A literatura de viéses (biases) cognitivos é fantástica. Há várias
taxonomias propostas inclusive por não-acadêmicos diletantes que são
altamente engajados em várias comunidades online dedicadas à racionalidade,
pensamento crítico e auto-aprimoramento em geral (o Less Wrong (
http://lesswrong.com/) é o maior desses hubs)

Gosto bastante dessa gigantesca representação gráfica de centenas de viéses
cognitivos:
http://www.ericgarland.co/2016/09/15/master-map-cognitive-bias/

Eu defendo que cursos de critical thinking/lógica informal contemporâneos
se beneficiam sinergisticamente de suplementação com esse tipo de material,
oriundo da psicologia cognitiva e teoria da decisão.

Existe entretanto mais um fenômeno bastante trágico sobre o prognóstico de
estudar viéses cognitivos; você pode se tornar muito eficiente em
identificar os viéses de terceiros ao mesmo tempo que permanecer cego em
relação aos seus ("todo mundo é enviesado, menos eu que estudei sobre
viéses cognitivos")

http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0146167202286008

Estou tentando achar um paper que pelo que me lembro, foi testado
especificamente com estudantes de psicologia cognitiva que conhecem bem o
material de biases.

[ ]'s

2017-07-06 8:25 GMT-03:00 Ricardo Pereira <rha...@gmail.com>:

> Ultimamente venho me convencendo da importância dos viéses cognitivos e
> das paixões (os desejos e ideais com que estamos comprometidos a priori)
> para as discussões, principalmente políticas.
>
> Há um livro voltado para filosofia da educação, de John Wilson, com
> insights interessantes aplicáveis de maneira geral: Fantasy and Common
> Sense in Education.
>
> Uma das coisas que o autor observa frequentemente (não sei se no livro
> acima citado) é que as pessoas são "capturadas" por uma espécie de modo de
> defesa de princípios ANTES de iniciarem o processo racional que normalmente
> conseguem empregar em outros contextos menos carregados emocionalmente.
>
> Talvez tenha a ver com o dizer de Hume sobre a razão ser (e dever ser)
> escrava das paixões. Se não às serve, é descartada.
>
> Há um podcast de que gosto muito e que tem uma abordagem mais psicológica:
> o You Are Not So Smart. Em vários episódios são abordados viéses cognitivos
> cujo conhecimento acho relevante pra qualquer cientista/filósofo.
>
> 2017-07-05 12:24 GMT-03:00 Manuel Doria <manueldo...@gmail.com>:
>
>> Em meu paper forthcoming sobre filosofia acadêmica e o politicamente
>> correto, uma das teses que defendo é que a evidência empírica sugere que
>> filósofos profissionais são capazes de facilmente deixar de lado standards
>> de racionalidade visando objetividade e migrar para standards de
>> racionalidade visando proteção de identidade grupal quando são confrontados
>> com hipóteses que vão de encontro com elementos centrais de sua visão de
>> mundo.
>>
>> A situação em alguns casos é bem trágica. Por exemplo, nós esperamos que
>> experts se dêem melhor do que não-experts em seu domínio de expertise mas
>> existe evidência empírica [1] de que filósofos morais em média são mais
>>  suscetíveis a serem contaminados por viéses espúrios do que não-filosófos
>> morais em contextos decisórios morais. Fenômenos análogos costumam ocorrer
>> pelas ciências sociais e humanidades como economia e história.
>>
>> Eu recomendo fortemente também o último livro do Sesardic, "When Reason
>> Goes On Holiday". Mostra como que algumas das mentes mais afiadas em lógica
>> matemática do Século XX são capazes de deixar tudo de lado quando
>> raciocinam sobre política.
>>
>> [ ]'s
>>
>> [1] Schwitzgebel, E.; Cushman, F. Philosophers’ biased judgments persist
>> despite training, expertise and reflection. Cognition 2015, 141,
>> 127–137.
>>
>> 2017-07-05 11:56 GMT-03:00 Joao Marcos <botoc...@gmail.com>:
>>
>>> Prezada Gisele (S):
>>>
>>> Fico contente em vê-la participando das discussões da LOGICA-L, e
>>> aproveito para parabenizá-la pela organização do *IV Workshop de
>>> Filosofia e Ensino*, semana passada:
>>> https://wfeufrgs.wordpress.com/
>>>
>>> > O texto em questão, embora seu contexto seja estadunidense, merece
>>> alguma
>>> > atenção no Brasil pelo simples fato de que a filosofia corre,
>>> atualmente, o
>>> > risco de não mais ser componente curricular obrigatório nas escolas de
>>> > Ensino Médio (assim como muitas outras, vale dizer). No nosso contexto,
>>> > quando então se intensifica a produção de argumentos em favor da
>>> presença da
>>> > filosofia na fase média de ensino básico, não é rara uma modalidade de
>>> > defesa calcada em pesquisas como as mencionadas no texto, louvando-se
>>> as
>>> > capacidades de pensamento crítico supostamente desenvolvidas nas aulas
>>> de
>>> > filosofia. Daí que o texto nos seja relevante, para compararmos com o
>>> que se
>>> > diz por aqui.
>>> >
>>> > (Digo "supostamente" porque nunca fica muito claro, nos eventos e
>>> textos em
>>> > que o tema é discutido, o que se entende por pensamento crítico, nem se
>>> > explicitam seus vínculos com a lógica stricto sensu - tampouco se
>>> oferecem
>>> > exemplos de experiências didáticas de sucesso nesse sentido. Os livros
>>> > didáticos selecionados pelo Plano Nacional do Livro Didático (PNLD)
>>> até o
>>> > último edital possuem capítulos de lógica muito fracos, desconectados
>>> dos
>>> > demais, e é bem sabido que a maioria dos professores de filosofia do
>>> Ensino
>>> > Médio não tiveram boas aulas de lógica durante a graduação (o que gera
>>> > insegurança para trabalha-la quando se tornam professores, um nefasto
>>> > círculo de expectativas antimatemáticas entre postulantes a estudantes
>>> e
>>> > futuros professores de filosofia) nem tampouco uma preparação para o
>>> > trabalho didático com lógica em contextos de escola média e
>>> fundamental.
>>> > Isso tudo sem contar boa parcela dos envolvidos com ensino de
>>> filosofia que
>>> > simplesmente desprezam a lógica como instrumento de pensamento e
>>> filosofia.)
>>>
>>> O conteúdo do seu relato é realmente preocupante!
>>>
>>> Com relação aos pontos de contato entre o conteúdo do texto que
>>> circulei antes e a realidade brasileira, choca-me em particular
>>> perceber a forma como a educação no Brasil é muitas vezes tratada de
>>> uma forma puramente ideologizada --- mesmo por cientistas da área, e
>>> pelos especialistas nacionais em teoria pedagógica.  Recordo-me por
>>> exemplo de uma reunião da qual participei há dois anos em um instituto
>>> da minha universidade, na qual um colega de outra universidade
>>> apresentou as inúmeras vantagens do problem-based learning (PBL), tal
>>> como aplicado em um curso da área de TI de sua universidade, e todos
>>> saíram da palestra maravilhados com tudo aquilo...  Uma postura
>>> minimamente crítica e científica permitiria contudo identificar ali
>>> dois problemas.  O primeiro era que na citada universidade não foi
>>> feito nenhum esforço de *comparar* o resultado obtido através do PBL
>>> com o resultado obtido em outras formas tradicionais de ensino.  De
>>> fato, *todas* as turmas daquele curso, lá, são submetidas ao PBL desde
>>> o início!  O segundo estava no fato de que no blog da Communications
>>> of the ACM acabava de ser publicado um post que comentava que *não há
>>> evidências* de que PBL, por mais bonito que pareça, realmente funciona
>>> tão bem quanto desejaríamos:
>>> http://cacm.acm.org/magazines/2015/2/182637-whats-the-best-w
>>> ay-to-teach-computer-science-to-beginners/fulltext
>>> Noto que este post cita um artigo extremamente influente [1], cujos
>>> autores comentam:
>>>   "Why do outstanding scientists who demand rigorous proof for
>>>   scientific assertions in their research continue to use and indeed
>>>   defend on the bias of intuition alone, teaching methods that are
>>>   not the most effective?"
>>> Creio que isto vai ao encontro de algumas das preocupações do Sesardic.
>>>
>>> A propósito, há um outro paper do Sesardic (com Rafael De Clercq) [2]
>>> que comenta sobre a *disparidade de gênero* na área de Filosofia e
>>> coloca em questão as alegadas evidências da hipótese segundo a qual
>>> haveria algum tipo de *discriminação* contra as mulheres na área de
>>> Filosofia.
>>>
>>> [1] Why Minimal Guidance During Instruction Does Not Work: An Analysis
>>> of the Failure of Constructivist, Discovery, Problem-Based,
>>> Experiential, and Inquiry-Based Teaching
>>> http://www.cogtech.usc.edu/publications/kirschner_Sweller_Clark.pdf
>>>
>>> [2] Women in Philosophy: Problems with the Discrimination Hypothesis
>>> https://www.nas.org/articles/women_in_philosophy_problems_wi
>>> th_the_discrimination_hypothesis
>>>
>>> > Há muito ainda por ser pesquisado em termos de didática da lógica
>>> entre nós,
>>> > por isso me alegrou muito a notícia de que a nova diretoria da SBL está
>>> > sensível ao tópico.
>>>
>>> Sem dúvida é saudável (é de se saudar) esta iniciativa da nova
>>> Diretoria da SBL!  Suponho que teremos mais notícias em breve sobre
>>> estas coisas, de Cassiano e outros.  A propósito, há dois anos
>>> participei da organização do *Fourth International Congress on Tools
>>> for Teaching Logic* (http://ttl2015.irisa.fr/), em Rennes.  Há uma boa
>>> chance de que o próximo evento da série ocorra no Brasil, em conjunto
>>> com o próximo EBL.
>>>
>>> Ah, vale notar que há nesta lista outros pesquisadores com bastante
>>> envolvimento na área de Ensino (incluindo o uso de MOOCs).  Seria
>>> muito bom vê-los participando desta discussão, e das iniciativas
>>> correlatas!
>>>
>>> Abraços,
>>> Joao Marcos
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> []'s ...and justice for all.
>
> Ricardo Gentil de Araújo Pereira
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