Oi Josué,

tá, obrigado pela sua resposta - realmente eu não esperava algo tão
detalhado, esperava algo de 5 ou 10 linhas, em outra direção
totalmente diferente. Deixa eu ver se eu entendi direito - a partir
das entrelinhas da sua mensagem - as coisas que eu queria saber.

  1) Pra você "homeopatia não pode funcionar" quer dizer "homeopatia
     não funciona",

  2) você não tem o menor interesse em aprender a se curar (deixa eu
     reduzir o escopo: "de doenças leves") usando placebos,

  3) você confia bastante em - desculpe o termo super improvisado,
     acho eu não tenha nem competência pra encontrar um melhor -
     "métodos bioquímicos e estatísticos",

Ao invés de eu tentar explicar o 3 eu mesmo vou pôr uma citação:

  PINKER: I suspect not. In fact, the reason I'm not a
  neurobiologist but a cognitive psychologist is that I think looking
  at brain tissue is often the wrong level of analysis. You have to
  look at a higher level of organization. For the same reason that a
  movie critic doesn't focus a magnifying glass on the little
  microscopic pits in a DVD, even though a movie is nothing but a
  pattern of pits in a DVD. I think there's a lot of insight that
  you'll gain about the human mind by looking at the whole human
  behaving, thinking and reporting on his own consciousness. And that
  might be true of creativity as well. It may be that the historian,
  the cognitive psychologist and the biographer working together will
  give us more insight than someone looking at neurons and brain
  chemistry.

Ah, e como você talvez ache que vai dar pra convencer as pessoas
pró-homeopatia da lista, lá vai a minha posição...

  http://www.dimap.ufrn.br/pipermail/logica-l/2012-April/007575.html
  http://www.dimap.ufrn.br/pipermail/logica-l/2012-April/007585.html

