Saiu no Correio Braziliense de hoje
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CRIME ELEITORAL
Favores por votos

Depoimentos e provas obtidas pela PF e por policiais do Entorno reforçam as
denúncias de que houve favorecimentos a eleitores de Joaquim Roriz na
eleição, vencida pelo governador por uma diferença de apenas 1,24% dos votos
válidos

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Ana Beatriz Magno
Da equipe do Correio


A performance eleitoral do governador Joaquim Roriz em três das 19 cidades
do Distrito Federal beirou a unanimidade. No Paranoá, em Samambaia e no
Recanto das Emas, mais de 70% dos leitores votaram azul. Por trás do índice,
porém, existem indícios de irregularidades. Depoimentos e documentos
recolhidos pela Polícia Federal e por policiais do Entorno revelam histórias
de fraudes, agressões e muita confusão nos principais redutos de Roriz e nas
cidades vizinhas.

  Comecemos pelo Recanto das Emas, a 25km do Plano Piloto, que tinha 13 mil
eleitores em 1998 e hoje tem 33 mil - 72,8% dos quais ajudaram a reeleger o
governador. O Recanto cresceu graças à política de distribuição de lotes e à
formação de vários condomínios irregulares. Um deles é o São Francisco, com
ruelas de barro, 500 moradores, muitos casebres e meia dúzia de belas casas.

  Na entrada, uma faixa de pano parabeniza o sucesso político do governador.
Está assinada pelo síndico, o pastor Egmar Tavares, candidato derrotado a
deputado federal pelo PPB e morador mais famoso do lugar. Ali, a Polícia
Federal está investigando um esperto esquema de doação de vales-transporte
para garantir a presença dos eleitores nas urnas no domingo passado.

  No condomínio do Recanto das Emas, aliados de Roriz entregaram passes nas
mãos de eleitores cadastrados previamente. Poucos dias antes do pleito,
bateram de porta em porta, foram em todos os barracos e casas em que havia
uma bandeira, um adesivo, qualquer garantia de que lá morava um fã de Roriz.

  Entravam, anotavam o número do título de eleitor e, para evitar que os
vales-transporte fossem usados em outra ocasião, deixaram para distribuí-los
na véspera. Fizeram isso nos dois turnos. ''Disseram que o passe só valia no
dia da eleição'', conta dona Maria do Socorro Gonçalves. ''Também, se não
dessem o vale eu não ia votar. Não ia pagar a passagem, quase R$ 6''.

Desconfiança
Mineira, 49 anos, dona Maria chegou a desconfiar quando recebeu a primeira
visita. Relutou em dar o título, mas terminou cedendo, convencida de que, em
Brasília, temporada de política é diferente. ''Na minha terra, lá em Minas,
não tem nada disso, a gente vai votar com o próprio pé'', conta a mulher,
eleitora de Roriz.

  Mãe de três filhos, dona Maria não sabia que distribuir passes é crime
eleitoral, previsto no artigo 299 do Código, e morreu de medo quando os
agentes federais foram até sua casa para lhe interrogar. O nome dela é um
dos 50 encontrados na lista com os respectivos números de títulos eleitorais
apreendida pelos agentes federais no condomínio São Francisco.

  Também recolheram passes e prenderam três envolvidos. ''Eu distribuí mesmo
'', admitiu Edilene Gonçalves da Silva, 22 anos. Ela terminou presa junto
com dois colegas envolvidos na falcatrua.

  Para o delegado federal Wenderson Abraz Gomes, Edilene e seus parceiros
disseram ter sido contratados pelo coordenador geral do comitê do deputado
distrital José Edmar (PMDB), em troca de promessa de emprego no governo
Roriz.

  ''Só me deram o passe de ida'', conta Antônio Quirino de Almeida, 50 anos,
inquilino por R$ 130 mensais de um casinha de dois quartos cercada por arame
farpado e bandeirolas azuis. A mulher dele, dona Sebastiana, também recebeu
o vale-transporte.


