Professor Décio, não acredito que possa ser formulada uma *definição* que
não seja question-begging e circular de 'autoridade relevante'

Como uma tentativa grosseira, eu pensaria em algo como:

x é uma autoridade em uma atividade A = df x é excelente na atividade A & x
é reconhecido por um threshold n de autoridades de A pessoalmente
desinteressadas em x como uma autoridade em A

Essa definição é recursiva e visa capturar a intuição de que experts se
reconhecem caso não tenham interesses pessoais conflituosos, inveja, etc.

Mas enfim, 3 décadas de psicologia cognitiva mostram que nós largamente não
pensamos através de definições. Podemos descrever um exemplar saliente,
protótipo ou estereótipo de 'autoridade relevante'. Essas estruturas são
tradicionalmente representadas como uma soma vetorial em um espaço
multidimensional. Os que mais se distanciarem espacialmente da 'autoridade
relevante' exemplar ou prototípica vão ser considerados como autoridades *bona
fide* menos relevantes.

A idéia de expertise está ligada à excelência em uma prática. 'Práticas'
nesse sentido, me apropriando de Alasdair MacIntyre, são atividades
socialmente distribuídas e orientadas a objetivos (chutar aleatoriamente
uma bola na parede para MacIntyre não seria uma 'prática', em comparação a
jogar futebol). Daí surgem espontaneamente testes de litmo, standards de
avaliação coletivos que determinam a performance numa prática. Mesmo para
atividades congeladas no tempo, (como o jogo de xadrez há mais de um
século) seus standards de avaliação podem continuar mudando dado o caráter
cumulativo do conhecimento - experts de hoje aprendem com os de ontem - e a
presença de outras práticas que interferem na excelência desta - como novas
técnicas de preparação física para atletas mesmo em esportes cujas
comissões reguladores mantém suas regras incólumes há décadas.

Enfim, esse é um assunto muito complexo.

Um forte abraço.


2013/4/30 Décio Krause <deciokra...@gmail.com>

> Manuel
> Como se distingue entre "autoridades relevantes" e "não-relevantes"?
> D
>
> *
> *
> *
> *
> *------------------------------------------------------*
> *Décio Krause*
> *Departamento de Filosofia*
> *Universidade Federal de Santa Catarina*
> *88040-900 Florianópolis - SC - Brasil*
> *http://www.cfh.ufsc.br/~dkrause*
> *------------------------------------------------------*
>
> Em 30/04/2013, às 15:14, Manuel Doria <manueldo...@gmail.com> escreveu:
>
> O problema do *argumentum ad verecundiam* é o apelo para autoridades *
> inadequadas*. Essa é a instância falaciosa. Não há, em geral, problema em
>
> apelar para autoridades relevantes. Serve como proxy para uma justificação
> do argumento. O argumento pode ser sound não em virtude da autoridade ter
> determinado diploma ou título mas por ter as competências necessárias para
> ter realizado com veracidade determinado proferimento.   Isso é o que
> permite a racionalidade na atitude de se confiar na opinião de
> especialistas.
>
> Não creio que a crítica que foi feita é de que não pode-se ser filósofo da
> ciência sem ser cientista de formação, mas sim que filósofos da ciência
> precisam estudar ciência. Muita filosofia da ciência é feita de forma
> apriorística, como se fosse autônoma do conteúdo empírico das teorias
> científicas, o que é um absurdo.
>
> Thomas Kuhn, James Ladyman e vários outros célebres filósofos da ciência
> têm/tiveram uma formação científica. Outros adquiram o expertise necessário
> de forma diletante, como dois dos mais renomados filósofos da biologia
> contemporâneos, Alex Rosenberg e John Wilkins.
>
> Ter uma formação científica também de forma alguma é garantia para manejar
> de forma intelectualmente responsável as questões metafísicas e
> epistemológicas fundamentais de sua própria disciplina. Como exemplo, uma
> série de disparates que o físico Lawrence Krauss falou a respeito da
> filosofia em geral no último ano; outro filósofo-cientista que gosto muito,
> Massimo Pigliucci, possui um resumo da novela:
>
> http://rationallyspeaking.blogspot.com.br/2012/04/lawrence-krauss-another-physicist-with.html
>
> Lawrence Krauss depois publicou um mea culpa depois de puxões de orelha por
> parte de amigos seus e filósofos:
> http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=the-consolation-of-philos
>
> Muito do ensinado no Halliday não é ensinado no EM. Em Física I, por
> exemplo, problemas de mecânica com massa variável exigem Cálculo. Mas eu
> diria que o grosso e mais interessante de um bacharelado em Física é
> aprender a manejar o formalismo analítico canônico - algo que é mais raro
> de ser estudado de forma diletante.
>
> Um forte abraço.
>
>
> 2013/4/30 Julio Fontana <juliocesarfont...@yahoo.com.br>
>
> Aqui no Brasil o debate sempre acaba "evoluindo" do ad hominem para os
>
> argumentos de autoridade.
>
> E quer dizer que para ser filósofo da ciência tem que ser físico. A
>
> maioria dos físicos não conhecem filosofia e não conhecem história da
>
> ciência. Uma graduação em física não quer dizer nada. Em muitas faculdades
>
> de física o curso é o mesmo que o de engenharia. Talvez o cara saiba melhor
>
> a parte computacional da física. O que que tem no Halliday que não tenha
>
> sido ensinado no EM?
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> Julio Fontana
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