Só para constar, Professor Décio Krause é um importante pesquisador
brasileiro, com contribuições relevantes, tanto de sua autoria única como
em coautoria com o Professor Newton da Costa, apenas para citar o seu
parceiro mais conhecido. Como exemplo do tipo de preocupações que seu
trabalho investiga, um livro seu de grande interesse filosófico foi feito
com o meu amigo que há anos não vejo, Stephen French, e que trata dos
fundamentos metafísicos da física quântica:
Identity in Physics: A Historical, Philosophical, and Formal Analysis

Em 27 de janeiro de 2013 09:16, Décio Krause <deciokra...@gmail.com>escreveu:

> Caros
> Lembrem que podemos desenvolver ZF sem usar a palavra "conjunto", como um
> teoria formal. Na verdade, os "conjuntos" não estão lá, nós é que os
> colocamos depois...
>
> Alguém aí quis me dar uma aula...agradeço, mas continuo com a mesma
> opinião.
>
> Julio, seu link cai no MDPI. Baixei o app, mas como acesso seu artigo?
> Cada vez que clico no link ele cai na mesma coisa, pedindo para baixar o
> app de novo...
> D
>
> *
> *
> *
> *
> *------------------------------------------------------*
> *Décio Krause*
> *Departamento de Filosofia*
> *Universidade Federal de Santa Catarina*
> *88040-900 Florianópolis - SC - Brasil*
> *http://www.cfh.ufsc.br/~dkrause*
> *------------------------------------------------------*
>
> Em 27/01/2013, às 08:56, Julio Stern <jmst...@hotmail.com> escreveu:
>
> Caros Redistas:
>
> Varios dos pontos em discussao referem-se aa construcao de
> uma Ontologia Mateematica adequada aos nossos propositos.
> Discuto varios destes ponto na
> Secco 3,  Mathematical Ontology,  do artigo:
>
> Constructive Verification, Empirical Induction,
> and Falibilist Deduction: A Threefold Contrast.
>
> disponivel no link
>
> http://www.mdpi.com/2078-2489/2/4/635
>
>
> Varios pontos a discutir:
>
> 1) A nocao de Objeto Concreto
> presupoe uma epistemologia fortemente realista
> ou um processo ingenuo de reificacao, isto eh,
> ou os tais Objetos Concretos nos sao dados a priori
> nO Mundo Real, ou eu ingenuamente acho que sei muito bem
> quais sao os ditos cujos Objetos Concretos.
>
> 2) O Sentido Cotidiano de conjunto pode ate nao ser o
> mesmo que (um dado) Sentido Matemático, mas isto nao quer
> dizer que seja possivel fazer (uma) matematica (util) que
> nao reflita os conceitos de alguma ontologia cientifica.
>
> Imre Lakatos discute o assunto en detalhe em um livrinho
> de leitura deliciosa: Proofs and Refutations: The Logic of
> Mathematical Discovery (que eu aho que foi traduzido no Brasil).
>
> Na verdade, Lakatos esta apenas buscando respostas a uma
> pergunta fundamental formulada por seu professor, Arpad Szabo:
>
> Como (diabos) foi que Matematica se tornou uma ciencia dedutiva?!
>
> Abraco a todos,
> ---Julio Stern
>
>
>
> ----------------------------------------
>
> Date: Sun, 27 Jan 2013 01:15:48 -0200
>
> From: marmo.t...@gmail.com
>
> To: freires...@gmail.com; logica-l@dimap.ufrn.br
>
> Subject: Re: [Logica-l] a resposta do Zerrmelo Fraenkel
>
>
> Muito obrigado, Rodrigo. Permita-me citá-lo, na sua reflexão genial que
>
> chega ao ponto que eu queria:
>
>
> "Com relação aos "conjuntos de objetos concretos", acredito que o
>
> entendimento standard na filosofia analítica é que conjuntos podem conter
>
> objetos concretos. Talvez o exemplo mais marcante seja o das proposições
>
> russellianas: para Russell objetos concretos e propriedades sobre esses
>
> objetos são constituintes de proposições. Outro exemplo: para David Lewis,
>
> mundos possíveis são objetos concretos. Conjuntos de mundos possíveis
>
> seriam então, segundo David Lewis, outro exemplo de conjunto de objetos
>
> concretos. (Uma concepção standard de proposições na filosofia analítica,
>
> diferente da teoria de Russel, é a que diz que proposições são conjuntos de
>
> mundos possíveis.) Ainda outro exemplo: Godel no artigo What is Cantor's
>
> continuum problem? Logo na primeira página, sobre a definição de número
>
> cardinal: "...we certainly want it to have the property that the number of
>
> objects belonging to some class does not change if, leaving the objects the
>
> same, one changes in any way their properties or mutual relations (e.g.,
>
> their colors or their distribution in space)." Claro que apenas objetos
>
> concretos podem ter cor ou distribuição espacial."
