Olá João e. outra(o)s   interessados:

Dou aqui minha contribuição sobre a questão. Estudei matemática de
forma profissional na Unicamp  por 7 anos, bacharelado,  mestrado e
doutorado,e depois   pós-doutorado na Universidade de Califórnia e em
Münster, na Alemanha. Nunca.  ninguém usou coisas  elementares de
lógica em disciplinas e matemática, nem  no IMPA, na Unicamp, USP,
Berkeley, , Münster, etc, Mas todos  tinham. por trás  a. premissa
que os estudantes sabiam essas coisas. através do ensino médio.
(chamado "colegial". na. época, muito. melhor. nome).

E de fato durante meus 7 anos de "ginásio" e. "colégio"no Culto  à
Ciência os professores de  matemática, com  formação em Rio Claro e na
PUC na época, tinham uma boa noção de lógica, pelo menos intuitiva.
Não citavam a questão da completude,  ou compacidade,  mas
enfatizavam o seguinte:

1)  "Similaridade " (isomorfismo) ) entre  as operações lógicas e as
operações conjuntistas (no fundo,  uma versão intuitiva do Teorema de
Representação de  Stone.).
2) Falavam dos procedimentos  ds. prova. por redução ao absurdo,
baseado na. tabela da . implicação, em especial usos de equivalência
em demonstrações elementares  de  trigonometria
3) Mencionavam sempre as tabelas  usuais  da  conjunção, disjunção,
implicação, negação para. guiar  o raciocínio
4) Sempre se mencionavam rudimentos de. lógica  quantificada
(existencial, universal, etc)
5) Esclarecem o papel dos axiomas principalmente em geometria
6) Mostravam métodos heurísticos de solução de e problemas  com régua
e compassos (como o método de e Pappus de Alexandria, em "supor  um
problema resolvido para tentar a solução"  )
etc.

Tudo isso a gente já sabia quando entrava em um curso de matemática,
física, engenharia e computação.  Nao se vê  mais nada disso, Os
professores de ensino médio não têm a menor ideia.
Mas de fato, alguns expositores no YouTube, da velha escola, mencionam
 coisas assim.
Por tudo isso   acho fundamental voltar a  ensinar  essas coisas aos
nossos estudantes universitários,

