Faço minhas as palavras do Maneschy. Moro no Rio e tive o mesmo tipo de
experiência com as eleições cariocas, a partir de 1994 (me apresentei
conscientemente ao meu professor na época, que também era, coincidentemente,
o Juiz-responsável pela zona eleitoral do bairro em que moro).

        Na última eleição, por exemplo, fui duramente "admoestado" pelo responsável
do TRE-RJ e por minha Presidente-de-mesa, simplesmente porque tentava dizer
que o computador das urnas era muito lento, e que os eleitores mais idosos
não tinham culpa por suas dificuldades em votar.

        O fato é que os eleitores idosos, quase que "instintivamente", confirmam a
votação (apertam a tecla confirma ao final da digitação do número do
candidato) sem nem ao menos "olharem" para a tela. Ou melhor: a foto e o
número do candidato, por causa do intervalo demorado de resposta ao teclado
já digitado, nem ao menos são conferidos visualmente pelos idosos (não raro
pela pressão psicológica que sofrem, em razão da deselegante impaciência
costumeira dos nossos eleitores mais jovens).

        Para evitar isso, eu advertia sempre os eleitores mais idosos e/ou humildes
para que eles esperassem o "retorno" da tela após a digitação do número de
seu candidato, antes de confirmá-lo logo de cara. E justificava isto ao
eleitor, dizendo a ele que o processador da urna era uma já obsoleta
carroça, feita de processadores 486, em geral. Isto gerou uma tal reação dos
fiscais do TRE-RJ, que eu fiquei até meio cabreiro. O chefe do TRE-RJ, no
CIEP onde trabalhei como mesário, me dizia que eu não poderia, ali, falar
mal do sistema, "em hipótese nenhuma". Agora me digam o seguinte: em qual
lei isto está escrito?

        Para evitar maiores problemas, acatei a tal "sugestão coercitiva" do cara
do TRE-RJ. Mas o que senti, após o tal "arrastão de disquetes" que ele e sua
outra colega do TRE-RJ fizeram (algo que sabíamos ser totalmente fora do
protocolo, que é o Presidente da Mesa entregar tudo junto, à Junta Eleitoral
de Apuração), é que as eleições cariocas andam meio "nebulosas", no TRE-RJ.

        Dias depois, apareceu uma esquisita denúncia no RJ-TV, onde funcionário do
TRE-RJ prometeu "arranjar" votos "por fora" para um candidato a vereador
(gravou-se até um encontro deles com uma câmera escondida, no próprio
cartório do TRE onde o tal trabalhava). Depois, a desculpa dada foi a de que
aqueles votos seriam "arranjados" sim, mas com o pastor e os fiéis da igreja
evangélica do tal funcionário. Só não disse, até hoje, qual igreja, pastor
ou fiéis se prestariam a isto.

        É isso. GIL.

-----Mensagem original-----
De: [EMAIL PROTECTED]
[mailto:[EMAIL PROTECTED]]Em nome de Osvaldo
Maneschy
Enviada em: segunda-feira, 7 de maio de 2001 10:45
Para: [EMAIL PROTECTED]
Assunto: [VotoEletronico] Re: RESPOSTA AO AMILCAR


