Mais um ponto pra conversa de voces:

>https://arxiv.org/abs/1904.09193Cantor-Bernstein implies Excluded Middle
Pierre Pradic
<https://arxiv.org/search/math?searchtype=author&query=Pradic%2C+P>, Chad
E. Brown
<https://arxiv.org/search/math?searchtype=author&query=Brown%2C+C+E>

We prove in constructive logic that the statement of the Cantor-Bernstein
theorem implies excluded middle. This establishes that the Cantor-Bernstein
theorem can only be proven assuming the full power of classical logic. The
key ingredient is a theorem of Martín Escardó stating that quantification
over a particular subset of the Cantor space 2ℕ, the so-called one-point
compactification of ℕ, preserves decidable predicates.

abracos logicos,
Valeria


On Sat, Oct 22, 2022 at 8:46 AM Cassiano Terra Rodrigues <
cassiano.te...@gmail.com> wrote:

> Camaradas, essa discussão é realmente muito interessante.
> Com relação ao livro do Haddad, não o li e não posso me pronunciar, mas
> conferi o texto disponibilizado online, mencionado pelo JM. Não é a
> primeira vez q Haddad escreve mesclando experiência pessoal com política.
> Por melhor escritor ele seja, e por mais q seja nele o meu voto
> institucional para o governo do estado, sugiro a leitura de Bourdieu, "A
> ilusão biográfica".
> Com relação à discussão matemática, propriamente, não tenho competência
> para discutir os desenvolvimentos da matemática no século XX. Se escrevo,
> então, é na tentativa de não parecer demasiado arbitrário para lembrar
> apenas uma perspectiva q estudei um pouco e, penso eu, pode ajudar a pensar
> certos aspectos da discussão, uma vez q, como professor de filosofia, não
> posso deixar de notar q o labirinto do continuum de Leibniz ainda causa
> grandes especulações.
> A questão da validade do 3º excluído aparece já na filosofia de C.S.
> Peirce. Peirce critica a identificação do conjunto dos números reais com um
> genuíno continuum, mas eu não vou entrar nisso aqui, pois não conseguiria
> resumir e envolve mais matemática do q eu conheço. Vou direto para a
> concepção de continuidade, que CSP entende de duas maneiras, segundo as
> suas categorias de primeiridade (relativa a puras possibilidades, o que ele
> chama de "vagueness", vagueza), segundidade (relativa a existências reais,
> ou fatos brutos, como ele se expressa) e terceiridade (relativa a mediações
> semióticas e, por conseguinte, generalidades). CSP afirma que o 3º excluído
> não se aplica ao que é geral, ao passo que o princípio de contradição não
> se aplica ao que é vago. Vagueza e generalidade são *continua*, no
> sentido de que alguma qualidade no *contínuo *de qualidades ou nunca pode
> ser identificada com precisão absoluta e, portanto, só pode ser entendida
> como uma variação infinitesimalmente pequena do aspecto qualitativo em
> questão, ou pode vir a ser identificada, embora nem sempre o seja.
> CSP não quer dizer que. para uma proposição *p *, nem tanto *p *como
> *não-p *são válidos ou inválidos, ou seja, ele não afirma q vários
> valores de verdade são possíveis para uma mesma situação conhecida. Peirce
> enfatiza propriedades na lógica de predicados: para todas as propriedades
> *p *, nenhum sujeito tem e simultaneamente não tem a propriedade *p * (nem
> tanto “S é P” quanto “S não é P”), e assim o princípio da não-contradição
> apenas vale para itens (sujeitos, se pensarmos numa proposição categórica) 
> *explicitamente
> definidos. *Mas a vagueza não é exatamente uma propriedade, é o domínio
> do q é apenas possível, e possibilidades não podem ser esses itens ou
> sujeitos. O estatuto metafísico das possibilidades é assim – e este é um
> movimento típico de Peirce – definido por uma interpretação ontológica dos
> princípios lógicos. Ontologicamente falando, há possibilidades e, como
> tais, possibilidades não excluem as suas contrárias *im*possibilidades.  Em
> outras palavras, se algum sujeito singular é ou não uma instância de uma
> certa possibilidade, isso não pode ser decidido com base na possibilidade
> ela mesma - se um sujeito pode ser, esse seu "poder-ser" não exclui o seu
> "poder-vir-a-não-ser". O fato de o princípio da não-contradição não valer
> refere-se, assim, ao caráter modal das entidades que a categoria de
> primeiridade descreve (digamos assim, perdoem-me a expressão). A expressão
> lógica dessa situação é que “S pode ser P” e “S pode ser não-P” podem ser
> ambas proposições verdadeiras. Assim, tanto “Pode chover amanhã” quanto
> “Pode não chover amanhã” são verdadeiras.
> A generalidade também é contínua, mas, por outro lado, pode ser
> especificada relativamente às suas instâncias particulares em eventos reais
> e, por isso, o 3º excluído não vale para ela. Assim como antes, não devemos
> entender essa afirmação tendo em mente a formulação do 3º excluído de que
> uma proposição *p *pode ser V ou F ou nenhuma das duas coisas. Assim, não
> podemos afirmar que proposições referentes a mediações gerais, v.g, "Todos
> os prefeitos são políticos", aceitam um terceiro valor de verdade, como
> seria o caso se fosse descartado o 3º excluído tal como concebido pela
> lógica proposicional mais conhecida atualmente. A ideia de CSP é que, para
> todas as propriedades *P, *qualquer sujeito tem propriedade *P *ou não (ou