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Dois discursos

  O morador mais famoso do condomínio São Francisco, onde ocorreu
distribuição de vales-transportes para eleitores de Joaquim Roriz, é o
pastor Egmar (PPB), da Assembléia de Deus. ''Não tenho nada com isso'',
dizia o religioso, pouco antes de arrancar faixa que mandou colocar na
guarita parabenizando o governador. ''Não adianta que não peço votos para o
PT'', disse o homem que, durante a campanha, tinha discurso diferente.
Aliado do vice-governador Benedito Domingos, defendeu o apoio do candidato
derrotado a Geraldo Magela (PT). Confirmada a vitória de Roriz, o pastor
esteve na casa do governador, no Park Way, para parabenizá-lo. (Paola Lima)


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Intimidação em Samambaia

  Samambaia é filha de Roriz. Nasceu em seu primeiro governo, no final da
década de 80, quando milhares de nordestinos e goianos desembarcaram ali
animados com o programa de distribuição de lotes. Amontoaram barracos a 25km
do Plano Piloto. Começava, então, a sagaz estratégia do governador de criar
seu próprio eleitorado. Deu certo. O assentamento virou cidade de ruas
estreitas, nenhum cinema, muitas igrejas evangélicas e cerca de 40 mil
eleitores, 73,3% dos quais ajudaram a manter Roriz no poder.

  Apesar da vitória folgada, a eleição em Samambaia foi nervosa desde o
primeiro turno. Em 16 de outubro, 10 dias depois de anunciado o resultado, a
Justiça Eleitoral descobriu mais de 12 mil votos não contabilizados, a maior
parte deles em Samambaia. A recontagem não alterou o placar final, mas
modificou o ranking de alguns deputados distritais.


  Os petistas acham que perderam eleitores para o medo. Estão convencidos de
que policiais civis rorizistas amedrontaram os poucos eleitores do PT nos
redutos de Roriz. Usaram e abusaram da autoridade, colocaram armas e algemas
na cintura, broches do governador no colete. Assim, perambulavam pelas zonas
eleitorais.


  ''A Polícia Civil tocou um inferno nas sessões eleitorais e amedrontou os
eleitores'', emenda Claudismar Zupiroli, advogado do PT e colecionador de
denúncias contra agentes e delegados nas vésperas e durante o pleito. Em
Samambaia, onde o candidato petista Geraldo Magela teve apenas 26% da
preferência do eleitorado, policiais usaram carros com chapas frias para
atormentar eleitores do PT.

Ameaças
Na quadra 312 da cidade, dois Santanas, placas JDR 9901 e MXY 7546, passaram
o sábado e o domingo rondando as poucas casas com adesivos do PT. ''Eles
ameaçavam entrar, em algumas entraram e levaram o material de campanha''.
Temerosos com possíveis represálias, os moradores confirmaram o caso para o
Correio Braziliense, mas pediram para não se identificar.

  O ex-governador e senador eleito Cristovam Buarque resume o clima em
Brasília no dia em que as autoridades que deveriam proteger a democracia
foram acusados de ameaçá-la: 'Os policias civis se transformaram num bando
de bandoleiros azuis''.

  A intromissão da polícia na política não aconteceu apenas em Samambaia. No
Gama, onde a votação do PT ficou aquém do esperado pelos analistas, um
agente civil terminou na cadeia. Gilberto Maciel de Araújo caminhava por uma
das principais zonas eleitorais da cidade, o Centro de Ensino Fundamental
12, com uma camisa de Roriz, algemas penduradas no bolso e uma pistola
automática na cintura.

  ''Fiquei com medo. Voto pra Roriz, mas achei errado essa coisa da polícia
ficar fazendo pose de valente para quem tá com camisa vermelha'', diz Maria
José Guimarães, 45 anos.




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