Marxismo e Terrorismo (*)

Após os ataques devastadores no World Trade Center e no Pentágono, os
políticos e a imprensa dos EUA se uniram para denunciar os responsáveis
como "terroristas malignos" sem consideração para com "a santidade da vida
humana".

No dia seguinte ao atentado a mídia afirmava que os ataques foram obra de
grupos com bases no Oriente Médio. Nós ainda não sabemos se isso é verdade.
Mas quem quer que seja o responsável, os socialistas têm uma atitude clara.
Odiamos a violência, e nos opomos a atos indiscriminados de violência
contra civis.

Políticos como o presidente George W Bush, John Howard e a maior parte da
mídia têm uma atitude bastante diferente. Na realidade estão todos bastante
felizes em apoiar e realizar bombardeios indiscriminados, ataques aéreos e
assassinatos de civis.

Assim na última década os EUA bombardearam hospitais, fábricas e escolas no
Iraque, Sérvia, Somália e em outros lugares, matando muitos, muitos
milhares de civis inocentes. Tony Blair também enviou aviões britânicos à
Sérvia e Kosovo, assassinando civis e refugiados.

A verdade é que para políticos como Bush e Blair um tipo de terrorismo - o
brutal terrorismo de Estado das maiores potências imperialistas, os EUA e a
Inglaterra - é justificado, mas o terrorismo das suas vítimas não é. Os
socialistas rejeitam esta hipocrisia e adotam uma abordagem completamente
diferente. Nossa posição está resumida nos escritos do revolucionário russo
Leon Trotsky sobre o terrorismo.

Embora tenham sido escritos há mais de 80 anos, os textos de Trotsky
permanecem uma referência inestimável. Em primeiro lugar, Trotsky tratou de
forma brilhante a hipocrisia dos governantes. Os socialistas, argumentou,
não têm "nada em comum com esses moralistas vendidos que, com respeito a
qualquer ato de terrorismo, fazem declarações solenes sobre o 'valor
absoluto' da vida humana".

"Essas são as mesmas pessoas que, em outras ocasiões, em nome de outro
valor absoluto - por exemplo, a honra da nação ou o prestígio do monarca -
estão prontos para empurrar milhões de pessoas para o inferno da guerra".
Trotsky também entendia que o terrorismo surgira por causa da tirania e
opressão das classes dominantes. "Nós entendemos muito claramente a
inevitabilidade de tais atos convulsivos de desespero e vingança",
escreveu.

Mas a "vingança individual não nos satisfaz", afirmou Trotsky. Além disso,
como estratégia política para transformações, os marxistas eram
"irreconciliavelmente contrários" ao terrorismo. Um terrorista toma como
alvo determinados ministros do governo ou os seus exércitos, forças de
segurança ou símbolos de poder.

Mas a exploração que os socialistas combatem não é o produto de um ministro
individual ou mesmo de determinados governos. A exploração, a opressão e as
injustiças da sociedade são produtos do sistema econômico mundial do
capitalismo, e não de indivíduos particulares, por mais brutais e odiosos
que sejam.

"A base do estado capitalista não são os ministros de governo e não pode
ser eliminado junto com eles. As classes às quais serve sempre encontrarão
novas pessoas", escreveu Trotsky.

Isso significa que atos de terrorismo têm conseqüências muito limitadas.
Trotsky colocou a questão da seguinte forma: "A fumaça da explosão
desaparece, o pânico desaparece, o sucessor do ministro assassinado faz a
sua aparição, a vida volta à velha rotina, a roda da exploração capitalista
gira como antes - só a repressão policial aumenta, mais selvagem e aberta".

Disso se segue que não se pode libertar o mundo da opressão e das
injustiças com o simples assassinato de determinados ministros ou a
explosão de determinados exércitos ou quaisquer outros alvos. É necessário
arrancar as raízes do próprio sistema capitalista. A única força capaz
disso é a força coletiva da classe trabalhadora.

