Oi Tony,

Ou seja, dir-se-á que não existem os unicórnios porque podemos ignorá-los 
> já que eles não podem atacar-nos com seus chifres, ao contrário dos 
> rinocerontes.
> Mas, então qual seria a consequência de ignorar conjuntos 
> paraconsistentes? Qual seria o dano?
>

Acho que esta é a pergunta fundamental! E não cabe aos matemáticos, aos 
lógicos e nem aos filósofos respondê-la. Apesar de fundamental, é uma 
pergunta que não merece nossa preocupação. Se a inclusão de conjuntos 
paraconsistentes na estrutura que pressupomos para a realidade nos ajudar a 
prever e evitar situações que, caso os ignorássemos, sentiríamos a dor das 
pedras e das dívidas, então nós nos disporemos a considerá-los existentes, 
reais. E não será preciso nenhuma filosofia para isso ocorrer, tanto quanto 
não é preciso nenhuma filosofia para reconhecermos que o valor do dinheiro 
existe. Ou seja, resumindo, se e quando os conjuntos paraconsistentes 
tiverem aplicações não matemáticas, eles passarão a existir, 
independentemente de nossa vontade ou tendências teóricas.

Saudações,
Daniel.
 

>
> Em seg, 9 de dez de 2019 16:39, 'Durante' via LOGICA-L <
> logi...@dimap.ufrn.br <javascript:>> escreveu:
>
>> Prezados,
>>
>> Aqui vão meus "dois tostões" de comentários alegóricos sobre o formalismo.
>>
>> O que é isso que existe, que uma formalização bem definida indica 
>> existir? Acho que o formalismo jamais chega àquilo que existe, mas apenas 
>> ao conceito daquilo que se considera que existe. A formalização, como o 
>> nome indica, nos leva a formas não a substâncias (conteúdo), e o 
>> formalismo, eu acho, identifica a forma com o bolo.
>> Mas parece que algo se perde aí, afinal, é o bolo que sacia o apetite, 
>> não a forma. Mas, para aquilo com o que não conseguimos tropeçar, que não 
>> dói quando cai na nossa cabeça, que não é captado pelas antenas de nossos 
>> celulares, o que haveria além da forma? Eu acho que há um elemento extra 
>> não capturável pelo mero formalismo. Há uma disposição.
>> A existência, em um sentido amplo, me parece ser apenas uma disposição do 
>> pensamento.
>> As pedras não são meros conceitos (formas), mas existem (têm substância, 
>> realidade, conteúdo, são instanciadas) porque nos dispomos a pensar que 
>> elas existem, e estamos assim dispostos, porque dói se as ignoramos.
>> Do mesmo modo, o valor do dinheiro existe porque nos dispomos a pensar 
>> que ele existe, e estamos assim dispostos, porque dói (mais até do que 
>> algumas pedras) se o ignoramos.
>> Algumas das entidades matemáticas existem porque nos dispomos a pensar 
>> que elas existem, e estamos assim dispostos, porque elas dão estrutura à 
>> nossa concepção da realidade, e a pressuposição desta estrutura nos ajuda a 
>> prever e evitar situações em que sentiríamos a dor das pedras e das 
>> dívidas. Ou seja, estamos dispostos a pensar que algumas entidades 
>> matemáticas existem, porque dói se as ignoramos.
>> O chupa-cabras não existe porque não estamos dispostos a pensar que ele 
>> exista, e não estamos assim dispostos, porque ignorá-lo não dói.
>> Quanto ao estilo e ao bom gosto, bem, eu diria que variadas versões deles 
>> existem para alguns, mas não existem para outros. Existem para aqueles cuja 
>> sensibilidade mais frágil os faria sentir dor em situações nas quais eles 
>> os ignoram. E não existem para aqueles mais casca grossa para quem ignorar 
>> o estilo e o bom gosto jamais provocaria qualquer dor.
>>
>> Saudações,
>> Daniel.
>>
>> Em sexta-feira, 6 de dezembro de 2019 22:31:42 UTC-3, gonzalcg escreveu:
>>>
>>> Prezado Walter e lista,
>>>
>>> Coincido contigo, que o formalismo ---e fundamentalmente o de Hilbert, 
>>> entre tantas variantes dele--- é uma saída "confortável" e eu 
>>> acrescentaria: genial. Além disso, o formalismo foi apresentado mais de uma 
>>> vez como uma alternativa ao idealismo-platonismo.
>>>
>>> O problema está quando o platonismo que jogamos fora pela porta, entra 
>>> pela janela de uma concepção platonista da linguagem. Claro, um problema 
>>> para aqueles que se reivindicam não platonistas, como eu. 
>>>
>>> Sim, "não somente em matemática" como você disse. Porque envolve-se em 
>>> contextos mais amplos que o relacionam com vários outros problemas, como 
>>> posições realistas e não realistas em ciência empírica: 
>>> existe o eléctron?
