> Quanto ao estatuto epistemológico da psicanálise acho que não há
> qualquer dúvida de ela ser um caso típico de pseudociência.
> Quando Popper afirmava que a teoria de Freud explica tudo, ou seja,
> era a tal ponto flexível que não podia ser contraditada, ele
> não estava errado. Quando apontaram os casos de "neurose de
> guerra" como uma refutação do complexo de Édipo, Freud
> explicou, por meio de emendas na sua teoria original, que os
> soldados com neurose de guerra eram narcisistas. Concordando
> com Popper, Horgan afirma: "Freud tinha uma habilidade assombrosa
> para elaborar teorias que não podem ser confirmadas nem
> refutadas decisivamente por meio empíricos."

É preciso claramente haver um limite para as emendas ad hoc que se
propõe adicionar a uma teoria de modo a salvá-la do falseamento...

Por outro lado, não é mais científica uma teoria que é tão falseável
que já foi de fato falseada, nem é menos científica uma teoria que
funciona tão bem que ainda ninguém conseguiu falsear.  É preciso ter
cuidado com a interpretação do critério popperiano, goste você dele ou
não.

> Essa crítica é importante, porém, muitas outras foram propostas contra a 
> psicanálise.
> Vejam as críticas de Frederick Crews.

Aqui um parágrafo curioso de uma entrevista do Crews, apóstata da
doutrina freudiana:

"The reason I went over not to being a Freud basher but to being a
complete Freud skeptic is that I read critiques of the logic of
psychoanalysis, both the logic of its discovery of concepts, and much
more importantly, the logic by which the concepts are defended. And I
found that I reluctantly had to agree with the critiques instead of
with my own former views."

Divertida, aliás, a entrevista inteira:
http://www.pbs.org/newshour/bb/health/jan-june99/freud_crews.html

> Olhem o que Francis Crick escreveu sobre Freud: "Pelos padrões modernos,
> Freud não pode ser considerado um cientista, e sim um médico que teve muitas
> ideias inusitadas e que escreveu com rara habilidade e poder de persuasão."

É quando muito uma questão de foro pessoal a decisão de aderir ao
movimento psicanalítico, ou, digamos, à maçonaria.

E certamente qualquer pessoa tem o direito, a despeito de todas as
evidências que apontam para o caráter pseudo-científico destas
correntes de pensamento, de escolher ser freudiano, ou astrólogo.  O
problema mesmo é se esta pessoa quiser pleitear financiamento
científico público para a empreitada.

JM

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