Car@s, desculpas por chegar atrasado na importante discussão aqui.
Gostaria apenas de destacar a imensa vitória que é trazer pela primeira vez um evento tão tradicional e importante como o CLMPTS para o hemisfério sul, especialmente para a América do Sul. Os esforços da comissão organizadora com o tema da desigualdade de gênero e com a distribuição geográfica de invited speakers e participantes é de fato visível e louvável. Estão de parabéns! Contudo, vale observar, com pesar, que, mesmo em um evento com uma visão, digamos, mais progressista e cuidadosa em suas escolhas, uma questão fundamental não aparece, a saber, a questao racial. Acho que em um continente como o nosso a questão racial não deveria ser negligenciada em nenhum âmbito, especialmente em esforços para a construção coletiva de conhecimento. Vale lembrar, que em menos de três séculos de colonialismo de potências europeias mais de 12 milhões de africanos escravizados foram sequestrados e trazidos para as Américas. E quase metade desta quantidade assombrosa foi trazida à força para o Brasil, por exemplo. Isto tem muitas e muitas consequências. Uma delas é termos um evento academico de vanguarda na America do Sul, onde nao há invited speakers de pele escura (https://clmpst2023.dc.uba.ar/invited-speakers/) e muito poucas pessoas não-brancas no comitê cientifico. A Cida Bento chama este fenomeno, infelizmente muito comum, de "pacto narcísico da branquitude". https://pt.wikipedia.org/wiki/Branquitude Abraços antirracistas desde Buenos Aires, Marcos On Sun, Jul 23, 2023 at 12:18 PM Hermógenes Oliveira < olive...@daad-alumni.de> wrote: > Salve, Valéria, e demais. > > Bem, a memória do ser humano é falha, como sabemos, mas talvez convenha > compartilhar mais algumas recordações da conversa, pois foi muito > instrutiva para mim à época. > > O grupo vinha organizando "MANELS" mais por omissão ou acidente do que por > convicção. Com as reclamações em 2015, ficou meio que acordado que este > fator seria considerado de modo mais contundente na organização de eventos > posteriores. Entretanto, **não** foi colocado um embargo em "MANELS", > embora evitar "MANELS" tenha sido promovido para um dos fatores de maior > peso. > > Minha única contribuição para a conversa, pelo que me recordo, foi > compartilhar o relato de uma jovem pesquisadora de destaque, com a qual > esbarrei num evento de lógica, quem lamentava estar sendo inundada por > convites. Como ela considerava a causa justa, sentia-se pressionada a > aceitar os convites, porém já estava ficando "farta de eventos e > conferências" e sentia-se meio que usada como espécie de trunfo anti-MANEL. > > É costumeiro julgar um evento, principalmente na fase inicial de > organização, por meio da notoriedade do painel de palestrantes convidados. > Junte-se a escassez de mulheres na área com outros fatores como conflitos > de agenda, falta de entusiasmo por viagens transoceânicas e etc, e a tarefa > de se evitar um "MANEL" pode se tornar bastante melindrosa. De fato, foi > mencionado que alguns dos "MANELS" organizados anteriormente foram > acidentais, isto é, mulheres foram inicialmente convidadas (não como medida > consciente de evitar um "MANEL"), mas recusaram por razões diversas. > > Por estas e outras razões, fixou-se o entendimento de que se evitar > "MANELS" a todo e qualquer custo, não seria proveitoso. Por exemplo, numa > suposta situação logística desesperadora, esgotadas as opções razoáveis, > não seria propício (e talvez fosse mesmo ofensivo) estender convites a > pessoas apenas longinquamente relacionadas com a temática do evento, de > modo que ficasse patente que a pessoa estava sendo convidada *única e > exclusivamente* por causa do seu gênero. Felizmente, parece que este tipo > de situação hipotética se mostrou bem menos factível do que se antecipava. > > Enfim, as reclamações em 2015, além de não gerarem qualquer desconforto > (pelo que me recordo), suscitaram mudanças positivas. Portanto, creio que > ainda pode valer a pena reclamar, sim. Também acho razoável, contudo, > adotar cautela ao atrelar malícia, ou um posicionamento consciente sobre o > desequilíbrio de gênero na área, com base **apenas** na organização de um > evento com "MANEL". Claro, independente das razões por traz do "MANEL", > seja por fatores incontornáveis de logística organizativa ou simples > obtusidade, reclamar é sempre legítimo e, eu diria, necessário. > > Cordialmente, > > -- > Hermógenes Oliveira > > -- > LOGICA-L > Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de > Lógica <logica-l@dimap.ufrn.br> > --- > Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "LOGICA-L" dos > Grupos do Google. > Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie > um e-mail para logica-l+unsubscr...@dimap.ufrn.br. > Para ver essa discussão na Web, acesse > https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/695ab370-406b-4b2f-b2c1-5e74712dd401n%40dimap.ufrn.br > <https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/695ab370-406b-4b2f-b2c1-5e74712dd401n%40dimap.ufrn.br?utm_medium=email&utm_source=footer> > . > -- Marcos Silva (UFPE/CNPq) Philosophy Department Federal University of Pernambuco, Brazil President of the Brazilian Society for Analytical Philosophy (SBFA <https://sites.google.com/view/sbfa-sbpha/in%C3%ADcio?authuser=0>) Director of Graduate Studies (PPGFIL/UFPE <https://www.ufpe.br/ppgfilosofia/>) Editor-in-chief Revista Perspectiva Filosófica <https://periodicos.ufpe.br/revistas/perspectivafilosofica> https://sites.google.com/view/marcossilvaphilosophy "amar e mudar as coisas me interessa mais" -- LOGICA-L Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de Lógica <logica-l@dimap.ufrn.br> --- Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "LOGICA-L" dos Grupos do Google. Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para logica-l+unsubscr...@dimap.ufrn.br. Para ver esta discussão na web, acesse https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/CAGZ3pzLmYqoM6qKiHHQJ-e1-h7dKXrWaWGb-yG8AKykntp-gVg%40mail.gmail.com.