Olá,

Repasso, para conhecimento dos membros do Forum do Voto Eletrônico e do Fórum do Voto Seguro, a mensagem que recebi do eng. Marcelo Guimarâes, da Fundação Certi, de Sta Catarina, onde ele apresenta mais esclarecimentos sobre a questão do "pai da urna".

Ele propõe que este pequeno debate sirva de base inicial para que se escreva um livro mais completo, sobre este assunto.

Alguém, talvez algum dos jornalistas destas listas, topam enfrentar a parada?

Amilcar
----------------------------------------

Marcelo Ferreira Guimarães escreveu:
Prezados amigos do Fórum do Voto Eletrônico,


Gostaria de contribuir com a discussão abaixo esclarecendo e corrigindo alguns fatos históricos da participação da Fundação CERTI no Desenvolvimento da Urna Eletrônica Brasileira.


Antes, gostaria de convidar os membros do Fórum a visitar a nossa página na web que descreve a história da Urna a partir do momento que o TSE decidiu implementar os editais internacionais para o fornecimento do Terminal da Urna. Favor visitar
o endereço http://www.certi.org.br/Images/Documentos/UE_2000.pdf.


Esse documento já se encontra disponível ao público desde 2001, e como pode ser verficado, a CERTI nunca se julgou e não se julga o inventor e/ou pai da Urna Eletrônica, pois entramos no processo somente na fase competitiva no desenvolvimento do produto com os editais.

Temos mérito sim de ter sido um importante parceiro da Procomp, empresa brasileira na época, a desenvolver um produto robusto, compacto e com grande autonomia de operação, que é hoje o terminal da Urna Brasileira. Tivemos atuação no desenvolvimento do Terminal nas áreas de engenharia de produto, mecânica, mecatrônica e parte de software, como também engenharia industrial e garantia da qualidade. A engenharia da Procomp teve méritos importantíssimos como a solução de Placa Mãe e de autonomia de energia, muito à frente de todos os concorrentes. Robustez, compaticidade e autonomia de energia foram o que consagrou os Terminais da Urna Eletrônica Brasileira produzidos pela Procomp, além da qualidade dos serviços associados.

Sempre destacamos o importante papel do TSE , CTA e INPE que desenvolveram o conceito básico de uma máquina específica de votação e promoveram as inovações jurídicas e de editais sofisticados e transparentes, necessários ao processo.

Alguns fatos históricos:

No primeiro edital somente 3 empresas partciparam apresentando seus protótipos, a IBM, com seu notebook de votação, a Unisys que apresentou o protótipo desenvolvido pelo Sr. Carlos Rocha e a Procomp, que desenvolveu um protótipo desenvolvido em parceria com a CERTI.

Neste ano de 1996, a Unisys venceu o edital e produziu 75 mil máquinas. Apesar dos altos índices de falha em campo, a CERTI sempre considerou um ato heróico o que a Unisys e a empresa do Carlos Rocha fizeram, pois viabilizaram a entrega de 75.000 Urnas em menos de 6 meses. A Procomp, única empresa brasileira na competição, ficou em segundo lugar e a IBM ficou em terceiro lugar.

Desde o edital de 1996, já se sabia do edital das Urnas de 1998, cujos requisitos seriam melhorados e novas funções implementadas. A Procomp, novamente solicitou a parceria da CERTI, e desta vez estávamos mais motivados a participar e vencer o edital.

Foi o que aconteceu em 1998, a Procomp venceu o edital concorrendo contra IBM, HP, Unisys e SID, fornecendo cerca de 90.000 urnas e fazendo o retrofitting das 75.000 urnas produzidas pela Unisys em 1996. Foram incorporadas novas funções como as fotos dos candidatos e maior autonomia de energia.

No ano de 2000, quando o Terminal da Urna chegou à sua maturidade em robustez e incorporando função como o áudio para deficientes visuais, a Procomp novamente foi a vencedorea produzindo quase 200 mil urnas para a primeira eleição no mundo 100% automatizada em um país, para Prefeitos e Vereadores.

