Olá Eduardo,
Respondo a questão sobre quem é o "pai da Urna-E" abaixo

Eduardo Souza Machado da Silva escreveu:
Olá Amilcar,
Onde eu conseguiria um documento que fale sobre o 'histórico da urna brasileira'. Isto é, que conte de maneira fidedigna quais os caminhos que ela seguiu para chegar onde está hoje? A fundação CERTI adora dizer que o projeto "é deles". Em Brusque (SC) também comenta-se que a Urna teria surgido por lá. Onde você considera a melhor fonte de informações históricas confiáveis?

Não existe um documento só que aborde de forma completa a questão de quem é o Pai da Urna-e.


O texto que mais se aproxima disso é o livro do do Secretário de Informática do TSE, de 1997:

O Voto Informatizado
de Paulo César Camarão
Editora das Artes, 1997

Neste livro são citadas as experiências do TSE:
- em 1985 - implantação do cadastro eleitoral informatizado
- em 1995 - desenvolvimento da urna eletrônica

Porém, nada é dito sobre as experiências anteriores e fora do TSE, como:

- em 1982 - o Caso Proconsult, Rio de Janeiro - experiência de automação da apuração
- 1989 - Juiz Carlos Prudêncio, em Brusque, SC - experiência de votação com micro-computadores


Outra questão é se entender o que significa o título "Pai da Urna-E".

Primeiro, na mente popular existe muita mistura entre o conceito de voto eletrônico e de urna eletrônica. Esta é apenas uma parte daquele. O Voto Eletrônico envolve desde o cadastro eleitoral, identificação do eleitor, a votação (só aqui atua a urna-e) até chegar a totalização dos votos. Mas de uma maneira geral todos estes processos são confundidos e se fala muito em urna eletrônica se referindo a todo o conjunto.

Segundo, o título "Pai da urna" deveria ir para quem primeiro pensou nela, ou para quem elaborou seu projeto inicial, ou, ainda, para quem elaborou o projeto final?

Existe gente que pode ser incluida em qualquer destes grupos e a qual deles chamaremos por pai da urna?

Imaginar se fazer votação com computadores é uma idéia meio óbvia a partir do momento em que o computador se tornou viável economicamente. Milhares devem ter sidos as pessoas que tiveram esta idéia de forma independente.

O mérito do Juiz Carlos Prudêncio, de Brusque, foi ter levado a idéia adiante, se aproveitando da posição que ocupava, e feito uma experiência-piloto de coleta de votos com computadores pessoais. Mas era sua proposta integralmente viável? O programa era transparente e confiável (a prova de fraudes)? E a expansão de dois pontos de votação para milhares, nos moldes propostos, era tecnicamente realizável?

Tenho uma coletânea de notícias da época, juntada pelo próprio Juiz Prudêncio, intitulada "Brusque - o berço do voto eletrônico".

É justo este título auto-atribuido?

A votação em computadores ficaria meio perdida no ar se não houvesse um cadastro informatizado, para lhe servir de base, e sem uma totalização informatizada, para lhe servir de destino.

Por isto, entendo que o voto eletrônico, como um todo, tem "muitos pais" parciais e a nenhum deles dever-se-ia atribuir a exclusividade do produto final.

Quanto a urna eletrônica em sí, em 1995, o TSE abriu uma consulta aos TREs e à universidades pedindo sugestões sobre uma "maquina coletora de votos".

Dentre as propostas apresentadas, uma se sobressaiu devido a simplicidade de construção, praticidade de uso, baixo custo, baixo consumo e segurança física e lógica. Foi a proposta do TRE-MG desenvolvida pelo Eng. Márcio Teixeira para a IBM. Pode-se chamar a este prótótipo do Márcio de "pré-concepção inicial".

A seguir o Eng. Carlos Rocha, também de Minas Gerais, acrescentou alguns detalhes a esta pré-concepção do Márcio, como uma tela de vídeo no lugar do display de cristal líquido que permitia apresentar a foto do candidato ao eleitor e um desenho industrial bastante ergonônico, criando o que se pode chamar de "concepção final" da atual urna-e. Infelizmente, algumas das concepções de segurança no software do Márcio, como a criptografia automática dos dados, não foram implementadas no projeto Rocha. Esta concepção final do Eng. Carlos Rocha foi a adotada pela Unisys no primeiro fornecimento de urnas-e em 1996.

Elaborada a concepção final, passou-se ao desenvolvimento tecnológico da proposta. Com a troca do visor de LCD para vídeo, o consumo de energia aumentou consideravelmente e o tamanho, custo e duração da bateria tornou-se um problema. Qualquer ecomomia no consumo de energia era desejável. É aqui que entra a Fundação Certi da UFSC. Ela foi contrata pela Unisys para estudar e melhorar o problema de consumo de energia pela impressora. Não sei de todos os detalhes da participação da CERTI, talvez ela tenha participado de mais alguma parte do projeto tecnológico, mas seria exagerado dar a ela o título de "pai da urna', não seria?

Depois de 1996, a concepção final do Eng. Carlos Rocha se manteve nos novos fornecimento de urnas-e ao TSE. Melhoria foram acrescidas como a volta do visor de cristal líquido (que havia na concepção inicial do Eng. Márcio Teixeira) e o uso de impressoras técnicas. Estas melhorias diminuiram bastante o consumo de energia e resultaram que a duração da bateria dobrou nos modelos novos.

Com tudo isto, a quem dar o título de Pai das urnas?

- ao Juiz Carlos Prudêncio, pela experiência piloto de coleta de votos em microcomputadores em 1989?
- ao Ministro Carlos Veloso, presidente do TSE em 1995 (e agora em 2005 de novo), por arranjar financiamento e peitar o desenvolvimento da "máquina coletora de votos"?
- ao PC. Camarão, Secretário de Informática do TSE, por ter convencido o presidente do TSE sobre a viabilidade do projeto e por te-lo coordenado desde o início?
- ao Eng. Márcio Teixeira, pela concepção inicial das urnas-e como um módulo compacto de mesa com visor, teclado, memória interna, impressora e bateria?
- ao Eng. Carlos Rocha, pela concepção final e desenho industrial adotado até hoje?
- à Fundação Certi por ter sido subcontratada para desenvolver testes?


Com todo o respeito que agora tenho pela CERTI, por ter sido a única entidade tecnológica a enfrentar com espírito acadêmico o meu desafio de se apresentar alternativas ao voto impresso conferido pelo eleitor, acho que fora a CERTI, todos os demais mereceriam o título de pai da urna-e.

Por afinidade, eu gostaria de dar este título ao Eng. Márcio Teixeira, mas meu voto é muito suspeito pois sou seu amigo e admirador pessoal.


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