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sobre os 80 anos de Leonel Brizola
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Itamar
Franco
- Celina Vargas do Amaral Peixoto - Ciro
Gomes - Antônio Carlos Magalhães
- Mino Carta -João Pedro Stédile, Oscar Niemeyer,
Nilo Batista, César Maia, Miro
Teixeira, José Augusto Ribeiro, Vivaldo Barbosa,
Alceu
Collares, Vieira da Cunha, Carlos
Lupi, Nelton Friedrich - Osvaldo
Maneschy
Itamar
Franco
REFLEXÃO
SOBRE O ANIVERSÁRIO DE 80 ANOS DO DR. LEONEL DE MOURA BRIZOLA.
SÃO
OITENTA ANOS DE VIDA PÚBLICA E DE EMBATES DEDICADOS AO OBJETIVO MAIOR DE
ALCANÇAR O PROGRESSO E O BEM ESTAR DO POVO BRASILEIRO.
ESTAMOS
DIANTE DE PROEMINENTE FIGURA DA HISTÓRIA PÁTRIA CONTEMPORÂNEA QUE ABRAÇOU
COMO RAZÃO DE EXISTIR A DEFESA DO PATRIMÔNIO MORAL E ÉTICO DA
NACIONALIDADE.
HOMEM
PÚBLICO DE INCONTESTÁVEL LINHA DE COERÊNCIA E TENACIDADE, SEMPRE
COMPROMETIDAS COM A INTRANSIGENTE PROMOÇÃO DO INTERESSE PÚBLICO E DOS
VALORES PÁTRIOS, MARCOU A SUA EXISTÊNCIA PELA LEALDADE AOS COMPANHEIROS,
SEM NUNCA VACILAR NA DEFESA DA CAUSA NACIONAL.
AS
GERAÇÕES QUE NOS SUCEDEREM TERÃO EM LEONEL BRIZOLA UM EXEMPLO DE
HONRADEZ, CIVISMO E LISURA E, ACIMA DE TUDO, UMA REFERÊNCIA DE POSTURA NA
DEFESA DA CAUSA NACIONAL.
A
EXPERIÊNCIA ACUMULADA AO LONGO DE OITO DÉCADAS DE EXISTÊNCIA, ALIADA À
SEMPRE PRESENTE DISPOSIÇÃO DE LUTA, NOS PERMITE AFIRMAR QUE LEONEL
BRIZOLA AINDA TEM MUITO A
CONTRIBUIR NA EDIFICAÇÃO DA PÁTRIA QUE SONHAMOS.
Celina
Vargas do Amaral Peixoto
A propósito dos 80
anos de Leonel Brizola, Celina Vargas do Amaral Peixoto, neta de Getúlio
Vargas, falou ao Fio da História, em entrevista na qual declarou:
Não tenho dúvida de que Brizola é um grande getulista. Depois de
minha mãe, Alzira, filha apaixonada de Getúlio Vargas, Brizola é o
getulista mais expressivo que conheci.
Sua
vida tem sido marcada por uma linha de coerência muito forte. Passa pelo
trabalhismo, pela construção do antigo PTB e por sua luta pela sobrevivência
de um partido trabalhista identificado com as idéias e a luta de Getúlio
Vargas.
Brizola
compreendeu o empenho de Vargas em favor de um partido que não fosse o
defensor das elites, mas também não fosse o partido comunista. O modelo
getulista passava por uma situação intermediária, um partido
socializante, como dizia o próprio Getúlio.
Por
ter entendido isso de modo muito claro, e por ter feito disso a linha
constante de sua vida, Brizola foi o mais atingido em seu projeto. Foi
atingido em 1964, foi atingido nos anos do exílio e, mesmo depois da
anistia de 1979, foi atingido na disputa pela sigla PTB, entregue a um
grupo cooptado pelo governo de então e que até hoje representa muito
pouco, quase nada, do trabalhismo, até por causa dos padrões éticos
envolvidos.
Brizola
também compreendeu e seguiu Getúlio Vargas do ponto de vista da organização
político-partidária. Tratava-se de construir um partido trabalhista
voltado não apenas para os trabalhadores da indústria, mas também para
os trabalhadores do comércio e do que hoje chamaríamos o setor de serviços
e em especial para os trabalhadores da agricultura, o que ficou
evidente desde o período em que foi governador do Rio Grande do Sul.
Um partido trabalhista como o PTB original poderia chegar ao poder
para realizar seu programa. Por isso o PTB foi o partido que mais cresceu
até ser extinto em 1965 pelo segundo Ato Institucional. No regime de
1964, o PTB foi o partido mais atingido. Também extintos em 1965, a UDN e
o PSD sobreviveram na Arena. Em alguns Estados, como o antigo Estado do
Rio, o MDB conseguiu manter a coligação PSD-PTB.
Outro
ponto que gostaria de destacar é que Brizola é uma pessoa grata. São
raros os políticos assim. Em todos os passos de sua vida, Brizola tem
demonstrado sempre seu sentimento de gratidão. Até seu getulismo tem
esse traço.