Trotsky escreveu: "Uma greve, mesmo de dimensões modestas, tem
conseqüências sociais - o fortalecimento da auto-confiança dos
trabalhadores, o crescimento do sindicato e, não raro, até mesmo uma
melhoria nas técnicas de produção".

Os atos terroristas, pelo contrário, acontecem "por trás das massas".
Terroristas individuais ou grupos de terroristas não necessitam ter uma
massa de seguidores para colocar uma bomba, organizar um ataque ou
assassinar os dirigentes de um Estado.

Ao invés disso, atos de terrorismo representam uma tentativa desesperada de
uma minoria de substituir a ação de massas. Às vezes grupos terroristas
alcançam um nível significativo de apoio. Foi o caso, por exemplo, do IRA
no início dos anos 80 na campanha pelos presos que realizavam greve de fome
no bloco H. E é certo que grupos do Oriente Médio que organizaram ataques
nos EUA ou na Europa encontraram apoio entre os palestinos e no Oriente
Médio.

Esse apoio é fácil de entender. Os palestinos têm sido vítimas de contínuas
agressões assassinas desferidas por Israel com o apoio norte-americano.
Mesmo antes do mais recente ciclo de terror israelense - apoiado pelos
EUA - os palestinos haviam sofrido meio século de deportação forçada,
violência e assassinato nas mãos de Israel e dos EUA.

Não é de se admirar que, diante disso, algumas pessoas se sintam
desesperadas o bastante para utilizarem quaisquer métodos para lutar e
tentar golpear os seus opressores. Mas mesmo quando grupos armados ou
terroristas ganham apoio, a massa que os apóia é vista pelos grupos como um
simples pano de fundo para a luta real. Esta permanece sendo os atos de
terrorismo. E esses atos - o planejamento de um ataque, a aquisição de
armas e a instalação de bombas, por exemplo - só são realizados em segredo
por uma minúscula minoria.

Um assassinato ou um bombardeio cometido por terroristas também pode
introduzir uma profunda confusão entre os trabalhadores, particularmente
quando pessoas comuns são mortas ou prejudicadas. Isso pode criar uma
atmosfera favorável para a introdução de novas medidas de repressão
estatal. Além disso, o terrorismo individual, diz Trotsky, "deprecia o
papel das massas em sua própria consciência": "Se é suficiente armar-se com
uma pistola para alcançar a meta desejada, para que os esforços da luta de
classes? Se um punhado de pólvora e um pequeno pedaço de chumbo forem o
suficiente para atirar no pescoço do inimigo, que necessidade há para uma
organização de classe?"

Assim, o terrorismo não é apenas um método diferente de luta contra a
opressão, mas corre na contra-mão da luta pelo socialismo. Como afirmou
Trotsky: "Os revólveres de heróis individuais em vez dos porretes e
forcados do povo, bombas em vez de barricadas - essa é a real fórmula do
terrorismo".

A sociedade pela qual os socialistas lutam é uma na qual os próprios
trabalhadores assumem o controle e dirigem a sociedade nos seus próprios
interesses. Tal sociedade não pode ser alcançada pelas ações de uma
minúscula minoria, mas só pode ser forjada pela atividade de massa dos
trabalhadores.

Além disso, é pelo processo de luta revolucionária que os trabalhadores
começam a se livrar de toda a ideologia reacionária do sistema capitalista
e se tornar, como Karl Marx afirmou, "capaz de fundar a sociedade
novamente". Logo, a própria revolução é uma parte crucial do preparo dos
trabalhadores, para adquirirem a confiança na sua capacidade para dirigir
a sociedade e as suas vidas.

Os socialistas não negam aos trabalhadores e oprimidos o direito de usar a
violência contra os seus opressores. Nós sabemos que a classe dirigente não
entregará o seu poder, suas riquezas e privilégios sem luta. Para os
socialistas essa luta não pode ser realizada por indivíduos ou grupos de
elite, mas somente pela luta coletiva da massa dos explorados e oprimidos.

(*) Publicado no jornal Socialist Worker n. 1766, órgão do Socialist
Workers Party da Grã-Bretanha.

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