> “S é P” ou “S é não-P”). Mais uma vez, o princípio vale explicitamente
> apenas para indivíduos definidos. Dessa forma, dizer que o 3º excluído não
> se aplica remete ao estatuto ontológico do tipo de possibilidades que são
> gerais e caracterizadas pela terceiridade , ou seja, algo da natureza de um
> poder ser – e estes não são os sujeitos exigidos pelo 3º excluído. Aqui, a
> expressão lógica é que tanto “S tem que ser P” quanto “S tem que ser não-P”
> podem ser falsos (“É necessário chover amanhã” e “Não é necessário chover
> amanhã”). E mesmo que ocorra um caso especial, a falha geral do 3º excluído
> se deve ao fato de que os objetos singulares do *continuum *de
> possibilidades permanecem indeterminados em relação a todos os aspectos
> que não são abrangidos pela possibilidade real do *continuum* em questão.
> Assim, esses objetos possuem muitos aspectos indeterminados. Disso, CSP
> pode concluir: “O geral pode ser definido como aquilo a que o princípio do
> terceiro excluído não se aplica. Um triângulo em geral não é isósceles, nem
> equilátero; nem é um triângulo em escaleno geral [mas algum triângulo tem
> de ser, ele afirma alhures]. O vago pode ser definido como aquilo a que o
> princípio de contradição não se aplica. Pois não é falso que um animal (num
> sentido vago) seja macho, nem que um animal seja fêmea [mas se não é nem
> uma nem outra coisa, só é possível dizer especificando o indivíduo]”. [CP
> 5.505]. Outras especificações de continuidades são igualmente possíveis e
> indeterminadas (diferentes tipos de triângulos), enquanto no caso de
> imprecisões podem aparecer propriedades contraditórias (animais
> hermafroditas ou sem gênero). Em outras palavras, relativamente à secundidade,
> a categoria dos fatos brutos e da existência determinada, uma existência
> real pode ser definida pela validade de ambos os princípios, pois a
> individualidade, quando considerada como a determinação completa de todas
> as propriedades, deve obedecer a ambos os princípios: é necessário a um
> determinado indivíduo possuir a propriedade *p *ou não a possuir (possuir
> a sua contraditória *não-p*), mas não ambas: "Embora os princípios de
> contradição e 3º excluído possam ser considerados como se constituíssem,
> juntos, a definição da relação expressa por 'não', ainda assim, eles também
> implicam que tudo o que existe consiste em indivíduais”. [CP 3.612]. Em
> resumo, é um ato pragmático de "asserção" q torna possível determinar o que
> se fala, e como, e porque é isto e não aquilo etc.
> Peirce, no entanto, e sem surpresa alguma, é claro, não aceitava a
> determinação absoluta de todas as propriedades como uma definição do modo
> existencial dos objetos ou eventos individuais e reais, pois isso tornaria
> impossível superar a descontinuidade. Vagueza e generalidade também são
> inerentes à existência individual, ainda que de forma “infinitesimal” (por
> falta de uma palavra melhor), em contraste com as duas categorias de
> possibilidade contínua. É por isso que Peirce mantém uma definição
> (platônica, note-se) de existência individual como *reatividade *: “Tudo
> o que existe, ex-iste *, isto *é, realmente age sobre outros existentes,
> então obtém uma auto-identidade e é definitivamente individual”. [EP II:
> 342]. Eu poderia reagir ou ter reagido contra a minha vontade, diz ele em
> outro lugar. De acordo com essa definição, portanto, apenas objetos ideais
> podem ser absoluta e completamente determinados, e assim a determinação
> totalmente completa e absoluta e a submissão aos princípios do 3º excluído
> e de contradição só é possível para objetos ou eventos ideais. Poder-se-ia
> destacar indivíduos singulares em todas as dimensões da realidade e níveis
> do discurso sem impor absolutamente a exigência ontológica da determinação
> completa, pois a reatividade é o caráter definidor da *haecceitas *do
> indivíduo. Parece q, ao menos isso, estamos vendo bem nos nossos tempos.
> Nas histórias da matemática q eu conheço, raramente o nome de C. S. Peirce
> é mencionado; às vezes, seu pai, Benjamin Peirce, é lembrado como
> descobridor da idempotência, e quase só isso. É compreensível, vez q CSP
> era um outsider mesmo enquanto vivo e a narrativa dominante do
> desenvolvimento da lógica e da matemática no século XX tornou hegemônica
> uma história q inclui Cantor, Frege, Russell-Whitehead, Gödel, ZF em linha
> mais ou menos contínua. Ultimamente, as contribuições de CSP têm sido
> recuperadas. Eu, particularmente, não acho q se trata apenas de
> contribuições potenciais à história da lógica, uma vez q Tarski conhecia
> muito bem os trabalhos de CSP (as palestras na UNICAMP mostram isso) e q o
> teorema de Löwenheim-Skolem pode ser remontado aos escritos sobre lógica
> dos relativos (ver o trabalho de Geraldine Brady). Então, dada essa
> digressão, penso q é bastante razoável considerar q sempre é possível
> pragmatizar as nossas dicotomias de modo a usar a lógica sem sacrificar as
> possibilidades, q sempre existem, mesmo q momentaneamente não consigamos
> identificá-las. Mas alguém consegue e isso é o q faz diferença.
> Perdoem-me se escrevo demais, tenho essa tendência a ser prolixo, mas é
> por receio de errar.
> Abraços,
> cass.
>
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