Re: [Logica-l] Mesa de Filosofia da lógica: Consequência lógica
Gostei muito destes dois dedos de prosa! > Acho que de fato o "axioma do vazio" (existe o conjunto vazio) não é > necessário em ZF, por conta de que a lógica clássica pressupõe domínios não > vacios. O que fica evidente na definição de modelo, onde se exige que os > domínios dos modelos sejam não vazios, e levando em consideração que ZF é > uma teoria pura (como já falaram anteriormente), qualquer domínio de > interpretação deve ter pelo menos um conjunto, e pelo axioma de > separação Hu... E quem vem primeiro? Uma dada semântica para uma teoria de primeira ordem com igualdade será correta/sound para uma lógica que tem (∃x)x=x como teorema sse ela exigir que os domínios das interpretações sejam não vazios. Não podemos pensar, assim, que esta é a _razão_ pela qual a lógica clássica faz esta bendita pressuposição sobre a não-vacuidade dos domínios? Numa lógica que não seja constrangida por tal pressuposto existencial o "normal" não seria que os domínios das estruturas de interpretação fossem conjuntos arbitrários? Quando uma dada teoria tem um símbolo de constante qualquer, a semântica "standard" poderá justificar: aí está a razão, precisamos de um objeto no domínio para interpretar este símbolo de constante. Mas neste caso esbarramos em outra pressuposição da semântica "standard", a saber, a pressuposição de que as funções de interpretação sejam totais (e isto se aplica em particular à operação nulária que interpreta o dito símbolo de constante). Como o Henrique já apontou, aqui esbarramos na pressuposição de que "todos os termos denotam". Mas será que a gente já não sabe, tendo em vista todo o trabalho feito nos últimos anos formalizando a noção de *computabilidade*, que no mundo real não dá para escapar de _funções parciais_ (que eventualmente farão com que alguns termos não denotem)? Para "facilitar a vida", de todo modo, os algebristas parecem ter imposto a convenção dos *domínios não-vazios*, mesmo quando a assinatura de suas teorias não contêm símbolos de constante. Será que a semântica lógica clássica ---the new kid on the block--- nada mais fez do que imitar servilmente as estruturas algébricas que já andavam por aí antes de ela chegar? A propósito, alguém conhece livros-texto de Lógica que _iniciem_ por uma apresentação inteiramente *formal* que considere: (i) lógicas livres, com domínios eventualmente vazios? (ii) símbolos de função interpretados como funções parciais sobre o domínio? > No livro do Mendelson ("Introduction to Mathematica Logic", 5ed, 2010), a > sessão 2.16 fala sobre "Quantification Theory Allowing Empty Domains". Acho > que essa sessão pode ser de interesse para o que se está discutindo aqui. Bem lembrado! []s, Joao Marcos -- http://sequiturquodlibet.googlepages.com/ -- LOGICA-L Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de Lógica --- Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "LOGICA-L" dos Grupos do Google. Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para logica-l+unsubscr...@dimap.ufrn.br. Para ver esta discussão na web, acesse https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/CAO6j_LjFdj5sTzgGD7PaSctem8m_CG6du6CkcMp_YG5S9smOpg%40mail.gmail.com.
Re: [Logica-l] Mesa de Filosofia da lógica: Consequência lógica
Olá Obrigado pelos comentários! E pela referência principalmente. Este fio de mensagens ficou bem interessante, obrigado a todos de novo. Em tempo: eu agradeci a Lídia pela palestra mas esqueci de agradecer a Gisele e ao Encontro Brasileiro de Filosofas Analíticas pela organização da mesa, muito bom ver jovens lógicas trabalhando. Abraços []s Samuel - Mensagem original - De: Juan Carlos Agudelo Agudelo Para: Samuel Gomes da Silva Cc: Daniel Durante , Walter Carnielli , Lista Lógica , Joao Marcos Enviadas: Tue, 10 Oct 2023 10:52:50 -0300 (BRT) Assunto: Re: [Logica-l] Mesa de Filosofia da lógica: Consequência lógica Bom dia para tod@s, Acho que de fato o "axioma do vazio" (existe o conjunto vazio) não é necessário em ZF, por conta de que a lógica clássica pressupõe domínios não vacios. O que fica evidente na definição de modelo, onde se exige que os domínios dos modelos sejam não vazios, e levando em consideração que ZF é uma teoria pura (como já falaram anteriormente), qualquer domínio de interpretação deve ter pelo menos um conjunto, e pelo axioma de separação A dedução do axioma do vazio pode