Concordo, é necessário conversar com quem organiza o sistema educativo, e não atacar diretamente acadêmicos e professores.

Concordo também com a sugestão de escolher o momento certo para fazer objeções e correções.

Durante a disciplina de organização, sistemas e métodos, do curso de bacharelado em administração que estou fazendo, consegui deixar alguns acadêmicos com "pulgas atrás das orelhas" graças aos meus comentários durante as aulas. Em uma aula em específico, quando o professor mostrou uma entrevista em vídeo com um economista norte-americano, este mencionou a estrutura de trabalho colaborativo do modelo de desenvolvimento de [código-]fonte aberto. Após o vídeo, perguntei ao professor se poderia fazer uma contribuição de 15 minutos, e se poderia usar o quadro branco e uma caneta para tal. Naqueles 15 minutos, fiz uma linha do tempo com explicações *bem* básicas sobre nosso movimento (filosófico político e social do software livre, *não* do [código-]fonte aberto), e nesta linha do tempo, inseri o [código-]fonte aberto como um grupo que se revoltou e saiu do software livre por não achar possível educar a sociedade sobre tais liberdades essenciais.

Assim, com tal explicação, deixei claro (inclusive falando com enfase e vários exemplos), que nós ativistas do software livre somos os únicos que falamos das quatro liberdades e que priorizamos elas tanto nas vantagens, quanto na educação da sociedade. Apesar disso, ambas as vertentes falam de colaboração. Porém, apenas uma delas é capaz de *agregar* algo às necessidades e valores do consumidor/sociedade, visto que a outra apenas *atende* os já existentes. Este parágrafo usa de conceitos de marketing para explicar as diferenças entre os dois (conceitos: valores, necessidade, expectativa, desejo, atender, agregar).

Sempre fui, e sigo sendo, uma pessoa com maior facilidade em se comunicar com os professores, e não com os acadêmicos. Talvez porque todos os acadêmicos que tenho contato são muito fechados. Já os professores são mais abertos ao diálogo.

Inclusive, o mesmo professor da disciplina de organizações, sistemas e métodos já trabalhou em locais onde se usava GNU com Linux (quem conhece a história do software livre aqui no Brasil sabe que, apesar de toda a propaganda feita aqui, tais softwares e distribuições de sistemas *não eram, ou não são, livres*). Este meu professor, antes de conversar comigo, não sabia que existiam várias distribuições de GNU com Linux, não sabia que cada projeto possui objetivos diferentes (alguns querendo ser amigáveis, outros querendo ser leves, outros querendo ser seguros, etc.), e não sabia que nem todos eram livres. Falei para ele que os três poderes do Governo do Estado do Brasil tinha educado o Povo votante a preferir as vantagens técnicas do software livre, e não educou sobre o verdadeiro objetivo do movimento (isso faz com que todos os responsáveis por esta desinformação possam ser categorizados como proponentes do [código-]fonte aberto), e que agora nós ativistas brasileiros estamos colhendo os frutos podres.

* Ação: Governo expõe apenas vantagens técnicas de um dado funcional (a saber, pelos textos disponíveis no site do projeto GNU, o movimento do software livre, apesar de ter focado inicialmente em apenas um dado funcional, software, agora engloba vários outros).

** Reação: Sociedade não é educada sobre as liberdades essenciais. Logo, qualquer outro dado funcional *não livre*, que atenda os valores do consumidor melhor que os livres, será preferido pela sociedade.

** Falhas: Compromisso ruinoso. Não aplicação dos critérios do software livre. Inclusão digital ruim.

* Ação: Governo instala, recomenda, compartilha, ensina a usar dados funcionais não livres e distribuições de sistemas não livres.

** Reação: Sociedade não é educada sobre as liberdades essenciais.

** Falhas: Compromisso ruinoso. Não aplicação dos critérios do software livre. Inclusão digital ruim.

Certa vez, durante o intervalo, estava conversando com este professor sobre meu trabalho voluntário de ativista e mencionei que eu gostaria que a biblioteca tivesse uma cópia do livre Free Software, Free Society da Free Software Foundation quando, das carteiras do fundo da sala, surgiram objeções de acadêmicos do curso de sistemas de informação aqui da faculdade onde estudo que, pelos comentários dos acadêmicos incomodados, foi possível perceber que eles estavam confundindo o gnu com o pinguim (eles mesmos gritavam: "Ah! O pinguim não!"). A partir dali, calmamente dirigi a conversa a eles dizendo que eu não apoio "o pinguim" pois nem todos "os pinguins" são software livre, e que eu apoio "o gnu". A partir dali, os acadêmicos de sistemas da informação disseram que "o pessoal que usa Linux não faz nada certo" e que a empresa onde eles haviam trabalhado havia contratado uma pessoa que preferia usar uma distribuição de sistema GNU com Linux, mas que, segundo os incomodados, "não havia nada documentado, e tudo era feito por linhas de comando". E, neste momento, tive que me controlar para, ao mesmo tempo, não subir meu nível de linguagem, continuar com argumentos éticos, e tentar dizer a estes desinformados incomodados que: nem todos os sistemas *GNU com Linux* são livres (fiz esta enfase quando falei também), que a maioria dos sistemas GNU com Linux originados aqui no Brasil estão abandonados (pois os brasileiros têm costume de fazer fork, esquecer o projeto original e depois seu projeto cai em abandono e morre por falta de suporte. Estes pontos foram explicados a eles), e que nem todos os projetos de distribuições GNU com Linux servem para todos os casos (dependendo assim de seus *objetivos*), e que a documentação existe, e está na maioria das vezes, disponível a partir de quatro letras: info

Depois, os incomodados vieram com a desculpa de que "não se pode dar dois cliques no programa do Windows para instalar ele no 'Linux'." E então, e me senti tentado em dizer: "As aulas básicas sobre como computadores funcionam ensinam os acadêmicos que cada sistema operacional espera por programas com estruturas internas diferentes, e não se pode simplesmente assumir que um programa feito para Windows irá funcionar nos sistemas GNU com Linux"... E foi isso que eu disse.

Toda esta discussão ocorreu com meu professor assistindo à ela. Eu como defensor do software livre, com quase nenhum conhecimento de programação, sem alterar meu nível de linguagem, e respirando fundo para não enlouquecer. E os incomodados atacando com as mais variadas objeções técnicas.

Eu posso não ter ganhado aliados do lado atacante, mas meu professor percebeu que eu estava com a razão.

Finalmente, agora falando de outra disciplina, marketing, e marketing de serviços e e-commerce, fiz contribuições breves às aulas quando o professor mencionou as técnicas de persuasão descritas no livro Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, de Dale Carnegie (sim, aquela técnica que nós ativistas do software livre estamos cansados de observar desvantagens sempre que lemos o artigo sobre compromissos ruinosos que está no site do projeto GNU). Vocês provavelmente já sabem qual foi minha contribuição: uma observação seguida de uma objeção. Pois a partir do momento que você deixa de informar a sociedade sobre os verdadeiros valores por traz de um produto ou serviço, para apenas atender aos valores que a sociedade conhece, você faz com que qualquer outro produto ou serviço que atenda estes valores conhecidos de forma melhor seja preferido ao invés do seu produto ou serviço.

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