[[]],
  Eduardo


On Tue, Apr 10, 2012 at 7:05 PM, Josué Souza Tourinho Junior
<josue.touri...@gmail.com> wrote:
> Bom eu disse que seria a minha última resposta, mas como me fizeram
> perguntas, estou aqui para respondê-las. É claro que a gente não pode
> confundir "melancolia profunda" com "melancia na bunda". O caso da
> Talidomida foi muito triste e é um dos piores da história da humanidade, mas
> foi por causa dele, que hoje se tem uma área chamada "farmacovigilância",
> que a indústria morre de medo, que tem em suas atribuições investigar
> efeitos adversos relacionados a medicamentos e propor a retirada do mercado
> deles, quando for o caso. Sim, por causa do trabalho do médico Lenz,
> conseguiu-se pela primeira vez relacionar o uso do medicamento com o dano,
> no caso da talidomida, a focomelia. A talidomida hoje está banida do
> mercado. Talidomida não é placebo, tudo bem? Mas seus efeitos adversos foram
> tão graves, numa época que não se investigava com profundidade Reações
> Adversas a Medicamentos, que desde aquele tempo foi retirada, pois não
> justiifcava o usos (as malformações congênitas forram severas). Mas, eu
> poderia citar casos mais recentes: Vioxx (processos milionários nos EUA) e
> alguns outros coxibes; Arcoxia foi restrita; Prexige retirado; Lipobay (a
> Bayer chora até hoje suas perdas). Mas isso não significa que estatinas e
> outros coxibes não tenham efeito anticolesterolêmico e anti-inflamatório,
> respectivamente, ou que causam os mesmos problemas do Lipobay ou do Vioxx,
> OK?
>
> No caso dos coxibes que ainda estão no mercado, a indicação é somente para
> pacientes sem propensão a problemas renais ou cardiovasculares, ou que
> apresenta graves lesões gástricas não podendo usar AINES. Cada molécula tem
> a sua indicação terapêutica e seus efeitos adversos. Molécula parecida não é
> igual, tudo bem? As ações podem ser bem diferentes, e com menos ou mais
> efeitos adversos, por isso, é estudado os efeitos e se investiga o mecanismo
> de ação. A segurança delas pode ser medida por uma coisa chamada Índice
> Terapêutico - um dos parâmetros para segurança do medicamento. E o baixo
> índice terapêutico de um fármaco não é sinônimo de retirada, pois a molécula
> pode ter uso comprovado e indicado (ROACUTAN é usado para tratamento de
> acne-céstico grave, porém é hepatotóxico e teratogênico - não pode ser
> indicado para qualquer pessoa, grávida por exemplo não pode usar. E as
> pessoas que usam ROACUTAN precisam ser acompanhadas (problemas hepáticos),
> por isso, ROACUTAN não é para ser usado de qualquer jeito, a qualquer
> momento, e para outras coisas... pode dar sérios problemas... Contudo, a
> experiência clínica mostra, que quando o uso do medicamento é feito
> corretamente, ele pode ser indicado, pois é eficaz contra a progressão da
> acne, no caso do ROACUTAN. Não é placebo, tudo bem?
>
> Bem como, o alto IT de um fármaco não diz que ele não tem efeitos adversos e
> que não se precisa acompanhar o uso do fármaco no paciente ou relatar os
> seus efeitos adversos, caso ocorram, e como já foram descritos; mesmo com
> indicações de uso, mecanismos e propostas terapêuticas exaustivamente
> favoráveis. Metformina é a primeira escolha para tratamento de Diabete
> Mellitus 2, porém causa diarreia, e há pacientes que não respondem ou deixam
> de responder ao tratamento com Metformina, precisando-se ajustar a dose,
> rever o tratamento, ou trocar a classe terapêutica do fármaco, ou associar
> outro antidiabético, por exemplos sufonilureias, ou mesmo insulina. Insulina
> é produzida pelo nosso corpo, e liberada mediante aumento de glicose
> circulante. Embora o nosso copo controle a liberação, insulina pode causar
> problemas (hipoglicemia também é ruim para o organismo). Por isso, os
> análogos de insulina causam efeitos adversos: lipogênese ou hipoglicemia
> (baixa concentração de glicose plasmática). Metformina, voltando a falar
> dela, além de melhorar a ação da insulina, promove saciedade, então, o
> paciente pode ter um ganho: como perda de massa corporal, diminuindo os
> efeitos de uma obsesidade, por exemplo, fator de risco para diabetes tipo
> II. Não é trocar o tratamento por cápsula de açúcar, que deve provocar
> hiperglicemia (acho difícil, porque é superdiluída), e assim tratar a
> hiperglicemia. Não é a troca por homeopatia, tudo bem?
>
> Além do mais, todo medicamento (de verdade) tem a sua posologia e a sua
> indicação; o uso para outro problema se não for suportado por evidências e
> por exames clínicos, não somente relatos, além da experiência do médico, não
> pode ser usado para o que se deseja (pelo menos não deve). É o caso das
> anfetaminas. E já houve congresso, médicos e a própria indústria rebatendo
> os argumentos de retirada, para continuar a venda delas, pelo menos para os
> pacientes que já tratavam de obesidade com as anfetaminas.
>
> A Anvisa foi enfática e pelos estudos farmacoepidemiológicos, em cima da
> farmacovigilância, retirou femproporex, anfepramona e mazindol do mercado,
> porque agravava doenças cardiovasculares, provocava dor de cabeça etc. Só
> que no caso das anfetaminas, a indústria não é de toda culpada; o uso e a
> prescrição estavam incorretos em muitos casos dos casos. Não era para a
> pessoa que queria emagrecer 4 quilos para entrar no vestido antes do
> casamento (essa pessoa poderia usar homeopatia e mudar seus hábitos de vida,
> o mais importante, neste caso). Porém, o agravo de problemas
> cardiovasculares em pessoas que apresentavam pré-disposição genética, não
> justificava mais o seu uso. (Embora não seja anfetamina, o mesmo está