Exatamente em cima do que Aristóteles falou, quero passar uma
preocupação a todos. Trabalhei  nas eleições aqui no Rio de Janeiro de
76, 82, 85, 86, 89, 90, 94, 98 e 2000. Eleições municipais, estaduais e
nacionais. Em 76 para o MDB e a partir de 1981 para o PDT. Fazendo
jornais, assessorias de imprensa, militando. Independente de minha vida
profissional: trabalhei 19 anos em redações no Rio, há 11 anos sou
assessor de imprensa. Quero dizer com isso, gente, que conheço eleição -
não quero exibir curriculo. Ao longo desses anos, especialmente em 82
(escandalo da Proconsult), 86 (derrota de Darcy para Moreira Franco) e
89 (derrota de Brizola para Lula e Collor) construi minha convicção
sobre o processo eleitoral brasileiro. Não confio em  urnas eletronicas
nem nos programas de totalização usados pelos TREs/TSE (a partir de
1982). Para ficar em dois exemplos, cito o caso Proconsult aqui no Rio
em 1982; e o fato de o PDT, pouco antes da eleição presidencial de 89 (a
primeira depois da ditadura) ter solicitado ao TSE auditoria do programa
de totalização, e o TSE, como fez ano passado, ter mandado arquivar a
solicitação PDT sem julgar. Exatamente como fez ano passado quando o PDT
(com a ajuda do Brunazo) quis conferir os programas da "urna"
eletronica. Não tenho dúvidas de que a informática entrou no processo
eleitoral brasileiro a partir de 82 para "ajeitar" coisas, não para
tornar as eleições mais transparentes e seguras. Por isto que neste
momento especialíssimo que discutimos o conteúdo dos trabalhos da
Subcomissão do Voto Eletrônico do Senado Federal, fruto da luta de anos
desta lista e especialmente de nosso Amilcar Brunazo Filho, não poderia
deixar de acrescentar mais um ponto para a discussão comum. As urnas
eletrônicas só existem e funcionam porque, paralelamente, existem
pesquisas de opinião pública fajutas badaladas ad infinitum pela mídia,
"criando" a verdade virtual de que candidato 'x' ou 'y' vai ganhar.
Resumindo mais: o 'resultado' da 'urna' eletronica só existe porque,
antes, a opinião pública é preparada para aceitá-lo. Pelo menos aqui no
Rio de Janeiro tem sido assim ao longo dos anos e, acredito, que no
Brasil também depois de 1989. Não sei se isto aconteceu em Itaberaba/BA,
terra do nosso Washington, ou em São Domingos de Goiás, terra do
Gervásio. Aqui no Rio a eleição é descaradamente manipulada por
institutos de pesquisas que 'fabricam' realidades pré-eleitorais, depois
confirmadas pelas "urnas". As "pesquisas" fabricaram a vitória de Collor
no primeiro turno em 89;  e a vitória de Lula sobre Brizola na mesma
eleição (Rezek parou a apuração em Minas e convocou coletiva em Brasília
para que todos os presidentes de institutos de pesquisa informassem,
antes dos números do TSE,  que Lula venceria Brizola). Elas também
"fabricaram" falsas vitórias em várias capitais brasileiras nas últimas
eleições - tão falsas que nem as urnas eletronicas as confirmaram. O
jogo é sutil, há muitos interesses escusos nele. As 'urnas' falseiam a
verdade eleitoral, as 'pesquisas' também. As vezes há contradições, o
que explica que nem sempre dê tudo certo para quem quer "ganhar". Sei
que a Subcomissão é para examinar "urna", não pesquisa pre-eleitoral.
Mas acontece que "resultados" construídos em "urnas" eletronicas contam,
sempre, com "pesquisas" que preparam a opinião pública. Estou delirando?
Vendo coisas embaixo da cama? Não. Falo pelo que vivi e presenciei em
eleições neste Rio de Janeiro de Deus.  Vocês se lembram que em 98 todo
mundo dizia que não ia votar em FHC, mas que ele ia ganhar no primeiro
turno da chapa Lula-Brizola? Sabem por que? Porque a mídia botou essas
palavras, o tempo todo, na boca das pessoas com base em  "pesquisas". E
as "urnas" sacramentaram a realidade virtual criada.  É assim que a
coisa funciona.  É por isso, na minha opinião, que não existe recontagem
de votos no Brasil, não há auditoria do processo eleitoral e o TSE/TREs
mantêm os partidos políticos bem longe de tudo, ao arrepio da lei. Para
que as "coisas" aconteçam em paz. Exatamente por isto é que acho que
este tema - pesquisas fajutas/manipulação de mídia - deveria ser
incluído na discussão da Subcomissão do Senado sobre Voto Eletrônico.
As  "urnas" eletrônicas não funcionam sozinhas, elas precisam da
"verdade" eleitoral fabricada pelo conjunto 'pesquisa'/mídia. O assunto
controle da divulgação das pesquisas pré-eleitorais - que o Congresso
aprovou e FHC vetou, ano passado, precisa estar dentro do debate da SVE
mês que vem. É a minha sugestão para o debate, abraço para todos.