Mas
o que mais caracteriza a conduta dos políticos é serem ora defensores
das elites, ora dos pobres, ora de grupos financeiros, estrangeiros e
corporativos. Se existe uma característica marcante em Brizola é a coerência
com que sempre fez a política dos pobres.
Antônio
Carlos Magalhães
Sempre
fui um adversário do governador Leonel Brizola entretanto ninguém pode
lhe negar a coerência nas suas posições e na sua coragem de enfrentar
obstáculos. Acredito que politicamente tenha errado bastante, porém
sempre com a sinceridade que lhe fez desde cedo um líder importante em
seu estado. Depois disso foi para o Rio de Janeiro onde desenvolveu
intensa atividade política, tendo altos e baixos, comuns principalmente
aos que tem uma longa vida pública. Jamais acreditei quando o acusaram de
desonestidade porque o seu feitio de vida demonstra justamente o
contrário. Tivemos diversos entreveros, entretanto de minha parte nunca
ficou qualquer mágoa. Os seus 80 anos, consequentemente, devem ser
comemorados pelos correligionários e ao mesmo tempo respeitado pelos
adversários. Todos os homens públicos polêmicos são melhores do que os
mornos, aos quais Dante sempre guardou um lugar no inferno.
Oscar Niemeyer
Pedem-me falar de Leonel Brizola. Vou fazê-lo
com o maior prazer.
Foi Brizola que construiu o Sambódromo, em tempo recorde que todos
achavam impossível. Foi ele quem realizou mais de quinhentos CIEPs,
oferecendo às crianças desta cidade o sistema de ensino adequado, de
tempo integral, assegundo-lhes o local de estudo que lhes faltava,
alimentação diária, os esportes, etc.
Foi Brizola que construiu a Linha Vermelha que tanta falta fazia ao Rio.
E nos momentos difíceis, quando uma solução mais radical se impunha,
foi ele quem a propôs corajosamente.
Quando hoje falam de eleição presidencial, é da Amazônia que me
lembro, com os aviões norte-americano a voarem sobre as nossas
fronteiras.
E aí é o nome deste grande brasileiro que me aparece, voltado para o
nosso povo, patriota, pronto para o que der e vier.
João
Pedro Stedile
Me alegro em poder
participar dessa coletânea de depoimentos sobre os 80 anos de vida de
Leonel Brizola, e certamente uns 60 anos da vida política de nosso país.
Me alegro como brasileiro
gaúcho, como dirigente de um movimento social e também, porque na
minha infância, no interior de Nova Prata, RS somente pude estudar
porque foi construída uma escola pública, que eram chamadas popularmente
de Brizoletas e que depois soube, fizeram parte de um grande programa de
educação pública do governo Leonel Brizola (1958-62) que criou
oportunidade para que TODAS crianças gaúchas, e sobretudo as mais
pobres, em todo território, pudessem estudar.
Mas mais do que recordações
pessoais, que me marcaram, como aquelas de acompanhar pela rádio
farroupilha, lá nos fundões de Lagoa vermelha, o programa da
Legalidade, verdadeiras aulas de civismo, que toda população acompanhava
com atenção, queria ressaltar o significado da figura publica de Leonel
Brizola para a história de nosso país.
Seguramente, não há
nenhum fato político importante da vida nacional dos últimos sessenta
anos, que não teve a participação do Brizola, e certamente ele foi um
dos raros líderes partidários, nacionais e popular desse período,
ao lado do capitão Luís Carlos Prestes e Luis Inácio da Silva..
E na trajetória de
Brizola queria chamar atenção de algumas qualidades, que podem nos servir
de exemplo, para os que tem responsabilidades políticas na vida pública.
Primeiro a ousadia na defesa de suas idéias. E, em
muitos episódios pagou caro por essa coragem, como foi amargar o exílio.
Segundo, o respeito aos recursos públicos. São raros os políticos
honestos nesse país, e nada consta contra sua postura ética no trato dos
recursos públicos. Terceiro, a coerência. Muitos podem
critica-lo pelo teor de suas idéias, por suas formas de atuar
politicamente. Mas ninguém pode chamá-lo de incoerente. E
como faz falta lideranças com coerência !! Não uma coerência de
semanas..de meses, mas uma coerência de vida inteira, de lealdade a seus
próprios ideais.
Espero sinceramente, que
essas homenagens, mais do que o merecido agrado a esse velho lutador, nos
sirvam de reflexão, sobre os destinos de nosso país, sobre a
responsabilidade que as lideranças políticas e populares devem ter na
vida pública. Num período histórico de tanto entreguismo, de
tanto oportunismo, de falsidade de valores, de corrupção, a trajetória
de Leonel Brizola, deve incomodar muita gente.