Vale novamente destacar que a CERTI teve participação somente nas fases competitivas do processo de compra do TSE, ou seja, nas fases dos editais de desenvolvimentos dos produtos UE 96, UE 98 e UE 2000, das respectivas eleições de 1996, 1998 e 2000, período no qual o terminal foi amadurecido e 100% das sessões eleitorais atendidas com a Urna.

Em 2001, com o famoso escândalo do painel de votação do Senado, a Sociedade Brasileira se organizou com mais força para questionar também a segurança da Urna Brasileira, pois seu sucesso de aplicação já estava consolidado, porém a segurança em um sistema complexo como a Urna também se torna complexa e questionamentos sobre suas funções de segurança foram levantados.

Neste momento o Fórum do Voto Eletrônico assume um papel importante promovendo a discussão sobre a segurança da Urna e começa a defender o voto impresso.

Vários eventos foram promovidos e por pressão do Fórum, o TSE decide testar de forma piloto a impresão do voto para futuras recontagens de votos. Vale destacar que desde 1996, a Urna já tinha uma impressora para impressão dos boletins de Urna.

Um novo edital foi lançado para a compra de mais 50.000 Urnas ( cresimento do número de eleitores e reposições) e teste de aproximadanmente 20.000 impressoras. A Procomp, agora uma empresa americana comprada pela Diebold, concorreu com a Unisys, outra multinacional.

No ano de 2002, a Unisys ganhou este Edital e em 2004, mais 75.000 Urnas foram compradas e a Diebold-Procomp foi a fornecedora vencedora do último edital.

No ano de 2002 , CERTI não parciticipou da parceria com a Diebold- Procomp, apesar de ter sido convidada, pois era contra o uso de impressoras de voto no processo eleitoral, demonstrando coerência e firmeza nas suas posições.

Atendendo ao desafio do Fórum do Voto Eletrônico, através da solicitação do Amilcar Brunazo, desenvolvemos, em parceria com a UFSC, uma inovadora alternativa de Sistema Eletrônico de Auditoria da Urna Eletrônica Brasileira, nomeado de SELA, cuja patente foi requerida e já disponibilizada para o TSE sem custos, pois entendemos que a Urna precisa de um sistema de auditoria paralelo, simples, de baixo custo e que não traga novas fragilidades de segurança, como é o caso das impressoras.
Apresentamos um artigo sobre o SELA, que está no site e em anexo, em um evento sobre segurança em informática no ITA em 2002.


Defendemos naquela época e continuamos a defender hoje que a Urna Eletrônica Brasileira é um poderoso instrumento da Democracia, mas, como todos os produtos, deve estar continuamente em um processo de atualização tecnológica e melhoramentos. O sucesso da Urna exige uma preocupação constante com a sua segurança.

Desde 2002 não participamos mais do processo competitivo do Terminal da Urna Eletrônica Brasileira. O terminal está maduro e agora deve ser constantemente avaliado e melhorado.

Enfim, valorizamos a iniciativa de uma descrição fidedígna da história da Urna como também valorizamos a manutenção do Fórum do Voto Eletrônico como um importante instrumento na discussão do Futuro da Urna. A partir da demanda do Eduardo, quem sabe, podemos articular um trabalho profissional para registros históricos e produção de um livro que comporte as diferentes visões dos atores desta história: 3 Poderes, Sociedade, Empresas, Terceiro Setor e Eleitor???!!!

Nesta história certamente temos vários heróis que já foram mencionados pelo Amilcar, como também outros no TSE, CTA, INPE, Congresso Nacional, no Fórum do Voto Eletrônico, nas Universidades, nos Institutos de Tecnologias, nas Empresas, Governos, Imprensa, etc.

Certamente, teremos que ter novos heróis para manter o sistema atualizado e seguro.