Abs

Walter

Em ter., 26 de dez. de 2023 às 12:46, Joao Marcos <botoc...@gmail.com> escreveu:
>
> PessoALL:
>
> Uma conversa com um colega estes dias me motivou a escrever a presente
> mensagem, que tem tanto um componente sociológico quanto um componente
> mais propriamente lógico (bem como um interesse de fundo pedagógico).
>
> %%%
>
> (A)
>
> Segundo meu colega, é bem comum nas aulas, nos vídeos e nos livros de
> Matemática pelo Brasil (talvez fora do Brasil também?) um uso mais ou
> menos relaxado[§] da Lógica para justificar certas passagens
> argumentativas.  Em particular, muitos professores de Matemática
> presumivelmente acenariam para a possibilidade de justificar
> estratégias de demonstração (digamos, o raciocínio por contraposição)
> usando *tabelas de verdade*, o que também explicaria a razão pela qual
> vários livros de "matemática elementar" ---usados a nível de
> graduação, vejam bem---, bem como vários vídeos no YouTube também
> falariam de tabelas de verdade como um procedimento matematicamente
> relevante para esclarecer ou fundamentar a lógica subjacente a um
> determinado argumento matemático.
>
> [§] O adjetivo "relaxado", acima, aponta para usos absolutamente
> informais de tautologias como justificativas para certas passagens,
> através de rabiscos feitos ao lado da demonstração principal, no
> quadro, supostamente para "explicar por que a coisa funciona".
> Note-se, em particular, que em tais usos nunca há qualquer menção a
> resultados de completude, digamos, conectando tabelas e demonstrações
> formais (ou semi-formais).
>
> As primeiras perguntas que me vêm à mente sobre aquilo que foi relatado acima:
> (A1) Quais as opiniões de vocês ---seja como discentes, seja como
> docentes--- acerca das situações suprarreferidas, a partir de suas
> experiências em sala de aula?
> (A2) Quais destes procedimentos ---tabelas de verdade? argumentos
> dedutivos? estratégias de demonstração?--- poderiam (ou deveriam) ser
> trazidos para mais cedo, para o ensino pré-universitário, com alguma
> vantagem para os alunos?
>
> (A minha impressão inicial sobre A2 seria de que não há nada no
> procedimento das tabelas de verdade, em particular, possivelmente
> usadas para ensinar "raciocínio lógico" ---resolver charadas, por
> exemplo---, que precise ou deva esperar até além do Ensino Médio.  Mas
> também não estou seguro de o quanto isto tudo ajudaria quando a
> "matemática de verdade" ---vejam o item B, abaixo--- chega, no Ensino
> Superior.)
>
> %%%
>
> (B)
>
> Esta segunda parte é talvez mais opiniosa (opiniática?), da minha parte.
>
> Mesmo ciente de que muitos livros de "matemática elementar" têm seus
> capítulos sobre lógica proposicional, incluindo tabelas de verdade, e
> mesmo ciente de que vários colegas gastam boas aulas sobre este
> assunto (e não estou falando de aulas sobre Circuitos Lógicos), por
> exemplo, em um curso inicial de Matemática Discreta, de Topologia, ou
> de Análise, parece-me algo surpreendente que as *tabelas de verdade*
> tenham um papel muito relevante para justificar argumentações
> matemáticas mais sofisticadas.  Com efeito, se é fácil imaginar como
> usar tabelas de verdade para procedimentos _refutativos_, por exemplo,
> usar a tabela de verdade da implicação para justificar porque a
> sentença A-implica-B é falsa quando A é verdadeira e B falsa, ou como
> usar a tabela de verdade da disjunção para justificar a falsidade de
> uma sentença da forma A-ou-B dada a falsidade de ambos e B, parece-me
> no mínimo desafiante usar diretamente as tabelas da implicação ou da
> disjunção para justificar, digamos, uma demonstração por _raciocínio
> hipotético_ ou uma demonstração por _raciocínio por casos_ (e eu
> provavelmente estenderia a minha perplexidade de modo a cobrir
> praticamente qualquer outra estratégia matemática clássica de
> argumentação).
>
> As primeiras perguntas que me vêm à mente, neste caso, são:
>
> (B1) Será mesmo o caso que é útil recorrer a tabelas de verdade (ou
> lógica proposicional) para justificar estratégias matemáticas mais
> sofisticadas (e absolutamente comuns)?  Se pensamos em um curso de
> Análise Real, por exemplo, os passos argumentativos de mais interesse,
> logo nas primeiras aulas, envolvem quantificadores aninhados.  Se
> pensamos em um curso de Matemática Discreta, conceitos como
> divisibilidade, congruência-módulo, supremos e ínfimos pressupõem que
> entendemos como lidar com expressões quantificadas.  As equivalências
> lógicas que poderiam "facilitar a vida", nestes casos, geralmente
> envolvem mais do que conectivos proposicionais --- e quer me parecer
> que nem mesmo os fragmentos proposicionais das ditas equivalências, no
> fundo, _precisam_ ser justificados via tabelas de verdade.
>
> (B2) Consideremos um teorema "típico" de livro-texto, em Matemática:
> "Seja C um coiso com as propriedades A e B.
> Então C tem a propriedade D."
> Poderíamos traduzir isto assim, digamos:
> (\forall C:coiso)((A(C)\land B(C))\to D(C))
> (Para ficar mais interessante a pergunta que segue abaixo, sugiro
> assumirmos que existe um coiso C que nem tem a propriedade D nem falha
> a propriedade A&B.)
> Bem, baseado na parte A, acima, um uso que consigo imaginar para
> tabela de verdade, aqui, seria para justificar, digamos, a
> curryficação ---como é usual fazer em Computação ou em
> Linguística/Semântica Formal--- da sub-expressão (A(C)\land B(C))\to
> D(C) para uma expressão da forma A(C)\to (B(C)\to D(C)).  O restante
> do raciocínio, numa demonstração direta do "teorema típico",
> tipicamente seria conduzido "identificando contextos, criando e
> descarregando hipóteses", como fazemos, por exemplo, através do
> formalismo da Dedução Natural.  Vocês acham que haveria outros usos
> interessantes para tabelas de verdade, neste tipo de argumentação
> através de "raciocínio direto"?  Seria justificável, para tais usos,
> que gastássemos muito tempo das aulas de Matemática a nível superior
> ensinando os estudantes a fazerem tabelas de verdade?
>
> (Subjacentes às minhas perguntas, claramente, está a opinião
> ---enviesada?--- de que tabelas de verdade são bem menos úteis do que,
> digamos, um "filósofo tradicional" poderia imaginar, no que diz
> respeito ao trabalho diário do "matemático praticante".)
>
> %%%
>
> Agradeço desde já aos colegas desta lista por compartilharem seus
> sentimentos acerca destes assuntos.
>
> []s, Joao Marcos
>
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