Joao pedro Stedile, 48,
gaúcho de Lagoa Vermelha, gremista, membro da direçao nacional do MST
Nilo
Batista
Na
ocasião em que festejamos a plena juventude de Leonel Brizola aos oitenta
anos, uma única dificuldade se apresenta: qual de suas inúmeras lições
devemos enfatizar? Sua obra educacional, que escolarizou toda a população
do Rio Grande do Sul e criou no Rio de Janeiro o projeto pedagógico mais
avançado de seu tempo? Sua coragem cívica, que na Campanha da Legalidade
arrostou todos os perigos – inclusive o da própria morte – para
evitar o assalto ao poder legítimo então em curso? A sensibilidade
social, que torna sua precedência reconhecida pelo MST? Sua fina intuição,
capaz de perceber a fraude dos planos econômicos ainda na contramão da
opinião pública manipulada? Seu nacionalismo em permanente luta contra a
ganância do colonialismo on line, na brasilidade do olhar com que
percebe as sangrias que nos são impostas? A finura de suas análises políticas?
A probidade pessoal? A fantástica capacidade de fazer-se compreender pelo
povo e de mobilizá-lo?
Companheiros mais habilitados que eu podem discorrer sobre essas e
outras lições de Leonel Brizola. Quero deter-me apenas numa, que me toca
de perto. Ninguém compreendeu melhor do que Leonel Brizola as verdadeiras
funções do sistema penal nas sociedades de classe. Muito antes das
formulações acadêmicas, Brizola percebeu que as agências policiais
operavam seletivamente, segundo estereótipos criminais constituídos a
partir da imagem de negros, brancos pobres e favelados. Ainda mais: o
papel dos meios de comunicação, alavancando controle social penal sobre
as “classes perigosas”, instituindo as favelas como locus da
infração e do desregramento, foi por ele pressentido e contestado.
Nenhum governante brasileiro teve, como ele, a percepção de que a
criminalização das ilegalidades populares, das estratégias de sobrevivência
de camelôs, flanelinhas etc. não passava de uma perversidade direcionada
à atemorização e ao controle social.
Fui por Leonel Brizola convocado para o exercício de funções públicas.
Como eu era – e continuo sendo – um professor de direito penal e um
advogado criminal, pensei naquela ocasião que poderia ser útil ao
projeto político do trabalhismo, no setor específico de minhas habilitações
acadêmicas e profissionais. Não podia imaginar que, ao contrário do que
pareceria natural, iria aprender com Leonel Brizola mais do que aprendera
nos livros e na vida forense.
Vivemos dias desditosos. O discurso único da mídia, convertida em
braço armado dos bons negócios da telecomunicações, apresenta nossas
idéias como derrotadas, nas escassas vezes em que as menciona. Que honra
para nós e para nosso líder: sermos os antípodas da vitória do
individualismo, da desnacionalização, do entreguismo, do desemprego e da
desassistência. Obrigado, Brizola, por suas lições; muito
especialmente, no meu caso, pelas maravilhosas aulas de criminologia que
recebi. Seus companheiros não o decepcionarão. Enquanto estivermos
vivos, estaremos na luta, sob sua liderança. Feliz aniversário,
comandante.
(Ex-Governador
do Rio de Janeiro)
Cesar
Maia
Didi disse que craque é aquele que de dentro do campo vê o jogo
como se estivesse na arquibancada. Drucker disse que visão estratégica e
ver o que há de futuro no presente. Theodore Roosevelt disse que
estadista é o que sabe o que significa o dia de hoje na história.
Coragem, ousadia, coerência seriam qualidades facilmente atribuíveis a
Brizola. Prefiro ficar com as assertivas acima. Mestre da política
comparada, ninguém mais que Brizola antecipou e interveio nos fatos políticos
destes últimos 50 anos. Ele fez a releitura de Getulio. Entendeu que
seria melhor com Jânio do que sem ele. Sinalizou a que levariam as
concessões no início dos anos 60. Contra a corrente, precipitou a
participação das lideranças pré-64 nas eleições de 82. Aceitou o
desgaste ao preferir trocar o prolongamento da transição, culminando em
eleições diretas mais cedo, do que a democratização com eleições
indiretas, que culminaram em Collor. Apontou os desdobramentos de planos
econômicos artificiais. Abriu espaços para a unidade das esquerdas,
posteriormente desarrumada em 98 pela ambição dos personagens. Mostrou
para onde iam as vaidades políticas da esquerda em 2002. Acendeu os faróis da atual crise argentina. Mas, sobretudo,
antecipou a questão da educação como vertebral para uma sociedade nova,
hoje conhecida como sociedade do conhecimento. Isto já na segunda metade
dos anos 50, e depois potencializada por suas ações nos anos 80.
Descriminalizou a pobreza a iniciou o processo de integração das
favelas, coroado hoje com o consenso daqueles que resistiam e com
programas e recursos que têm nele a origem e as razões. Destacou, em 83,
a questão da titulação da propriedade dos favelados, transformada em
apoteose na Assembléia da ONU, em junho de 2001.
Craque,
estrategista e estadista Brizola é o mestre daqueles que,
como eu, souberam - e continuam a saber - ouvi-lo. Mais do que
nunca, precisamos ouvi-lo em 2002. Será mais fácil conhecer as pedras do
caminho.
