Sábias palavras, Anahuac.
Paulo Oliveira
Em 11 de fevereiro de 2015 12:41, anah...@anahuac.eu escreveu:
Se foram um pouco mais de dois anos desde que a Canonical decidiu enganar
todos seus usuários instalando um programa pernicioso, invasivo e espião,
sem dizer nada a ninguém, em seu sistema operacional batizado de Ubuntu. O
programa em questão monitora suas pesquisas e entrega para a Amazon. Parou
de fazer isso? Não faz a menor diferença.
Eu costumava provocar meus amigos Debianers que Ubuntu é uma palavra
africana que significa Debian bem feito. A resposta era imediata, me
corrigindo: Ubuntu significa não sei instalar Debian. Piadas e
provocações a parte, Ubuntu significa Sou o que sou pelo que nós somos. O
sentido poético é inspirador, afinal de contas, Ubuntu, eu e você
deveríamos ser uma simbiose. Um conjunto. Um círculo, sem inicio nem fim,
onde todos somos o que somos, pelo que todos somos.
Mas o que somos? Antes de existir a Canonical ou Ubuntu, já éramos uma
comunidade de Software Livre, do Movimento Software Libre.
Compartilhamento, amizade, camaradagem, liberdade, honestidade, era isso o
que éramos. No Brasil fomos um dos grupos mais bem estruturados e unidos.
Os laços tem haver com a cultura, a fé, a pobreza financeira, a riqueza de
espírito, a humanidade e especialmente o desejo que querer o melhor para
nossos semelhantes. Essa é a essência do Movimento social e político do
Software Livre.
Ao longo do tempo aconteceu uma relação inversamente proporcional: quanto
mais o Ubuntu evoluía como sistema operacional, menor era o compromisso da
comunidade com os princípios do Software Livre. Ubuntu ficou mais fácil de
instalar graças a seus drivers proprietários: a comunidade aceitou. A FSF
denunciou o comportamento antiético e amoral da Canonical e a comunidade
decidiu demonizar o Stallman. O kernel do Ubuntu é o que mais tem códigos
não livres e a comunidade parece gostar cada vez mais.
Em 2012, depois das denúncias da FSF eu deixei de usar Ubuntu. Convidei e
continuo convidando muitos a fazerem o mesmo, afinal o conjunto Software
Privativo + Spyware + Comportamento de Microsoft, não coaduna com os
princípios do Software Livre. Até escrevi um outro artigo dando os
detalhes, chamado A Microsoftização da Canonical. Tenho alertado, pedido,
conversado, escrito e palestrado. Mas parece que quanto mais eu falo, menos
efeito tem. Até mesmo mega eventos de Software Livre, como o FISL e o
Latinoware insistem em fazer amplo uso e propaganda da distribuição. É como
se não usar Ubuntu fosse feio, impossível ou improvável. Percebo esse mesmo
sentimento nos usuários dos produtos da Apple: sabem que não é correto, mas
insistem em usar.
É claro que se pode esperar comportamento antiético e amoral das empresas.
Elas foram criadas para isso. Em uma economia capitalista não devemos ser
ingênuos, certo? Então porque a comunidade Ubuntu não reage? Como é
possível que a maior comunidade defensora de Software Livre do Brasil não
defenda mais o Software Livre? Porque os milhares de ativistas que se
esforçaram tanto para mostrar a seus amigos e parentes que usar GNU era
melhor se calam, aceitam e divulgam algo que é contra seus princípios. O
que mudou?
Liberdade de código. Aquela que garante e perpetua a liberdade através da
GPL. Aquela que transforma a relação entre os fabricantes e os
consumidores, empoderando os usuários, finalmente. Liberdade de código que
tornou restrições de área em DVD's obsoleta, que fez engenharia reversa em
diversas placas Wifi. Liberdade que leva ao compartilhamento, que leva à
excelência, que transforma software em serviço e não em produto. Liberdade
que abalou as colunas dos grandes monopólios.
A Comunidade Ubuntu mudou? Claro que sim! Muito mais adeptos, muito mais
usuários, muito mais computadores instalados. Então o saldo é positivo,
pois mais pessoas entendem que a liberdade do software lhes garante
qualidade computacional, lhes dão mais poder nas relações comerciais e
assim promovemos uma sociedade mais justa, certo? Infelizmente o resultado
não foi bem esse. É fato que o número de usuários cresceu geometricamente,
mas a grande maioria não faz ideia do que usa, nem dos benefícios do
Software Livre. E todos os usuários de Ubuntu, sem exceção, estão usando
Software Privativo.
Pode-se argumentar que os usuários comuns não devem saber dos detalhes.
Eles não entenderiam. Eles querem que a coisa funcione e nada mais. Pode
ser, mas o risco de não educar as massas, é que quando o perigo se
apresentar, elas não saberão distinguir entre o que é realmente certo,
parcialmente certo, parcialmente errado ou realmente errado. Elas
continuarão a querer apenas que a coisa funcione. Esse é o Calcanhar de
Aquiles da massificação de usuários.
Será que a Comunidade Ubuntu tem isso bem claro? Vocês estão distribuindo
código fechado! Em vez de ajudar a libertar as pessoas, estão ajudando a
aprisioná-las. Será que está claro