ola, cassiano,

adoraria discutir mais inferencialismo e pragmatismo contigo, mas em função
de outras atividades, eu vou delegar o trabalho de responder o que eh
inferência para o brandom para o proprio brandom. ;-)

indico fortemente a excelente introducao do "articulating reasons" de 2000
e o seu primeiro capitulo sobre inferencialismo semantico e expressivismo
logico.

neste contexto, certamente voce ja deve conhecer, na filosofia da logica, a
mudança (sellarsiana) de enfase de raciocínios formalmente validos para os
raciocínios materialmente corretos (todos nao-monotonicos) e a ideia
seminal de que a função filosofica mais premente da logica nao é
representacional, mas sim expressiva.

++++

a proposito, talvez valha a gente organizar algum workshop curto sobre
pragmatismo e logica em algum momento de 2020, hein.

tenho certeza que aprenderia bastante com as discussoes contigo!

abracos,
marcos



On Mon, Dec 2, 2019 at 12:27 PM Cassiano Terra Rodrigues <
cassiano.te...@gmail.com> wrote:

> Colegas,
>
> meus menos de 2%.
>
> Marcos: qual é o conceito de inferência de RBrandom? Não me parece q ele
> tenha um conceito de inferência claro o bastante, acho q ele confunde
> muitas coisas e em geral a leitura q ele faz do pragmatismo e como ele se
> entende (neo)pragmatista me parecem ambas as coisas muito ruins,
> redutivistas, eu diria. O inferencialismo na tradição pragmatista é
> tampouco simples, a linha q sai de Peirce e passa por Ramsey e Lewis não é
> dominante e a influência posterior de Dewey é muito diferente  (é claro q
> não conseguirei provar nada isso nesse email, só uma provocação pra saber o
> q vc pensa. O artigo q vc citou tb critica o conceito de inferência de
> Brandom).
>
> Tony e JM, eu tendo a concordar com os dois, em parte. O meu curso de
> lógica na graduação, nunca entendi pq, foi *horroroso*. Tentei fazer com 3
> profs diferentes, e foram todos, digamos, *pra ficar pelo menos ruim tinha
> q melhorar muito*. Acho q isso aconteceu por total falta de adequação aos
> interesses do curso e aos conhecimentos discentes, de uma forma bastante
> anti-pragmatista, aproveitando a discussão. Lembro q um prof se recusava a
> mencionar qualquer coisa relativa à história ou filosofia da lógica dizendo
> q lógica é matemática, "o resto é desprezível para o lógico" (minha
> graduação foi em filosofia), e tb "vcs são analfabetos simbólicos, precisam
> correr atrás, não sou professor de primário." Então, desse exemplo da minha
> experiência, eu infiro o seguinte: dar um curso de lógica para a graduação
> em filosofia como se fosse para a matemática é um erro similar a q
> filósofos cometeriam se fossem dar aula de analítica aristotélica para
> graduandos em matemática com a pretensão de elucidar aos matemáticos a
> essência e os fundamentos do raciocínio lógico. Outra coisa é atitude
> antipedagógica do professor, correlata ao erro, mas não necessariamente
> precisa acompanhar esse erro, o qual pode vir de uma falta de compreensão
> de outras ordens quaisquer.
>
> Um abraço, cass.
>
>
>
>
> On Saturday, November 30, 2019 at 12:02:14 PM UTC-3, marmo.tony wrote:
>>
>> Caro Marcos,
>>
>> Essas são boas referências. De fato, a Catarina Dutilh escava muito chão
>> e encontra b
>> vários “tesouros arqueológicos”. Mas, sobre o papel do Brandom na lógica
>> recente não posso comentar muita coisa, porque eu não sei que alcance, ou
>> seja, que grau de influência teve ele desde os anos 1990. Olhar
>> historicamente para fatos mais distantes é mais fácil.
>>
>> Sei que houve um período da lógica em que vários desenvolvimentos dos
>> acadêmicos medievais foram postos de lado. Atualmente, estamos
>> “recuperando” muito do que numa época ficou, digamos assim, “fora de moda”.
>> Mas, não só há a redescoberta desses autores europeus de antes de
>> Port-Royal: desde o século XIX há ocidentais pesquisando a lógica hindu e a
>> chinesa, além da árabe.
>>
>> O quanto dessa redescoberta que está sendo objeto de pesquisa vai verter
>> para o ensino introdutório de lógica nas faculdades, vai depender dos
>> professores acharem isto didaticamente útil.
>>
>> E há muitas escolas lógicas na atualidade, vamos confessar. À primeira