Miro
Teixeira
Brizola
desmente a reputação de caudilho que, no fundo, ele gostaria que fosse
verdadeira. Vencido nos debates internos, segue a maioria para, só então
e quase sempre com bom humor, revelar-se contrariado com um ou outro que
supunha acompanhar seu ponto de vista. Não percebe encanto nas conversas
curtas e diretas. Alonga-se em espirais de abordagem de temas já
cartesianamente organizados em sua cabeça. Mas a espiral envolve e
encanta o interlocutor. Temos atravessado juntos os momentos recentes, os
mais críticos da vida de nosso País. O tempo atual, mais do que nunca,
ditará o futuro do Brasil; uma sofisticada forma de autoritarismo tem
impedido o completo esclarecimento da população sobre a apropriação do
patrimônio público e o esmaecimento da soberania nacional. Poucos são
os que se dispõem ao enfrentamento das forças internacionalmente
organizadas, com parcerias locais, para tornar o povo brasileiro mão de
obra barata, submissa, humilhada. Essa enorme onda vai passar e nossa luta
é para que, depois, não reste apenas a destruição. As idéias a tudo
resistem. São indestrutíveis, como o PDT, como Brizola.
Vivaldo
Barbosa
Há um brasileiro que há
sessenta anos está na vida pública
do País. Há sessenta anos doa-se a servir à causa de seu povo e aos
interesses superiores do País e da Nação.
Agora, Leonel Brizola
está completando oitenta anos de idade.
Primeiro, o ser humano.
Encontra-se fisicamente inteiro, mentalmente na mesma febril
atividade, no intenso trabalho de acompanhar tudo o que acontece no mundo
e no Brasil e de como, a partir dos acontecimentos, extrair o melhor que
pode ser feito pelo Brasil e pelo povo brasileiro.
Aos oitenta anos,
olhando do alto de sessenta anos de doação de si em prol da causa
pública, encontra-se com plena compreensão das coisas que acontecem no
Brasil e no mundo. È o
brasileiro, hoje, com a visão mais nítida, o entendimento mais límpido
sobre o processo de espoliação e de despojo do Brasil e dos países do
terceiro mundo pelos Estados Unidos, pela Europa e pelo Japão.
Em consequência, nossos países estão atolados em dívidas impagáveis
e em trocas comerciais nas quais só perdemos, e tudo que perdemos
acumula-se lá fora em favor desses
países, Em nós, só nos deixa um imenso buraco que esses governos
liberais procuram preencher cortando nos salários, na educação, no
saneamento, na infraestrutura, na produção.
Para inviabilizar um imenso país.
Brizola tem sido o
brasileiro que nos últimos tampos da vida brasileira
em que todos, todos os demais setores do país se desorientaram,
tem proclamado com insistência e contundência que a educação e
a solução da questão da terra e da produção são as prioridades acima
das prioridades, questões acima da economia e da moeda.
Com a simplicidade e a humildade de quem demonstra o óbvio: foi
isto que fizeram a grandeza e o progresso dos Estados Unidos, Europa, Japão,
Coréia e China.
Brizola foi formado em
uma geração em dominava na política brasileira o compreensão de que o
Brasil era uma grande nação e que podia e devia aspirar a um grande
destino para o nosso povo. Forjou-se na têmpera do patriotismo e do
nacionalismo.
Aos oitenta anos, com
sessenta anos de vida pública, Brizola é o político mais atual do
Brasil, a continuar a iluminar nossos caminhos e a alimentar nossos
sonhos.
As
crianças dos Cieps
José
Augusto Ribeiro
São
tantas as lembranças, ao chegarmos aos 80 anos de Leonel Brizola, que é
difícil selecionar as mais significativas e decisivas.
Mas
agora surge uma, que é a mais forte de todas.
Minha
mãe, que hoje estaria chegando aos 90 anos (e mesmo morta protestará
porque revelo sua idade), devia ter restrições, de inspiração
religiosa, a ele. Na campanha de 1994, ela decidiu seu voto no Dia das Mães,
quando viu o programa de TV sobre os Cieps, produzido pela Secretaria de
Projetos Especiais, de Darcy Ribeiro, dirigido por Tatiana Memória e
apresentado por mim.
Para
esse domingo, Dia das Mães, fizemos um programa sobre as cinco mil crianças
que viviam nos Cieps, mas principalmente sobre as mães e os pais sociais,
casais selecionados por concurso e depois de entrevistas rigorosas, para
morar nos Cieps, em apartamentos em geral localizados em cima do anexo
onde funcionava a biblioteca, e cuidar dessas crianças.
O
marido trabalhava como uma espécie de zelador e faz-tudo do Ciep, cuidava
das instalações elétricas, da limpeza, do encanamento, do gás, dos
portões, da segurança - e faria, naquilo que fosse necessário, o papel
de pai substituto das crianças.
A
mulher seria responsável pela casa e pelo cuidado imediato das crianças
- em alguns casos, creio, quinze crianças. Os apartamentos em cima da
biblioteca eram simples e pobres, mas amplos, limpos e ensolarados. Tinham
uma sala de estar e de refeições grande o bastante para comportar tanta
gente, com televisão e talvez toca-discos; um quarto para o casal e dois
quartos para os filhos, um para as meninas, outro para os meninos, quartos
enormes, com camas-beliche. Não descrevo esses apartamentos pelo que
tenha ouvido a respeito deles.
