disponível em:
http://www.sbc.org.br/ArquivosComunicacao/TSE.pdf

[11] - Teixeira, M. C. e Brunazo Filho, A., "Reflexões sobre
Confiabilidade de Sistemas Eleitorais". Fórum do Voto Eletrônico.
Janeiro de 2001. Disponível em:
http://www.votoseguro.org/textos/reflexoes.htm

[12]- Rego, C. A., "Auditoria de Sistemas Eleitorais - O Caso Sto.
Estevão ". Fórum do Voto Eletrônico. Consultado em 10 de março de 2004
em: http://www.votoseguro.org/textos/stoestevao1.htm

[13] - Brunazo F., A., "O Relatório TSE-FUNCAMP - Um Laudo, Duas
Conclusões". Fórum do Voto Eletrônico. Disponível em:
http://www.votoseguro.org/textos/relfuncamp1.htm#1.4

[14] - Brunazo F., A., "Critérios para Avaliação da Segurança do Voto
Eletrônico" in Workshop em Segurança de Sistemas Computacionais,
Wseg'2001, UFSC. Anais... Florianópolis, SC, Brasil, 2001. Disponível
em: http://www.votoseguro.org/arquivos/Wseg2001.zip
[15]- Rezende, Pedro A. D. "Análise do relatório Unicamp"
http://www.cic.unb.br/docentes/pedro/trabs/relunicamp.htm

[16]- Forum do Voto-E: "Lei do voto virtual às cegas"
http://www.brunazo.eng.br/voto-e/textos/PLazeredo.htm

[17] - Brunazo F., A., "Lei do Voto Eletrônico" revista eletrônica
Consultor Jurídico, 17/12/2001. Acessado em
http://www.cic.unb.br/docentes/pedro/trabs/e-voto.htm.
O Dep. Moroni Torgan afirmou, em discurso do plenário da câmara, que o
voto impresso é perigoso porque permite ao eleitor vender seu voto de
posse do recibo do voto impresso.
(http://www.brunazo.eng.br/voto-e/arquivos/collares2.rm). A lei
10.408/02, que intruduziria o voto impresso sendo banido pelo PL em
votação, nada fala de recibo de voto.

[18] - Rezende, P. A. D., Brunazo F., A., e outros "Burla Eletrônica".
Livro Eletrônico sobre experiências fiscalizatórias com o sistema
eleitoral eletrônico brasileiro. Disponível em:
http://www.cic.unb.br/docentes/pedro/trabs/BurlaEletronica.pdf

[19] - Rezende, P. A. D. "A Lanterna de Diógenes". Artigo escrito para
um seminário técnico que teria ocorrido no Senado Federal, no esteio do
esândalo do painel, mas que nunca foi realizado.
http://www.cic.unb.br/docentes/pedro/trabs/paisagem.htm

[20] - Rezende, P. A. D. "Fiscalização e Garantias". Entrevista ao
jornalista Fabrício Azevedo, do Jornal da Comunicade de Brasília.
http://www.cic.unb.br/docentes/pedro/trabs/entrevistaJCBSB.htm
[21]- Teixeira, M. C. et alli. "Parecer sobre o Laudo Técnico da Perícia
das urnas Eletrônicas de Camaçari - 2000". Partido Popular Socialista,
Processo n.º 41/01 da 171ª Zona Eleitoral da Bahia. Disponível em:
http://www.votoseguro.org/textos/camacari2.htm
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