>
>
> Isto vai ao ponto que disse eu em mais de uma mensagem: [1] a construção da
>
> matemática admite mais de uma interpretação e [2] lógica e matemática não
>
> são a mesma coisa, ainda que tenham muito a ver uma com a outra. Talvez nem
>
> toda interpretação da construção da matemática coincida com a interpretação
>
> de um matemático, ou nem toda tenha interesse como diz o João Marcos. Mas,
>
> as várias interpretações estão aí. E certamente os lógicos não enxergam as
>
> noções matemáticas exatamente como os matemáticos, não só porque as
>
> interpretam de modo diferente, mas porque têm interesses diferentes. E você
>
> primorosamente traz à tona a observação de que a filosofia analítica tem
>
> uma visão diferente do que sejam conjuntos, que é a visão que interessa
>
> mais aos lógicos. Ora, quando eu digo que a lógica tem e pressupõe um
>
> ambiente cultural-filosófico próprio, que remonta a uma tradição pelo menos
>
> desde Aristóteles, a filosofia analítica faz parte justamente disso.
>
>
> Fico uma vez mais agradecido pelas suas contribuições e considero-me mais
>
> que contemplado pela última.
>
>
> Em 26 de janeiro de 2013 23:39, Rodrigo Freire <freires...@gmail.com
> >escreveu:
>
>
> O João Marcos está correto aqui:
>
>
> O "sentido cotidiano" de *conjunto* não é o "sentido matemático", e o
>
> primeiro tem tanta relevância para o segundo quanto o sentido
>
> cotidiano de *continuidade* tem relevância para o sentido matemático
>
> da mesma noção. Não saber separar os dois é ser incapaz de fazer
>
> qualquer tipo de Análise Matemática minimamente interessante.
>
>
>
>
> Conjuntos (permitindo objetos concretos na relação ancestral de
>
> pertencimento ou não) são objetos organizados em uma hierarquia de um modo
>
> específico que *não* é compatível com o uso na linguagem corrente da
>
> expressão "coleção". Conjuntos não são coleções. Vou reproduzir aqui dois
>
> argumentos que acredito são suficientes para ver isso:
>
>
> A1- Considere a coleção de bibliotecas da universidade federal fictícia do
>
> mato grosso do norte (UFFMGN). Uma biblioteca é uma coleção de livros, uma
>
> coleção de bibliotecas é uma coleção de coleções de livros. Suponha que o
>
> professor de lógica da UFFMGN pergunta para o bibliotecário da mesma
>
> universidade se a coleção de bibliotecas contém o livro de lógica de
>
> Hilbert-Ackermann. É coerente com o uso cotidiano da palavra coleção ouvir
>
> a seguinte resposta: "Sim, as duas edições do Hilbert-Ackermann estão na
>
> coleção de bibliotecas da UFFMGN."
>
> O problema é que o Hilbert-Ackermann "está na coleção", segundo o uso
>
> cotidiano de coleção, mas não pertence à coleção porque o Hilbert-Ackermann
>
> não é uma biblioteca.
>
> O argumento não tem nada a ver com bibliotecas e pode trivialmente ser
>
> reformulado em termos de outras coleções de coleções. O uso cotidiano de
>
> "coleção" não respeita a organização hierárquica dos conjuntos.