Estive
em vários Cieps, estive nesses apartamentos, nos consultórios médicos e
dentários, nas salas de aula e áreas de recreação, nas bibliotecas e
até diante dos computadores que começavam a ser instalados para os
alunos.
Nos
apartamentos, o que mais me impressionou foram as máquinas de lavar
roupas, máquinas de modelo industrial, sólidas, resistentes e capazes de
durar anos lavando todos os dias a roupa de quinze crianças que sujavam,
cada uma, todos os dias, pelo menos dois uniformes, o das aulas e o da
recreação e dos esportes (além da roupa de dormir).
Como
não tínhamos recursos nem verbas para fazer do programa dos Cieps
(chamava-se “Fala, jovem!”) uma espécie de Globo Repórter
alternativo, o programa do Dia das Mães foi feito em nosso estúdio, com
a presença de algumas daquelas senhoras, as mães sociais, e talvez
algumas das crianças que viviam nos Cieps. As mães sociais eram mulheres
pobres e simples, sem maior capacitação profissional. É claro que eram
treinadas e selecionadas sobretudo por aquilo a que eu chamaria sua
capacitação afetiva - a possibilidade de tratar com amor e carinho crianças
tão carentes e às vezes agressivas, difíceis e refratárias à convivência
e ao afeto.
Uma
das entrevistadas, pelo menos, criava seus filhos biológicos junto com
seus filhos sociais - e os meninos de uma e outra origem tornaram-se
espontaneamente irmãos. Para ela, a mãe, não havia diferença, nem via
diferença no afeto que dava a uns e outros e no que recebia deles.
Outra
candidatara-se ao emprego não só porque no mundo já daqueles dias
qualquer emprego era uma jóia rara, mas porque, casada por bom tempo, não
conseguia ter filhos. Se não podia ter os seus, cuidaria dos filhos dos
outros. Pois não é que nessa doação e nessa transfusão de amor ela
logo engravidou, sem mais terapias de fecundidade, e decidiu que seu filho
biológico cresceria junto com aquele bando de filhos sociais?
Foi
isso o programa - e era isso a vida dessas mulheres e dessas crianças -
amor, doação, transfusão.
Na
véspera da exibição, telefonei para minha mãe, que vivia em Curitiba,
e disse que tinha para ela, na manhã seguinte, um presente de Dia das Mães
- aquele programa. Mal o programa termina e toca o telefone. Era ela, para
dizer:
-
Resolvi agora. Vou votar no Brizola e pedir para ele todos os
votos que puder. Podem dizer o que quiserem, mas isso que vocês mostraram
na televisão é que é importante. O verdadeiro cristão é ele, mesmo
que não saiba disso.
Vieira
da Cunha
Alguns
dizem que a vida começa aos 40. Não foi o caso de Leonel Brizola. Aos
40, ele já tinha sido até Governador. E que Governador! Semeou escolas
Rio Grande afora (6.300 em apenas 4 anos), comandou a Legalidade, fez a
reforma agrária, criou a CEEE, a CRT, a Caixa Econômica Estadual, a Aços
Finos Piratini, o BRDE, etc., etc.
Estava pronto
para presidir o país quando lhe impuseram 15 anos de exílio. O povo
brasileiro conquistou a Anistia em 1979 e Leonel Brizola retornou para
refundar o PTB. Tiram-lhe a sigla e nasce o PDT – Partido Democrático
Trabalhista, pelo qual, numa espetacular vitória, Brizola se elege
Governador do Estado do Rio de Janeiro em 1982, com voto vinculado e tudo.
Perde
a vaga para o segundo turno nas eleições presidenciais de 1989 para Lula
que, inexperiente, é derrotado para Collor. Em 1990, volta a se eleger
Governador do Rio, em 1º turno, prova que o seu governo foi aprovado e
reconhecido pela população, apesar da implacável perseguição da
toda-poderosa Rede Globo. Em 1994, não colhe bom resultado nas eleições
presidenciais o que o leva a pregar, em 1998, a unidade popular em torno
da candidatura Lula para tentar impedir a reeleição de FHC. Brizola foi
candidato a vice-presidente. Não adiantou. FHC foi reeleito em primeiro
turno. Enquanto isso, o PDT voltava ao Governo do Estado do Rio de
Janeiro. Mas não por muito tempo. Brizola obriga-se a uma candidatura a
Prefeito do Rio de Janeiro em 2000 para defender o partido do processo
predatório a que foi submetido pelo carreirismo do Governador-trânsfuga.
E
2002? Bem, se a vida começou para Leonel Brizola bem antes dos 40, é
certo que terminará bem depois dos 80. Saúde não lhe falta, muito menos
projetos, idéias, liderança e vontade de transformar o nosso país numa
Nação generosa que garanta vida digna ao seu povo. Força, Governador
Brizola! O Trabalhismo precisa do seu líder firme e forte para liderar o
processo social de mudanças rumo ao Brasil solidário e socialista que
haveremos de construir.