se obter particularizando sobre o axioma de separação, usando qualquer variável (que representa um conjunto arbitrário) e usando uma fórmula contraditória (por exemplo P(x) := x \neq x). No livro do Mendelson ("Introduction to Mathematica Logic", 5ed, 2010), a sessão 2.16 fala sobre "Quantification Theory Allowing Empty Domains". Acho que essa sessão pode ser de interesse para o que se está discutindo aqui. Abraços, Juan Carlos On Mon, Oct 9, 2023 at 1:47 PM 'Samuel Gomes da Silva' via LOGICA-L < logica-l@dimap.ufrn.br> wrote: > Obrigado Henrique, obrigado Daniel, > > Achei legal isso de "teoria impura" (!!!), vou pensar depois com calma. > > Obrigado mesmo ! > > Pelo visto a observação do aluno tem sim "alguma graça", hehe. > > Abraços > > []s Samuel > > -- > *De: *"Daniel Durante" > *Para: *"Walter Carnielli" > *Cc: *"samuel" , "Lista Lógica" , > "Joao Marcos" > *Enviadas: *Segunda-feira, 9 de outubro de 2023 15:38:01 > *Assunto: *Re: [Logica-l] Mesa de Filosofia da lógica: Consequência lógica > > Fala Samuel, Walter e Henrique, > > O estudante é criativo ,mas está enganado: una das leis da Igualdade diz > que "qualquer coisa é igual a si própria", mas não diz que existe algo. > > > É Walter, mas se esta lei da igualdade está na lógica clássica, então tem > uma prova de duas linhas do argumento > > Vx(x=x) |– Ex(x=x) > > Aliás, na lógica clássica em geral vale: > > (1) |-VxPx => |-ExPx > > Ou seja, na lógica clássica, se uma dada propriedade 'P' vale para > qualquer um, então existe alguém que a instancia. > > Aí, então, eu acho que o estudante está certo em dispensar o axioma, desde > que aceite a lógica clássica. > > Mas o que eu acho mais interessante ainda que isso é pensar no contrário. > Será que tem algum teorema existencial que não é universal na lógica > clássica? Será que vale: > > (2) |-ExPx => |-VxPx > > Na lógica clássica, “infelizmente”, (2) não vale. Existem teoremas > clássicos existenciais cujas contrapartes universais não são teoremas > clássicos. E digo infelizmente porque eu acho isso é MUITO estranho. > > Não deveria ser papel da lógica postular a existência de coisas > específicas. Esse, me parece, é um papel das teorias, não das lógicas. A > teoria de conjuntos (ou qualquer outra teoria), me parece, pode postular a > existência de alguma coisa que seja diferente de todas as outras. (Existe o > conjunto vazio, existem unicórnios,...). Mas se alguma lógica faz isso, me > parece que ela está extrapolando seu papel. A lógica deveria cuidar do que > é comum a todos, do que é universal. > > É como se a lógica clássica fosse meio elitista, preconceituosa, como se > ela discriminasse os indivíduos. > > A lógica intuicionista, por exemplo, não é assim elitista. Nela vale (2). > Todo teorema existencial é também universal. Não existe discriminação > intuicionista entre os indivíduos, só discriminação clássica. > > Então, todos os exemplos de teoremas existenciais ExP(x) tais que a > contraparte universal VxP(x) não é teorema, são aqueles casos estranhos (e > duvidosos ?) de teoremas clássicos que não são teoremas intuicionistas. > > Aqui um exemplo que o João Marcos me mostrou certa vez: > > (3) Ex(P(x) -> VyP(y)) > > (4) Vx(P(x) -> VyP(y)) > > (3) é teorema clássico, mas (4) não é. > > Só que (3) não é teorema intuicionista. Então (3) não é nada mais que um > modo estranho de afirmar o princípio do terceiro excluído. > > Enfim, voltando para a questão do Samuel, qualquer interpretação clássica > tem o domínio não vazio. Isso significa que não há teorias clássicas cujo > universo do discurso seja vazio. Todas as teorias clássicas são habitadas. > > Isso significa que nenhuma teoria PURA precisa estipular a existência da > categoria de coisas sobre a qual teoriza. Esta existência é dada pela > lógica. > > Então, se ZFC é uma
Re: [Logica-l] Mesa de Filosofia da lógica: Consequência lógica