Nunca dissemos que éramos pais da Urna, mas sempre dissemos que fomos um importante parceiro no seu desenvolvimento e co-criação. Temos orgulho disso!!!!

Quando a Urna estava desacreditada fomos uns dos poucos que sairam a público em sua defesa e propondo atualizações tecnológicas viáveis.

Como fomos um ator importante na história passada da Urna estaremnos sempre motivados para contribuir com o registro da sua história e para discutir e contribuir com o seu futuro.

Grande abraço a todos,



Marcelo Ferreira Guimarães
Fundação CERTI








Amilcar Brunazo Filho escreveu:

Olá Eduardo,
Respondo a questão sobre quem é o "pai da Urna-E" abaixo

Eduardo Souza Machado da Silva escreveu:

Olá Amilcar,
Onde eu conseguiria um documento que fale sobre o 'histórico da urna brasileira'. Isto é, que conte de maneira fidedigna quais os caminhos que ela seguiu para chegar onde está hoje? A fundação CERTI adora dizer que o projeto "é deles". Em Brusque (SC) também comenta-se que a Urna teria surgido por lá. Onde você considera a melhor fonte de informações históricas confiáveis?



Não existe um documento só que aborde de forma completa a questão de quem é o Pai da Urna-e.


O texto que mais se aproxima disso é o livro do do Secretário de Informática do TSE, de 1997:

O Voto Informatizado
de Paulo César Camarão
Editora das Artes, 1997

Neste livro são citadas as experiências do TSE:
- em 1985 - implantação do cadastro eleitoral informatizado
- em 1995 - desenvolvimento da urna eletrônica

Porém, nada é dito sobre as experiências anteriores e fora do TSE, como:

- em 1982 - o Caso Proconsult, Rio de Janeiro - experiência de automação da apuração
- 1989 - Juiz Carlos Prudêncio, em Brusque, SC - experiência de votação com micro-computadores


Outra questão é se entender o que significa o título "Pai da Urna-E".

Primeiro, na mente popular existe muita mistura entre o conceito de voto eletrônico e de urna eletrônica. Esta é apenas uma parte daquele. O Voto Eletrônico envolve desde o cadastro eleitoral, identificação do eleitor, a votação (só aqui atua a urna-e) até chegar a totalização dos votos. Mas de uma maneira geral todos estes processos são confundidos e se fala muito em urna eletrônica se referindo a todo o conjunto.

Segundo, o título "Pai da urna" deveria ir para quem primeiro pensou nela, ou para quem elaborou seu projeto inicial, ou, ainda, para quem elaborou o projeto final?

Existe gente que pode ser incluida em qualquer destes grupos e a qual deles chamaremos por pai da urna?

Imaginar se fazer votação com computadores é uma idéia meio óbvia a partir do momento em que o computador se tornou viável economicamente. Milhares devem ter sidos as pessoas que tiveram esta idéia de forma independente.

O mérito do Juiz Carlos Prudêncio, de Brusque, foi ter levado a idéia adiante, se aproveitando da posição que ocupava, e feito uma experiência-piloto de coleta de votos com computadores pessoais. Mas era sua proposta integralmente viável? O programa era transparente e confiável (a prova de fraudes)? E a expansão de dois pontos de votação para milhares, nos moldes propostos, era tecnicamente realizável?

Tenho uma coletânea de notícias da época, juntada pelo próprio Juiz Prudêncio, intitulada "Brusque - o berço do voto eletrônico".

É justo este título auto-atribuido?

A votação em computadores ficaria meio perdida no ar se não houvesse um cadastro informatizado, para lhe servir de base, e sem uma totalização informatizada, para lhe servir de destino.

Por isto, entendo que o voto eletrônico, como um todo, tem "muitos pais" parciais e a nenhum deles dever-se-ia atribuir a exclusividade do produto final.

Quanto a urna eletrônica em sí, em 1995, o TSE abriu uma consulta aos TREs e à universidades pedindo sugestões sobre uma "maquina coletora de votos".