Alceu
Collares
Uma
bela e digna caminhada na estrada da vida. Pela força de vontade, chegou
a engenheiro. Veio dos confins da pobreza. Lutou com tenacidade para
superar as dificuldades naturais para quem busca a ascensão social.
Deputado estadual, deputado federal, governador três vezes pelos dois
Estados mais politizados do País: Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Único
político obrigado a viver as amarguras provocadas pelo confinamento político.
Sofreu grandes decepções, principalmente por conta de traições,
oriundas de onde jamais esperava. Candidato à Presidência da República
em duas oportunidades.
Concorreu à vice-Presidência da República na aliança com o PT. No ano
de 2000, disputou a prefeitura para salvar o PDT das garras de grupos
oportunistas que desejavam tomar conta do partido. Brizola, na volta do exílio,
retomou o extraordinário patrimônio
trabalhista, tirando das cinzas da ditadura, o PTB. Roubaram-lhe a sigla.
Não desanimou e acabou criando o PDT. Ao longo dessa magnífica jornada,
realizou obras destinadas a profundas transformações políticas, econômicas
e sociais. Soube interpretar com fidelidade o sofrimento e o anseio das
camadas pobres. Fez a revolução na Educação gaúcha, construindo 6.302
escolas de madeira, espalhadas por todo o Rio Grande do Sul. Sem energia e
sem comunicação, o Rio Grande estava literalmente estagnado. Numa
atitude de coragem, encampou empresas estrangeiras, como a ITT e a Bond
Share, criando a CEEE e a CRT; construiu a Estrada da Produção e fundou
a Caixa Econômica Estadual. De forma corajosa, e distante do fantasma das
invasões, implantou a verdadeira Reforma Agrária no Estado, com a doação
de 50% de sua propriedade, a exemplo da fazenda Pangaré, e o Banhado do
Colégio, entre outras.
Em 1961, evitou a implantação da ditadura militar com a mais
empolgante mobilização popular - o Movimento da Legalidade. A nação se
emocionou com a coragem e a determinação do grande líder Leonel
Brizola.
Governador do Rio de Janeiro por duas vezes, dotado de forte inspiração,
o estadista da Educação criou a Escola de Tempo Integral, o CIEP, um
monumento à educação e à emancipação das classes excluídas. além
de construir a Linha Vermelha.
Com Jango, liderou as reformas de base: agrária, política,
econômica, educacional, cultural, científica e tecnológica. Na prática,
as medidas garantiram a modernização do Estado a serviço das aspirações
do povo. Esteve sempre à frente de todos os movimentos populares de sua
época.
Uma vida de coerência, de coragem e de monumentais vitórias.
Transformou-se num dos mais respeitados líderes da América Latina.
Brizola é a síntese do trabalhismo de Vargas, de Jango e de Pasqualini.
Hoje, vivendo a tragédia imposta pelo falido modelo neoliberal, que
concentra a renda, a riqueza e a propriedade nas mãos de poucos e
determina a exclusão das maiorias, o trabalhismo de Brizola representa a
única alternativa viável para a construção de uma sociedade mais
humana, mais justa e de um mundo melhor.
Carlos
Lupi
Leonel
Brizola é um símbolo da pátria brasileira, que ainda não desistiu de
lutar por sua verdadeira independência.
As varias lutas
que Brizola travou durante seus 55 anos de vida pública, sempre foram
diretas, limpas sem jogadas ou conchavos. De origem humilde a faculdade da
vida o transformou em doutor, e a engenharia a profissão que ele abraçou.
Deputado Estadual, Secretário
de Obras Públicas, Deputado Federal, Prefeito de Porto Alegre, Governador
do Rio Grande do Sul, Deputado Federal pelo Rio de Janeiro. Pagou com 15
anos de exílio a sua luta em favor da democracia dos fracos e oprimidos.
Volta com a anistia, eleito governador pelo PDT do Rio de Janeiro 02
vezes, as lutas da vida de Brizola tem a marca permanente do voto popular.
A
sua biografia, goste ou não de suas idéias, já esta na história do
nosso país. Ao completar seus 80 anos o que esperar ainda deste homem,
todas as surpresas e inquietude que o coração de um sonhador pode
oferecer. Mais amor à pátria brasileira! impossível, mais coerência do
que apresentou nos seus 55 anos de vida públicas! Impossível, mais luta!
Impossível, o que esperar de Brizola ainda! Aquilo que nos trabalhistas
brasileiros, sonhadores, continuamos a esperar de Leonel Brizola, e que
aos 80 anos, nos ajude a construir a nação que apesar de descoberta há
500 anos, não conseguimos ainda conclui-la. Nos ajude a fazer desse país
um verdadeiro pai de seus filhos. Que possamos amar a cada irmão
brasileiro independente de sexo, raça, ou condição social, com o mesmo
amor do menino de Carazinho, que a vida o fez doutor, que continua, aos 80
querendo construir o Brasil do trabalhador.
Ciro
Gomes
Aos
32 anos de idade ,eleito governador do Ceará, deu-se para mim a
oportunidade histórica de finalmente conhecer em pessoa e conviver mais
de perto com a instigante personalidade de Leonel de Moura Brizola.