>>> existe o inconsciente?
>>> existe a vida?
>>>
>>> Carlos
>>>
>>>
>>>
>>>
>>>
>>> On Sat, Dec 7, 2019 at 12:23 AM Walter Alexandre Carnielli <
>>> walt...@unicamp.br> wrote:
>>>
>>>> Olá Carlos e tod@s,
>>>>
>>>> SIm, é a velha questão da existência, mas não  somente em matemática.
>>>> Na matemática temos a questão da existência  dos números complexos,
>>>> do infinito,do ponto...mas também fora disso há a questão da
>>>> existência do estilo, do bom gosto, etc.  O formalismo é uma saída.
>>>> confortável,
>>>> e talvez a única.   Não tenho nada contra os sócios da  SADAF (que
>>>> sempre me pareceu  saída de um  conto do Borges)  e menos ainda
>>>> contra os argentinos :-)
>>>>
>>>> Abraços,
>>>>
>>>> Walter
>>>>
>>>> Em sex., 6 de dez. de 2019 às 15:21, Carlos Gonzalez
>>>> <gonz...@gmail.com> escreveu:
>>>> >
>>>> > Caro Walter e lista,
>>>> >
>>>> > Ai, a velha questão da existência em matemática!
>>>> >
>>>> > Parece que o tua posição está inspirada de alguma maneira em Hilbert 
>>>> ou no formalismo, quando você escreve:
>>>> > >>>
>>>> > É natural aceitar esta noção de  "existir" como  "estrutura.
>>>> > matemática definida rigorosamente".
>>>> > <<<
>>>> >
>>>> > Se não assumir uma posição idealista ou platonista extrema, a 
>>>> existência em matemática é uma analogia ---quase uma metáfora--- da 
>>>> existência metafísica na realidade ou na natureza.
>>>> >
>>>> > Suponha que formalizamos Chapeuzinho Vermelho em ZF:
>>>> > ∅ é Chapeuzinho
>>>> > {∅} é a mãe dela
>>>> > {{∅}} é a vovozinha
>>>> > {∅,{∅}} é o lobo mau
>>>> > {∅,{{∅}}} é o caminho do bosque
>>>> > etc.
>>>> > Podem ser definidas relações: "x mãe de y", "x avô de y", "x come y", 
>>>> "x vai por y", etc.
>>>> > Um hilbertiano poderia afirmar que Chapeuzinho Vermelho existe. Mas é 
>>>> uma existência matemática, não existe na natureza.
>>>> >
>>>> > Isto não é uma brincadeira, mas um problema muito sério.
>>>> > Por exemplo, pensemos na relação Bedeutung de Frege, mal traduzida 
>>>> como "denotação", etc.
>>>> > Nessa concepção, o termo "mesa" nunca pode "denotar" a mesa que eu 
>>>> estou usando para escrever, nem o termo "rio Amazonas" pode "denotar" o 
>>>> rio 
>>>> homônimo no norte do Brasil:
>>>> >  o termo "rio Amazonas"  "denota", na concepção fregiana, um objeto 
>>>> matemático, porque a relação foi definida à maneira matemática.
>>>> >
>>>> > Possivelmente, atrás desse problema e do abuso de maneiras 
>>>> matemáticas esteja mais uma vez alguma forma do "paradoxo da análise", 
>>>> como 
>>>> parece assinalar o trabalho de Tomas Moro Simpson.
>>>> >   "Formas Lógicas, Realidad y significado", cuja leitura recomendo, 
>>>> apesar dele ter sido argentino e sócio da SADAF (que nem eu :-) )
>>>> >
>>>> > Carlos
>>>> >
>>>> >
>>>> >
>>>> >
>>>> > On Thu, Dec 5, 2019 at 5:21 PM Walter Carnielli <walter....@gmail.com> 
>>>> wrote:
>>>> >>
>>>> >> Oi Tony,
>>>> >>
>>>> >> A pergunta é boa.  E a minha resposta, da maneira mais simples
>>>> >> possível,  vai ser também. :-)
>>>> >> A teoria de conjuntos clássica  (standard)  é apenas uma coleção de
>>>> >> sentenças. O  que garante a "existência" dos conjuntos clássicos?
>>>> >> Seus modelos, levando em conta o Axioma  do Infinito.
>>>> >>
>>>> >> Mas o que é "existir"? Existe o  modelo de Von Neumann dos naturais,
>>>> >> por exemplo?
>>>> >>  Em ZF os números naturais são definidos recursivamente. via ordinais
>>>> >> de von Neumann  tomando 0 = { }  (o conjunto vazio)
>>>> >> e n + 1 =S(n)= n ∪ {n} para cada n. A estrutura ⟨N, 0, S⟩ é um modelo
>>>> >> dos axiomas. de Peano.
