Carriles, de onde veio este texto????

On Tue, 23 Aug 2005 09:39:02 -0300, Alejandro Carriles wrote
> Viva a crise!
> 
> Acrise é boa. Nada melhor que uma crise para nos dar a sensação de 
> que a vida muda, que a história anda, que a barra pesa. A crise nos 
> tira o sono e nos faz alertas. A crise nos faz importantes pois, 
> subitamente, todos se preocupam conosco - nós, a opinião pública,
>  nós o "povo", nós, os babacas que todos preferiam na sombra, na 
> modorra e que, de repente, podem sair batendo panelas nas ruas. A 
> crise nos inclui na política. Aliás, crise no Brasil é quando a 
> política fica visível para a população.
> 
> A crise é boa porque acabaram as crises cegas, radiofônicas, anos 
> 50. Hoje as crises são "online", na internet, nos celulares, com 
> todas as sacanagens ao vivo, imediatas. A crise é uma aula, quase um 
> videogame. A crise é um "thriller" em nossas vidas.
> 
> A crise nos permite ver a verdade. Mas, como - se todos mentem o 
> tempo todo? A crise nos ensina a ver a verdade de cabeça para baixo. 
> Ensina que a verdade é o contrário de tudo que dizem os depoentes, 
> testemunhas e réus. A verdade é tudo que os políticos negam.
> 
> A crise é boa para conhecer tipos humanos. Temos de tudo - uma 
> galeria de personas, de máscaras, de bonecos de engonço, de 
> mamulengos, temos um "reality show" sobre o Brasil, temos o desfile 
> de caras, de bocas, de mãos trêmulas, de risos e choros 
> constrangidos, temos as vaidades na fogueira, os apelos à razão, 
> temos os clamores de honradez, os falsos testemunhos, os tratamentos 
> arcaicos, antigas gramáticas, temos as vossas excelências, as 
> senhorias, vemos os alicerces do país aparecendo, a lama debaixo das 
> dignidades, temos os intestinos, os pés de barro, os nós na tripa, 
> temos os apêndices supurados, temos os miasmas que nos envenenam 
> aparecendo sob a barra da saia de juízes e desembargadores, as 
> sujeiras escorrendo sob as frestas da lei. E tudo vai diplomando o 
> povo em ciência política. A crise é boa também para acabar com 
> alegorias proletárias, com a crença de que operário teria um saber 
> metafísico e santificado e mostra que para ser presidente tem sim 
> que estudar e ter competência.
> 
> A crise é também aula de teatro. A crise nos revelou a revolução 
> dramática de Roberto Jefferson. Trata-se de um "Gargantua", um ex-
> Pantagruel, um raro tipo rabelaisiano que se virou ao avesso e 
> transformou merda em ouro, mentira em verdade. Jeff é o anti-herói 
> heróico. Jeff conhece a boca do boi, a baba das coisas, a barra 
> pesada. A verdade de Jeff tem a legitimação do crime assumido. Jeff 
> suja a limpeza e não denuncia exceções, mas exibe a Regra. Crise 
> também é cultura. A crise é Brecht, Shakespeare, Nelson Rodrigues. A 
> crise tem até a casa da mãe Joana, Jeanne.
> 
> Jeff nos mostrou que o crime político não é um defeito; é uma 
> instituição. Jeff é a prova de tudo que Sérgio Buarque estudou. Se 
> Jeff não existisse, tudo estaria rolando no banho-maria do PT e do 
> Dirceu-2010. Ouso dizer: por vielas mal freqüentadas, Jeff fez um 
> grande bem ao Brasil.
> 
> Jeff faz dupla com Dirceu, seu alter ego, seu espelho. Não haveria 
> um sem o outro. Dirceu desprezou Jeff e este o destruiu.
> 
> A crise ensina que a salvação do país é destruir os esquemas que 
> Jeff denunciou e que a destruição do país seria seguir o que Dirceu 
> queria. A crise nos espanta: como um sujeito só como Dirceu consegue 
> acabar com 25 anos de um partido, com um Governo e consigo mesmo? A 
> crise nos ensina o horror do narcisismo totalitário.
> 
> A crise ensina que os velhos "revolucionários" têm um comportamento 
> parecido com os políticos oligárquicos. Ambos trabalham na sombra, 
> na dissimulação, no cabresto dos militantes.
> 
> A crise acaba com a mitificação do PT como o partido dos "puros". 
> Acaba essa bobagem alegórica e messiânica em que muito intelectual 
> acreditou. A crise humaniza os petistas, pois os há honestos,
>  românticos, corretos e os há também ladrões, medíocres, famintos e 
> boçais. A crise vai reformar a idéia de "esquerda" no país. Vai 
> criar uma esquerda mais verdadeira, mais útil, mais possível. A 
> crise acabará com os fins justificando os meios, a crise acaba com o 
> "futuro" e nos trará o doce, o essencial presente, a crise nos dá 
> uma porrada na cara para deixarmos de ser bestas.
> 
> A crise é boa porque acaba com as ilusões do povo. A crise é boa 
> para gerar crise nas pessoas, crise existencial.
> 
> A crise é boa porque desmoraliza a ópera bufa em que vivemos e traz 
> a verdade da tragédia real. A crise acaba com a esperança e estimula 
> a vigilância crítica.
> 
> A crise ensina que ninguém é "revolucionário" ou "herói" ou 
> "comandante supremo" ou "companheiro"; as pessoas são narcisistas, 
> compulsivas, agressivas, dependentes, invejosas, fracassadas, com 
> problemas sexuais. A crise ensina mais Freud do que Marx. A crise 
> mostra que a velha esquerda não tem programa; tem um sonho. Que vira 
> pesadelo.
> 
> A crise ensina que muito mais importante que estudar a miséria do 
> país é estudar a "riqueza" do país. A crise mostra que não adianta 
> mostrar os horrores da miséria e dos despossuídos. São conseqüências 
> da verdadeira miséria que nasce nos intestinos das classes altas. A 
> miséria é a riqueza, a miséria é a própria política. A crise ensina 
> que revolução no país tem de ser administrativa e não "de ruptura". 
> A crise ensina que nossa política é tão medíocre que nos últimos 
> meses bastou a economia; política não fez falta. A crise mostra que 
> o Brasil progride enquanto dorme.
> 
> A crise nos mostra que a corrupção é terrível não pelo roubo de 
> grana e de galinhas mortas. A corrupção é terrível porque impede a 
> governança. A crise é boa pra mostrar a urgência da reforma do 
> Judiciário; existe a Polícia Federal, o Ministério Público, mas tudo 
> cessa quando cai na Justiça, a cama de todos os vícios. A crise 
> mostra que o problema do país são os aparelhos do Estado que não 
> estão mais preparados para governar. E prova que o presidencialismo 
> de coalisão é impossível. A crise mostra que só uma forma de 
> Parlamentarismo pode resolver nosso inferno.
> 
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> O texto acima e' de inteira e exclusiva responsabilidade de seu
> autor, conforme identificado no campo "remetente", e nao
> representa necessariamente o ponto de vista do Forum do Voto-E
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> O Forum do Voto-E visa debater a confibilidade dos sistemas
> eleitorais informatizados, em especial o brasileiro, e dos
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