Pertencente a uma geração esmagada pelo autoritarismo e empurrada para a
alienação política como forma de proteção contra a violência de
estado eis me, eleito em aliança com o PDT ,próximo de uma das mais
exuberantes e ativas personalidades da geração radiosa que a democracia
de 46 nos ofereceu e contra quem diretamente fez-se a ditadura de 64.
Presença
política quente em tudo de importante que aconteceu no Brasil - desde os
traumas que abalaram nossa vida republicana a partir da renúncia de Jânio
Quadros quando liderou a resistência em favor da legalidade e das
instituições democráticas - dele não se faz ainda o devido registro do
administrador visionário que está na base da moderna agricultura e da
industrialização do Rio Grande do Sul bem como de uma impressionante
obra de infraestrutura e massificação do acesso à educação naquele
estado, germes de um talento que vêem se reproduzir no Rio de Janeiro,
seja na bacia leiteira carioca, seja em obras e realizações como a Linha
Vermelha, o sambódromo ou os CIEPS .
Sempre
muito combatido pelo incômodo que causa às elites do pacto de privilégios
e exploração que vige em nosso País, reaje sempre com despudor e
valentia, razão porque, apenas aos que dele se aproximam mais é dada a
oportunidade de conviver e realçar sua personalidade humana, paternal ,
bem humorada e amorosa movida
aqui também a um carisma impressionante!
É
assim quando recorda sua Neusa, é assim quando refere os amigos que se
foram, é com piadas e adjetivos certeiros com que, rindo, destrói as
figurinhas menores com que foi convivendo e se frustrando. Mas é assim
especialmente que, com paciência e entusiasmo,
entrega-se ao proselitismo e à militância não se importando de por
horas a fio recuperar a história e dela professar lições preciosas aos
mais jovens.
O
Brasil precisa mais que nunca recuperar a política e fazer dela o
instrumento de luta do nosso povo; seja para restaurar nossa soberania
nacional conspurcada, seja para encerrar esta quadra de desmantelo social
e econômico, seja para afirmar nossa identidade cultural atacada.
Felizmente a luta difícil pode contar, como sempre contou, com referências
altas como o Governador Leonel Brizola de quem pode-se até discordar mas
é impossível deixar de respeitar e admirar!
Nelton
Friedrich
Polêmico,
corajoso, determinado. De família humilde, infância muito pobre, nunca
traiu suas origens e sempre perfilou em defesa dos excluídos, dos
trabalhadores, do Brasil.
Ganhou
e perdeu eleições. Mas os mandatos e as funções que exerceu e exerce
expressam austeridade e dignidade e nada existe que possa desaboná-lo.
Prefeito,
Deputado Estadual e Federal, três vezes governado, é o único brasileiro
a governar pelo voto direto dois estados. Como jovem governador dos gaúchos
e depois duas vezes dos fluminenses, promoveu gestões inovadoras,
desenvolvimentistas, de marcantes realizações até hoje lembradas e não
superadas. Fez escolas como ninguém. Compreende, como poucos homens públicos,
em toda a sua profundidade a crucial importância da questão educacional,
transformando-se, pelo que fez (6.600 escolas no RS e as escolas de tempo
integral –CIEPs- no RJ), no
primeiro estadista brasileiro da educação, como disse Darcy Ribeiro.
Movido pelo senso cívico, com destemor, protagonizou um dos maiores
movimentos populares que tivemos – a Campanha da Legalidade – em
defesa da democracia, da Constituição e da posse do vice João Goulart,
quando da renúncia de Jânio Quadros. Veemente na defesa de reformas
estruturais, as reformas de base, não acredita em mudanças “de
fachada”, superficiais. Idealista, defende transformações. Quer ver
mudada a realidade brasileira, luta pelo que é necessário e não aceita
a política conservadora-conciliadora de “fazer o que é possível”.
Inimigo n° 1 da ditadura militar, tornou-se o brasileiro que mais tempo
amargou o exílio. Inspirado nas questões nacionais, nos valores
superiores da Pátria, traz vivo o fluxo da história
vargopasqualinijangobrizolista. Ousadia e rebeldia marcam sua trajetória. Pelo interesse maior dos
rio-grandenses ousou desapropriar empresas multinacionais de telefonia e
energia. Por ter desafiado o poder imperialista, seus mesquinhos aliados
internos e os interesses conservadores, nunca mais lhe pouparam Sobre
Brizola definitivamente caiu a força implacável da destruição,
do isolamento, quando não da calúnia, da difamação, da injúria. A fúria
dos poderosos do capital e da grande mídia recai sobre o companheiro
Leonel de Moura Brizola.