[EMAIL PROTECTED] gravada:

> On 7 May 01, at 4:28, caique.albuquerque wrote:
>
> No Brasil, diferentemente dos EUA, os dados demonstram que a
> votação eletrônica tem um percentual de votos válidos 20%
> maior do que a votação manual. Cito abaixo trecho do estudo de
> um Professor do IUPERJ(Instituto Universitário de Pesquisas do
> Rio de Janeiro)sobre taxa de votos nulos e brancos. O Professor
> é o Cientista Político Jairo Nicolau, que por sinal é Phd.
>
> Carlos Henrique,
>
> Como você citou muito pesquisas acadêmicas, e conheço bem
> os atores desta área, e trabalhei mais de 20 anos neste cenário,
> conheço alguns Phds e muitos phds (minúsculos), vou dizer-lhe o
> que penso sobre a conclusão do Jairo Nicolau. Posto que pela
> segurança que emitiu este percentual, “aumento de 20% dos
> votos válidos “(sic), estou inclinado a ver o trabalho que este
> senhor produziu é mais um dos tantos que nada mais são senão
> uma amostra do academicismo que grassa na ceara das
> conclusões malformadas.
>
> Não sei se o Nicolau é realmente um proficiente em estatística,
> ou é um daqueles analistas que se utilizam de pacotes (software)
> de análise e saem por aí soando dós-de-peito, escudando-se
> em títulos para se nos parecerem arautos das verdades.
> Suponho que ele não é um proficiente neste mister. Penso assim
> por perceber que, se fosse, não colocaria seu nome e título
> como aval de uma conclusão desta natureza. Este número é uma
> demonstração de inocência estatística !!!!
>
> O quê certamente fez Nicolau ? Comparou dados emitidos nas
> eleições passadas com a última. Achou um percentual. Mais
> nada !!! Disto passou a alardear uma melhora. Nicolau foi bobo.
>
> E sabe, o porquê ? Pelo fato de dispor de dados incompletos.
> Quem sabe realmente estatística, diria que ele usou um indício
> do universo como dado. Lamentavelmente, Carlos, indício não é
> dado estatístico. Ele só é útil no fim de tudo: para verificar se a
> análise estatística tende ao indício. Ou seja, o indício permite,
> NO FIM DA ANÁLISE, que se estime o desvio de um resultado
> estatístico cujas informações são difusas. Enfim, Nicolau disse
> besteira.
>
> Carlos, Nicolau teria que ter analisado vários aspectos: erros de
> digitação, erros de leitura, a capacidade de discernimento do
> eleitor médio (pense numa coisa difícil), a preferência anterior de
> uma amostra representativa de eleitores (algo um tanto proibido),
> e as possibilidades de erro da máquina (o TSE diz que é zero).
>
> Cada dado destes, depois, permitiria ao pesquisador fazer várias
> simulações matemáticas que o permitiria estimar as margens de
> erros e acertos. Isto tudo colimado indicaria um desvio estimado,
> o qual, confrontado com o indício, permitiria emitir uma
> percentual imaginário deste aumento.
>
> Carlos. Tem muita gente sentando em títulos para falar besteira.
> Os dados que Nicolau precisava ele não teve. Por isto garanto-
> lhe que ele vomitou este número. Não só ele: o TSE também.
>
> Conte também com a possibilidade de as máquinas terem sido
> viciadas: para converter, por exemplo, votos nulos em votos
> válidos.  Conversando com pessoas percebo que o número de
> pessoas tendentes a votar nulo aumentou.  Mas as urnas não
> mostraram isto.
>
> Um abraço,
>
> Aristóteles
>
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