Como disse o próprio Cantor, "Je le vois, mas je ne le crois pas". 




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Décio Krause
Departamento de Filosofia
Universidade Federal de Santa Catarina
88040-900 Florianópolis - SC - Brasil
http://www.cfh.ufsc.br/~dkrause
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Em 10/11/2012, às 02:57, Manuel Doria <manueldo...@gmail.com> escreveu:

> Outra famosa é a "refutação" de Cantor em O Jardim das Aflições:
> 
> Só para dar um exemplo: O célebre Georg Cantor acreditou poder refutar o 5º 
> princípio de Euclides ( de que o todo é maior que a parte ) pelo argumento de 
> que o conjunto dos números pares, embora sendo parte do conjunto dos números 
> inteiros, pode ser posto em correspondência biunívoca com ele, de modo que os 
> dois con- juntos teriam o mesmo número de elementos e, assim, a parte seria 
> igual ao todo: 1, 2, 3, 4..... n 2, 4, 6, 8..... 2n = n Com esta 
> demonstração, Cantor e seus epígonos acreditavam estar derrubando, junto com 
> um princípio da geometria antiga, também uma crença estabelecida do senso 
> comum e um dos pilares da lógica clássica, descortinando assim os horizontes 
> de uma nova era do pensamento humano. Esse raciocínio baseia-se na suposição 
> de que tanto o conjunto dos números inteiros como o dos pares são conjuntos 
> infinitos atuais, e ele pode portanto ser re- jeitado por quem acredite, com 
> Aristóteles, que o infinito quantitativo é só potencial, nunca atual. Mas, 
> mesmo aceitando-se o pressuposto dos infinitos atuais, a demons- tração de 
> Cantor é apenas um jogo de palavras, e bem pouco engenhoso no fundo. Em 
> primeiro lugar, é verdade que, se representarmos os números inteiros cada um 
> por um signo ( ou cifra ), teremos aí um conjunto ( infinito ) de signos ou 
> cifras; e se,nesse conjunto, quisermos destacar por signos ou cifras 
> especiais os números que representem pares, então teremos um “segundo” 
> conjunto que será parte do primeiro; e, sendo ambos infinitos, os dois 
> conjuntos terão o mesmo número de ele- mentos, confirmando o argumento de 
> Cantor. Mas isso é confundir os números com seus meros signos, fazendo 
> injustificada abstração das propriedades matemáticas que definem e 
> diferenciam os números entre si e, portanto, abolindo implicitamente também a 
> distinção mesma entre pares e ímpares, na qual se baseia o pretenso ar- 
> gumento. “4” é um signo, “2” é um signo, mas não é o signo “4” que é o dobro 
> de 2, e sim a quantidade 4, seja ela representada por esse signo ou por 
> quatro bolinhas. O conjunto dos números inteiros pode conter mais signos 
> numéricos do que o con- junto dos números pares— já que abrange os signos de 
> pares e os de ímpares—, mas não uma maior quantidade de unidades do que a 
> contida na série dos pares. A tese de Cantor escorrega para fora dessa 
> obviedade mediante o expediente de jogar com um duplo sentido da palavra 
> “número”, ora usando-a para designar uma quantidade definida com propriedades 
> determinadas ( entre as quais a de ocupar um certo lugar na série dos números 
> e a de poder ser par ou ímpar ), ora para designar o mero signo de número, ou 
> seja, a cifra. A série dos números pares só é composta de pares porque é 
> contada de dois em dois, isto é, saltando-se uma unidade entre cada dois 
> números; se não fosse con- tada assim, os números não seriam pares. De nada 
> adianta aqui recorrer ao subter- fúgio de que Cantor se refere ao mero 
> “conjunto” e não à “série ordenada”; pois o conjunto dos números pares não 
> seria de pares se seus elementos não pudessem ser ordenados de dois em dois 
> numa série ascendente ininterrupta que progride pelo acréscimo de 2, nunca de 
> 1; e nenhum número poderia ser considerado par se pudesse livremente trocar 
> de lugar com qualquer outro na série dos inteiros. “Pari- dade” e “lugar na 
> série” são conceitos inseparáveis: se n é par, é porque tanto n+1 como n-1 
> são ímpares. Nesse sentido, é unicamente a soma implícita das unidades não 
> mencionadas que faz com que a série de pares seja de pares. Portanto— e eis 
> aqui a falácia de Cantor—, não há aqui duas séries de números, mas uma única, 
> contada de duas maneiras: a série dos números pares não é realmente parte da 
> série dos números inteiros, mas é a própria série dos números inteiros, 
> contada ou nomeada de uma determinada maneira. A noção de “conjunto” é que, 
> desta- cada abusivamente da noção de “série”, produz todo esse 
> samba-do-alemão-doido, dando a aparência de que os números pares podem 
> constituir um “conjunto” inde- pendentemente do lugar de cada um na série, 
> quando o fato é que, abstraída a posi- ção na série, não há mais paridade ou 
> imparidade nenhuma. Se a série dos números inteiros pode ser representada por 
> dois conjuntos de signos, um só de pares, outro de pares mais ímpares, isto 
> não significa que se trata de duas séries realmente distin- tas. A confusão 
> que existe aí é entre “elemento” e “unidade”. Um conjunto dex uni-dades 
> contém certamente o mesmo número de “elementos” que um conjunto dex pares, 
> mas não o mesmo número de unidades. O que Cantor faz é, no fundo, 
> substancializar ou mesmo hipostasiar a noção de “par” ou “paridade”, supondo 
> que um número qualquer possa ser par “em si”, inde- pendentemente de seu 
> lugar na série e de sua relação com todos os demais números (inclusive, é 
> claro, com sua própria metade), e que os pares possam ser contados como 
> coisas e não como meras posições intercaladas na série dos números inteiros. 
> No seu “argumento”, não se trata de uma verdadeira distinção entre todo e 
> par- te, mas sim de uma comparação meramente verbal entre um todo e o mesmo 
> todo, diversamente denominado. Não se tratando de um verdadeiro todo e de uma 
> verda- deira parte, não se pode falar então de uma igualdade de elementos 
> entre todo e parte, nem, portanto, de uma refutação do 5º princípio de 
> Euclides. Cantor erra o alvo por muitos metros. 
> 
> 2012/11/10 Manuel Doria <manueldo...@gmail.com>
>> Ele também já alegou que o Tractatus foi copiosamente plagiado de obras 
>> anteriores de Frege e que esta obra trouxe um "dano incalculável" à 
>> "inteligência mundial".
>> 
>> 
>> 2012/11/9 Décio Krause <deciokra...@gmail.com>
>>> Impressionante. Sabem se ele também falou da mecânica quântica ou dos 
>>> teoremas de Gödel?(deve ter falado, pois ele parece que fala de qualquer 
>>> coisa).
>>> D
>>> 
>>> 
>>> 
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>>> Décio Krause
>>> Departamento de Filosofia
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>>> Em 09/11/2012, às 17:01, Francisco Antonio Doria <famado...@gmail.com> 
>>> escreveu:
>>> 
>>> > http://www.youtube.com/watch?v=WIdxj37Msro&feature=share
>>> >
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>>> > fad
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