Dentre as propostas apresentadas, uma se sobressaiu devido a simplicidade de construção, praticidade de uso, baixo custo, baixo consumo e segurança física e lógica. Foi a proposta do TRE-MG desenvolvida pelo Eng. Márcio Teixeira para a IBM. Pode-se chamar a este prótótipo do Márcio de "pré-concepção inicial".

A seguir o Eng. Carlos Rocha, também de Minas Gerais, acrescentou alguns detalhes a esta pré-concepção do Márcio, como uma tela de vídeo no lugar do display de cristal líquido que permitia apresentar a foto do candidato ao eleitor e um desenho industrial bastante ergonônico, criando o que se pode chamar de "concepção final" da atual urna-e. Infelizmente, algumas das concepções de segurança no software do Márcio, como a criptografia automática dos dados, não foram implementadas no projeto Rocha. Esta concepção final do Eng. Carlos Rocha foi a adotada pela Unisys no primeiro fornecimento de urnas-e em 1996.

Elaborada a concepção final, passou-se ao desenvolvimento tecnológico da proposta. Com a troca do visor de LCD para vídeo, o consumo de energia aumentou consideravelmente e o tamanho, custo e duração da bateria tornou-se um problema. Qualquer ecomomia no consumo de energia era desejável. É aqui que entra a Fundação Certi da UFSC. Ela foi contrata pela Unisys para estudar e melhorar o problema de consumo de energia pela impressora. Não sei de todos os detalhes da participação da CERTI, talvez ela tenha participado de mais alguma parte do projeto tecnológico, mas seria exagerado dar a ela o título de "pai da urna', não seria?

Depois de 1996, a concepção final do Eng. Carlos Rocha se manteve nos novos fornecimento de urnas-e ao TSE. Melhoria foram acrescidas como a volta do visor de cristal líquido (que havia na concepção inicial do Eng. Márcio Teixeira) e o uso de impressoras técnicas. Estas melhorias diminuiram bastante o consumo de energia e resultaram que a duração da bateria dobrou nos modelos novos.

Com tudo isto, a quem dar o título de Pai das urnas?

- ao Juiz Carlos Prudêncio, pela experiência piloto de coleta de votos em microcomputadores em 1989?
- ao Ministro Carlos Veloso, presidente do TSE em 1995 (e agora em 2005 de novo), por arranjar financiamento e peitar o desenvolvimento da "máquina coletora de votos"?
- ao PC. Camarão, Secretário de Informática do TSE, por ter convencido o presidente do TSE sobre a viabilidade do projeto e por te-lo coordenado desde o início?
- ao Eng. Márcio Teixeira, pela concepção inicial das urnas-e como um módulo compacto de mesa com visor, teclado, memória interna, impressora e bateria?
- ao Eng. Carlos Rocha, pela concepção final e desenho industrial adotado até hoje?
- à Fundação Certi por ter sido subcontratada para desenvolver testes?


Com todo o respeito que agora tenho pela CERTI, por ter sido a única entidade tecnológica a enfrentar com espírito acadêmico o meu desafio de se apresentar alternativas ao voto impresso conferido pelo eleitor, acho que fora a CERTI, todos os demais mereceriam o título de pai da urna-e.

Por afinidade, eu gostaria de dar este título ao Eng. Márcio Teixeira, mas meu voto é muito suspeito pois sou seu amigo e admirador pessoal.

______________________________________________________________
O texto acima e' de inteira e exclusiva responsabilidade de seu
autor, conforme identificado no campo "remetente", e nao
representa necessariamente o ponto de vista do Forum do Voto-E

O Forum do Voto-E visa debater a confibilidade dos sistemas
eleitorais informatizados, em especial o brasileiro, e dos
sistemas de assinatura digital e infraestrutura de chaves publicas.
__________________________________________________
Pagina, Jornal e Forum do Voto Eletronico
       http://www.votoseguro.org
__________________________________________________

Responder a