Bom dia para tod@s, Acho que de fato o "axioma do vazio" (existe o conjunto vazio) não é necessário em ZF, por conta de que a lógica clássica pressupõe domínios não vacios. O que fica evidente na definição de modelo, onde se exige que os domínios dos modelos sejam não vazios, e levando em consideração que ZF é uma teoria pura (como já falaram anteriormente), qualquer domínio de interpretação deve ter pelo menos um conjunto, e pelo axioma de separação A dedução do axioma do vazio pode se obter particularizando sobre o axioma de separação, usando qualquer variável (que representa um conjunto arbitrário) e usando uma fórmula contraditória (por exemplo P(x) := x \neq x). No livro do Mendelson ("Introduction to Mathematica Logic", 5ed, 2010), a sessão 2.16 fala sobre "Quantification Theory Allowing Empty Domains". Acho que essa sessão pode ser de interesse para o que se está discutindo aqui. Abraços, Juan Carlos On Mon, Oct 9, 2023 at 1:47 PM 'Samuel Gomes da Silva' via LOGICA-L < logica-l@dimap.ufrn.br> wrote: > Obrigado Henrique, obrigado Daniel, > > Achei legal isso de "teoria impura" (!!!), vou pensar depois com calma. > > Obrigado mesmo ! > > Pelo visto a observação do aluno tem sim "alguma graça", hehe. > > Abraços > > []s Samuel > > -- > *De: *"Daniel Durante" > *Para: *"Walter Carnielli" > *Cc: *"samuel" , "Lista Lógica" , > "Joao Marcos" > *Enviadas: *Segunda-feira, 9 de outubro de 2023 15:38:01 > *Assunto: *Re: [Logica-l] Mesa de Filosofia da lógica: Consequência lógica > > Fala Samuel, Walter e Henrique, > > O estudante é criativo ,mas está enganado: una das leis da Igualdade diz > que "qualquer coisa é igual a si própria", mas não diz que existe algo. > > > É Walter, mas se esta lei da igualdade está na lógica clássica, então tem > uma prova de duas linhas do argumento > > Vx(x=x) |– Ex(x=x) > > Aliás, na lógica clássica em geral vale: > > (1) |-VxPx => |-ExPx > > Ou seja, na lógica clássica, se uma dada propriedade 'P' vale para > qualquer um, então existe alguém que a instancia. > > Aí, então, eu acho que o estudante está certo em dispensar o axioma, desde > que aceite a lógica clássica. > > Mas o que eu acho mais interessante ainda que isso é pensar no contrário. > Será que tem algum teorema existencial que não é universal na lógica > clássica? Será que vale: > > (2) |-ExPx => |-VxPx > > Na lógica clássica, “infelizmente”, (2) não vale. Existem teoremas > clássicos existenciais cujas contrapartes universais não são teoremas > clássicos. E digo infelizmente porque eu acho isso é MUITO estranho. > > Não deveria ser papel da lógica postular a existência de coisas > específicas. Esse, me parece, é um papel das teorias, não das lógicas. A > teoria de conjuntos (ou qualquer outra teoria), me parece, pode postular a > existência de alguma coisa que seja diferente de todas as outras. (Existe o > conjunto vazio, existem unicórnios,...). Mas se alguma lógica faz isso, me > parece que ela está extrapolando seu papel. A lógica deveria cuidar do que > é comum a todos, do que é universal. > > É como se a lógica clássica fosse meio elitista, preconceituosa, como se > ela discriminasse os indivíduos. > > A lógica intuicionista, por exemplo, não é assim elitista. Nela vale (2). > Todo teorema existencial é também universal. Não existe discriminação > intuicionista entre os indivíduos, só discriminação clássica. > > Então, todos os exemplos de teoremas existenciais ExP(x) tais que a > contraparte universal VxP(x) não é teorema, são aqueles casos estranhos (e > duvidosos ?) de teoremas clássicos que não são teoremas intuicionistas. > > Aqui um exemplo que o João Marcos me mostrou certa vez: > > (3) Ex(P(x) -> VyP(y)) > > (4) Vx(P(x) -> VyP(y)) > > (3) é teorema clássico, mas (4) não é. > > Só que (3) não é teorema intuicionista. Então (3) não é nada mais que um > modo estranho de afirmar o princípio do terceiro excluído. > > Enfim, voltando para a questão do Samuel, qualquer interpretação clássica > tem o domínio não vazio. Isso significa que não há teorias clássicas cujo > universo do discurso seja vazio. Todas as teorias clássicas são habitadas. > > Isso significa que nenhuma teoria PURA precisa estipular a existência da > categoria de coisas sobre a qual teoriza. Esta existência é dada pela > lógica. > > Então, se ZFC é uma teoria de primeira ordem clássica que só fala de > conjuntos, não fala de outras coisas, se nem tem um predicado “É_Conjunto” > porque só pode ter conjunto no domínio, então ela não precisa mesmo de um > axioma para postular a existência de conjuntos. Sua existência é garantida > pela lógica clássica. > > Agora se a teoria for impura, se admitir outras coisas, então pode não > haver conjuntos e ela precisa postular de alguma maneira a existência de > conjuntos. > > Mas veja. Não há nenhum drama aqui. Em qualquer dos casos a existência de > conjuntos é uma postulação nossa. Seja explicitamente em um axioma da > teoria, seja implicitamente