>>>> >> A  "existência"  do conjunto N segue do axioma do infinito de  ZF.
>>>> >> É natural aceitar esta noção de  "existir" como  "estrutura.
>>>> >> matemática definidarigorosamente". Existe
>>>> >> tanto, ou msis, quanto a ironia, o bom gosto ou a boa-vontade.
>>>> >>
>>>> >> Analogamente,  o que garante a existência de conjuntos
>>>> >> paraconsistentes?  Resposta: seus modelos;
>>>> >> Nossos  modelos, baseados em Twist-Valued Models, são bastante
>>>> >> próximos, neste sentido, dos modelos standard de ZF.
>>>> >> Abs
>>>> >>
>>>> >> W.
>>>> >>
>>>> >> Em qui, 5 de dez de 2019 14:05, Tony Marmo <marm...@gmail.com> 
>>>> escreveu:
>>>> >> >
>>>> >> > Caro Walter,
>>>> >> >
>>>> >> > Já que levantou o assunto, vou fazer uma pergunta:
>>>> >> >
>>>> >> > Os conjuntos paraconsistentes existem?
>>>> >> >
>>>> >> > Uma paráfrase possível para essa pergunta: o que garante a 
>>>> existência de conjuntos paraconsistentes?
>>>> >> >
>>>> >> > Obrigado
>>>> >> >
>>>> >> > Em qui, 5 de dez de 2019 12:36, Walter Carnielli <
>>>> walter....@gmail.com> escreveu:
>>>> >> >>
>>>> >> >> Caros colegas:
>>>> >> >>
>>>> >> >> Em vista do interesse do assunto, julgamos apropriado divulgar,
>>>> >> >> abraços,
>>>> >> >> Walter
>>>> >> >> =========================
>>>> >> >> Twist-Valued Models for Three-valued Paraconsistent Set Theory
>>>> >> >> W. Carnielli and M. E. Coniglio
>>>> >> >> https://arxiv.org/pdf/1911.11833.pdf
>>>> >> >>
>>>> >> >>  Light abstract:
>>>> >> >>
>>>> >> >>  Paraconsistent  set theory (PST)  is the theoretical move to 
>>>> maintain
>>>> >> >> the freedom of defining sets, while stripping the theory of
>>>> >> >> unnecessary principles, so as to avoid triviality -- a disastrous
>>>> >> >> consequences of contradictions involving sets in  ZF. A  hard 
>>>> problem
>>>> >> >> is to  find good models for PST.
>>>> >> >>
>>>> >> >> B. Löwe and S. Tarafder proposed in 2015 a class of algebras 
>>>> based on
>>>> >> >> a certain kind of implication which satisfy several axioms of ZF. 
>>>> From
>>>> >> >> this class, they found a specific 3-valued model called PS3 which
>>>> >> >> satisfies all the axioms of ZF, and can be expanded with a
>>>> >> >> paraconsistent negation *, thus obtaining a paraconsistent model 
>>>> of
>>>> >> >> ZF. The logic (PS3 ,*) coincides (up to  the language) with da 
>>>> Costa
>>>> >> >> and D'Ottaviano logic J3, a 3-valued paraconsistent logic that 
>>>> have
>>>> >> >> been proposed independently in the literature by several authors 
>>>> and
>>>> >> >> with different motivations such as CluNs, LFI1 and MPT.
>>>> >> >>
>>>> >> >>  We propose in this paper a family of algebraic models of ZFC 
>>>> based on
>>>> >> >> LPT0, another linguistic variant of J3 introduced by us in 2016. 
>>>> The
>>>> >> >> semantics of LPT0, as well as of its first-order version QLPT0, is
>>>> >> >> given by twist structures defined over Boolean algebras.
>>>> >> >>
>>>> >> >> Twist-valued models are natural generalizations of  the 
>>>> Boolean-valued
>>>> >> >> models of set theory independently introduced by Scott, Solovay 
>>>> and
>>>> >> >> Vopěnka.
>>>> >> >>
>>>> >> >> Our twist-valued models are adapted to provide a class of 
>>>> twist-valued
>>>> >> >> models for (PS3,*), thus generalizing Löwe and Tarafder's  
>>>> results. It is
>>>> >> >> shown that they are in fact models of ZFC (not only of ZF).
>>>> >> >>  ====================================
>>>> >> >>
>>>> >> >> Walter Carnielli
>>>> >> >>  https://waltercarnielli.com/
>>>> >> >>
>>>> >> >> Centre for Logic, Epistemology and the History of Science and
>>>> >> >> Department of Philosophy
>>>> >> >> State University of Campinas –UNICAMP
>>>> >> >> 13083-859 Campinas -SP, Brazil
>>>> >> >>
>>>> >> >>  CV Lattes : http://lattes.cnpq.br/1055555496835379
>>>> >> >>
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