QUERO VER MEU VOTO NO PAPEL E PONTO.
marcos

Em Roma, como os romanos

Brasília, terça-feira, 01 de julho de 2003
Correio Braziliense - Micro & Cia.

Os defensores e as empresas que trabalham com software livre não podem ficar somente 
debatendo e esperando. É preciso aprender a se antecipar e chamar a atenção, como sabe 
fazer muito bem a Microsoft

Por Fabricio Rocha
[EMAIL PROTECTED]

Parece até algo antagônico que, em pleno governo petista, a comunidade defensora do 
software livre esteja, digamos, tão apreensiva. Olhos se arregalaram quando foi 
anunciado na semana retrasada o acordo da Microsoft com o Ministério da Educação para 
doar Windows e Office para escolas públicas primárias. Forma esperta de trazer à 
informática o ditado ‘‘é de menino que se torce o pepino’’, seja lá qual for o sentido 
da frase. Com isso, a Microsoft garante a criação de mais uma geração de usuários de 
seus programas e ainda faz uma média com o governo e a sociedade. ‘‘É o poder do 
dinheiro! A Microsoft comprou o PT!’’, vozes bradaram.

O que uma segunda olhada na história mostra é que o raciocínio é vazio e ingênuo, 
especialmente por não estar carregado de ‘‘mea culpa’’, como deveria. Basta lembrar 
que Bill Gates tem de bobo só a cara, bem como seus diretores e executivos. A 
Microsoft, líder das empresas de software proprietário, ocupa essa posição porque não 
dá ponto sem nó, não vacila, não lambuza o torresmo e não dá mole pra mané. Seja para 
fazer barulho com alguma novidade tecnológica (mesmo que não seja de fato novidade) 
quanto para passar uma rasteira espetacular na concorrência, ela sai na frente de todo 
mundo. O governo não tem nem motivo para recusar ajuda. Claro que é preciso verificar 
bem que conseqüências isso trará para as crianças, mas a princípio toda ajuda é 
bem-vinda.

Os concorrentes reclamam, mas bem que têm sua culpa. Por que a Sun Microsystems, 
autodeclarada como a maior rival da Microsoft, demora tanto para traduzir e entregar 
ao governo o StarOffice, que prometeu doar para instalação gratuita em todas as 
escolas públicas do país? Não é tão complicado em fazer uma tradução — até porque já 
havia versões anteriores do StarOffice em português — e verba a Sun tem bastante. 
Comeu mosca. E a turma do software livre, então? Já tem Linux brasileiro há tempos, o 
OpenOffice.org também, os dois funcionam bem e por natureza são gratuitos. Ainda 
contam com simpatia em geral da imprensa especializada, da população crítica e de 
setores do próprio governo. O que está havendo de errado? Por que a preocupação?

Em uma palavra, o que está faltando ao software livre no Brasil é ‘‘barulho’’. Em 
termos claros: até hoje ensimesmados num universo de scripts, alguns softwares 
ridiculamente difíceis de usar, linguagem e pensamento essencialmente técnicos e falta 
de visão de usuário, o movimento do software livre mundial ignora a importância de se 
mostrar ao público como algo existente e de fazer esforços para cada vez mais 
facilitar a vida de quem quer dar uma banana para o software proprietário. Preocupa-se 
com debates filosóficos, atualizações de programas para servidores de rede, cochichos 
de bastidores e eventos pequenos. Deveria se preocupar com ações no mundo real, com 
aplicativos mais fáceis de usar e versáteis, com publicidade e grandes eventos — e 
aprender a, estando em Brasília, ou melhor, em Roma, agir como os romanos. E não é uma 
questão simplesmente de dinheiro, porque há cada vez mais grandes empresas envolvidas 
com o software livre, como a Computer Associates, a IBM, a própri
a Sun e, guardadas as devidas proporções, a Conectiva também tem lá seus recursos.

Mais importante ao movimento é se organizar e sair de casa tocando bumbo. Publicidade 
não é algo tão caro assim para empresas do quilate das mencionadas. Mas alguém já viu 
um anúncio de Linux na televisão? Um merchandising sobre software livre na novela das 
oito? Pois é possível que os interessados nem tenham pensado nisso. E se ninguém 
lembra, foi na microinformática, no desktop do usuário doméstico, que a Microsoft se 
fez, e as pessoas começaram a pensar ‘‘legal isso aqui na minha casa, será que eu 
posso usar também na empresa?’’. É importante, portanto, mostrar-se para o usuário 
doméstico, aquele que vai comprar o primeiro computador em 36 vezes, para que ele 
chegue à loja e pergunte ‘‘e se eu quiser com aquele Linux, moço, fica mais barato?’’.

Comunicação interna também é importante. Pois imagine só que, na semana passada, mais 
uma vez aconteceu um evento da Conectiva em Brasília e seus parceiros locais não 
participaram porque não sabiam a programação. E enquanto a Câmara-e.Net, atual 
advogada não-declarada do software proprietário, promove eventos e entrevistas com 
seus diretores e manda e-mails e informativos para a imprensa e quem mais quiser, a 
Associação Brasileira de Software Livre (Abrasol) quase não saiu do papel, apesar de 
seus 45 associados, e conta apenas com um diretor — Sandro Henrique Nunes, 
ex-Conectiva — e uma secretária. Aí fica difícil. Para enfrentar dragões do porte de 
uma Microsoft, é melhor se inspirar em George W. Bush do que na história de Davi e 
Golias.

Fonte: http://www2.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20030701/col_mic_010703.htm
-- 
____________________________________________
http://www.operamail.com
Get OperaMail Premium today - USD 29.99/year


Powered by Outblaze
______________________________________________________________
O texto acima e' de inteira e exclusiva responsabilidade de seu
autor, conforme identificado no campo "remetente", e nao
representa necessariamente o ponto de vista do Forum do Voto-E

O Forum do Voto-E visa debater a confibilidade dos sistemas
eleitorais informatizados, em especial o brasileiro, e dos
sistemas de assinatura digital e infraestrutura de chaves publicas.
__________________________________________________
Pagina, Jornal e Forum do Voto Eletronico
        http://www.votoseguro.org
__________________________________________________

Responder a