Como a omissão e a apatia não
fazem parte da vida do líder maior do PDT, ele nunca se intimidou. Chega aos
80 anos com a mesma coerência e coragem. Permanece com vigor jovem,
testemunho de que não envelhecem os que mantêm viva a esperança e fazem
o bom combate! Sabe com objetividade de que não há democracia que
suporta e nem que aceita as
distâncias sociais, econômicas e culturais existentes no Brasil. A indigência
de existirem 50 milhões de brasileiros que vivem com menos de R$. 80 por
mês, a ausência de uma política de desenvolvimento (no sentido de haver
uma articulação da política industrial, comercial, de ciência e
tecnologia sob a lógica brasileira), os escandalosos lucros dos bancos, a
punição a quem trabalha e produz ou a quem quer trabalhar e produzir, as
insuportáveis dívidas interna e externa, a violência generalizada, são
aspectos de um modelo excludente, desumano, dependente, apátrida, falido.
Em síntese, o Estado que temos está excluindo milhões de brasileiros e
tem um espaço muito pequeno para a cidadania. O que
significa dizer quanto está atual a luta brizolista-pedetista pela
soberania nacional. Porque sem soberania não há cidadania, nem projeto
de país, de povo. Vale dizer: precisamos recuperar o poder de decidir, de
decisão política do que é melhor para o Brasil e para os brasileiros.
Da urgência de construir um PROJETO BRASIL, projeto de povo, popular e
nacional.
Nossa homenagem a
Leonel de Moura Brizola. À sua estatura política, moral e histórica
Ao líder, ao companheiro, à pessoa humana. Aos seus sonhos, pois
como profetizou José Marti, ”os
sonhos de hoje serão as verdades amanhã”.
Mino Carta
Permito-me reproduzir trecho do meu livro ³O
Castelo de Âmbar²: ³Robustiniano Villaverde calça botas de esporas até
de smoking e summer jacket de alpaca brilhosa, e assim atravessou a vida
pregando o mesmo credo.
Ninguém lhe sabe a idade, creio que passará dos 100 aparentando 50, e a
receita desta resistência ao tempo e à força de gravidade tem de ser o
apego inesgotável às crenças da mocidade. Nasceu na oposição e lá
continua, tal a condição da sua virtude, bem, o contrário daqueles, que
mais cedo ou mais
tarde, se bandeiam para o lado mais forte. E Robustiniano firme, sem
arredar botas e esporas um único escasso milímetro².
Robustiniano, ou seja, Leonel Brizola, tornado personagem de ficção sem
trair o que foi, e é, na realidade. Metafóricas as esporas, real o
summer jacket, envergado com garbo em uma das primeiras fotos que vi dele.
A objetiva o colhia em um baile, dançava com a mulher, e o par que
volteava ao lado era composto por João e Teresa Goulart. Alegres tempos
da juventude gaúcha.
A resistência de Brizola à passagem dos anos está muito bem
representada pelos seus oitenta anos bem vividos e admiravelmente carregados,
indesmentíveis porque denunciados pelo registro de nascimento. No mais, não
há como negar-lhe a fidelidade às idéias e às crenças da mocidade. A
coerência. Mercadoria raríssima. Escassa e preciosa.
Osvaldo
Maneschy
Brizola e as urnas
eletrônicas O engenheiro Leonel Brizola é o único político brasileiro
de expressão nacional que entende – e não cansa de denunciar como
inseguras – as urnas eletrônicas que estão em uso no Brasil. O fato de
as urnas eletrônicas não permitirem recontagem de votos ou qualquer espécie
de auditoria chamou a sua atenção. Ele se aprofundou no assunto, entrou
em contato com engenheiros e técnicos independentes da área de informática
que há anos discutem o assunto na Internet (www.votoseguro.org) e chegou
a mesma conclusão que eles: as urnas eletrônicas são inseguras porque
desmaterializaram o voto dos brasileiros. O fato das urnas não permitirem
a recontagem de votos lembrou a Brizola as eleições de antes da década
de 30, permanentemente fraudadas. Brizola não esqueceu a luta das
oligarquias daquela época contra o voto secreto e que o fim da fraude
eleitoral foi uma das principais bandeiras da Revolução de 30.
Exatamente por não ter esquecido as lições do passado é que Brizola -
um homem de 80 anos que seus inimigos acusam de ultrapassado – tornou-se
o primeiro político brasileiro de expressão a denunciar a insegurança
das urnas eletrônicas e a defender a impressão do voto eletrônico. Este
fato em si – a luta de Brizola contra as urnas eletrônicas e pelo
restabelecimento do respeito à vontade eleitoral dos brasileiros –
mostra a dimensão do político e do homem. Quando constatamos que nas
eleições gerais deste ano de 2002 apenas 23 mil das 404 mil urnas eletrônicas
que serão usadas imprimirão o voto, única forma de garantir a lisura do
pleito - vemos como a luta de Brizola é atual. Um homem que não esquece
as lições do passado vive o presente e tem o dom de enxergar o futuro.
Um dia todos os brasileiros entenderão o que Brizola não cansa de
denunciar hoje: as urnas eletrônicas, sem imprimir o voto, são
totalmente inseguras e inconfiáveis. E pelo fato de não permitirem
qualquer tipo de fiscalização, elas são um retrocesso – verdadeira
volta ao passado. Volta ao tempo dos coronéis e do voto a bico-de-pena.
Osvaldo Maneschy, jornalista.
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