> ocorrendo com a Liraglutida e eu prevejo que em breve ela vai ser pelo menos
> dispensada mediante receita. Pois é outro antidiabético no mercado, com
> outro efeito: aumenta a saciedade, com isso, diminui a fome; pessoas estão
> usando Liraglutida para emagrecer - isso vai dar problema).
>
> As anfetaminas não são placebos, OK? Liraglutida não é anfetamina, só para
> registrar mais uma vez. As anfetaminas têm indicação relatada e a retirada
> delas, as citadas, foi pelos seus efeitos adversos. A indicação era (se
> tornou) para tratamento de obesidade mórbida, pois apresentou essa eficácia
> clínica. Obesidade é uma doença complexa, multifatorial, que envolve toda
> integração de todo metabolismo. A Sibutramina se mostrou eficiente como
> auxiliar ao tratamento de obesidade mórbida. Aliás, alguns pacientes obsesos
> mórbidos só responderam ao tratamento de sua obesidade com anfetamina (não é
> psicológico nem por causa de energia vital orgânica no corpo). A Sibutramina
> quando foi aprovada nunca escondeu de ninguém seus efietos adversos:
> problemas cardiovasculares, por exemplo. E ainda está no mercado (com
> restrições), porque há pacientes que só respondem com uso de anfetamina, já
> está evidenciado. Por isso, se investe em pesquisa de novas moléculas,
> porque o tratamento desses pacientes, particularmente, ficou bem mais
> restrito.
>
> Ufa poderia citar ene exemplos. Bom, respondendo a pergunta sobre o médico,
> por que ele aumentou a dosagem de um fármaco aprovado pela Anvisa? Primeiro
> porque deve existir versões de maiores concentrações. Metformina de 500 mg
> pode ser substituída por 850 mg, quando for o caso, por exemplo, paciente
> que não responde mais ao tratamento com 500 mg. Mais do que aumentar, o
> paciente pode ter seu tratamento alterado com o uso de outros antidiabéticos
> ou de insulina. Porque o paciente é alcoolista crônico e é necessário fazer
> ajuste de dose, porque álcool em uso crônico é indutor enzimático (leia o
> livro texto de Farmacologia de GOODMAN e GILMAN e o que se fala sobre
> farmacocinética, praticamente um capítulo inteiro sobre o assunto, com
> indução enzimática e inibição enzimática para medicamentos, em frações do
> Citrocomo-P450). "Dar mais efeitos adversos" (?), você precisa explicar
> melhor. Você quer dizer que um medicamento em concentração maior causa mais
> efeitos adversos? Em que situação? De onde saiu essa relação? Do jeito que
> você coloca não dá para saber exatamente o que você quer que eu responda.
>
> Além do mais assim como uma dosagem pode ser aumentada, ela pode ser
> diminuída (para idosos, crianças, gestantes), ou para tratamento de
> esquizofrenia, por exemplo, que depois de controlada, o médico pode
> trabalhar com menos comprimidos, ou retirar alguns fármacos (por exemplo,
> Haloperidol, geralmente não é usado para portador de esquizofrenia que tem
> sua doença controlada). Mas não é diminuído a níveis homeopáticos, porque
> além de não causar efeitos adversos, pode não ter efeito terapêutico.
> Esquizofrenia não é doença que se melhora com placebo.
>
> Bom, quanto ao uso do termo doença grave, não é pela analogia que você fez a
> pergunta (aliás pode ser falsa essa analogia). Devemos dizer doença grave ou
> forma grave de uma determinada doença para descrever a maior intensidade de
> um sintoma; temos, entre outros, os adjetivos intenso, persistente,
> acentuado. Ex.: dor intensa, tosse persistente, cifose acentuada, etc.
>
> Eu não sei, mas eu posso estar errado (eu espero). Mas no fundo eu acho que
> estão tentando me dizer assim: "você diz que alopatia funciona, mas está
> cheia de efeitos adversos, e também causou morte, logo, por que eu devo
> usá-la em vez de homeopatia?" Simples, porque diferente da homeopatia a
> indicação clínica está registrada, diferente da homeopatia, assim como
> efeitos adversos. O fato de alguns mecanismos não terem sido totalmente
> elucidados em alguns fármacos, não desfaz o fato de que funcionou contra uma
> doença; não significa que o mecanismo desses fármacos não serão elucidados
> no futuro (lembra da Penicilina G do Fleming? Lembra do teste duplo cego?).
> A homeopatia infelizmente não tem nada de seus tratamentos críveis e
> comprovados como melhor alternativa para doenças. Médico fanático? Parece
> até religião!
>
> É mais sério ainda (espero estar errado): "Se a alopatia não funciona para a
> doença, logo a homeopatia funciona". Não, está errado! Se a alopatia não
> funcionar clinicamente para alguma doença, você ainda precisa provar que a
> homeopatia funciona para tratar a mesma doença (coisa que eu acho que você
> não conseguiu ainda). Quem sabe no futuro, né? Sem tantas diluições, com
> biodisponibilidade, e com uso do princípio ativo. Alopatia sai do mercado,
> homeopatia não!
>
> O médico alopata deve ser processado? Sim, se foi comprovada negligênica,
> imperícia, uso indevido, tratamento sem embasamento na literatura,
> assumnindo o risco (probabilidade) maior de prejudicar o paciente. Mas no
> Brasil eu acho difícil, é muito mais difícil provar erro médico, ou
> negligência. Na Austrália o médico seria preso! Aqui, pode ser que alguém
> diga: "e quem falou que homeopatia funcionava para sua doença? Descrito
> aonde?".
>
> Envio um artigo anexado de farmacovigilância e farmacoepidemiologia de
> campo.
>
> --
>
> "Há muito tempo que decidi não seguir os passos de ninguém. Se eu perder ou
> ganhar, pelo menos foi do meu jeito". Viste também:
> http://keepoutbox.blogspot.com
_______________________________________________
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