>> vista pode parecer que não, mas uma pesquisa mais ampla acaba encontrando
>> os mais diversos grupos, de cuja existência a gente nem suspeitava. Fica
>> muito difícil acompanhar notícias sobre todas essas “correntes
>> contemporâneas”.
>>
>>
>> On 30 Nov 2019, at 07:31, Marcos Silva <marcos...@gmail.com> wrote:
>>
>> 
>> ola, Tony,
>>
>> sobre este ponto em específico...
>>
>>   Na Europa durante a Idade Média, uma das componentes da Lógica era a
>>> teoria das “obrigações”, que, ao contrário do que o nome sugere, nada tinha
>>> com os silogismos modais deônticos. Eram as obrigações que alguém assumia
>>> quando se propunha a sustentar uma tese, ou opor-se à mesma. Esse ramo de
>>> estudos está quase esquecido.
>>
>>
>> .... meus dois centavos...
>>
>> independente da tradicão medieval, eu acho que a assim chamada escola de
>> pittsburgh tem importantes contribuicoes para isto que voce chamou de "ramo
>> esquecido".
>>
>> Os neo-pragmatistas de Pittsburgh não vao abordar este problema em termos
>> de obrigações, mas em termos de compromissos.
>>
>> Inclusive, nesta abordagem, ha uma (filosoficamente) relevante revisao da
>> relação de consequencia logica em termos de preservação de compromissos e
>> não em termos de preservação de verdade.
>>
>> a meu ver, nao podemos negligenciar, por exemplo, neste contexto, o tipo
>> de inferencialismo pragmatista introduzido no "making it explicit" (1994)
>> do Brandom.
>>
>> alem disso, provavelmente, voce ja conhece este artigo da Catarina Novaes
>> discutindo esta tematica de obrigacoes/compromissos marcando algumas
>> diferencas com a tradição medieval:
>>  “A contentious trinity: levels of entailment in Brandom's pragmatist
>> inferentialism”. *Philosophia *40(1), 41-53, 2012.
>>
>> abraços,
>> Marcos
>>
>> On Fri, Nov 29, 2019 at 1:45 AM Antonio Marmo <marm...@gmail.com> wrote:
>>
>>> Na Europa durante a Idade Média, uma das componentes da Lógica era a
>>> teoria das “obrigações”, que, ao contrário do que o nome sugere, nada tinha
>>> com os silogismos modais deônticos. Eram as obrigações que alguém assumia
>>> quando se propunha a sustentar uma tese, ou opor-se à mesma. Esse ramo de
>>> estudos está quase esquecido.
>>>
>>> Isto dito, a corrente irracionalidade destes dias que flui pelas redes
>>> sociais em nada se deve a mudanças nos estudos lógicos. Não passam de
>>> técnicas rasteiras de propaganda enganosa e de coação psicológica. Muitos
>>> desses comentários, os mais medíocres por sinal, não são nem obra de
>>> humanos, mas apenas programas que “os disparam”. Certamente, por detrás de
>>> vários deles há assessorias de poderosos interessados ou em desinformar o
>>> público ou em inibir a contestação.
>>>
>>> Exemplo disto é uma situação típica: um ser humano escreve “morreu uma
>>> criança de meningite num hospital no DF” e um robô responde algo totalmente
>>> sem conexão como: “o chefe dos ladrões está preso, seu babaca!” E por aí
>>> vai.
>>>
>>> De forma que a “irracionalidade pós-verdade” não será nada além de mera
>>> disputa por poder. Definir o que são “boas razões” dá muito material para
>>> reflexão, mas não estanca essa sangria.
>>>
>>> *Most problems of teaching are not problems of growth but helping
>>> cultivate growth. As far as I know, and this is only from personal
>>> experience in teaching, I think about ninety percent of the problem in
>>> teaching, or maybe ninety-eight percent, is just to help the students get
>>> interested. *
>>> Noam Chomsky
>>>
>>> On 29 Nov 2019, at 00:08, Cassiano Terra Rodrigues <cassia...@gmail.com>
>>> wrote:
>>>
>>> olâ camaradas, abri o computador e dei de cara com uma entrevista do
>>> meu amigo e antigo professor Walter Carnielli. Entrou na retrospectiva do
>>> veículo Nexo.
>>> Envio aqui a quem interessar possa:
>>>
>>> https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/12/27/Por-que-%E2%80%98opini%C3%A3o-n%C3%A3o-%C3%A9-argumento%E2%80%99-segundo-este-professor-de-l%C3%B3gica-da-Unicamp
>>>
>>> E agora pergunto, o q são boas razões? gostaria de ouvir o q têm a dizer
>>> a respeito, em tempos de irracionalidade pós-verdadeirística.
>>> Saudações,
>>> Cass.
>>>
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