Pôxa, quando eu falo em algo como "autoridades relevantes" eu
suponho que esteja implícito que eu estou falando das que são
relevantes pra mim, e que certamente o meu interlocutor vai ter uma
noção diferente, e vai pensar nas que são relevantes pra ele...

  [[]],
    Eduardo



2013/5/1 Manuel Doria <manueldo...@gmail.com>

> Professor Décio, não acredito que possa ser formulada uma *definição* que
> não seja question-begging e circular de 'autoridade relevante'
>
> Como uma tentativa grosseira, eu pensaria em algo como:
>
> x é uma autoridade em uma atividade A = df x é excelente na atividade A & x
> é reconhecido por um threshold n de autoridades de A pessoalmente
> desinteressadas em x como uma autoridade em A
>
> Essa definição é recursiva e visa capturar a intuição de que experts se
> reconhecem caso não tenham interesses pessoais conflituosos, inveja, etc.
>
> Mas enfim, 3 décadas de psicologia cognitiva mostram que nós largamente não
> pensamos através de definições. Podemos descrever um exemplar saliente,
> protótipo ou estereótipo de 'autoridade relevante'. Essas estruturas são
> tradicionalmente representadas como uma soma vetorial em um espaço
> multidimensional. Os que mais se distanciarem espacialmente da 'autoridade
> relevante' exemplar ou prototípica vão ser considerados como autoridades
> *bona
> fide* menos relevantes.
>
> A idéia de expertise está ligada à excelência em uma prática. 'Práticas'
> nesse sentido, me apropriando de Alasdair MacIntyre, são atividades
> socialmente distribuídas e orientadas a objetivos (chutar aleatoriamente
> uma bola na parede para MacIntyre não seria uma 'prática', em comparação a
> jogar futebol). Daí surgem espontaneamente testes de litmo, standards de
> avaliação coletivos que determinam a performance numa prática. Mesmo para
> atividades congeladas no tempo, (como o jogo de xadrez há mais de um
> século) seus standards de avaliação podem continuar mudando dado o caráter
> cumulativo do conhecimento - experts de hoje aprendem com os de ontem - e a
> presença de outras práticas que interferem na excelência desta - como novas
> técnicas de preparação física para atletas mesmo em esportes cujas
> comissões reguladores mantém suas regras incólumes há décadas.
>
> Enfim, esse é um assunto muito complexo.
>
> Um forte abraço.
>
>
> 2013/4/30 Décio Krause <deciokra...@gmail.com>
>
> > Manuel
> > Como se distingue entre "autoridades relevantes" e "não-relevantes"?
> > D
> >
> > *
> > *
> > *
> > *
> > *------------------------------------------------------*
> > *Décio Krause*
> > *Departamento de Filosofia*
> > *Universidade Federal de Santa Catarina*
> > *88040-900 Florianópolis - SC - Brasil*
> > *http://www.cfh.ufsc.br/~dkrause*
> > *------------------------------------------------------*
> >
> > Em 30/04/2013, às 15:14, Manuel Doria <manueldo...@gmail.com> escreveu:
> >
> > O problema do *argumentum ad verecundiam* é o apelo para autoridades *
> > inadequadas*. Essa é a instância falaciosa. Não há, em geral, problema em
> >
> > apelar para autoridades relevantes. Serve como proxy para uma
> justificação
> > do argumento. O argumento pode ser sound não em virtude da autoridade ter
> > determinado diploma ou título mas por ter as competências necessárias
> para
> > ter realizado com veracidade determinado proferimento.   Isso é o que
> > permite a racionalidade na atitude de se confiar na opinião de
> > especialistas.
> >
> > Não creio que a crítica que foi feita é de que não pode-se ser filósofo
> da
> > ciência sem ser cientista de formação, mas sim que filósofos da ciência
> > precisam estudar ciência. Muita filosofia da ciência é feita de forma
> > apriorística, como se fosse autônoma do conteúdo empírico das teorias
> > científicas, o que é um absurdo.
> >
> > Thomas Kuhn, James Ladyman e vários outros célebres filósofos da ciência
> > têm/tiveram uma formação científica. Outros adquiram o expertise
> necessário
> > de forma diletante, como dois dos mais renomados filósofos da biologia
> > contemporâneos, Alex Rosenberg e John Wilkins.
> >
> > Ter uma formação científica também de forma alguma é garantia para
> manejar
> > de forma intelectualmente responsável as questões metafísicas e
> > epistemológicas fundamentais de sua própria disciplina. Como exemplo, uma
> > série de disparates que o físico Lawrence Krauss falou a respeito da
> > filosofia em geral no último ano; outro filósofo-cientista que gosto
> muito,
> > Massimo Pigliucci, possui um resumo da novela:
> >
> >
> http://rationallyspeaking.blogspot.com.br/2012/04/lawrence-krauss-another-physicist-with.html
> >
> > Lawrence Krauss depois publicou um mea culpa depois de puxões de orelha
> por
> > parte de amigos seus e filósofos:
> >
> http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=the-consolation-of-philos
> >
> > Muito do ensinado no Halliday não é ensinado no EM. Em Física I, por
> > exemplo, problemas de mecânica com massa variável exigem Cálculo. Mas eu
> > diria que o grosso e mais interessante de um bacharelado em Física é
> > aprender a manejar o formalismo analítico canônico - algo que é mais raro
> > de ser estudado de forma diletante.
> >
> > Um forte abraço.
> >
> >
> > 2013/4/30 Julio Fontana <juliocesarfont...@yahoo.com.br>
> >
> > Aqui no Brasil o debate sempre acaba "evoluindo" do ad hominem para os
> >
> > argumentos de autoridade.
> >
> > E quer dizer que para ser filósofo da ciência tem que ser físico. A
> >
> > maioria dos físicos não conhecem filosofia e não conhecem história da
> >
> > ciência. Uma graduação em física não quer dizer nada. Em muitas
> faculdades
> >
> > de física o curso é o mesmo que o de engenharia. Talvez o cara saiba
> melhor
> >
> > a parte computacional da física. O que que tem no Halliday que não tenha
> >
> > sido ensinado no EM?
> >
> >
> > Julio Fontana
> >
> > _______________________________________________
> >
> > Logica-l mailing list
> >
> > Logica-l@dimap.ufrn.br
> >
> > http://www.dimap.ufrn.br/cgi-bin/mailman/listinfo/logica-l
> >
> >
> > _______________________________________________
> > Logica-l mailing list
> > Logica-l@dimap.ufrn.br
> > http://www.dimap.ufrn.br/cgi-bin/mailman/listinfo/logica-l
> >
> >
> _______________________________________________
> Logica-l mailing list
> Logica-l@dimap.ufrn.br
> http://www.dimap.ufrn.br/cgi-bin/mailman/listinfo/logica-l
>
_______________________________________________
Logica-l mailing list
Logica-l@dimap.ufrn.br
http://www.dimap.ufrn.br/cgi-bin/mailman/listinfo/logica-l

Responder a