Oi Hermógenes,

Em linhas gerais, acho que o ponto é que muitas teorias são também 
incompletas de uma forma “boring”.
 
Há até mesmo casos em que a sentença indecidível em questão é falsa na 
interpretação pretendida. Aqui é interessante observar que, na aritmética 
de Robinson, Q, por exemplo, a sentença falsa ‘∃x (s(x) = x)’ é 
indecidível.¹
 
Diria que privar os teoremas da incompletude de seu aspecto semântico, é, 
de certa forma, desmembrar um de seus aspectos mais fascinantes: não se 
trata apenas de demonstrar a incompletude, de apresentar uma sentença 
indecidível; trata-se de construir uma sentença verdadeira mas 
indemonstrável, provando assim que em tais teorias da aritmética 
“razoáveis”,  como PA, nunca poderão cumprir a ambição de capturar o 
conjunto de sentenças verdadeiras de sua interpretação pretendida.
 
Abraços,
Bruno
 
¹Construa uma interpretação não-standard cujo domínio compreenda os números 
naturais e um único elemento intruso, c (digamos, Julío César). Agora 
defina a função sucessor da seguinte forma: s’(n)=s(n) para n ∈ ℕ, onde ‘s’ 
denota a função sucessor usual, e, sobretudo, s’(c)=c. Além disso, defina: 
m +’ n = m + n para todo m,n ∈ ℕ, onde ‘+’ denota a adição usual, mas n +’ 
c = c +’ n = c. Similarmente, estipulemos o seguinte (além da definição 
usual da multiplicação para números naturais): n ×’ c = c ×’ n = 0 se n for 
0; n ×’ c = c ×’ n = c caso contrário, para n ∈ ℕ. Essa interpretação 
respeita todos os axiomas de Q, contudo a sentença ‘∃x (s(x) = x’ é 
verdadeira, visto que s’(c)=c.

--
Bruno Bentzen
https://sites.google.com/site/bbentzena/

On Monday, July 3, 2017 at 8:37:42 PM UTC+8, Hermógenes Oliveira wrote:
>
> Rodrigo Freire <freir...@gmail.com <javascript:>> escreveu: 
>
> > 
> > [...] 
> > 
> > O vocabulário da teoria de grupos é exclusivamente matemático, e os 
> > axiomas são tomados como determinantes exaustivos das noções 
> > matemáticas envolvidas (operação de grupo), muito mais que no caso 
> > da aritmética. 
>
> Não sei se compreendi muito bem a analogia. 
>
> Normalmente, a noção de grupo é definida como *uma* operação sob um 
> conjunto de elementos que satisfazem determinados axiomas.  Porém, 
> diversas operações *distintas* satisfazem os axiomas de grupo.  Em que 
> sentido poderíamos dizer que os axiomas determinam exaustivamente a 
> operação? 
>
> Em contraste, você conseguiria ver como os axiomas de AP determinariam 
> exaustivamente (ou pelo menos, possuem a pretensão de determinar 
> exaustivamente) a noção de número natural? 
>
>
> -- 
> Hermógenes Oliveira 
>
>

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