>
>
>
> A2- Se conjuntos são coleções no sentido cotidiano, então o conjunto vazio
>
> é uma coleção. Isso faz de mim um colecionador de armas de fogo. Contudo,
>
> como não tenho nenhuma arma de fogo eu não sou um colecionador de armas de
>
> fogo segundo o uso cotidiano do termo: eu não preciso fazer nenhum registro
>
> na polícia federal ou nas forças armadas, não faz sentido ir ao encontro
>
> brasileiro de colecionadores de armas, se tal coisa existir, etc.
>
>
>
> Olhei rapidamente o arquivo de materiais online que o Mario colocou aqui.
>
> Comparando a oferta de materiais de Lógica com a de outra área em que
>
> também atuo (Geometria), fica claro que a situação da Lógica é bem
>
> precária. Contudo, tenho dúvidas se vale a pena investir em construir uma
>
> literatura em português para o assunto.
>
>
> Com relação aos "conjuntos de objetos concretos", acredito que o
>
> entendimento standard na filosofia analítica é que conjuntos podem conter
>
> objetos concretos. Talvez o exemplo mais marcante seja o das proposições
>
> russellianas: para Russell objetos concretos e propriedades sobre esses
>
> objetos são constituintes de proposições. Outro exemplo: para David Lewis,
>
> mundos possíveis são objetos concretos. Conjuntos de mundos possíveis
>
> seriam então, segundo David Lewis, outro exemplo de conjunto de objetos
>
> concretos. (Uma concepção standard de proposições na filosofia analítica,
>
> diferente da teoria de Russel, é a que diz que proposições são conjuntos de
>
> mundos possíveis.) Ainda outro exemplo: Godel no artigo What is Cantor's
>
> continuum problem? Logo na primeira página, sobre a definição de número
>
> cardinal: "...we certainly want it to have the property that the number of
>
> objects belonging to some class does not change if, leaving the objects the
>
> same, one changes in any way their properties or mutual relations (e.g.,
>
> their colors or their distribution in space)." Claro que apenas objetos
>
> concretos podem ter cor ou distribuição espacial.
>
>
>
> É verdade que mesmo o básico em Lógica (e em todas as outras áreas) não é
>
> tema sem controvérsia. Livros adoram começar com alguma afirmação
>
> categórica sobre o que é a lógica: ciência do raciocínio, estudo das leis
>
> do pensamento, estudo de relações formais entre portadores de valor de
>
> verdade, estudo da argumentação válida, etc. Seria muito melhor começar
>
> discutindo essas e outras possibilidades, bem como as várias traduções
>
> possíveis da palavra logos. Mas para isso precisa ter competência em
>
> análise conceitual. Os estudantes também parecem apreciar essas afirmações
>
> categóricas, mesmo que delas não entendam nada. Eles parecem precisar dessa
>
> "paz de espírito" para seguir em frente, já que essas discussões iniciais
>
> "não vão render resultados".Esse espírito nada investigativo parece ser
>
> dominante em todas as áreas. Ninguém começa um livro de matemática
>
> arriscando dizer o que é a matemática. Não sei quando foi a última vez que
>
> vi algum livro de geometria tentando começar com algo do tipo: "geometria é
>
> o estudo de formas espaciais". Não é que essas coisas tenham sido
>
> resolvidas, ao contrário. As pessoas passaram a ignorá-las, talvez por
>
> acreditarem que isso não renda papers que vão valorizar seus currículos...
>
>
> Podemos nos perguntar pelos motivos dessa postura anti-investigativa. Vejo
>
> que, atualmente, os cursos de pós-graduação em matemática são feitos em um
>
> ritmo muito acelerado, porque tanto o professor quanto os alunos querem
>
> chegar rápido em algum resultado lá na frente. Não importa se ninguém
>
> entendeu nada desde o básico, incluindo o professor. Acredito que a idéia
>
> que esses cursos transmitem é que pesquisa em matemática é sempre sobre
>
> alguma coisa longe e estranha. Quando alguém é perguntado sobre o "básico"
>
> a resposta pronta é "isso está feito", mesmo quando ninguém sabe onde ou
>
> como, ou até mesmo quando não está feito... Talvez seja por isso que os
>
> matemáticos tem pouco apreço pelos fundamentos: eles acreditam que "está
>
> feito", mesmo sem saber o que significaria "estar feito" nesse caso.
>
>
> Abraço
>
> Rodrigo
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