Caríssimo Carlos Santos,

obrigado pelo "você está certo". Sei que você vai entender o que quero
dizer, mas não estou certo. : ) Seguindo o raciocínio de Popper, minha
proposição é apenas uma hipótese.

Hipóteses que levantei na comunicação anterior:
1. "No mundo da matemática, a Matemática é verdade, é uma tautologia, por
não poder ser falseada."
2. "No mundo real, a Matemática é Ciência, não é verdade, não é tautologia,
é um modelo da realidade que pode ser falseado."


Concordo com você que a utilidade da Matemática é obvia. Entretanto,
expandir o horizonte dos alunos com essas hipóteses acima, se não forem
falsas, pode ser muito bom para os mesmos. Esses futuros colegas
cientistas se perguntarão desde cedo:

"As coisas são como são por que assim devem ser... ou são como são por nós
acreditarmos que assim devem ser?" [3]


Vejo como um grande problema que muitos alunos geniais tem suas atitudes
castradas pela verdade já imposta. Não percebem onde é que a Matemática ou a
Física, por exemplo, deixam de ser verdadeiras.

"No Ocidente, geração após geração aprendeu que as leis newtonianas eram um
fato definitivo e não passível de correções. Sem embargo, no início do
século XX, Einstein apresentou uma teoria diferente da newtoniana. As
opiniões acerca da verdade das ideias de Einstein variaram amplamente, mas
não se negou que ela merecia atenção, nem se negou que seu alcance era maior
do que o da teoria de Newton, no que dizia respeito às aplicações. E aqui
está o ponto importante. Toda a evidência observacional que se mostrava
concorde com a teoria de Newton mostrava-se igualmente concorde com a de
Einstein, abrangendo esta alguns aspectos a que a teoria de Newton não fazia
alusão. A comunidade científica simplismente errara ao acreditar que toda
evidência não mencionada demonstrava a teoria de Newton. Não obstante, toda
uma época da história se havia baseado nessa teoria, obtendo êxitos
materiais sem precedentes. Se essa quantidade de verificações e o apoio
indutivo não demonstravam a verdade da teoria, que fatores poderiam
demonstrá-las? E Popper compreendeu que não havia como demonstrá-la.
Percebeu que nenhuma teoria poderia ser encarada como verdade final. O
máximo que se pode asseverar é que a teoria encontra apoio em cada
observação feita até o momento e que fornece previsões mais precisas do que
qualquer outra teoria alternativa conhecida. Ainda assim, pode ser
substituída por uma teoria melhor." [1] *p. 31*

Veja só, diariamente, temos contato com três paradigmas:

1. Religiões e suas explicações sobre o mundo;
2. Paradigma Cartesiano, Física de Newton;
3. Ciência Novo-Paradigmática, Física Quântica, Neurociência, Einsiein,
Popper, Edgar Morin;


Dessa forma, se a verdade atual de cada paradigma não for bem especificada
para os alunos, se for mostrado para ele que cada um desses paradigmas é
verdade, é provavel que essa profunda confusão (acredito que quase todos já
passaram por isso) faça o aluno desistir e pensar:

"Nenhum grupo se entende. Nenhum quer se dizer e se mostrar imperfeito. Ahh
rapaz, quer saber. Não vou complicar. Não vou mais pensar sobre isso. Vou
viver minha vida. Filosofia leva a nada. 'As coisas são como são, porque
assim devem ser'".


A maioria desiste. O genio morreu. Virou uma máquina. Na vida dele, tudo
agora é regido por dogmas cheios de verdades absolutas. A Ciência tornou-se
dogmática. Nunca respondeu se é ela quem explica as coisas do mundo, ou se é
o mundo que deve explicar as coisas da Ciência. A Ciência virou uma Lei.

Quem não aceitou desistir e ser apenas mais um, foi Einstein, o precursor do
3º paradigma, o mais atual. Ele viveu num clima tenso entre Ciência e
Religião. Teve que especificar bem as verdades de cada um desses dois
paradigmas em que conviveu.

"Ciência e religião não se encontram, porque operam em dimensões diferentes:
a ciência trata apenas dos fatos (*das was it*), a religião trata dos
valores (*das was sein sole*)" [2, *p. 47].*


Quando entendeu isso, se livrou dos limites. Pagou o preço, sendo
um solitário, em um mundo de pessoas que só trabalhavam com verdades.
Especificar isso foi necessário para que ele fizesse o impossível, revisar
noções da Física Clássica, percebidas como verdade até então.* *Conheceu a
linha limite de cada paradigma, então os expandiu em algo totalmente novo.

**


Finalmente, parece que fazer com que nossos alunos continuem a ser gênios "é
um fato psicológico, não lógico" [1].

"Uma pesquisa interessante foi apresentada no livro “Ponto de Ruptura e
Transformação”, de George Land & Beth Jarman (Cultrix), e indica uma
realidade impressionante. Oito testes de pensamento criativo divergente
aplicados durante o programa Headstart, num universo de aproximadamente mil
e seiscentas crianças, evidenciaram o seguinte: 98% delas, cuja idade
se situava entre três e cinco anos, apresentaram desempenho de criatividade
correspondente à genialidade; cinco anos depois, somente 32% dessas crianças
possuíam grau de gênio; numa terceira aplicação, após mais cinco anos,
apenas 10% ainda permaneciam “gênios”. Finalmente, “...numa amostra
aleatória de adultos com mais de vinte e cinco anos de idade, os
testes revelaram apenas 2% de ‘gênios’”." [3]


REFERÊNCIAS:
[1] Magee, Bryan. As ideias de Popper.
[2] Rohden, Huberto. Einstein, O Enigma do Universo
[3] Hermann, Walter. Domesticando o Dragão.

Obrigado pelo elegantismo de seus comentários,

Afetuoso abraço,

-- 
Álisson Gomes Linhares
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